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CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
QUARTA PARTE - A ORAÇÃO CRISTÃ
PRIMEIRA SEÇÃO
A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ
2558 "Grande é o Mistério da fé." A Igreja o professa no Símbolo dos Apóstolos (Primeira parte) e o celebra na Liturgia sacramental (Segunda parte), para que a vida dos fiéis seja conforme a Cristo no Espírito Santo para a glória de Deus Pai (Terceira parte). Esse Mistério exige, pois, que os fiéis nele creiam, celebrem-no e dele vivam numa relação viva e pessoal com o Deus vivo e verdadeiro. Essa relação é a oração.
O QUE É A ORAÇÃO?
Para mim, a oração é um impulso do
coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no
meio da provação ou no meio da alegria
.
A oração como dom de Deus
2559
"A oração
é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes
.
De onde falamos nós, ao rezar? Das alturas de nosso orgulho e vontade
própria, ou das "profundezas" (Sl 130,1) de um coração humilde e contrito? Quem
se humilha
2613
será exaltado
.
A humildade é o fundamento da oração. "Nem sabemos o que seja
2736
conveniente pedir"
(Rm 8,26). A humildade é a disposição para receber gratuita-mente o dom da
oração; o homem é um mendigo de Deus
.
2560 "Se conhecesses o dom de Deus!" (Jo 4,10). A maravilha da oração se revela justamente aí, à beira dos poços aonde vamos procurar nossa água; é aí que Cristo vem ao encontro de todo ser humano, é o primeiro a nos procurar, e é Ele que pede de beber. Jesus tem sede, seu pedido vem das profundezas do Deus que nos deseja.
A oração, quer saibamos ou não, é o
encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede
dele
.
2561
"És tu que lhe pedirias e Ele te daria
água viva" (Jo 4,10). Nossa oração de pedido é, paradoxalmente, uma resposta.
Resposta à queixa do Deus vivo: "Eles me abandonaram a mim a fonte de água viva,
para cavar para si cisternas furadas!" ( 2,13), resposta de fé à promessa
gratuita da salvação
,
resposta de amor à sede do Filho único
.
A oração como Aliança
2562 De onde vem a oração humana? Qualquer que seja a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo c reza. Mas, para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito, geralmente do coração (mais de mil vezes). E o coração que reza. Se ele está longe de Deus, a expressão da oração é vá.
2563 O coração é a casa em que estou, onde moro (segundo expressão semítica ou bíblica:
368 aonde eu "desço"). Ele é nosso centro escondido, inatingível pela razão e por outra pessoa; só o Espírito de Deus pode sondá-lo e conhecê-lo. Ele é o lugar da decisão, no mais profundo de nossas tendências psíquicas. E o lugar da verdade, onde
2699 escolhemos a vida ou a morte. E o lugar do encontro, pois, à imagem de Deus,
1696 vivemos em relação; é o lugar da Aliança.
2564 A oração cristã é uma relação de Aliança entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; brota do Espírito Santo e de nós, totalmente dirigida para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem.
A oração como Comunhão
2565 Na Nova Aliança, a oração é a relação viva dos filhos de Deus com seu Pai
260
infinitamente
bom, com seu Filho, Jesus Cristo, e com o Espírito Santo. A graça do Reino é a
"união de toda a Santíssima Trindade com o espírito pleno
”.
A vida de oração desta forma consiste em estar habitualmente na presença do Deus
três vezes Santo e em comunhão com Ele. Esta comunhão de vida é sempre possível,
porque, pelo Batismo, nos tomamos um mesmo ser com Cristo. A oração é cristã
enquanto
792
comunhão com Cristo
e
cresce na Igreja que é seu Corpo. Suas dimensões são as do Amor de Cristo
.
CAPÍTULO I
A REVELAÇÃO DA ORAÇÃO.
VOCAÇÃO UNIVERSAL Ã ORAÇÃO
2566 O homem está à procura de Deus. Pela criação, Deus chama todo ser do nada à
296
existência.
"Coroado de glória e esplendor
”,
o homem é, depois dos anjos, capaz de reconhecer que "é poderoso o Nome do
Senhor em toda a terra
”.
Mesmo depois de ter perdido a semelhança com Deus por seu pecado, o homem
continua
355 sendo um ser feito à imagem de seu Criador. Conserva o desejo daquele que o chama
28
à existência. Todas as religiões testemunham essa procura essencial
dos homens
.
2567 Deus é o primeiro a chamar o homem. Ainda que o homem esqueça seu Criador ou se esconda longe de sua Face, ainda que corra atrás de seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente
30 cada pessoa ao encontro misterioso da oração. Essa atitude de amor fiel vem sempre em primeiro lugar na oração; a atitude do homem é sempre resposta a esse amor fiel.
142 A medida que Deus se revela e revela o homem a si mesmo, a oração aparece como um recíproco apelo, um drama de Aliança. Por meio das palavras e dos atos, esse drama envolve o coração e se revela através de toda a história da salvação.
ARTIGO I
NO ANTIGO TESTAMENTO
2568 A revelação da oração no Antigo Testamento se insere entre a queda e a elevação
410,1736 do homem,
entre o chamado doloroso de Deus a seus primeiros filhos: "Onde es-tás?... Que
fizeste?" (Gn 3,9.13), e a resposta do Filho único ao entrar no mundo: "Eis-me
aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade
”. A oração, dessa forma,
2738 está ligada à história dos homens, é a relação com Deus nos acontecimentos da história.
A criação - fonte da oração
2569 É sobretudo a partir das realidades da criação que se vive a oração. Os nove
288
primeiros
capítulos do Gênesis descrevem essa relação com Deus como oferenda dos
primogênitos rebanho de Abel
,
como invocação do nome divino por Enós
,
como
58
"caminhada com Deus
".
