"Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!"(Jr 48,10).
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Sacerdotii Nostri Primordia
Carta Encíclica de João XXIII
SACERDOTII NOSTRI PRIMORDIA
Centenário da Morte do Cura de Ars
Aos veneráveis irmãos
patriarcas, primazes, arcebispos, bispos e outros ordinários do lugar em paz e
comunhão com a Sé Apostólica e a todo o clero e fiéis do orbe católico: Sobre o
sacerdócio católico, no primeiro centenário da morte do santo cura de Ars.
PRÓLOGO
Coincidências significativas
1. As puríssimas alegrias que
acompanharam copiosamente as primícias do nosso sacerdócio estão para sempre
associadas, em nossa memória, à emoção profunda que experimentamos a 8 de
janeiro de 1905 na Basílica Vaticana, por ocasião da gloriosa Beatificação
daquele humilde sacerdote da França que foi João Maria Batista Vianney. Elevados
nós mesmos ao sacerdócio havia apenas alguns meses, fomos atraídos pela
admirável figura sacerdotal que o nosso predecessor s. Pio X, o antigo pároco de
Salzano, era tão feliz em propor como modelo a todos os pastores de almas. E, a
tantos anos de distância, não podemos evocar essa recordação sem agradecer ainda
ao nosso Divino Redentor, como graça insigne, o impulso espiritual assim
impresso, desde o princípio, à nossa vida de sacerdote.
2. Recordamos também que, no
mesmo dia dessa beatificação, chegou ao nosso conhecimento a elevação ao
episcopado de Mons. Tiago Maria Radini-Tedeschi, o grande bispo que devia,
alguns dias depois, chamar-nos ao seu serviço e que foi para nós um mestre e pai
muito querido. Foi em sua companhia que, no princípio desse ano de 1905, nos
dirigimos pela primeira vez em peregrinação a Ars, a modesta aldeia que o seu
santo pároco tornou para sempre tão célebre.
3. Por nova disposição
providencial, no ano em que recebíamos a plenitude do sacerdócio, o Papa Pio XI
de gloriosa memória, a 31 de maio de 1925, procedia à solene canonização do
pobre cura de Ars. Na sua homilia, o Pontífice comprazia-se em descrever a
frágil figura corpórea de João Batista Vianney, a cabeça resplandecente com uma
espécie de coroa branca de longos cabelos, a face emaciada e cavada pelos
jejuns, mas em que tão bem se refletiam a inocência e santidade de um espírito
tão humilde e tão suave que, logo à primeira vista as multidões se sentiam
movidas a salutares pensamentos.(1) Pouco depois, o mesmo Pontífice, no ano do
seu jubileu sacerdotal, completava a iniciativa já tomada por s. Pio X quanto
aos párocos da França e estendia a todo o mundo o celeste patrocínio de s. João
Batista Vianney para promover o bem-espiritual dos párocos no mundo inteiro.
(2)
4. Gostamos de lembrar, estes
atos dos nossos predecessores, ligados a tantas queridas recordações pessoais,
veneráveis irmãos, neste centenário da morte do santo cura de Ars. Com efeito, a
4 de agosto de 1859, entregava ele a alma a Deus, consumido pelas fadigas de um
excepcional ministério pastoral de mais de quarenta anos e rodeado de unânime
veneração.
5. Damos, pois, graças à
divina Providência, que já por duas vezes se dignou alegrar e iluminar as horas
solenes da nossa vida sacerdotal com o esplendor da santidade do cura de Ars,
por nos oferecer de novo, desde os primeiros tempos deste supremo pontificado, a
oportunidade de celebrar a memória tão gloriosa deste pastor de almas. Não vos
surpreenderá, aliás, que, ao dirigir-vos esta carta, o nosso espírito e o nosso
coração se volvam especialmente para os sacerdotes, nossos filhos caríssimos, a
fim de os exortar a todos instantemente - e sobretudo aos que estão empenhados
no ministério pastoral - a meditar os admiráveis exemplos de um irmão no
sacerdócio, tornado seu celeste patrono.
Ensinamentos deste
centenário
6. São já numerosos os
documentos pontifícios que lembram aos padres as exigências do seu estado e os
guiam no exercício do seu ministério. Para só mencionar os mais importantes,
recordamos de novo a exortação Haerent animo, (3) de s. Pio X, que
estimulou o fervor dos nossos primeiros anos sacerdotais, a magistral Encíclica
Ad Catholici Sacerdotii (4), de Pio XI, e, entre tantos documentos e
alocuções do nosso imediato predecessor sobre o padre, a sua exortação Menti
Nostrae, (5) e também a admirável trilogia em honra do sacerdócio, que lhe
foi sugerida pela canonização de s. Pio X. (6) Esses textos, veneráveis irmãos,
são conhecidos de todos vós. Mas consentir-nos-eis que evoquemos aqui, com a
alma emocionada, o último discurso que a morte impediu Pio XII de pronunciar e
que ficou como o extremo e solene apelo deste grande Pontífice à santidade
sacerdotal: O caráter sacramental da ordem chancela da parte de Deus num pacto
eterno o seu amor de predileção, que exige em troca, da criatura escolhida, a
santificação... O clérigo deve ser tido como um eleito entre o povo, cumulado
dos dons sobrenaturais e participante do poder divino, numa palavra, um 'outro
Cristo'... Já não pertence a si, nem aos parentes e amigos, nem mesmo à sua
pátria. Deve consumi-lo um amor universal. Mais ainda, a caridade universal será
o seu respiro, os seus pensamentos, a vontade, os sentimentos deixam de ser
seus, para serem de Cristo, que é a sua vida.(7) S. João Maria Vianney
atrai-nos e impele-nos a todos para estes cimos da vida sacerdotal. E nós somos
felizes em convidar para tanto os padres de hoje; porque, se conhecemos as
dificuldades que eles encontram na sua vida pessoal e nos encargos do seu
ministério, e nos queixamos de que o espírito de alguns ‚ batido pelas ondas
deste mundo e entibiado pelo cansaço, contudo a nossa experiência também não
ignora a fidelidade corajosa da maior parte e a devoção espiritual dos melhores.
A uns e a outros, o Senhor dirigiu, no dia da ordenação, estas palavras de
ternura: Já não vos chamo servos, mas amigos! (8) Possa essa nossa carta
encíclica ajudá-los a todos a perseverar e a crescer nesta amizade divina que
constitui a alegria e a força de toda a vida sacerdotal.
Finalidade da encíclica
8. Não é nosso desejo,
veneráveis irmãos, abordar aqui todos os aspectos da vida sacerdotal
contemporânea; e, seguindo o exemplo de s. Pio X, não diremos nada que vós não
saibais, nada de novo para quem quer que seja, mas simplesmente o que a todos
importa rememorar.(9) Com efeito, ao relembrar os traços da santidade do cura
de Ars, seremos levado a pôr em relevo alguns aspectos da vida sacerdotal, que
em todos os tempos são essenciais, mas que, nos nossos dias, tomam tal
importância que julgamos ser nosso dever apostólico insistir neles
particularmente, por ocasião deste centenário.
