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CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
PRIMEIRA PARTE
ARTIGO 3 - A SAGRADA ESCRITURA
I. Cristo - Palavra única da Sagrada Escritura
101 Na condescendência de sua bondade, Deus, para revelar-se aos homens, fala-lhes em palavras humanas:
Com efeito, as palavras de Deus, expressas por línguas
humanas, fizeram-se semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do
Pai Eterno, havendo assumido a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos
homens ".
102 Por meio de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra, seu Verbo único, no
65,2763 qual se expressa por inteiro
:
426-429 "Lembrai-vos
que é uma mesma a Palavra de Deus que está presente em todas as Escrituras, que
é um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados; ele que,
sendo no início Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, por não
estar submetido ao tempo
.”
103 Por este motivo, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como venera também o Corpo do Senhor.
1100,1184 Ela não cessa de apresentar aos fiéis o Pão da vida tomado da Mesa da Palavra de Deus e do Corpo de
1378 Cristo
.
104
Na
Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu alimento e sua força
,
pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a
Palavra de Deus
“Com
efeito, nos Livros Sagrados o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao
encontro de seus filhos e com eles fala
”.
II. Inspiração e verdade da Sagrada Escritura
105 Deus é o autor da Sagrada Escritura. "As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo"
"A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e
canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas
as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm
Deus como autor e nesta sua qualidade foram confiados à própria Igreja
."
106
Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados.. "Na redação dos livros
sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas
próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por
meio deles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele
próprio queria ".
107 Os livros inspirados ensinam a verdade. "Portanto, já que tudo o que os autores inspirados (ou hagiógrafos)
702 afirmam
deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se professar que os
livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus
em vista de nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras
."
108
Todavia, a fé cristã não é uma "religião do Livro". O Cristianismo é a religião
da "Palavra" de Deus, "não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado
e vivo
".
Para que as Escrituras não permaneçam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra
eterna de Deus vivo, pelo Espírito Santo nos "abra o espírito à compreensão das
Escrituras
".
III. O Espírito Santo, intérprete da Escritura
109
Na
Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Para bem interpretar
a Escritura é preciso, portanto, estar atento àquilo que os autores humanos
quiseram realmente afirmar e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras
deles .
110
Para
descobrir a intenção dos autores sagrados, há que levar em conta as condições da
época e da cultura deles, os "gêneros literários" em uso naquele tempo, os
modos, então correntes, de sentir, falar e narrar. “Pois a verdade é apresentada
e expressa de maneiras diferentes nos textos que são de vários modos históricos
ou proféticos ou poéticos, ou nos demais gêneros de expressão
."
111
Mas,
já que a Sagrada Escritura é inspirada, há outro princípio da interpretação
correta, não menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura
permaneceria letra morta: "A Sagrada Escritura deve também ser lida e
interpretada com a ajuda daquele mesmo Espírito em que foi escrita". O Concílio
Vaticano II indica três critérios para uma interpretação da Escritura
conforme o Espírito que a inspirou
:
112 1. Prestar muita atenção "ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira". Pois, por mais diferentes que sejam
128 os livros que a compõem, a Escritura é una em razão da unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus é
368
o centro e o coração, aberto
depois de sua Páscoa
O coração
de
Cristo designa a Sagrada Escritura, que dá a conhecer o coração de Cristo. O
coração estava fechado antes da Paixão, pois a Escritura era obscura. Mas a
Escritura foi aberta após a Paixão, pois os que a partir daí têm a compreensão
dela consideram e discernem de que maneira as profecias devem ser
interpretadas
.
113 2. Ler a Escritura dentro "da Tradição viva da Igreja inteira". Consoante um adágio dos Padres, "Sacra
81 Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in
materialibus instrumentis scripta a sagrada Escritura está escrita mais no
coração da Igreja do que nos instrumentos materiais
".
Com efeito, a Igreja leva em sua Tradição a memória viva da Palavra de Deus, e é
o Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da Escritura ("...segundo
o sentido espiritual que o Espírito dá à Igreja
").
114
3.
Estar atento "a analogia da fé
"
Por "analogia da fé" entendemos a coesão das verdades da fé entre si e
90 no projeto total da Revelação.
Os SENTIDOS DA ESCRITURA
115 Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, sendo este último subdividido em sentido alegórico, moral e analógico. A concordância profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja.