A oferenda de Noé é "agradável" a Deus, que o abençoa e, por meio dele, abençoa
toda a criação
,
porque seu coração é justo e íntegro; também ele caminha com Deus" (Gn 6,9).
Essa qualidade da oração é vivida por uma multidão de justos em todas as
religiões. Em sua Aliança indefectível com os seres
59
vivos
,
Deus sempre convida os homens a orar. Mas é sobretudo a partir nosso pai Abraão
que a oração é revelada no Antigo Testamento.
A promessa e a oração da fé
2570 Assim que Deus o chama, Abraão parte, "como lhe disse o Senhor" (Gn 12,4); seu
145
coração se
mostra "submisso à Palavra” ele obedece. A escuta do coração que se decide
segundo Deus é essencial à oração; as palavras lhe são relativas. Mas a oração
de Abraão se exprime primeiro por atos: como homem de silêncio, ele constrói, a
cada etapa, um altar ao Senhor. Somente mais tarde aparece sua primeira oração
com palavras: uma queixa velada que lembra a Deus suas promessas que parecem não
se realizar
.
Desde o começo aparece assim um dos aspectos do drama da oração: a provação da
fé na fidelidade de Deus.
2571
Tendo acreditado
em Deus
,
caminhando em sua presença e em aliança com ele
,
o patriarca está disposto a acolher em sua tenda o hóspede misterioso: é a
admirável
494
hospitalidade de Mambré, prelúdio da anunciação do verdadeiro Filho da
Promessa
.
Por isso, tendo-lhe Deus confiado seu plano, o coração de Abraão está
sintonizado com a compaixão de seu Senhor pelos homens, e ele ousa interceder
por eles com
2635
audaciosa confiança
.
2572 Como última purificação de sua fé, requer-se do "depositário das promessas" (Hb 11,17) que sacrifique o filho que Deus lhe dera. Sua fé não esmorece: "E Deus que proverá o cordeiro para o holocausto" (Gn 22,8), "pois Deus, pensava ele, é capaz também de ressuscitar os mortos" (Hb 11,19). Dessa forma, o pai dos que crêem se configurou ao Pai que não há de poupar seu próprio Filho, mas o entregará por todos
603
nós
.
A oração restaura o homem à semelhança de Deus e o faz participar do poder do
amor de Deus que salva a multidão
.
2573
Deus
renova
sua promessa a Jacó, pai das doze tribos de Israel
.
Antes de enfrentar seu irmão Esaú, ele luta uma noite inteira com "alguém"
misterioso que se recusa a revelar-lhe o nome, mas o abençoa antes de o deixar
ao despontar da aurora. A tradição espiritual da Igreja reteve dessa história o
símbolo da oração
162
como combate da fé e vitória da perseverança
.
Moisés e a oração do mediador
2574 Logo que começa a se realizar a Promessa (a Páscoa, o Êxodo, a entrega da Lei e a
62 conclusão da Aliança), a oração de Moisés é a figura surpreendente da oração de intercessão que se realizará no “único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus" (1 Tm 2,5).
2575 Também aqui Deus vem primeiro. É Ele quem chama Moisés do meio da sarça
205
ardente
.
Esse acontecimento será sempre uma das figuras primordiais da oração na tradição
espiritual judaica e cristã. De fato, se "o Deus de Abraão, Isaac e Jacó" chama
seu servo Moisés, é porque Ele é o Deus Vivo que quer a vida dos homens. Ele se
revela para salvá-los, mas não sozinho, nem apesar deles; chama Moisés para
enviá-lo, para associá-lo sua compaixão, à sua obra de salvação. Há, por assim
dizer, uma imploração divina nesta missão, e Moisés, depois de longo debate,
conformará sua vontade com a de Deus salvador. Mas, nesse diálogo em que Deus se
confia, Moisés também aprende a orar esquiva-se, objeta e principalmente pede. E
é em resposta a sei pedido que o Senhor lhe confia seu Nome inefável, que se
revelará em seus grandes feitos.
2576 "Deus falava com Moisés face a face, como um homem fala com outro" (Ex 33,11).
555 A oração de Moisés é típica da oração contemplativa graças à qual o servo de Deus é fiel à sua missão. Moisés "conversa" muitas vezes e longamente com o Senhor, subindo à montanha para ouvi-lo e implorá-lo, e descendo ao povo para lhe repetir as palavras de seu Deus e guiá-lo. "Toda minha casa lhe está confiada. Falo-lhe face a face, claramente e não em enigmas" (Nm 12,7-8), pois "Moisés era um homem muito humilde, o mais humilde dos homens que havia na terra" (Nm 12,3).
2577
Dessa
intimidade
com o Deus fiel, lento para a cólera e cheio de amor
,
Moisés
210 tirou a força e a tenacidade de sua intercessão. Não ora por si, mas pelo povo que
2635
Deus adquiriu. Já durante o combate com os amalecitas
,
ou para obter a cura de Míriam
,
Moisés intercede. Mas é sobretudo depois da apostasia do povo que "ele se posta
na brecha", diante de Deus (Sl 106,23), para salvar o povo
.
Os argumentos de si oração (a intercessão também é um combate misterioso)
inspirarão
214 a audácia dos grandes orantes do povo judeu e da Igreja: Deus é amor, por isso é justo e fiel; não se pode contradizer, deve lembrar-se de suas ações maravilhosas, sua Glória está em jogo, não pode abandonar o povo que traz seu nome.
Davi e a oração do rei
2578
A oração do povo de Deus florescerá à
sombra da Casa de Deus, da Arca da Aliança e, mais tarde, do Templo. São
principalmente os guias do povo os pastores e os profetas - que o ensinarão a
orar. Samuel, menino, teve de aprender de sua mãe Ana como "se portar diante do
Senhor
”,
e do sacerdote Eli, como ouvir Sua Palavra: "Fala, Senhor, que teu servo ouve"
(1Sm 3,9-10). Mais tarde, também ele conhecerá o preço e o peso da intercessão:
"Quanto a mim, longe de mim esteja que eu venha a pecar contra o Senhor,
deixando de orar por vós e de vos mostrar o bem e o reto caminho" (1Sm 12,23).