9. A Igreja, que glorificou
este padre admirável pelo seu zelo pastoral e seu ininterrupto desejo de oração
e de penitência,(10) tem hoje a alegria, passado um século sobre a sua morte,
de o apresentar aos padres de todo o mundo como modelo de ascese sacerdotal, de
piedade, e sobretudo de piedade eucarística, modelo enfim de zelo pastoral.
I. ASCESE SACERDOTAL
Conselhos evangélicos e santidade sacerdotal
10. Falar de s. João Maria
Vianney ‚ evocar a figura de um padre excepcionalmente mortificado que, por amor
de Deus e pela conversão dos pecadores, se privava de alimento e sono, se
impunha rudes penitências e, sobretudo, levava a renúncia de si mesmo a um grau
heróico. Se é certo que comumente não é pedido a todos os féis que sigam este
caminho, a divina Providência dispôs que nunca faltem no mundo pastores de almas
que, levados pelo Espírito Santo, não hesitem em encaminhar-se por estas vias,
porque tais homens operam com este exemplo o regresso de muitos, que se
convertem da sedução dos erros e dos vícios para o bom caminho e a prática da
vida cristã! A todos, o exemplo admirável de renúncia do cura de Ars, severo
para consigo e bondoso para com os outros, (11) lembra de forma eloqüente e
urgente o lugar primordial da ascese na vida sacerdotal. O nosso predecessor Pio
XII, de saudosa memória, no desejo de evitar certos equívocos, não hesitou em
precisar que é falso afirmar que o estado clerical - justamente enquanto tal e
por proceder do direito divino - por sua natureza, ou pelo menos em virtude de
um postulado da mesma, exige que os seus membros professem os conselhos
evangélicos.(12) E o Papa conclui justamente: O clérigo, portanto, não está
ligado, por direito divino, aos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e
obediência.(13) Mas seria deformar o genuíno pensamento deste Pontífice, tão
cioso da santidade dos padres, e o ensino constante da Igreja, acreditar que o
padre secular é menos chamado à perfeição do que o religioso. A realidade é
totalmente diversa, porque o exercício das funções sacerdotais requer uma maior
santidade interior, do que aquela exigida pelo estado religioso.(14) E se, para
atingir esta santidade de vida, a prática dos conselhos evangélicos não é
imposta ao padre em virtude do seu estado clerical, não obstante ela
apresenta-se a ele e a todos os discípulos do Senhor, como o caminho mais seguro
para alcançar a desejada meta da perfeição cristã. Aliás, para nossa grande
consolação, quantos padres generosos o compreenderam no presente, não deixando
por isso de continuar nas fileiras do clero secular e pedindo a pias associações
aprovadas pela Igreja que os guiem e sustentem nos caminhos da perfeição!
11. Convencidos de que a
grandeza do sacerdócio está na imitação de Jesus Cristo,(15) os padres estarão,
pois, mais do que nunca, atentos aos apelos do divino Mestre: Se alguém quiser
vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me... (Mt 16,24). O
santo cura d'Ars, segundo se afirma, tinha meditado muitas vezes estas palavras
de nosso Senhor e esforçava-se por pô-las em prática.(16) Deus concedeu-lhe a
graça de se conservar heroicamente fiel a elas; e o seu exemplo guia-nos ainda
no caminho da ascese onde ele, resplandeceu brilhantemente pela pobreza,
castidade e obediência.
S. João Maria Vianney,
exemplo de pobreza evangélica
12. Primeiramente tendes o
exemplo de pobreza, virtude pela qual o humilde cura d'Ars, se tornou digno
êmulo do patriarca de Assis, de quem foi, na Ordem Terceira, discípulo fiel.
(17) Rico para dar aos outros, mas pobre para si mesmo, viveu num total
desprendimento dos bens deste mundo, e o seu coração verdadeiramente livre
abria-se com generosidade a todos os que, afligidos por misérias materiais ou
espirituais vinham até ele de toda a parte em busca de remédio. O meu segredo é
bem simples, dizia ele, é dar tudo e nada guardar.(18) O seu desinteresse
fazia-o atender a todos os pobres, sobretudo os da sua paróquia, aos quais
testemunhava extrema delicadeza, tratando-os com verdadeira ternura, com os
maiores cuidados e até com respeito.(19) Recomendava que nunca deixassem de ter
atenções para com os pobres, porque tal falta recai sobre Deus; e, quando um
miserável batia à sua porta, sentia-se feliz, ao recebê-lo, com bondade, por lhe
poder dizer: Sou pobre como vós; hoje sou um dos vossos!.(20) No fim da sua
vida, comprazia-se em repetir: Estou muito satisfeito; já não tenho nada de
meu; Deus pode chamar-me quando quiser.(21) Por isso, veneráveis irmãos,
podereis compreender como, de todo o coração, exortamos nossos queridos filhos
do sacerdócio católico, a meditar num tal exemplo de pobreza e caridade.
A
experiência cotidiana atesta - escrevia Pio XI, ao pensar no cura d'Ars - que a
ação dos sacerdotes de vida modesta, os quais, segundo a doutrina evangélica,
não procuram absolutamente seus próprios interesses, redunda em extraordinários
benefícios para o povo cristão.(22) E o mesmo Pontífice, considerando o estado
da sociedade contemporânea, dirigia também aos padres este grave aviso: Ao ver
que os homens vendem e compram, tudo pelo dinheiro, os padres caminhem
desinteressadamente pelos engodos do vício, e desprezando todo baixo desejo de
ganhar, busquem almas e não dinheiro, a glória de Deus e não a sua! (23)
Aplicações aos padres
de hoje
13. Estas palavras devem
estar inscritas no coração de todos os padres. Se há alguns que possuem
legitimamente bens pessoais, que não se prendam a eles! Que se lembrem, antes,
da obrigação que formula o Direito Canônico, a propósito dos benefícios
eclesiásticos, de dispender o supérfluo com os pobres ou com as obras
pias.(24) E queira Deus que nenhum mereça a censura do santo pároco às suas
ovelhas: Quantos têm dinheiro guardado, e tantos pobres a morrer de fome!.(25)
Mas nós sabemos que muitos padres vivem, de fato, em condições de verdadeira
pobreza. A glorificação de um dos seus, que voluntariamente se despojou de tudo
e se regozijava com o pensamento de ser o mais pobre da paróquia, (26) será para
eles um providencial estímulo para se dedicarem à prática de uma pobreza
evangélica. E se a nossa paternal solicitude pode servir-lhes de conforto,
saibam quanto nos regozijamos pelo seu desinteresse no serviço de Cristo e da
Igreja.