116 O sentido literal. É o sentido significado pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese que segue as
110-114 regras da correta interpretação. "Omnes
sensus fundantur super litteralem - Todos os sentidos (da Sagrada Escritura)
devem estar fundados no literal
”.
117 O sentido espiritual. Graças à unidade do projeto de Deus, não somente o texto da Escritura, mas também as
1101 realidades e os acontecimentos de que ele fala, podem ser sinais.
1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão
mais profunda dos acontecimentos reconhecendo a significação deles em Cristo;
assim, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo, e também do
Batismo
.
2. O sentido moral. Os acontecimentos relatados na
Escritura devem conduzir-nos a um justo agir. Eles foram escritos "para nossa
instrução" (1Cor 10,11 )
.
3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e
acontecimentos em sua significação eterna, conduzindo-nos (em grego: "anagogé";
pronuncie "anagogué") à nossa Pátria. Assim, a Igreja na terra é sinal da
Jerusalém celeste .
118 Um dístico medieval resume a significação dos quatro sentidos:
Littera gesta docei, quid credas allegoria,
moralis quid agas, quo tendas anagogia
.
A letra ensina o que aconteceu; a alegoria, o que deves crer;
a moral, o que deves fazer; a anagogia, para onde deves caminhar.
119 "É dever dos exegetas esforçar-se, dentro dessas diretrizes, por entender e expor com maior
94 aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho como que preparatório, amadureça o julgamento da Igreja. Pois todas estas coisas que concernem à maneira de interpretar a Escritura estão sujeitas, em última instância, ao juízo da Igreja, que exerce o divino ministério e mandato do
guardar e interpretar a Palavra de
Deus ".
Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae
Ecclesiae commoveret auctoritas.
113
Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade
da Igreja católica ".
IV O Cânon das Escrituras
120 Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados lista dos Livros
1117 Sagrados
".
Esta lista completa é denominada "Cânon" das Escrituras. Ela comporta 46 (45, se
contarmos Jr e Lm juntos) escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo
Testamento
.
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crônicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coélet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o Eclesiástico (ou Sirácida), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, para o Antigo Testamento; os Evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e de João, os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de São Paulo aos Romanos, a primeira e a segunda aos Corintios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, a primeira e a segunda aos Tessalonicenses, a primeira e a segunda a Timóteo, a Tito, a Filêmon, a Epístola aos Hebreus, a Epístola de Tiago, a primeira e a segunda de Pedro, as três Epístolas de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse, para o Novo Testamento.
O ANTIGO TESTAMENTO
121 Antigo Testamento é uma parte indispensável da Sagrada Escritura. Seus livros são divinamente inspirados
1093 e conservam um valor permanente
,
pois a Antiga Aliança nunca foi revogada .
122 Com efeito, "a Economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de
702,763 Cristo, redentor de todos". "Embora contenham também coisas imperfeitas e transitórias", os livros do Antigo
708 Testamento dão testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvífico de Deus: "Neles encontram-se sublimes ensinamentos acerca de Deus e uma salutar sabedoria concernente à vida do homem, bem como
2568 admiráveis tesouros de preces; nestes livros, enfim está latente o
mistério de nossa salvação
".
123 Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a idéia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar (marcionismo).
O Novo TESTAMENTO
124
"A
Palavra de Deus, que é força de Deus para a salvação de todo crente, é
apresentada e manifesta seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo
Testamento."
Estes escritos fornecem-nos a verdade definitiva da Revelação divina. Seu
objeto central é Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, seus atos,
ensinamentos, paixão e glorificação, assim como os inícios de sua Igreja sob a
ação do Espírito Santo
.
125 Os Evangelhos são o coração de todas as Escrituras, "uma vez que constituem o principal testemunho da
515 vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador
".
126 Na formação dos Evangelhos podemos distinguir três etapas:
1. A vida e o ensinamento de Jesus. A Igreja defende firmemente que os quatro Evangelhos, "cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvação deles, até o dia em que foi elevado".
76 2. A tradição oral. "O que o Senhor dissera e fizera, os apóstolos, após a ascensão do Senhor, transmitiram aos ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que gozavam, instruídos que foram pelos gloriosos acontecimentos de Cristo e esclarecidos pela luz do Espírito de verdade."
76
3. Os Evangelhos escritos. "Os autores sagrados escreveram
os quatro Evangelhos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas ou
oralmente ou já por escrito, fazendo síntese de outras ou explanando-as com
vistas à situação das igrejas, conservando, enfim, a forma de pregação, sempre
de maneira a transmitir-nos, a respeito de Jesus, coisas verdadeiras e
sincera ."
