"Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!"(Jr 48,10).
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Mentira nº 704:
E a inquisição espanhola ?
Nossa Resposta:
Verdades Históricas sobre a Inquisição na Espanha
A refutar, ou melhor, a divulgar a verdade sobre a Inquisição, especialmente a mais denegrida, a espanhola, escrevo este artigo comentando erros e meias-verdades de um artigo na revista AVENTURAS DA HISTÓRIA DA EDITORA ABRIL com data de abril 2008, que tem como título: MORTE AOS HEREGES. As afirmações estão em negrito e as refutações em letra comum.
AVENTURAS NA HISTÓRIA: Inquisição: o reinado do medo. Perseguição, tortura e morte. Os terríveis 700 anos em que a Igreja matava quem ia contra suas crenças.
1ª PARTE: REFUTAÇÃO.
A) A inquisição católica espalhou o terror pelo mundo, torturando e matando judeus, muçulmanos, bruxas, gays ou quem se atrevesse a pensar diferente.
REFUTAÇÃO: Tremendo erro: A Igreja só perseguiu os apóstatas.
1) Os judeus e muçulmanos não foram perseguidos pela sua fé. Os marranos, ou seja, os judeus convertidos e depois apóstatas, sim foram perseguidos e unicamente relaxados ao braço secular [para que este executasse a pena correspondente] após se comprovar que pela segunda vez reincidiam em práticas heréticas. Prática contrária aos princípios do Islã, em que uma só falta bastava para a pena de morte de um apóstata. Pelo que respeita aos muçulmanos, não eram estes os perseguidos, mas os moriscos [maometanos batizados]. A Igreja só perseguia os seus súditos batizados. A prova está em que não condenou os índios da América que eram pagãos.
2) As bruxas: Nos territórios da Inquisição Romana, Estados pontifícios, Espanha e Portugal, a bruxaria foi considerada feitiçaria ou histeria muito mais do que heresia. Daí que o número de mortes foi inferior a 100 quando em regiões protestantes seu número se elevou a 20 mil no mínimo. Gays: era pena de morte em toda Europa. Muitos poucos casos foram condenados à morte. E unicamente tribunais de Aragão , Catalunha e Valência tinham jurisdição para julgar esses casos, coisa que não aconteceu em Castela. A maioria dos casos (70%) dos acusados tiveram penas de açoites, galeras ou desterro por serem estrangeiros.
B) Domingos de Gusmão botou o plano em prática [quem se negasse a aceitar a fé católica seria excomungado e entregue à autoridade secular] com a criação da Milícia de Jesus Cristo, cujos membros estavam dispostos a pegar em armas para defende a fé.
REFUTAÇÃO: Pelo que lemos, S. Domingos fundou uma espécie de Ordem religiosa semelhante à dos Templários. Pois bem, a coisa é muito diferente. Primeiro, fundou conventos femininos para que as mulheres não caíssem sob o poder dos hereges albigenses. Era o ano 1206. Em 1215 fundou a primeira Ordem dos Pregadores ou Dominicanos para pregar contra os albigenses. Amigo de Monfort na cruzada contra os mesmos, desde 1209, não esteve presente na toma e matança de Beziers. Finalmente fundou em 1220, durante sua pregação na Lombardia (Itália) o Instituto da Milícia de Jesus Cristo como terceira Ordem que consistia de homens e mulheres, vivendo no mundo, para proteger os direitos e as propriedades da Igreja, ameaçadas pelos cátaros. Nada de milicianos os primeiros a usar técnicas de crueldade e violência, copiadas depois pela inquisição moderna, como escreve a historiadora {?} Anita Novinsky. Para essa data já estavam fundadas as ordens militares dos templários (1118) e dos Hospitalários (existiam já em 1120) e várias ordens militares na península ibérica , como a dos Caballeros de Santiago (1170) e a de Calatrava (1157). Qual foi a intenção da escritora com um parágrafo que abertamente liga um santo com o início das Ordens das Cruzadas ?
C) Espiões locais conhecidos como familiares.