14. Mas, ao recomendar esta
heróica pobreza, não pretendemos, de forma nenhuma, veneráveis irmãos, aprovar a
pobreza total a que, por vezes, são reduzidos os ministros do Senhor nas cidades
e no campo. No seu comentário da exortação do Senhor ao desprendimento dos bens
deste mundo, São Beda, o Venerável, previne-nos contra qualquer interpretação
abusiva: Não se deve crer que seja prescrito aos santos não conservar dinheiro
para seu uso pessoal ou para dar aos pobres, visto ler-se que o próprio
Senhor... tinha algum dinheiro para os gastos da Igreja nascente...; mas que não
se sirva Deus por causa disso, nem se renuncie à justiça com receio da
pobreza.(27) Pois o operário tem direito ao seu salário, (cf. Lc 10,7) e,
fazendo nossas as preocupações do nosso predecessor imediato, pedimos
instantemente a todos os fiéis que correspondam com generosidade ao louvável
apelo dos bispos, desejosos de assegurar aos seus colaboradores recursos
convenientes.(28)
Sua castidade angélica
15. S. João Maria Vianney,
pobre de bens materiais, foi igualmente exemplo de voluntária mortificação da
carne. Não há senão uma maneira de se dar a Deus no exercício da renúncia e do
sacrifício - dizia ele - isto é, dar-se totalmente.(29) E, em toda a sua vida,
praticou, em grau heróico, a ascese da castidade.
16. O seu exemplo sobre este
ponto parece, particularmente oportuno, porque, em bastantes regiões,
infelizmente, os padres são obrigados a viver, em virtude do seu cargo, num
mundo onde reina uma atmosfera de excessiva liberdade e sensualidade. E a
palavra de s. Tomás‚ para eles cheia de verdade: É por vezes mais difícil viver
virtuosamente tendo cura de almas, por causa dos perigos exteriores.(30)
Além
disso, muitas vezes, estão moralmente sós, pouco compreendidos, pouco amparados
pelos fiéis a quem se dedicam. A todos, e, sobretudo, aos mais isolados e mais
expostos, nós dirigimos um apelo premente, para que toda a sua vida seja um puro
testemunho dessa virtude a que s. Pio X chamava o mais belo ornamento da nossa
ordem.(31) E recomendamo-vos, insistentemente, veneráveis irmãos, que procureis
para os vossos padres, na medida do possível, condições de existência e trabalho
que estimulem a sua boa vontade. É preciso, a todo o custo, combater os perigos
do isolamento, denunciar as imprudências, afastar as tentações da ociosidade ou
os riscos do excesso de trabalho. Lembremo-nos igualmente, a este respeito, dos
magníficos ensinamentos do nosso predecessor na Encíclica Sacra Virginitas.
(32)
17. Foi dito do cura d'Ars:
A castidade brilhava no seu olhar.(33) Na verdade, quem estuda a sua
personalidade fica surpreendido, não só pelo heroísmo com que este padre
subjugava seu corpo (cf. 1Cor 9,27), mas ainda pela força da convicção com que
conseguia que a multidão dos seus penitentes o seguisse. É que ele sabia, por
uma longa prática do confessionário, os males causados pelos pecados da carne.
Por isso de seu peito saíam estes gemidos: Se não houvesse almas puras que
aplacassem a Deus ofendido pelos nossos pecados, quantos e quão terríveis
castigos teríamos nós que suportar!. E, falando com experiência, juntava ao seu
apelo um estímulo fraterno: A mortificação tem um bálsamo e um sabor de que não
podem prescindir os que alguma vez os conheceram... Neste caminho, o que custa ‚
o primeiro passo.(34)
18.
Esta ascese necessária da
castidade, longe de fechar o padre num estéril egoísmo, torna o seu coração mais
aberto e mais acessível a todas as necessidades dos seus irmãos. Dizia
otimamente o cura d'Ars: Quando o coração é puro não pode deixar de amar,
porque encontrou a fonte do amor, que é Deus.
19. Que benefício para a
sociedade humana ter assim, no seu seio, homens que, livres das solicitações
temporais, se consagram inteiramente ao serviço de Deus e dão aos seus irmãos a
sua vida, os seus pensamentos e as suas forças! Que graça para a Igreja ter
padres empenhados em guardar integralmente esta virtude! Com Pio XI,
consideramo-la a glória mais pura do sacerdócio católico, ela que nos parece a
melhor resposta aos desejos do Coração de Jesus e aos seus desígnios sobre as
almas sacerdotais. (35) Não estaria também conforme com os desígnios da divina
caridade a mente do santo cura d'Ars, quando exclamava: O sacerdócio ‚ o amor
do Coração de Jesus!(36)
Seu espírito de obediência
20. São numerosos os
testemunhos sobre o espírito de obediência do santo, podendo afirmar-se que para
ele a exata fidelidade ao prometo da ordenação foi motivo para uma
permanente renúncia de quarenta anos. Durante toda a sua vida, com efeito,
aspirou à solidão de um santo retiro, e as responsabilidades pastorais foram
para ele pesado fardo, do qual por várias vezes tentou libertar-se. Mas sua
obediência total ao Bispo foi mais admirável. Por isso, veneráveis irmãos, temos
o prazer de relatar algumas testemunhas da sua vida: Desde a idade de quinze
anos este desejo (da solidão) estava no seu coração para o atormentar e
tirar-lhe a felicidade de que poderia gozar na sua posição.(37)
Mas Deus não
permitiu que pudesse realizar tal desígnio. A divina Providência queria sem
dúvida que, sacrificando o seu gosto à obediência, o prazer ao dever, João M.
Vianney tivesse constantemente ocasião de se vencer.(38) Vianney continuou
cura d'Ars com obediência cega e assim ficou até à morte.(39)
21. Esta total adesão à
vontade dos superiores era, convém afirmá-lo, inteiramente sobrenatural no seu
motivo: era um ato de fé na palavra de Cristo que dizia aos seus apóstolos:
Quem vos ouve, ouve a mim (Lc 10,16), e, para ser-lhe fiel costumava
habitualmente renunciar à sua própria vontade na aceitação do seu pesado encargo
do confessionário e em todas as tarefas cotidianas onde a colaboração entre
confrades torna o apostolado mais frutuoso.
22. Estimamos propor como
exemplo aos padres, esta rigorosa obediência, esperando que saibam compreender
toda a sua grandeza e cada vez a cultivem com maior empenho. E se, um dia,
sentissem a tentação de duvidar da importância desta virtude capital, hoje tão
facilmente esquecida, convençam-se de que têm contra si as afirmações claras e
nítidas de Pio XII, que atesta que a santidade da vida pessoal e a eficácia do
apostolado têm por base e sustentáculo a obediência constante e exata à sagrada
hierarquia.(40)
Deveis também recordar-vos, veneráveis irmãos, com quanta força
os nossos últimos predecessores denunciaram os graves perigos do espírito de
independência no clero, tanto para o ensino da doutrina como para os métodos de
apostolado e para a disciplina eclesiástica.