2579 Davi é por excelência o rei "segundo o coração de Deus", o pastor que ora por seu
709 povo e em seu nome, aquele cuja submissão à vontade de Deus, cujo louvor e
436
arrependimento serão o modelo da oração do povo. Como ungido de Deus, sua oração
é adesão fiel à promessa divina
,
confiança cheia de amor e alegria naquele que é o único Rei e Senhor. Nos
Salmos, Davi, inspirado pelo Espírito Santo, é o primeiro profeta da oração
judaica e cristã. A oração de Cristo, verdadeiro Messias e filho de Davi,
revelará e realizará o sentido dessa oração.
2580 O Templo de Jerusalém, a casa de oração que Davi queria construir, será a obra de
583
seu
filho Salomão. A oração da Dedicação do Templo
se
apóia na Promessa de Deus e em sua Aliança, na presença ativa de seu nome entre
o povo e a lembrança dos grandes feitos do Êxodo. O rei levanta então as mãos ao
céu e suplica ao Senhor por si, por todo o povo, pelas gerações futuras, pelo
perdão dos pecados, pelas necessidades de cada dia, para que todas as nações
saibam que Ele é o único Deus e para que o coração de seu povo seja inteiramente
dele.
Elias, os profetas e a conversão do coração
2581 O Templo devia ser para o povo de Deus o lugar de sua educação à oração: as
1150 peregrinações, as festas, os sacrifícios, a oferenda da tarde, o incenso, os pães da "proposição", todos esses sinais da Santidade e da Glória de Deus, Altíssimo e tão próximo, eram apelos e caminhos da oração. Mas o ritualismo. arrastava muitas vezes o povo para um culto por demais exterior. Faltava a educação da fé, a conversão do coração. Foi a missão dos profetas, antes e depois do Exílio.
2582
Elias é o pai dos profetas, "da geração
dos que procuram Deus, dos que buscam sua face
”.
Seu nome, "O Senhor é me Deus", anuncia o clamor do povo em resposta à sua
oração no monte Carmelo
.
S. Tiago nos remete a Elias para nos incitar à oração: "A oração fervorosa do
justo tem grande poder
".
2583
Depois
de
ter aprendido a misericórdia em seu retiro á margem da torrente do Carit, ensina
à viúva de Sarepta a fé na palavra de Deus, fé que ele confirma por sua oração
insistente: Deus devolve à vida o filho da viúva
.
Por ocasião do sacrifício no monte Carmelo, prova decisiva para a fé do povo de
696 Deus, foi por sua súplica que o
fogo do Senhor consumiu o holocausto, "na hora em que se apresenta a oferenda da
tarde": "Responde-me, Senhor, responde-me!", são as mesmas palavras de Elias que
as Liturgias orientais repetem na Epiclese eucarística
.
Por fim, retomando o caminho do deserto
para o lugar em que o Deus vivo e verdadeiro se revelou a seu povo, Elias se
escondeu, como Moisés, "na fenda do rochedo", até que "passasse" a Presença
misteriosa de Deus
.
Mas somente na
555
montanha da Transfiguração se revelará Aquele cuja Face buscam
;
o conhecimento da Glória de Deus está na face Cristo crucificado e
ressuscitado
.
2584 No "face a face" com Deus, os profetas haurem luz e força para sua missão. Sua
2709
oração não
é uma fuga do mundo infiel, mas uma escuta da Palavra de Deus, às vezes um
debate ou uma queixa, sempre uma intercessão que aguarda e prepara a intervenção
do Deus salvador, Senhor da história
.
OS Salmos, oração da assembléia
2585 Desde Davi até a vinda do Messias, os Livros Sagrados contêm textos de oração
1093
que atestam o
aprofundamento cada vez maior da oração por si mesmo e pelos outros
.
Os salmos foram pouco a pouco reunidos numa coletânea de cinco livros: os Salmos
(ou "Louvores"), obra-prima da oração no Antigo Testamento.
2586 Os Salmos alimentam e exprimem a oração do povo de Deus como assembléia, por ocasião das grandes festas em Jerusalém e cada sábado nas sinagogas. Esta oração é inseparavelmente pessoal e comunitária; refere-se aos que oram e a todos os homens; sobe da Terra Santa e das comunidades da Diáspora, mas abrange toda a criação; lembra os acontecimentos salvíficos do passado e se estende até a consumação da história; recorda as promessas de Deus já realizadas e aguarda o Messias que as realizará definitivamente. Rezados e realizados em Cristo, os Salmos
1177
são sempre essenciais à oração de Sua Igreja
.
2587
O
Saltério
é o livro em que a Palavra de Deus se torna oração do homem. Nos outros livros
do Antigo Testamento, as palavras proclamam as obras" (de Deus em favor dos
homens) "e elucidam o mistério nelas contido
”. No Saltério, as palavras do salmista
exprimem, cantando-as a Deus, suas obras de salvação. O mesmo Espírito
2641 inspira a obra de Deus e a resposta do homem. Cristo unirá uma e outra. Nele, os salmos nos ensinam continuamente a orar.
2588 As expressões multiformes da oração dos Salmos tomam forma tanto na liturgia do Templo como no coração do homem. Quer se trate de um hino, de uma oração de aflição ou de ação de graças, de uma súplica individual ou comunitária, de canto de aclamação ao rei ou de um cântico de peregrinação, ou ainda de uma meditação sapiencial, os Salmos são o espelho das maravilhas de Deus na história de seu povo e das situações humanas vividas pelo salmista. Um Salmo pode refletir um acontecimento do passado, mas é de uma sobriedade tão grande que pode ser rezado na verdade pelos homens de qualquer condição e em qualquer tempo.