REFUTAÇÃO:No princípio o século XVI existiam duas classes de familiares: os empregados ou criados dos inquisidores, oficiais e ministros e os armados que existiam nas diversas cidades mais importantes. Em todo o reino de Aragão existiam de 250 a 500, no século XVII, onde a preseça foi mais alta. Se Henry Kamen fala de que eram os olhos e ouvidos, na realidade, eram os administradores da justiça inquisitorial, tanto administrativa como policial. Estes familiares eram invejados, especialmente por certos privilégios e peculiarmente porque um familiar era sempre pessoa de sangue limpo. Porém não estavam livres de alguns inconvenientes: Não podiam entrar na política, nem na judicatura. Entre os familiares que assistiam ao julgamento , estavam um teólogo, um doutor em direto, um escrivão, além do bispo local ou seu representante, assim como alguaziles e, no caso do tormento, um médico. Pelo que respeita a serem espias, a informação da Inquisição era devida às denúncias. Não se admitiam denúncias anônimas, e se o denunciante mentia estava sujeito a penas tanto canônicas como civis bastante rigorosas, que entravam no olho por olho ou lei do Talião. Efetivamente os denunciantes não eram conhecidos pelo réu, por causa das vinganças que podiam sobrevir. O réu tinha o direito de anular todos os testemunhos de pessoas que ele indicasse como inimigos e este critério era seguido geralmente. Uma idéia de quantos eram os familiares, podemos obtê-la do assasinato em Avignonet pelos albigenses: dois dominicanos com os familiares da inquisição, mais de setenta homens, foram degolados quando dormiam (1242).
D) O mais famoso inquisidor medieval foi o teógogo catalão Nicolau Aymerich, autor do Directorium Inquisitorum
REFUTAÇÃO: Aymerich (1329-1399) foi inquisidor da Igreja Romana um século anterior à Inquisição Espanhola. Eymerich, religioso catalão, ingressou na ordem dominicana em 1334 e foi nomeado inquisidor geral de Aragão [a única inquisição em território espanhol na idade média] em 1356. Mas foi destituído por seu excessivo rigor contra os albigenses. Reposto no cargo em 1366 foi desterrado por Juan I de Aragão. Não introduziu, como se afirma, a tortura, pois esta era prática comum a todos os tribunais da época, e foi introduzida pela inquisição romana ou pontifícia em 1252, porém o primeiro tribunal para julgar delitos contra a fé nasceu na Sicília no ano de 1223. A inquisição adota, pois, a tortura quase 30 anos após sua fundação. Segundo o Malleus malefactorum a tortura aplicável era o Strappado [atando os braços por detrás e enganchados a uma polia o levantavam] com o que se conseguia a elongação dos braços e o retorcido dos mesmos: seria a tortura mais frequente. Na Inquisição espanhola usava-se uma outra tortura: o afogamento. Na realidade, cobria-se com um pano molhado o rosto e vertia-se água no pano de modo a que o réu não pudesse respirar. A tortura não podia durar mais de meia hora e para isso existia um relógio de arena. Devemos advertir, sobre as bruxas, que muitos dos processos eram civis, [talvez 80 %]. O primeiro tratado teológico sobre a bruxaria é o Fornicarius (1437) do dominicano John Nider (1380-1438). Nele se afirma que um bruxo pode provocar uma nevada matando um frango preto. Porém em 1484 [final do século XV] o Papa Inocêncio VIII emitiu a chamada Bula Bruxa que se tornou lei para toda a Europa e foi a base legal para que a Inquisição pudesse castigar e exterminar todas as bruxas. A idéia de que o diabo estava como pacto, pelo menos implícito, nos fatos de bruxaria está em Tomás de Aquino (que fala de pactos expressos e tácitos), pois sem a ajuda de poderes extra-naturais não se podem fazer determinados feitos extraordinários. Sobre a pena do fogo: 1224: Introdução da pena capital contra os hereges: Frederico II da Alemanha decreta que aquele, manifestamente convicto de heresia pelo bispo de sua diocese, será imediatamente tomado pelas autoridades do lugar e entregue ao fogo. Desta vez o imperador se adiantava ao Papa. Por isso em 1226 houve queima de hereges em Rimini e Masserata, então sob o domínio do imperador. Talvez o mais conhecido inquisidor seja Bernardo Guy (1260-1331), como inquisidor de Tolosa contra os albigenses sob o comando do Papa Clemente V entre 1307 e 1323, com 900 sentenças condenatórias em 15 anos, das quais 42 resultaram em penas de morte (pouco mais de 4%, cifra bem mais alta que o 1,2 ou 1,9 da Inquisição espanhola) O seu livro , Practica Inquisitionis Heretice Pravitatis [Conduta sobre a inquisição da pravidade herética ] que trata também sobre os judeus, os feiticeiros e os que invocam os demônios foi fundamental. O trabalho de Aymerich foi, ao contrário, dirigido especialmente a combater o Lulismo, os seguidores de Ramon Llull. Aymerich só foi nomeado Inquisidor General de Aragão. Dele se escreveu um epitáfio que dizia praedicator veridicus, inquisitor intrepidus, doctor egregiu [pregador autêntico, inquisidor intrépido, doutor egrégio].