23. Não desejamos insistir
mais sobre este ponto, preferindo exortar nossos filhos que foram chamados ao
sacerdócio a desenvolver em si mesmos o sentido filial de que pertencem à
Igreja, nossa mãe. Dizia-se do cura d'Ars que ele só vivia na Igreja e só para a
Igreja trabalhava, como palha que se consome no fogo. Padres de Jesus Cristo,
nós estamos no braseiro que o fogo do Espírito Santo anima; tudo recebemos da
Igreja; só agimos em seu nome e pelos poderes que ela nos conferiu:
esforcemo-nos para servi-la nos laços da unidade e pela forma por que ela deseja
ser servida. (41)
II. ORAÇÃO E CULTO EUCARÍSTICO
24. Homem de penitência, s.
João Maria Vianney tinha igualmente compreendido que o padre, antes de tudo,
deve ser homem de oração.(42) Todos conhecem as longas noites de adoração que,
este jovem pároco duma aldeia, então pouco cristã, passava diante do Santíssimo
Sacramento. O sacrário da sua igreja tornou-se o foco da sua vida pessoal e do
seu apostolado, a ponto de não se poder evocar justamente a paróquia de Ars no
tempo do Santo, senão por estas palavras de Pio XII sobre a paróquia cristã: O
centro é a igreja e, na igreja, o sacrário e, ao lado, o confessionário onde se
restitui a vida sobrenatural ou a saúde ao povo cristão.(43)
A oração nos exemplos e
no ensino do cura d'Ars
25. Aos padres deste século,
que costumam exagerar a eficácia da ação e que tão facilmente se entregam ao
mesmo dinamismo exterior do ministério sacerdotal, com prejuízo do seu
aproveitamento espiritual, como é oportuno e salutar este modelo de oração
assídua numa vida inteiramente votada às necessidades das almas! O que impede a
nós padres de ser santos, é a falta de reflexão.
Não entramos em nós mesmos; não
sabemos o que fazemos. Precisamos da reflexão, da oração, da união com Deus.
Ele próprio vivia, segundo testemunham os contemporâneos, num estado de contínua
oração, do qual não conseguiram distraí-lo, nem o peso extenuante das
confissões, nem os outros trabalhos pastorais. Mantinha uma união constante com
Deus no meio da sua vida excessivamente ocupada.(44) Mas escutemo-lo, porque
ele ‚ incansável, quando fala das alegrias e dos benefícios da oração: O homem
é um pobre, que tudo precisa pedir a Deus.(45) Quantas almas podemos converter
com nossas orações!(46)
E repetia: A oração, eis toda a felicidade do homem sobre a terra. (47) Esta felicidade, gozou-a ele; longamente, enquanto o seu
olhar iluminado pela fé contemplava os mistérios divinos e, pela adoração do
Verbo encarnado elevava sua alma simples e pura para a Santíssima Trindade,
supremo objetivo do seu amor. E os peregrinos, que enchiam a igreja de Ars,
compreendiam que o humilde padre lhes confiava alguma coisa do segredo da sua
vida interior por esta exclamação freqüente, que lhe era tão querida: Ser amado
por Deus, estar unido a Deus, viver na presença de Deus, viver para Deus: oh!
que bela vida e que bela morte! (48)
O padre é, antes de tudo, um homem de oração
26. Nós desejaríamos,
veneráveis irmãos, que todos os padres das vossas dioceses se deixassem
convencer, pelo testemunho do santo cura d'Ars, da necessidade de serem homens
de oração e da possibilidade de o serem, qualquer que seja a sobrecarga por
vezes extrema dos trabalhos do seu ministério.
Mas para isso ‚ necessária uma fé
viva, como a que animava João Maria Vianney e o fazia realizar maravilhas. Que
fé! - exclamava um dos seus colegas. Chegaria para enriquecer uma diocese
inteira!(49)
27. Esta fidelidade à oração
é, aliás, para o padre um dever de piedade pessoal, da qual a sabedoria da
Igreja salientou muitos pontos importantes, como a oração mental cotidiana, a
visita ao Santíssimo Sacramento o terço e o exame de consciência.(50) É mesmo
uma obrigação estrita contraída para com a Igreja, quando se trata da recitação
diária do ofício divino.(51) Talvez por terem esquecido algumas destas
prescrições, certos membros do clero se foram entregando, pouco a pouco, à
instabilidade exterior, ao empobrecimento interior, ficando expostos um dia, sem
defesa, às tentações desta vida terrena.
Pelo contrário, trabalhando sem cessar
pelo bem das almas, João M. Vianney não abandonava a sua. Trabalhava
estrenuamente na própria santificação, para ficar assim mais apto a levar os
outros a ela. (52) Com s. Pio X, consideremos pois como certo e estabelecido
que o padre, para ocupar dignamente o seu lugar e cumprir o seu dever, deve
consagrar-se antes de tudo à oração...
Mais do que qualquer outra pessoa, deve
obedecer ao preceito de Cristo: é preciso orar sempre; preceito que s. Paulo
recomenda com insistência: 'perseverai na oração, com vigilância e na ação de
graças... Rezai sem cessar'.(53) E, de boa vontade, ao terminar este ponto, nós
evocamos a palavra de ordem que o nosso predecessor imediato dava aos padres,
desde o começo do seu pontificado: Orai, orai cada vez mais e com maior
insistência! (54)
A piedade eucarística
do santo cura d'Ars
28. A oração do cura d'Ars,
que passou por assim dizer os trinta últimos anos de vida na igreja onde o
retinham os seus inúmeros penitentes, era sobretudo uma oração eucarística. A
sua devoção para com nosso Senhor, presente no Santíssimo Sacramento do altar,
era verdadeiramente extraordinária. Está ali - dizia - aquele que tanto nos
ama; por que nós não havemos de amá-lo? (55)
E, por certo, ele amava-o e
sentia-se como que irresistivelmente atraído para o sacrário. Explicava ele aos
seus paroquianos: Para bem rezar não há necessidade de falar tanto! Sabemos
pela fé que Deus está ali, no sacrário; abrimos-lhe o nosso coração e
sentimo-nos felizes por ser admitidos à sua presença. É a melhor maneira de
rezar. (56)
Não perdia ocasião de inculcar aos fiéis o respeito e o amor à
divina presença na Eucaristia, convidando-os a aproximarem-se com freqüência da
Sagrada mesa; e dava-lhes exemplo desta profunda piedade: Para se convencerem
disso, referiram as testemunhas, bastaria vê-lo celebrando a missa, e fazendo a
genuflexão ao passar diante do sacrário. (57)
Importância da Eucaristia na vida do padre
29. O exemplo admirável do
santo cura d'Ars conserva ainda hoje todo o seu valor, atesta Pio XII. (58)
Nada poderá substituir na vida de um padre a oração silenciosa e prolongada
diante do altar. A adoração de Jesus, nosso Deus, a ação de graças, a reparação
pelas nossas próprias faltas e pelas dos homens, a súplica por tantas intenções
que lhe são confiadas, elevam este padre ao máximo de amor para com o divino
Mestre a quem prometeu fidelidade e para com os homens que confiam no seu zelo
pastoral. E pela prática deste culto, esclarecido e fervoroso para com a
Eucaristia, que um padre aumenta a sua vida espiritual e se preparam as energias
missionárias dos mais valorosos apóstolos.