2589 Os Salmos são marcados por características constantes: a simplicidade e a espontaneidade da oração, o desejo do próprio Deus através de e com tudo o que é bom em sua criação, a situação desconfortável do crente que, em seu amor preferencial ao Senhor, está exposto a uma multidão de inimigos e tentações e, na expectativa do que fará o Deus fiel, a certeza de seu amor e a entrega à sua vontade.
304 A oração dos Salmos é sempre motivada pelo louvor, e por isso o título desta coletânea convém perfeitamente ao que ela nos oferece: "Os Louvores". Feita para o culto da Assembléia, ela anuncia o convite à oração e canta-lhe a resposta: "Hallelu-Ya"! (Aleluia), "Louvai o Senhor"!
Haverá algo melhor do que um Salmo? É por
isso que Davi diz muito acertadamente: "Louvai o Senhor, pois o Salmo é uma
coisa boa: a nosso Deus, louvor suave e belo!" E é verdade. Pois o Salmo é
bênção pronunciada pelo povo, louvor de f pela assembléia, aplauso de todos,
palavra dita pelo universo voz da Igreja, melodiosa profissão de fé
..
RESUMINDO
2590
"A oração é a elevação da alma a Deus
ou o pedido a Deus dos bens convenientes
.”
2591 Deus chama incansavelmente toda pessoa ao encontro misterioso com Ele. A oração acompanha toda a história da salvação como um apelo recíproco entre Deus e o homem.
2592 A oração de Abraão e de Jacó se apresenta como um combate da fé apoiada na confiança na fidelidade de Deus e na certeza da vitória prometida à perseverança.
2593 A oração de Moisés responde à iniciativa do Deus vivo para a salvação de seu povo. Prefigura a oração de intercessão do único mediador, Jesus Cristo.
2594 A oração do povo de Deus floresce à sombra da Casa de Deus, da Arca da Aliança e do Templo, sob a direção dos pastores, principalmente do rei Davi, e dos profetas.
2595 Os profetas chamam à conversão do coração e, buscando ardentemente a face de Deus, como Elias, intercedem pelo povo.
2596 Os Salmos constituem a obra-prima da oração no Antigo Testamento. Apresentam dois componentes inseparáveis; o pessoal e o comunitário. Estendem-se a todas as dimensões da história, comemorando as promessas de Deus já realizadas e esperando a vinda do Messias.
2597 Rezados e realizados em Cristo, os Salmos são um elemento essencial e permanente da oração de sua Igreja e são adequados aos homens de qualquer condição e tempo.
ARTIGO 2
NA PLENITUDE DO TEMPO
2598 O evento da oração nos é plenamente revelado no Verbo que se fez carne e habita entre nós. Procurar compreender sua oração, por meio daquilo que suas testemunhas nos anunciam dela no Evangelho, é aproximar-nos do Santo Senhor Jesus como da sarça ardente: primeiro contemplá-lo na oração, depois ouvir como Ele nos ensina a orar, para conhecer, enfim, como Ele atende nossa prece.
Jesus ora
2599 O Filho de Deus que se tomou Filho da Virgem aprendeu também a rezar segundo
470-473
seu coração
de homem. Aprendeu as fórmulas de oração com sua mãe, que conservava e meditava
em seu coração todas as "grandes coisas" feitas pelo Todo-Poderoso
.
584 Aprendeu nas palavras e ritmos da oração de seu povo, na sinagoga de Nazaré e no Templo. Mas sua oração brota de uma fonte bastante secreta, como deixa prever com a idade de doze anos: "Eu devo estar na casa de meu Pai" (Lc 2,49). Aqui
534 começa a se revelar a novidade da oração na plenitude dos tempos: a oração filial, que o Pai esperava de seus filhos, será enfim vivida pelo próprio Filho único em sua humanidade, com os homens e para os homens.
2600 O Evangelho segundo S. Lucas destaca a ação do Espírito Santo e o sentido da oração no ministério de Cristo. Jesus ora antes dos momentos decisivos de sua
535,554
missão:
antes de o Pai dar testemunho dele por ocasião do Batismo
e
da
612
Transfiguração e
antes de realizar por sua Paixão o plano de amor do Pai
.
Ora
858,443
também antes dos momentos decisivos que darão início à missão dos Apóstolos:
antes de escolher e chamar os Doze
,
antes que Pedro o confesse como "Cristo de Deus
e
para que a fé do chefe dos Apóstolos não desfaleça na tentação
.
A oração de Jesus antes das ações salvíficas que realiza a pedido do Pai é uma
entrega, humilde e confiante, de sua vontade humana à vontade amorosa do Pai.
2601 "Estando em certo lugar, orando, ao terminar, um de se discípulos pediu-lhe: Senhor, ensina-nos a orar" (Lc 11,1). Não é antes de tudo contemplando seu mestre a orar que o discípulo de Cristo deseja orar? Pode então aprender a orar que o Mestre da
2765 oração. É contemplando e ouvindo o Filho que filhos aprendem a orar ao Pai.
2602 Jesus muitas vezes se retira, na solidão, na montanha, de preferência à noite, para
616
orar
.
Em sua oração, leva consigo os homens, pois, assumindo a humanidade em sua
Encarnação, oferece-os ao Pai, oferecendo-se a si mesmo. Ele, o Verbo que
"assumiu a carne", em sua oração humana participa de tudo o que vivem "seus
irmãos
";
Ele se compadece de fraquezas para livrá-los delas
.
Foi para isso que o Pai o enviou. Suas palavras e obras aparecem então como a
manifestação visível de sua oração "em segredo".