F) ENTRE MORTOS E FERIDOS (31 912)
REFUTAÇÃO: Deixamos outras afirmações e vamos a um quadro em que as vítimas são dadas sob os levantamentos de dois historiadores: Antõnio Llorente (?) e Cecil Roth. Hoje sabe-se que as cifras de Llorente estão manipuladas e são enormemente exageradas. Um exemplo: nos autos de fé em Toledo, nos dias 12 de fevereiro, 1 de maio e 1 de dezembro, do ano de 1486, Lorente conta como, respectivamente, condenados e entregues ao braço secular, 700, 900, 750. Ora, o fato é que não houve nem uma só vítima; pois eram simplesmente culpados, mas nenhum deles foi supliciado. Depois de escrever a sua história em 4 volumes, Llorente teve o cuidado de queimar a maior parte dos documentos relativos à Inquisição, os quais o poderiam, sem dúvida, ter convencido de caluniador. Respondeu-lhe José de Maistre pelas suas Lettres à un gentilhomme russe: A obra escrita por este lastimoso escritor é o como evangelho a que recorrem todos os adversários da Inquisição. Nele, ao menos, deviam ver como os cárceres do Santo Ofício e o seu sistema de impor as penas revelam preocupações humanas e indulgentes, desconhecidas para todos os governos e em todos os tribunais civis daquele tempo. Vamos dar os dados mais modernos: No primeiro período de 1480 a 1530 a Inquisição foi extremamente ativa: Henry Kamen estima em perto de 2 mil executados sendo, a maioria, conversos do judaísmo. È o período mais escuro por falta de documentos. Sabemos com certeza os números de todas as causas desde 1560 até 1700. Este material proporciona informação de 49.092 julgamentos, estudados por Henninsen e Jaime Contreras no Congresso de Copenhague de 1978, em 19 tribunais de distrito. Desse total os judaizante foram 5.007, os moriscos 11.311, os luteranos 3499, os alumbrados 149, por bruxaria 3750, por proposições heréticas 14.319, bígamos 2.700, solicitantes 1.241 por ofensas contra o tribunal da Inquisição 3.954 e outros motivos 2.575. As condenas à morte [relaxados] eram na proporção de 1,9% dos encausados. Ou seja um total de 932 relaxados. No século 18 só houve um relaxado na América Latina. Modernos cálculos estimam um mínimo de 125 mil processos e um máximo de 200 mil, que contrastam com a de 45-70 mil da Inquisiçao romana e 56 mil da Portuguesa. Sendo este último tribunal o mais duro e o romano o menos duro dentre eles. Pelo que respeita aos protestantes, sabemos que só 220 foram queimados na fogueira. Calcula-se que só uma dúzia de nativos da Espanha foi queimada por Luteranismo [protestantismo] embora 200 enfrentaram o tribunal. Sobre as vítmas fatais, os modernos dão como cifras entre 3 e 5 mil, a maioría deles [2 mil] judeu-conversos nos primeiros 70 anos do tribunal. São os chamados marranos que, na realidade, deveriam ser chamados mar-anás [amargamente forçados] os cripto-judeus dos cristãos, a cujos filhos, os judeus da época chamaram de Bnei Anusssim [filhos dos forçados]. Comparemos com os 341 021 condenados e 31 912 queimados de Llorente, que dá um 9.35 % de queimados ou quase dez vezes mais das estimativas modernas. O mesmo Llorente escreve : Calcular o número de vítimas da Inquisição é o mesmo que demostrar praticamente uma das causas mais poderosas e eficaces da despovoação da Espanha. (veremos isto no fim do artigo). Mas Lea, o autor de History of the Inquisition of Spain considerou estas cifras, que Llorente não teve documentos para as avaliar, como muito exageradas. Como juizo final, deixemos falar os histriadores: A Inquisição espanhola não foi diferente das outras inquisições [incluindo as protestantes ] da sua época, até a paz de Westfalia (1648), sendo que, no caso das bruxas, foi enormemente mais indulgente que os trubunais das