30. Acrescente-se o beneficio
que daí resulta para os fiéis, testemunhas desta piedade dos seus padres e
atraídos pelo seu exemplo. Dizia Pio XII ao clero de Roma: Se vós quiserdes que
os fiéis orem com devoção dai-lhes vós o exemplo, na igreja, fazendo as orações
na sua presença. Um padre ajoelhado diante do sacrário, numa atitude exterior
respeitosa e em profundo recolhimento, é para o povo objeto de educação, um
aviso, um convite à emulação na prece.(59) Foi esta, por excelência, a arma
apostólica do jovem cura d'Ars; não duvidemos do seu valor em todas as
circunstâncias.
O sacerdócio e o sacrifício da missa
31. Nunca devemos esquecer
que a oração eucarística, no verdadeiro sentido da palavra, é o santo sacrifício
da missa. Convém, veneráveis irmãos, insistir especialmente neste ponto, já que
é um dos aspectos essenciais na vida sacerdotal.
32. Não é nossa intenção
renovar aqui o exposto na doutrina tradicional da Igreja sobre o sacerdócio e o
sacrifício eucarístico; os nossos predecessores, Pio XI e Pio XII, de feliz
memória, em documentos magistrais, recordaram tão claramente este ensinamento,
que nós nos limitaremos a exortar-vos a torná-lo amplamente conhecido dos padres
e dos fiéis que vos estão confiados. Dissipar-se-ão incertezas e ousadias de
pensamento que, por vezes, se têm manifestado a este respeito.
33. Mas é bom mostrar nesta
Encíclica em que sentido profundo o santo cura d'Ars, heroicamente fiel aos
deveres do seu ministério, mereceu na verdade ser proposto como exemplo aos
pastores de almas e proclamado seu celeste padroeiro. Com efeito, se é verdade
que o padre recebeu o caráter da ordem para o serviço do altar e começou o
exercício do seu sacerdócio com o sacrifício eucarístico, este não deixará de
ser, durante toda a vida, a base da sua ação apostólica e da sua santificação
pessoal. E foi este, precisamente, o caso de s. João Maria Vianney.
34. Que é, pois, o apostolado
do padre, considerado na sua ação essencial, se não congregar, onde quer que
viva a Igreja, em volta do altar, o povo regenerado pelo santo batismo e
purificado dos seus pecados? É então que o padre, pelos poderes que só ele
recebeu, oferece o divino sacrifício onde o próprio Jesus renova a imolação
única realizada no Calvário para redenção do mundo e glorificação do Pai; ‚ ali
que os cristãos reunidos oferecem ao Pai celeste a Vítima divina por meio do
padre e se aprestam a imolar-se eles mesmos como hóstias vivas, santas,
agradáveis a Deus (Rm 12,1). É ali que o povo de Deus, iluminado pela pregação
da fé, e alimentado com o Corpo de Cristo, encontra a sua vida, o seu
crescimento e, se lhe é necessário, reforça a sua unidade; é ali, numa palavra,
que, de geração em geração, em toda a parte, cresce espiritualmente o Corpo
místico de Cristo, que é a Igreja.
35. A este respeito, o santo
cura d'Ars, de dia para dia, cada vez mais se foi empenhando no ensino da fé e
na purificação das consciências e, portanto, todos os atos do seu ministério
convergiam para o altar. Uma vida assim não pode deixar de ser considerada
eminentemente sacerdotal e pastoral. Sem dúvida, em Ars, os pecadores acorriam
numerosíssimos à Igreja, atraídos pela fama de santidade do pastor, ao passo que
tantos padres têm de consagrar longos e laboriosos esforços para reunir o povo
que lhes está comado e, à maneira de missionários, ensinar os primeiros
elementos da doutrina cristã. Mas estes trabalhos apostólicos, tão necessários e
por vezes tão difíceis, não podem fazer esquecer aos homens de Deus o fim para o
qual devem continuamente tender e que o cura d'Ars atingiu quando, na sua
humilde igreja de aldeia, se consagrava às tarefas essenciais da ação pastoral.
A missa, fonte primária da santificação pessoal do padre
36. Mas há mais. E toda a
santificação pessoal do padre que deve modelar-se sobre o sacrifício que ele
celebra, segundo o incitamento do Pontifical romano. Sede conscientes do que
fazeis, imitai o que tratais. Demos aqui a palavra ao nosso imediato
predecessor, na sua exortação apostólica Menti Nostrae: Assim como toda
a vida do Salvador foi votada ao sacrifício de si mesmo, assim também toda a
vida do padre, que deve reproduzir em si a imagem de Cristo, deve ser com ele,
nele e por ele, um sacrifício agradável... O padre não se contentará com
celebrar o sacrifício eucarístico, mas deverá vivê-lo profundamente. Assim,
colherá nele a força sobrenatural que o transformará completamente e o fará
participar da vida de expiação do próprio Redentor.(60)
E o mesmo Pontífice
conclui: É pois uma obrigação para o padre reproduzir na sua alma o que se
passa no altar e, visto que Jesus se imola, assim também o seu ministro deve
imolar-se com ele; já que Jesus expia os pecados dos homens, o padre alcançará a
sua própria purificação e a dos outros, seguindo a via árdua da ascese cristã.
(61)
37. É esta elevada doutrina
que a Igreja tem em vista, ao convidar seus ministros a uma vida de ascese e ao
recomendar-lhes a celebração com profunda piedade do sacrifício eucarístico.