2603 De Cristo, durante seu ministério, os evangelistas conservaram duas orações mais
2637
explícitas, que começam ambas com uma ação de graças. Na primeira
,
Jesus glorifica o Pai, agradece-lhe e o bendiz porque escondeu os mistérios do
Reino aos
2546 que se julgam doutos e revelou-os aos "pequeninos" (os pobres das Bem-aventuranças). Sua exclamação emocionada, "Sim, Pai!", exprime o fundo de seu
494
coração, sua adesão ao "beneplácito" do Pai, como num eco ao "Fiat" de Sua
Mãe em sua concepção e como prelúdio àquele sim que dirá ao Pai em sua agonia.
Toda a oração de Jesus está nesta adesão amorosa de seu coração de homem ao
"mistério da vontade" do Pai
.
2604
A segunda
oração é referida por São João antes
da ressurreição de Lázaro. A ação de graças precede o acontecimento: "Pai, eu te
dou graças por me teres ouvido", o que implica que o Pai escuta sempre seu
pedido, e Jesus logo acrescenta: "Eu sabia que sempre me ouves". Isso implica
que, de sua parte, Jesus pede de modo constante. Dessa forma, motivada pela ação
de graças, a oração de Jesus nos revela como pedir: Antes que o dom seja feito,
Jesus adere Àquele que nos dá seus dons. O Doador é mais precioso do que o dom
concedido, Ele é o "Tesouro", e nele é que
478
está o coração de seu Filho; o dom é
dado "por acréscimo
”.
2746
A oração "sacerdotal" de Jesus
ocupa
um lugar único na economia da salvação. Será meditada no final da primeira
seção. Revela com efeito a oração sempre atual de nosso Sumo Sacerdote e, ao
mesmo tempo, contém o que Ele nos ensina em nossa oração a nosso Pai, que será
desenvolvida na segunda seção.
2605 Ao chegar a Hora de realizar o plano de amor do Pai, Jesus deixa entrever a profundidade insondável de sua oração filial, não apenas antes de se entregar livremente ("Abba... não seja feita a minha vontade, mas a tua": Lc 22,42), mas também em suas últimas palavras na Cruz, quando orar e entregar-se são um só e
614
mesmo ato: "Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34); "Em verdade te digo, hoje
mesmo estarás comigo Paraíso" (Lc 23,43); "Mulher, eis aí teu filho"; "Eis tua
mãe" (Jo 19,26-27); "Tenho sede!" (Jo 19,28); "Meu Deus, por que me
abandonaste
?”;
"Tudo está consumado" (Jo 19,30); "Pai, c tuas mãos entrego meu espírito" (Lc
23,46), até aquele grande grito, quando Ele expira, entregando o espírito
.
2606 Todas as misérias da humanidade de todos os tempos, escrava do pecado e da morte,
403 todos os pedidos e intercessões história da salvação estão recolhidos neste Grito do
653 Verbo encarnado. Eis que o Pai os acolhe e, indo além de todas as esperanças, ouve-
2587´
os, ressuscitando seu Filho. Dessa forma se realiza e se consuma o evento
da oração na Economia da criação e da salvação. Sua chave de interpretação nos é
dada pelo Saltério em Cristo. E no Hoje da Ressurreição que o Pai diz: "Tu és
meu Filho, eu hoje te gerei. Pede, e eu te darei as nações como herança, os
confins da terra como propriedade
!”
A Epístola aos Hebreus exprime em termos dramáticos como a oração de Jesus opera a vitória da salvação. "É ele que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa de sua submissão. E, embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento; e, levado à perfeição, se tomou para todos os que lhe obedecem princípio de salvação eterna" (1 Hb 5,7-9).
JESUS ENSINA A ORAR
2607 Ao orar, Jesus já nos ensina a orar. O caminho teologal de nossa oração é a oração a
520 seu Pai. Mas o Evangelho nos dá um ensinamento explícito de Jesus sobre a oração. Como pedagogo, ele nos toma onde estamos e, progressivamente, nos conduz ao Pai. Dirigindo-se às multidões que o seguem, Jesus parte daquilo que elas já conhecem da oração, conforme a Antiga Aliança, e as abre para a novidade do Reino que vem. Depois lhes revela em parábolas essa novidade. Enfim, falará abertamente do Pai e do Espírito Santo a seus discípulos, que deverão ser pedagogos da oração em sua Igreja.
2608 No Sermão da Montanha, Jesus insiste na conversão do coração: a reconciliação com
541,1430
o irmão
antes de apresentar uma oferenda no altar ,
o amor aos inimigos e a oração pelos perseguidores
,
a oração ao Pai "em segredo" (Mt 6,6), a não-multiplicação das palavras
,
o perdão do fundo do coração na oração, a pureza do coração
e
a busca do Reino
.
Essa conversão é inteiramente orientada para o Pai; é filial.
2609 O coração assim decidido a se converter aprende a orar na fé. A fé é uma adesão
153,1814
filial a
Deus, acima daquilo que sentimos e compreendemos. Tomou-se possível porque o
Filho bem-amado nos abre as portas para o Pai. Este pode pedir-nos que
"procuremos" e "batamos", uma vez que Ele mesmo é a porta e o caminho
.
2610 Assim como Jesus ora ao Pai e dá graças antes de receber seus dons, Ele nos ensina essa audácia filial: "Tudo quanto suplicardes e pedirdes, crede que já recebestes" (
165
Mc
11,24). "Tudo é possível para quem crê" (Mc 9,23), com uma fé "que não hesita
”.
tal é a força da oração. Se por um lado Jesus se entristece pela "falta de fé"
de seus parentes (Mc 6,6) e pela "fraqueza na fé" de seus discípulos
,
por outro lado fica admirado com a "grande fé" do centurião romano
e
da cananéia
.