127 O Evangelho quadriforme ocupa a Igreja um lugar único, como atestam a veneração que lhe tributa a liturgia
1154 e o atrativo incomparável que desde sempre tem exercido sobre os santos :
2705
Não existe nenhuma doutrina que seja melhor, mais preciosa e mais
esplêndida que o texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso Senhor e Mestre,
Cristo, ensinou com suas palavras e realizou com seus atos
.
É acima de tudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas
orações; nele encontro tudo o que é necessário para minha pobre alma. Descubro
nele sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos
.
A UNIDADE ENTRE O ANTIGO E O NOVO TESTAMENTO
128
A
Igreja, já nos tempos apostólicos
,
e depois constantemente em sua Tradição, iluminou a unidade do
1094 plano divino nos dois Testamentos graças à tipologia. Esta discerne, nas obras de Deus contidas na Antiga
489 Aliança, prefigurações daquilo que Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa de seu Filho encarnado .
129 Por isso os cristãos lêem o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta leitura tipológica
651
manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento.
Ela não deve levar a esquecer que este conserva seu valor próprio de Revelação,
que o próprio Nosso Senhor reafirmou
.
De resto também o Novo
2055 Testamento exige ser lido à luz do Antigo. A catequese
cristã primitiva recorre constantemente a ele
.
1968 Segundo um adágio antigo, o Novo Testamento está escondido no Antigo, ao passo
que o Antigo é desvendado no Novo "Novum in Vetere latet et in Novo Vetus
patet
".
130 A tipologia exprime o dinamismo em direção ao cumprimento do plano divino, quando "Deus será tudo em todos" (1 Cor 15,28), Também a vocação dos patriarcas e o Êxodo do Egito, por exemplo, não perdem seu valor próprio no plano de Deus, pelo fato de serem ao mesmo tempo etapas intermediárias deste plano.
V. A Sagrada Escritura na vida da Igreja
131
"É tão
grande o poder e a eficácia encerrados na Palavra de Deus, que ela constitui
sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento
da alma, pura e perene fonte da vida espiritual
."
"É preciso que o acesso à Sagrada Escritura seja amplamente aberto aos fiéis
."
132 "Que o estudo das Sagradas Páginas seja, portanto, como que a alma da Sagrada Teologia. Da mesma
94 palavra da Sagrada Escritura também se nutre salutarmente e santamente
floresce o ministério da palavra, a saber, a pregação pastoral, a catequese e
toda a instrução cristã, na qual deve ocupar lugar de destaque a homilia
litúrgica ."
133 A Igreja "exorta com veemência e de modo peculiar todos os fiéis cristãos... a que, pela freqüente leitura das
2653 divinas Escrituras, aprendam 'a eminente ciência de Jesus Cristo”(Fl 3,8). “Com efeito, ignorar as Escrituras é
1792 ignorar Cristo
”.
RESUMINDO
134
Omnis Scriptura divina unus liber est, et hic unus liber est Christus, "quia
omnis Scriptura divina de Christo loquitur, et omn is Scriptura divina in
Christo impletur
"
- Toda a Escritura divina é um único livro, e este livro único é Cristo, já que
toda Escritura divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em
Cristo.
135
"As
Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus e, por serem inspiradas, são
verdadeiramente Palavra de Deus
."
136
Deus e o autor da Sagrada Escritura inspirar seus autores humanos; age neles e
por meio dele. Fornece assim a garantia de que seus escritos ensinem sem erro a
verdade salvífica
.
137
A
interpretação das Escrituras inspiradas deve antes de tudo estar atenta àquilo
que Deus quer revelar por intermédio dos autores sagrados para nossa salvação. O
que vem do Espírito só é plenamente entendido pela ação do Espírito
.
138 A Igreja recebe e venera como inspirados os 46 livros do Antigo e os 27 livros do Novo Testamento.
139 Os quatro Evangelhos ocupam um lugar central, já que Cristo Jesus é o centro deles.
140 A unidade dos dois Testamentos decorre da unidade do projeto de Deus e de sua Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo que este último cumpre o Antigo; os dois se iluminam reciprocamente; os dois são verdadeira Palavra de Deus.
141
"A
Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo
do Senhor
":
ambos alimentam e dirigem toda a vida cristã. "Tua Palavra é a lâmpada para meus
pés, e luz para meu caminho" (Sl 119,105
).