Não
será talvez por não terem compreendido bem o laço íntimo, e como que recíproco,
que une o dom cotidiano de si mesmos à oblação da missa, que certos padres,
pouco a pouco, chegaram a perder o primeiro amor da sua ordenação? Era esta a
experiência adquirida pelo cura d'Ars que assim a exprimia: A causa do
relaxamento do padre é não prestar atenção à missa. E o Santo, que tinha o
hábito heróico de oferecer-se em sacrifício pelos pecadores, (62) derramava
abundantes lágrimas ao pensar na infelicidade dos padres que não correspondem à
santidade da sua vocação.(63)
38. Com paternal afeto
pedimos aos nossos queridos padres que se examinem periodicamente sobre a forma
como celebram os santos mistérios e, especialmente, sobre as disposições
espirituais com que sobem ao altar e os frutos que se esforçam por tirar. O
centenário deste padre admirável que, na consolação e felicidade de celebrar a
santa missa (64) encontrava a coragem do seu próprio sacrifício, a isso os
convida: temos íntima confiança que a sua intercessão lhes alcançará abundantes
graças de luz e de força.
III. ZELO PASTORAL
O santo cura d'Ars modelo de zelo apostólico
39. Esta vida de ascese e de
oração, cujos exemplos acabamos de expor, mostra claramente o segredo do zelo
pastoral de s. João Maria Vianney e da extraordinária eficácia sobrenatural do
seu ministério. Escrevia o nosso predecessor, de feliz memória, Pio XII: Que o
padre se lembre que o altíssimo ministério que lhe foi confiado será tanto mais
fecundo quanto mais estreitamente estiver unido com Cristo e se deixar guiar
pelo seu espírito.(65) A vida do cura d'Ars confirma, uma vez mais, esta grande
lei de todo o apostolado, fundada na própria palavra de Jesus: Sem mim, nada
podeis fazer (Jo 15,5).
40. Sem dúvida, não se trata
aqui de relembrar a admirável história deste humilde pároco de aldeia, cujo
confessionário foi, durante trinta anos, assediado por multidões tão numerosas
que certos espíritos fortes da época ousaram acusá-lo de perturbar o século
XIX,(66) nem de tratar de todos os métodos de apostolado, com que ele se
desempenhava do seu ofício e que nem sempre se podem aplicar em nossos dias.
Basta-nos lembrar, sobre este ponto, que o Santo foi no seu tempo um modelo de
zelo pastoral nesta aldeia de França, onde a fé e os costumes se ressentiam
ainda dos abalos da Revolução. Não há muito amor de Deus nessa paróquia, tereis
vós de o despertar(67) lhe disseram quando para lá o mandaram. Apóstolo
infatigável, hábil e sagaz para conquistar a juventude e santificar os lares,
atento às necessidades humanas das suas ovelhas, próximo da sua vida,
trabalhando sem descanso por estabelecer escolas cristãs e promover missões
paroquiais, ele foi na verdade, para o seu pequenino rebanho, o bom pastor, que
conhece suas ovelhas e as livra dos perigos e conduz com fortaleza e suavidade.
Sem dar por isso, não fazia ele seu próprio elogio nesta apóstrofe de um dos
seus sermões: Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus: eis o maior
tesouro que Deus pode conceder a uma paróquia?(68)
41. O exemplo do cura d'Ars
conserva, na verdade, um valor permanente e universal sobre três pontos
essenciais, que nos apraz, veneráveis irmãos, propor à vossa consideração.
Sentido apurado das suas responsabilidades pastorais
42. O que em primeiro lugar
impressiona é o sentido apurado que ele tinha das suas responsabilidades
pastorais. A humildade e o conhecimento sobrenatural do valor das almas
fizeram-no levar com receio o ônus de pároco. Meu amigo - confiava ele a um
colega -, não sabeis o que é passar duma paróquia para o tribunal de Deus!(69)
Todos sabemos o desejo, que durante muito tempo o atormentou, de fugir para um
lugar retirado para aí chorar a sua pobre vida, e como a obediência e o zelo
das almas o reconduziram sempre ao seu posto.
43. Mas se, em certas horas,
ele se sentiu assim acabrunhado pelo seu cargo excepcionalmente pesado, é
precisamente porque tinha uma concepção heróica do seu dever e das suas
responsabilidades de pastor. Com efeito, nos primeiros anos de seu ofício
paroquial elevava ao céus a prece suplicante: Meu Deus, concedei-me a conversão
da minha paróquia, sujeito-me a sofrer o que quiserdes, durante toda a minha
vida!(70) E obteve do céu essa conversão. Mas, mais tarde, confessava: Quando
vim para Ars, se tivesse previsto os sofrimentos que lá me esperavam, teria
morrido imediatamente, de medo?(71) A exemplo dos apóstolos de todos os tempos,
ele via na cruz o grande meio sobrenatural de cooperar na salvação das almas que
lhe estavam confiadas. Por elas, sofria, sem se queixar, calúnias,
incompreensões e contradições; por elas, aceitou o verdadeiro martírio físico e
moral de uma presença quase ininterrupta no confessionário, todos os dias,
durante trinta anos; por elas, lutou como atleta do Senhor contra os poderes
infernais; por elas, mortificou seu corpo. E é conhecida a sua resposta a um
colega que se queixava da pouca eficácia do seu ministério: Rezastes,
chorastes, gemestes, suspirastes. Mas porventura jejuastes, fizestes vigílias,
dormistes sobre o chão duro, fizestes penitências corporais? Enquanto não o
fizerdes, não julgueis que fizestes tudo!(72)
44. Dirigimo-nos a todos os
padres, que têm cura de almas e incitamo-los a entender a força ínsita nessas
graves palavras! Examine cada um, segundo a prudência sobrenatural que sempre
deve regular nossas ações, a sua vida, e veja se é tal como a exige a solicitude
pastoral do povo que lhe está confiado. Sem nunca duvidar da misericórdia divina
que vem em auxílio da nossa fraqueza, e pondo os olhos em s. João Maria Vianney,
como num espelho, considere, a responsabilidade do cargo que assumiu. O grande
mal para nós, párocos, deplorava o Santo, é que a alma se deixe entibiar.
Considerava isso um estado perigoso do pastor a quem não impressiona ver tantas
ovelhas que lhe estão confiadas vivendo na sordidez do pecado. E, para melhor
entender ainda os ensinamentos do cura d'Ars, que estava convencido que, para
fazer bem aos homens, é preciso amá-los,(73) examine-se cada um sobre a
caridade que o anima para com aqueles que Deus confiou aos seus cuidados e pelos
quais Cristo morreu!
45. É certo que a liberdade
dos homens, ou determinados acontecimentos independentes da sua vontade, podem
por vezes opor-se aos esforços dos maiores santos. Mas o padre nem por isso deve
deixar de se lembrar que, segundo os insondáveis desígnios da divina
Providência, a sorte de muitas almas está ligada ao seu zelo pastoral e ao
exemplo da sua vida. Não será este pensamento de tal natureza que provoque nos
obreiros de Cristo, que são tíbios, uma salutar inquietação e desperte nos
fervorosos um zelo mais ardente?