regiões protestantes. Depois da paz de Westfália as penas de morte quase foram inexistentes até o século 19 em cujo início foi dissolvida. Na Inglaterra, segundo Henry Kamen, foram mortos 4 vezes mais católicos pelos protestantes do que protesantes pela inquisição espanhola. Um exemplo: Henrique VIII condenou ao cadafalso 2 cardeais, vinte bispos, mais de 500 abades e monjas e multidão de doutores, nobres e funcionários da Coroa. No total se calculam perto de 60 mil os católicoas mortos, torturados ou encarcerados. Isabel I, a cabeça da Igreja Anglicana, ordenou ferozes matanças na Irlanda e levou ao suplício e à forca mais de 40 mil dissidentes religiosos. Esta sanguinária mulher, assegura o protestante Guilherme Cobett, mais gente matou num só ano do que a Inquisição durante todo o tempo da sua existência. Em 1560 o Parlamento escocês decretou a pena de morte contra todos os católicos. De Genebra, Calvino enviava à Inglaterra mensagens com as quais incitava ao extermínio: Quem não quer matar papistas é um traidor: salva o lobo e deixa inermes as ovelhas. As comuniddes calvinistas de Paris, Orleans , Ruen e Lyon, a finais do século XVI, decretaram a pena de morte aos hereges. So´na guerra contra os católicos, os huguenotes em 1562 mataram 4 mil religiosos e devastaram 20 mil igrejas. Em 1566, nos Países Baixos, foram arrasados, em cinco dias, mais de 400 conventos e igrejas. Calvino entre 1542 e 1546 interveio pessoalmente na execução de 58 condenados. Felipe II reconhecía que os Países Baixos já tinham uma inquisição própria mais despiedada do que a de aquí: os tribunais de Amberes executaram entre 1557 e 1562 a 103 hereges, mais dos que morreram em toda Espanha nese período. Em Nuremberg, uma das cidades mais cultas da Alemanha, morreram no espaço de 40 anos (1577-1617) 356 pessoas no cadafalso, dentre as 55.000 almas de que se compunha o distrito judicial: a Inquisição espanhola, proporcionalmente falando, teria supliciado 55.960 desventurados nesse mesmo espaço de tempo. Em Nordlingen, que contava 6.000 habitantes, morreram em 4 anos (1590-1594) trinta e cinco feiticeiros. Guardando-se a proporção, isto daria um total de mais de 11.000 vítimas das quais exageradamente, segundo Llorente, mandou supliciar, para toda a sorte de crimes, durante todo o tempo da sua existência, a Inquisição espanhola. A perseguição sanguinolenta foi o meio empregado pelos príncipes luteranos para arrancar os povos da Igreja. A intolerância de Lutero contra os camponeses alemães produziu milhares de vítimas. E contudo, é só contra a Igreja Católica que se ouvem palavras de censura e de incriminação. E chamam de excepcionais sobre todos os outros rigores os empregados pela inquisição da Espanha! Para não falar dos países nórdicos. Basta o dado de que na Suécia a liberdade religiosa só seria garantida em 1951. AS ÚLTIMAS ESTIMATIVAS :Segundo os estudos realizados por Henningsen e Contreras, sobre as 44.674 causas entre os anos 1540 e 1700 foram queimados na fogueira 1346 pessoas [menos de 9 por ano ] no império dos áustrias. O britânico Henry Kamen, conhecido estudioso não católico da Inquisição espanhola, calculou um total de 3.000 vítimas ao longo de seus 3 séculos de existência. Kamen diz que resulta interessante comparar as estatísticas sobre as condenas de morte dos tribunais civis e inquisitoriais entre os séculos XV e XVIII na Europa: para cada cem penas de morte dos tribunais ordinários, a Inquisição emitiu uma. No terceiro período, na primeira metade do século XVIII, 111 foram condenados a serem queimados em pessoa e 117 em efígie, pela maior parte judaizantes. E durante os reinados de Carlos III e IV só 4 foram condenados à morte.
H) OS TORMENTOS.