2611 A oração de fé não consiste apenas em dizer "Senhor, Senhor", mas em levar o
2827
coração a
fazer a vontade do Pai
.
Jesus convida os discípulos a terem, na oração, a preocupação de cooperarem com
o plano divino
.
2612 Em Jesus, "o Reino de Deus está próximo" (Mc 1,15) e convoca à conversão e à fé,
672 como também, à vigilância. Na oração, o discípulo vigia atento Aquele que É e que Vem na memória de sua primeira Vinda na humildade da carne e na esperança de
2725
sua
segunda Vinda na Glória
.
Em comunhão com o Mestre a oração dos discípulos é um combate, e é vigiando na
prece que não se cai em tentação
.
2613 Três parábolas principais sobre a oração nos são transmitida por S. Lucas.
A primeira, "o amigo importuno
”,
convida a uma oração persistente: "Batei e se vos abrirá". Àquele que assim ora,
o Pai do céu "dará tudo o que precisa", sobretudo o Espírito Santo, que contém
todos os dons.
A segunda, "a viúva importuna
”,
focaliza uma das qualidades da oração: é preciso rezar sempre sem esmorecimento,
com a paciência fé. "Mas, quando vier o Filho do homem, acaso encontrará fé na
terra?
2559
A terceira parábola, "o fariseu e o
publicano
”,
refere-se à humildade do coração que reza. "Meu Deus, tem piedade de mim,
pecador.” Essa oração a Igreja constantemente toma sua: "Kyrie eleison!"
2614 Quando Jesus confia abertamente a seus discípulos o ministério da oração ao Pai, revela-lhes qual deverá ser sua oração, e a nossa, quando Ele voltar para o Pai, em
434
sua
Humanidade glorificada. A novidade agora é "pedir em seu Nome
”.
A fé nele introduz os discípulos no conhecimento do Pai, porque Jesus é "o
Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6). A fé produz seus frutos no amor: guardar
sua Palavra, seus mandamentos, permanecer com Ele no Pai, que nele nos ama a
ponto de permanecer em nós. Nessa Aliança nova, a certeza de sermos ouvidos em
nossos pedidos se fundamenta na oração de Jesus
.
2615 Mais ainda, o que o Pai nos dá quando nossa oração está unida à de Jesus é o "outro
728
Paráclito para que convosco permaneça para sempre o Espírito da Verdade" (Jo
14,16-17). Essa novidade da oração e de suas condições aparece no discurso de
despedida
.
No Espírito Santo, a oração cristã é comunhão de amor com o Pai, não apenas por
Cristo, mas também nele: "Até agora nada pedistes em meu Nome. Pedi e
recebereis, e vossa alegria será perfeita" (Jo 16,24).
Jesus ouve a oração
2616 A oração a Jesus é ouvida por Ele já durante seu ministério, por meio dos sinais que antecipam o poder de sua Morte e Ressurreição: Jesus ouve a oração de fé,
548
expressa em palavras (o leproso
,
Jairo
,
a cananéia
,
o bom ladrão
),
ou em silêncio (os carregadores do paralítico
,
a hemorroíssa que lhe toca as vestes
,
as lágrimas e o perfume da pecadora
).
O pedido insistente dos cegos: "Filho de Davi, tem compaixão de nós" (Mt 9,27)ou
"Filho de Davi, tem compaixão de mim" (Mc
2667 10,47) foi retomado na tradição da Oração a Jesus: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de mim, pecador!" Quer na cura das enfermidades, quer na remissão dos pecados, Jesus responde sempre à oração que implora com fé: "Vai em paz, tua fé te salvou!"
Sto. Agostinho resume admiravelmente as
três dimensões da oração de Jesus (cf. 2667): "Ele ora por nós como nosso
sacerdote, ora em nós como nossa cabeça, e a Ele sobe nossa oração como ao nosso
Deus. Reconheçamos pois, nele, os nossos clamores e em nós os seus clamores
".
A oração da Virgem Maria
2617 A oração de Maria nos é revelada na aurora da plenitude dos tempos. Antes da
148 Encarnação do Filho de Deus e antes da efusão do Espírito Santo, sua oração coopera
494
de
maneira única com o plano benevolente do Pai; na Anunciação para a concepção de
Cristo
,
em Pentecostes para a formação da Igreja, Corpo de Cristo
.
Na fé de sua humilde serva, o Dom de Deus encontra o acolhimento que esperava
desde o
490 começo dos tempos. Aquela que o Todo-Poderoso tornou "cheia de graça" responde pela oferenda de todo seu ser: "Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra". Fiat, esta é a oração cristã: ser todo dele porque Ele é todo nosso.
2618
O
Evangelho
nos revela como Maria ora e intercede na fé: em Caná
,
a mãe de
2674
Jesus pede a seu filho pelas necessidades de um banquete de núpcias,
sinal de outro Banquete, o das núpcias do Cordeiro, que dá seu Corpo e Sangue a
pedido da Igreja, sua Esposa. E é na hora da nova Aliança, ao pé da Cruz
,
que Maria é ouvida como
726 a Mulher, a nova Eva, a verdadeira "mãe dos vivos”.
2619
Por
isso
o cântico de Maria
(o
Magnificat latino ou o Megalynário bizantino) é ao mesmo tempo o cântico da Mãe
de Deus e o da Igreja, cântico da Filha de Sião e do novo Povo de Deus, cântico
de ação de graças pela plenitude de graças distribuídas
724 na Economia da salvação, cântico dos "pobres", cuja esperança é satisfeita pela realização das promessas feitas a nossos pais "em favor de Abraão e de sua descendência para sempre".
RESUMINDO
2620 No Novo Testamento, o modelo perfeito da oração encontra-se na prece filial de Jesus. Feita muitas vezes na solidão, no segredo, a oração de Jesus implica uma adesão amorosa à vontade do Pai até a cruz e uma confiança absoluta de ser ouvido.