Pregador e catequista
infatigável
46. Sempre pronto a
corresponder às necessidades das almas,(74) João Maria Vianney, como bom
pastor, primou em procurar-lhes com abundância o alimento primordial da verdade
religiosa. Durante toda a sua vida, foi pregador e catequista.
47. Conhece-se o trabalho
solícito e perseverante a que se obrigou para bem cumprir este dom do seu cargo,
primeiro e máximo dever, segundo o Concílio de Trento. Seus estudos,
tardiamente feitos, foram laboriosos, e os sermões custaram-lhe no começo não
poucas vigílias. Mas que exemplo para os ministros da palavras de Deus! Alguns
não hesitam em desculpar, sem razão, a falta de zelo nos estudos, invocando a
pouca erudição do Santo. Deveriam antes imitar a coragem com que se tornou apto
para tão grande ministério, segundo a medida dos dons que lhe foram repartidos,
estes, aliás, não eram tão poucos como por vezes se afirma, porque tinha uma
inteligência límpida e clara.(75)
48. Em todo o caso, cada
padre tem o dever de adquirir e desenvolver os conhecimentos gerais e a cultura
teológica proporcionada às suas aptidões e funções. E praza a Deus que os
pastores de almas façam sempre tanto como fez o cura d'Ars para desenvolver a
capacidade da sua inteligência e fortalecer a memória com o exercício, sobretudo
para tirar a iluminação do melhor de todos os livros que é a cruz de Cristo! O
seu bispo dizia dele a alguns dos seus detratores: Não sei se é instruído, mas
o que é certo é que brilha com luz do céu.(76)
49. Foi com toda a razão que
o nosso predecessor de feliz memória, Pio XII, não hesitou em apresentar como
modelo aos pregadores da cidade eterna o humilde pároco de aldeia. O santo cura
d'Ars não tinha, por certo, o gênio natural dum P. Ségneri ou dum Benigno
Bossuet; mas a convicção viva, clara e profunda, de que estava animado, vibrava
na sua palavra, brilhava nos seus olhos, sugeria à sua imaginação e
sensibilidade idéias, imagens, comparações justas, apropriadas, deliciosas, que
teriam encantado um s. Francisco de Sales. Tais pregadores conquistam o
auditório. Àquele que está cheio de Cristo não será difícil conquistar os outros
para Cristo.(77) Estas palavras descrevem à maravilha o cura d'Ars, catequista
e pregador. Quando, no fim da vida com a voz enfraquecida, já não se podia fazer
ouvir por todo o auditório, era ainda pelo olhar de fogo, pelas lágrimas, pelos
gemidos de amor de Deus ou pela expressão de dor ao simples pensamento do
pecado, que convertia os fiéis atraídos para junto da sua cátedra. Com efeito,
quem não ficará impressionado pelo testemunho duma vida tão inteiramente votada
ao amor de Cristo?
50. Até à santa morte, s.
João Maria Vianney conservou-se assim fiel à missão de instruir o povo e os
peregrinos que enchiam a sua igreja, a denunciar a tempo e fora de tempo (2Tm
4,2), o mal sob todas as formas, sobretudo a elevar as almas para Deus, porque
preferia antes mostrar o lado atraente da virtude, do que a fealdade do
vício.(78) Este humilde padre tinha, com efeito, compreendido em alto grau a
dignidade e a grandeza do ministério da Palavra de Deus: Nosso Senhor, que é a
própria Verdade - dizia ele - não faz menos caso da sua Palavra do que do seu
corpo.
51. Compreende-se assim a
alegria dos nossos predecessores, oferecendo este pastor de almas como modelo
aos padres, porque é de suma importância que o clero seja, em toda a parte e em
todos os tempos, fiel ao seu dever de ensinar. Dizia a este propósito s. Pio X:
Importa pôr em relevo, e com insistência, este ponto essencial: um padre, seja
quem for, não tem missão mais importante, nem mais estrita obrigação.(79) Este
vibrante apelo, constantemente renovado pelos nossos predecessores, e de que se
faz eco o Direito Canônico, (80) nós vo-lo dirigimos, veneráveis irmãos, neste
ano centenário do santo catequista e pregador de Ars. Encorajamos as tentativas
feitas com prudência, sob a vossa orientação, em vários países, para melhorar as
condições do ensino religioso dos jovens e dos adultos, nas suas diversas formas
e tendo em conta os diferentes ambientes. Mas, por muito úteis que sejam tais
trabalhos, Deus faz-nos lembrar, neste centenário do cura d'Ars, o irresistível
poder apostólico de um padre que, tanto pela sua própria vida como pelas suas
palavras, presta homenagem a Cristo crucificado não com a persuasiva linguagem
da sabedoria, mas com uma demonstração do poder do Espírito (l Cor 2,4).
Incansável apóstolo do
confessionário
52. Por último, resta-nos
evocar na vida de s. João Maria Vianney este aspecto do ministério pastoral, que
para ele, durante muitos anos de sua vida, foi como um longo martírio e fica
para sempre ligado à sua memória: a administração do sacramento da penitência,
que dele recebeu singular brilho e produziu os mais abundantes e salutares
frutos. Em média, cada dia, passava quinze horas no confessionário. Este labor
cotidiano começava de madrugada e só acabava à noite.(81) E quando caiu
esgotado, cinco dias antes de morrer, os últimos penitentes aglomeravam-se à
cabeceira do moribundo. Calculou-se que no final da vida, o número anual dos
peregrinos atingisse oitenta mil. (82)
53. Dificilmente se podem
imaginar as contrariedades e os sofrimentos físicos destas intermináveis horas
no confessionário, para um homem já esgotado pelos jejuns, macerações,
enfermidades, e falta de sono... Mas, acima de tudo, ele sentia-se como
moralmente esmagado pela dor. Escutai a sua lamentação: Ofende-se tanto a Deus,
que quase nos sentimos tentados a pedir o fim do mundo!..É preciso vir a Ars
para se saber o que é o pecado e a sua multidão quase infinita... Não se sabe o
que se deve fazer: só se pode chorar e rezar. O santo esquecia-se de
acrescentar que tomava também sobre si uma parte da expiação: Pela minha parte
- contava ele a quem lhe pedia conselho - dou-lhes uma penitência pequena e o
resto faço-a eu por eles.(83)
54. Na verdade, o cura d'Ars
não vivia senão para os pobres pecadores, como ele dizia, na esperança de os
ver converter-se e chorar. A sua conversão era o fim para o qual convergiam
todos os seus pensamentos e a obra em que dispendia todo o tempo e todas as
forças.(84) É que, com efeito, ele sabia, pela experiência do confessionário,
toda a malícia do pecado e as suas horrorosas devastações no mundo das almas.