REFUTAÇÃO: Das três figuras que vemos, duas são mulheres e completamente nuas. Pois bem, nem uma nem outra são verdades que se ajustem à realidade. Como sabemos, as mulheres estavam em minoria e além disso sempre estavam vestidas com roupas interiores. Felizmente o autor não reproduz os terríveis instrumentos que os adventistas descobrem em seus vídeos. Os tormentos só foram aplicados em 10 % dos acusados. A lei recortava a só ½ hora o tempo no tormento. Henry Charles Lea, um historiador protestante, norte-americano que em 1870 começou a recolher material para suas obras, parte do fato histórico, fora da fantasia. Lea é dos primeiros escritores protestantes em reconhecer que a crença de que as torturas usadas pela Inquisição da Espanha foram excepcionalmente cruéis, é devido aos escritores sensacionalistas [sic] que tem abusado da credulidade de seus leitores [...] O sistema era mau, mas a Inquisição espanhola não foi responsável de sua introdução e, em gera, foi menos cruel que os tribunais seculares ao aplicá-lo, limitando-se estritamente a alguns métodos conhecidos. A comparação entre as inquisições espanhola e romana resulta favorável à primeira. Quais eram estes métodos? Nem o derramamento de sangue nem o fogo podiam ser empregados. Assim reduziam-se a três métodos essenciais: Basicamente eram dois os métodos: a garrucha [polia] e a toca [afogamento]. Mais tarde, se assimilou o método francês do potro [cavalete]. A garrucha era a polia com a qual o réu era alçado pelos braços, atados à espalda, e assim o mantiam pela reza de um Miserere. E então o deixavam cair de golpe sem tocar o chão. O afogamento por água [toca] era o mais usado. Cobriam com um pano o rosto, ao qual lançavam água com uma jarra que impregnando a tela impedia a respiração. Inicialmente abriam a boca com um elemento de ferro chamado bostezo, com o qual o réu absorvia a água até quatro jarras comumente. E o potro [cavalete] introduzido no século XVII consistia em aplicar torniquetes em munhecas, tornozelos e braços. O máximo de giros que se permitia era de seis ou sete. A roda não foi usada na Espanha, como aparentemente indica a revista na primeira gravura. O Santo Ofício utilizou, de fato, com menor frequência o tormento que outros tribunais coetâneos (era ordinário usá-la em todos). Historiadores como Lea e Kamen confirmam com estatísticas que em épocas duras [até 1530] em tribunais muito ativos o tormento foi utilizado unicamente em 1 ou 2 % dos casos. E a confissão sob tortura só era válida se ratificada mais tarde pelo réu. Não vamos seguir com outras questões. Bastam estas para não difamar um tribunal que foi, na sua época, o mais humano e que tinha como objeto a misericórdia antes do que a justiça. Quem confessasse e se arrependesse jamais seria condenado à última pena mas absolvido de leve ou de vehemete. Coisa que nunca admitiriam os tribunais civis em época alguma.
CONCLUSÕES
QUE TIVESSE SUCEDIDO CASO NÃO TIVESSE EXISTIDO A INQUISIÇÃO?
A) Sua existência foi Positiva:
Dois exemplos:
1) Os progroms [massacres] na Espanha: Entre 3 e 5 mil judeus foram massacrados em 1391 em Sevilla. Mais que todos os marranos em 300 anos em toda a Espanha. E anteriormente em 1301, 4 mil judeus foram assassinados na mesma cidade. Estes progrons foram repeidos em Córdobas, Toledo, Burgos, Barcelona, Valência. Em Barcelona e Valência as aljamas [guetos judios] foram totalmente aniquiladas. Em 1467 em Toledo foram queimadas 1600 casas de judeus. Por exemplo, e como contraste: no primeiro auto de fé em Valladolid Junho de 1488, 18 pessoas que tinham confessado seu judaísmo, foram queimadas. Em Portugal: Em Lisboa, descobriu-se em abril de 1506 que alguns conversos tinham ovelhas e galhinas para preparar a Páscoa. A matança foi terrível: mais de 500 conversos foram mortos de imediato e nos dias seguintes até 2mil ou segundo outros 4 mil. A causa principal eram os altos juros, até 33% que os cristãos tinham que pagar e por isso se eliminaram os documentos e letras ou promissórias. Pelo contrário: Já no primeiro auto de fé de 1543, na mesma cidade, houve 84 penitenciados dos quais só 6 foram queimados em pessoa [21 em efígie] e 15 sentenciados a cadeia perpétua. 13 receberam penas de um ano e 10 anos. Como vemos, pelo menos a Inquisição pôs uma certa ordem em seus julgamentos e penalidades e provavelmente impediu maiores massacres.