2621 Jesus ensina seus discípulos a orar com um coração purificado, uma fé viva e perseverante, uma audácia filial. Incita-os à vigilância e convida-os a apresentar a Deus seus pedidos em seu Nome. Jesus Cristo atende pessoalmente às orações, que lhe são dirigidas.
2622 A oração da Virgem Maria, em seu "Fiat" e em seu "Magnificat”, caracteriza-se pela oferta generosa de todo seu ser na fé.
ARTIGO 3
NO TEMPO DA IGREJA
2623 No dia de Pentecostes, o Espírito da promessa foi derramado sobre os discípulos,
731
"reunidos no mesmo lugar" (At 2,1), esperando-o, "todos unânimes, perseverando
na oração" (At 1,14). O Espírito, que ensina a Igreja e lhe recorda tudo o que
Jesus disse
,
vai também formá-la para a vida de oração.
2624 Na primeira comunidade de Jerusalém, os fiéis se mostravam "assíduos ao
1342 ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações" (At 2,42). A seqüência é típica da oração da Igreja: fundada na fé apostólica e autenticada pela caridade, ela é alimentada na Eucaristia.
2625 Essas orações são, sobretudo, as que os fiéis ouvem e lêem nas Escrituras, atualizando-as, porém, principalmente as dos Salmos, a partir de sua realização em
1092
Cristo
.
O Espírito Santo, que assim lembra Cristo à sua Igreja orante, também a conduz à
Verdade plena e suscita formulações novas que exprimirão o insondável Mistério
de Cristo atuando na vida, nos sacramentos e na missão de sua Igreja.
1200 Essas formulações se desenvolverão nas grandes tradições litúrgicas e espirituais. As formas da oração, como nos são reveladas pelas Escrituras apostólicas canônicas, serão normativas da oração cristã.
1. A benção e a adoração
2626 A bênção exprime o movimento de fundo da oração; é o encontro de Deus e do
1078 homem; nela o dom de Deus e a acolhida do homem se chamam e se unem. A oração de bênção é a resposta do homem aos dons de Deus: uma vez que Deus abençoa, o coração do homem pode bendizer Aquele que é a fonte de toda bênção.
2627 Duas formas fundamentais exprimem esse movimento da bênção: ora ela sobe,
1083
levada no Espírito
Santo por Cristo ao Pai (nós o bendizemos por nos ter abençoado
);
ora ela implora a graça do Espírito Santo, que, por Cristo, desce de junto do
Pai (é Ele que nos abençoa
).
2628 A adoração é a primeira atitude do homem que se reconhece criatura diante de seu
2096-2097 Criador.
Exalta a grandeza do Senhor que nos fez
e
a onipotência do Salvador que nos liberta do mal. É prosternação do Espírito
diante do "Rei da glória
”
e o silêncio respeitoso diante do Deus "sempre maior
”.
A adoração do Deus três
2559 vezes santo e sumamente amável nos enche de humildade e dá garantia a nossas súplicas.
II. A oração de súplica
2629
O
vocabulário referente à súplica tem muitos matizes no Novo Testamento: pedir,
implorar, suplicar com insistência, invocar, clamar, gritar e mesmo "lutar na
oração
".
Mas sua forma mais habitual, por ser a mais espontânea, é o pedido: é pela
396 oração de súplica que exprimimos a consciência de nossa relação com Deus: como criaturas, não somos nem nossa origem, nem senhores das adversidades, nem nosso fim último. Mas, como pecadores, sabemos, na qualidade de cristãos, nos afastamos de nosso Pai. O pedido já é uma volta para Ele.
2630 O Novo Testamento contém poucas orações de lamentação, freqüentes no Antigo Testamento. Agora,
2090 em Cristo ressuscitado, o pedido da Igreja é sustentado pela esperança, embora estejamos ainda na expectativa e devamos nos converter cada dia. Brota de outra profundeza o pedido cristão, que S. Paulo chama de gemidos, os da criação, em "dores de parto" (Rm 8,22), os nossos, também "à espera da redenção de nosso corpo, pois nossa salvação é objeto de esperança" (Rm 8,23-24), enfim, "os gemidos inefáveis do próprio Espírito Santo que "socorre nossa fraqueza, pois nem sequer sabemos o que seja conveniente pedir" (Rm 8,26).
2631 O pedido de perdão é o primeiro movimento da oração de súplica (cf. o publicano:
2838
"Tem
piedade de mim, pecador": Lc 18,13). É a condição prévia de uma oração justa e
pura. A humildade confiante nos repõe na luz da comunhão com o Pai e seu Filho,
Jesus Cristo, e uns com os outros
:
"Então tudo o que lhe pedimos recebemos dele" (1 Jo 3,22). O pedido de é a
perdão condição prévia da liturgia eucarística, como da oração pessoal.
2632 A súplica cristã está centrada no desejo e na procura do Reino que vem, de acordo
2816
com o
ensinamento de Jesus
".
Existe uma hierarquia nos pedidos: primeiro o
1942
Reino, depois o que é necessário
para acolhê-lo e cooperar para sua vinda. Essa cooperação com a missão de Cristo
e do Espírito Santo, que é agora a da Igreja, é o objeto da oração da comunidade
apostólica
.
E a oração de Paulo, o apóstolo por excelência, que nos revela como o cuidado
divino por todas as Igrejas deve animar a
2854
oração cristã
.
Pela oração, todo batizado trabalha para a Vinda do Reino.
2633 Quando participamos, assim, do amor salvador de Deus, compreendemos que toda
2830
necessidade pode vir a
ser objeto de pedido. Cristo, que tudo assumiu para resgatar tudo, é glorificado
pelos pedidos que oferecemos ao Pai em seu Nome
.
E com essa garantia que Tiago
e
Paulo nos exortam a orar em todo tempo
.