2) A bruxaria: A inquisição, com umas poucas mortes, 300 (8, 1 milhões) 0,037 por mil, impediu a caça de bruxas que se deu em toda a Europa e cujas vítimas se calculam em mais de 60 mil. Comparemos os dados com os que nos dizem os historiadores sobre o resto da Europa contemporânea: 1484: Nesse ano, -afirma Kurtz- mataram-se na Europa 300 (?) mil bruxas. Sendo que a população da Europa tinha 80 milhões de habitantes e a maior cidade, Paris, 80 mil habitantes. Na Grenoble católica, o poder civil preferentemente ente os anos 1428-47 [antes do Malleus] condenou à morte 167 pessoas. Na Saxônia protestante, num só dia, de 1580 se queimaram 133 bruxas. No pequeno cantão protestante suíço de Vaud em 10 anos mataram 311 bruxos. Na Baviera 2000, entre os anos 1500 a 1756. Um só perseguidor de bruxas na Alemanha teve sob sua consciência a morte de 900 pessoas. Um juiz francês [poder civil] se gabava de ter queimado 800 mulheres em 16 anos de magistratura. Queimaram-se 600 durante a administração de um bispo protestante em Bamberg (Alemanha). Na Genebra protestante de Calvino foram queimadas 500 pessoas num só ano de 1515. Como vemos, a Inquisição foi um verdadeiro presente para tais mulheres.
3) As gueras de religião que culminarm com a guerra dos trinta anos que assolou o centro europeu, especialmente a Alemania, cuja população só no século XIX chegou a ser igualada após sofrer uma queda de 20% e nalgumas regiões até 50 %. Não houve uma só batalha dentro dos territórios ibéricos.
B) Influência negativa da Instituição:
A inquisição contribuiu ao atraso cultural e científico da Espanha: Kamen não nega que a Espanha permanecesse alheia às correntes intelectuais européias no início da Época Moderna. Mas a causa da falta de liberdade interior no país, não foi a Inquisição. Atribui- se à expulsão dos judeus, 100 mil, numa população de 10 milhões [0,1%] o que é ridículo, ou dos moriscos, 300 mil [0.3 %]. Se bem que estes, situados no território de Aragão podiam supor em alguns lugares 30 ou 50 % da população local. As causas foram principalmente as guerras de sucessão borbônicas e de independência contra Napoleão e as civis do século XIX. Não esqueçamos que o século de ouro das letras e das artes hispanas foi precisamente o compreendido pelos primeiros austrias desde 1559 ate 1650.
C) MODERNAMENTE:
A Espanha foi o único país que, diplomaticamente, salvou alguns milhares de judeus durante a perseguição nazista, tanto ao protegê-los como sefardies, ou seja como de nacionalidade espanhola, quanto ao abrir suas fronteiras aos fugitivos. A Santa Sé, protegeu os judeus diplomaticamente por meio do seu delegado apostólico na Turquia e Grécia, Ângelo Roncalli, logo papa João XXIII, e ofereceu conventos e casas para abrigar os judeus italianos.
UMA PALAVRA FINAL:
Para se ter uma idéia de como pensavam , por exemplo, os europeus sobre o tormento, na Bélgica, em finais do século XVIII, os conselheiros votaram unanimemente pelo uso do tormento nos tribunais civis. Uso que os tribunais eclesiásticos foram os primeiros em suprimir. Contrariamente ao que se diz, na época de Torquemada, o tormento interrogatório quase não foi utilizado. Foi a partir do segundo terço do século XVI quando se aplicou com maior freqüência em um 6 a um 9% dos acusados. E foi precisamente no tempo de Torquemada quando o tormento foi foi menos usado. No século XVII diminuiu seu emprego e no século XVIII quase desapareceu. A última vítima da Inquisição foi o professor Cayetano Ripoll morto no garrote vil em Valência em Julho de 1826.
NOTAS:
Foram consultados os libros: Historia de la Inquisición em España y América (três volumens da BAC). Inquisición , Historia Crítica de Ricardo García Cárcel . Artigo La inquisición de Historia y Vida e outros escritos em revistas e artigos especializados.