III. A oração de intercessão
2634 A intercessão é uma oração de pedido que nos conforma de perto com a oração de Jesus. Ele é o único Intercessor junto do Pai em favor de todos os homens, dos
432
pecadores, sobretudo
.
Ele é "capaz de salvar de modo definitivo aqueles que por meio dele se aproximam
de Deus, visto que Ele vive para sempre para interceder por eles" (Hb 7,25). O
próprio Espírito Santo "intercede por nós... pois é segundo Deus que ele
intercede pelos santos" (Rm 8,26-27).
2635 Interceder, pedir em favor de outro, desde Abraão, é próprio de um coração que está
2571 em consonância com a misericórdia de Deus. No tempo da Igreja, a intercessão cristã participa da de Cristo; é a expressão da comunhão dos santos. Na intercessão,
2577
aquele que ora "não procura seus próprios interesses, mas pensa sobretudo nos
dos outros" (Fl 2,4) e reza por aqueles que lhe fazem mal
.
2636
As
primeiras
comunidades cristãs viveram intensamente forma de partilha
.
O Apóstolo Paulo as faz participar assim de seu ministério do Evangelho
,
mas intercede também por elas
.
A intercessão dos cristãos não conhece fronteiras:
1900 "Por todos os homens, pelos que detêm a autoridade" (1 Tm 2,1), pelos que
1037
perseguem
pela
salvação daqueles que recusam o Evangelho
.
IV. A oração de ação de graças
2637 A ação de graças caracteriza a oração da Igreja que, celebrando a Eucaristia,
224,1328 manifesta e se torna mais aquilo que ela é. Com efeito, na obra da salvação, Cristo liberta a criação do pecado e da morte para consagrá-la de novo e fazê-la retornar ao
2603 Pai, para sua Glória. A ação de graças dos membros do Corpo participa da de sua Cabeça.
2638 Como na oração de súplica, todo acontecimento e toda necessidade podem se tornar oferenda de ação de graças. As cartas de S. Paulo começam e terminam freqüentemente uma ação de graças, e o Senhor Jesus sempre está presente. “Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus" (l Ts 5,18). "Perseverai na oração, vigilantes, com ação de graças" (Cl 4,2).
V. A oração de louvor
2639 O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que
213
Deus é Deus!
Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz, por
aquilo que Ele É. Participa da bem-aventurança dos corações puros que o amam na
fé antes de o verem na Glória. Por ela, o Espírito se associa nosso espírito
para atestar que somos filhos de Deus
,
dando testemunho ao Filho único, em quem somos adotados e por quem glorificamos
o Pai. O louvor integra as outras formas de oração e as levar Àquele que é sua
fonte e termo final: "O único Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós
somos feitos" (1 Cor 8,6).
2640
São Lucas menciona muitas vezes em seu Evangelho a admiração e o
louvor diante das maravilhas de Cristo. Chama a atenção também para as ações do
Espírito Santo, que são os Atos dos Apóstolos: a comunidade de Jerusalém
o paralítico curado por Pedro e João
,
a multidão que com isso glorifica a Deus
e
os pagãos da Pisídia que, "alegres, glorificam a Palavra do Senhor" (At 13,48).
2641
Recitai
uns
com os outros "salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando o
Senhor em vosso coração" (Ef 5,19
).
Como os escritores do Novo Testamento, as primeiras comunidades cristãs relêem
2587
o
livro dos Salmos, cantando nele o Mistério de Cristo. Na novidade do Espírito,
elas compõem também hinos e cânticos a partir do Acontecimento inaudito que Deus
realizou em seu Filho: a Encarnação, a Morte vitoriosa da morte, a Ressurreição
e Ascensão à sua direita
.
É dessa "maravilha" de toda a economia da salvação que brota a doxologia, o
louvor de Deus
.
2642 A Revelação "daquilo que deve acontecer em breve", o Apocalipse, é comunicada pelos cânticos da
1137
Liturgia celeste
,
mas também pela intercessão das "testemunhas" (mártires
)
Os profetas e os santos, todos os que foram degolados na terra em testemunho de
Jesus
,
a multidão imensa daqueles que, vindos da grande tribulação, nos precederam no
Reino, cantam o louvor de glória daquele que está sentado no Trono e do
Cordeiro
.
Em comunhão com eles, a Igreja da terra canta também esses cânticos, na fé e na
provação. No pedido e na intercessão, a fé espera contra toda esperança e dá
graças ao "Pai das luzes, do qual desce toda dádiva perfeita
".
A fé é assim um puro louvor.
2643 A Eucaristia contém e exprime todas as formas de oração. É "a oferenda pura" de
1330
todo o Corpo
de Cristo "para a glória de seu Nome
”;
segundo as tradições do Oriente e do Ocidente, ela é "o sacrifício de louvor".
RESUMINDO
2644 O Espírito Santo, que ensina a Igreja e lhe recorda tudo o que Jesus disse, educa-a também para a vida de oração, suscitando expressões que se renovam dentro de formas permanentes: benção, súplica, intercessão, ação de graças e louvor.
2645 Porque Deus o abençoa é que o coração do homem pode bendizer por sua vez Aquele que é a fonte de toda bênção.
2646 A oração de pedido tem por objeto o perdão, a procura do Reino, como também toda verdadeira necessidade.
2647 A oração de intercessão consiste num pedido em favor de outrem. Não conhece fronteiras e se estende até os inimigos.
2648 Toda alegria e todo sofrimento, todo acontecimento e toda necessidade podem ser a matéria da ação de graças que, participando da ação de graças de Cristo, deve dar plenitude a toda a vida: "Por tudo dai graças (1Ts 5,18).
2649
A oração de louvor, totalmente desinteressada, dirige-se a Deus.
Canta-o pelo que Ele; dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz, por aquilo
que Ele É.