Falou disso em termos terríveis: Se tivéssemos fé e víssemos uma alma em estado
de pecado mortal, morreríamos de pavor!(85)
55. Mas a acuidade da sua dor
e a veemência da sua palavra provinham menos do receio das penas eternas que
ameaçam o pecador endurecido, do que da emoção que sentia com o pensamento do
amor divino ignorado e ofendido. Ante a obstinação do pecador e a sua ingratidão
para com um Deus tão bom, as lágrimas brotavam-lhe dos olhos: Oh, meu amigo -
dizia ele - eu choro, porque vós não chorais! (86) Mas, pelo contrário, com que
delicadeza e fervor ele fazia a esperança renascer nos corações arrependidos!
Incansavelmente, tornava-se junto deles o ministro da misericórdia divina, que
é, dizia ele, poderosa como uma torrente saída do leito, que arrasta os
corações na sua passagem(87) e mais terna do que a solicitude de uma mãe,
porque Deus é mais pronto em perdoar do que uma mãe em tirar seu filho do
fogo. (88)
56. Seguindo o exemplo do
santo cura d'Ars, os pastores de almas deverão tomar a peito consagrar-se, com
competência e dedicação, a este ministério tão grave, porque é aí que,
finalmente, a misericórdia divina triunfa da malícia dos homens e que o pecador
‚ reconciliado com Deus. Recordemos, igualmente, que nosso predecessor Pio XII
condenou com palavras bem duras a opinião errônea segundo a qual não se
deveria fazer tanto caso da confissão freqüente das faltas veniais: Para
avançar com ardor crescente no caminho da virtude, recomendamos vivamente este
piedoso costume da confissão freqüente, introduzido pela Igreja não sem a
inspiração do Espírito Santo. (89) Enfim, ousamos esperar que os ministros do
Senhor serão os primeiros a ser fiéis, segundo as prescrições canônicas, (90) à
prática regular e fervorosa do sacramento da penitência, tão necessário à sua
santificação, e que tomarão na maior conta as insistentes recomendações que,
muitas vezes e com sofrimento, Pio XII lhes dirigiu com esta finalidade.(91)
Conclusão
57. Ao terminar esta carta,
veneráveis irmãos, desejamos afirmar-vos a nossa viva esperança de que, pela
graça de Deus, este centenário da morte do santo cura d'Ars despertará em todos
os padres o desejo de cumprir mais generosamente o seu ministério e, sobretudo,
este primeiro dever que é trabalhar na sua própria santificação.(92)
58. Quando, desde este cume
do supremo Pontificado onde a Providência quis colocar-nos, consideramos a
imensa ansiedade das almas, os graves problemas da evangelização em tantos
países e as necessidades religiosas das populações cristãs, sempre e por toda a
parte se apresenta diante dos nossos olhos a imagem do padre. Sem ele, sem a sua
ação cotidiana, que seria das iniciativas mesmo as mais apropriadas às
necessidades do momento? Que fariam mesmo os mais generosos apóstolos leigos?
Exortações
59. É a esses padres tão
amados e sobre os quais se fundam tantas esperanças de progresso na Igreja, que
ousamos pedir, em nome de Cristo Jesus, inteira fidelidade às exigências
espirituais da sua vocação sacerdotal. Estas palavras cheias de sabedoria de s.
Pio X realçam o nosso apelo: Para fazer reinar Jesus Cristo no mundo, nada é
mais necessário do que um clero santo, que seja, com o exemplo, com a palavra e
com a ciência, guia dos fiéis.(93) Quase o mesmo dizia s. João Maria Vianney ao
seu bispo: Se quiserdes converter a vossa diocese, será preciso tornar santos
todos os vossos párocos!.
60. A vós, veneráveis irmãos,
que tendes a responsabilidade da santificação dos vossos padres, recomendamo-vos
que os ajudeis nas dificuldades, por vezes graves, da sua vida pessoal ou do seu
ministério. Quanto pode fazer um Bispo que ama os seus padres e ganhou a sua
confiança, que os conhece, segue de perto e guia com autoridade firme e sempre
paternal! Se vos pertence a solicitude de todas a diocese, vivei em primeiro
lugar e com solicitude paternal para esses homens que colaboram tão
estreitamente convosco e aos quais vos unem laços tão sagrados.
61. Igualmente pedimos a
todos os fiéis, neste ano centenário, que rezem pelos padres e contribuam, pela
sua parte, para a sua santificação. Hoje, os cristãos fervorosos esperam muito
do padre. Querem ver nele, neste mundo onde triunfa com freqüência o poderio do
dinheiro, a sedução dos sentidos, o prestígio da técnica, um testemunho do Deus
invisível, um homem de fé, esquecido de si mesmo e cheio de caridade. Saibam
esses cristãos que podem contribuir muito para que seus padres sejam fiéis a tão
grande ideal, por um respeito religioso do seu caráter sacerdotal, uma
compreensão mais exata da sua tarefa pastoral e das suas dificuldades, uma
colaboração mais ativa no seu apostolado.
62. O nosso olhar paternal
não pode deixar de voltar-se, cheio de afeição e esperança, para a juventude. A
colheita é grande, mas poucos os operários! (Mt 9,37).
Em tantas regiões, os
apóstolos, gastos pelo trabalho, esperam ansiosamente os que hão de rendê-los!
Povos inteiros sofrem duma fome espiritual ainda mais grave do que a do corpo;
quem lhes levará o alimento celeste da verdade e da vida? Esperamos firmemente
que a juventude deste século não será menos generosa em corresponder ao apelo do
Mestre do que a dos tempos passados.
63. Por certo, a condição do
padre é muitas vezes difícil. Não é para admirar que seja o primeiro alvo visado
pelos inimigos da Igreja, porque, dizia o cura d'Ars, quando se quer destruir a
religião, começa-se por atacar o padre.
64. Mas, não obstante estas
gravíssimas dificuldades, que ninguém duvide da felicidade profunda que é
partilhar do padre fervoroso, chamado pelo Salvador Jesus a colaborar na mais
santa das obras, a da redenção das almas e do crescimento do corpo místico de
Cristo. Famílias cristãs, pesai as vossas responsabilidades e dai vossos filhos,
com alegria e gratidão, ao serviço da Igreja.
65. Não pretendemos
desenvolver aqui este apelo, que é também o vosso, veneráveis irmãos. Mas
estamos certos de que compreendereis e partilhareis a ansiedade do nosso coração
e todo o poder de convicção que desejaríamos pôr nestas poucas palavras. É a s.
João Maria Vianney que confiamos esta causa tão grave e da qual depende o futuro
de tantos milhares de almas!
Oração e bênção
66. Para a Virgem Imaculada
volvemos agora os nossos olhares. Pouco antes de o cura d'Ars acabar a sua longa
carreira, cheia de merecimentos, ela apareceu numa outra região de França a uma
donzela humilde e pura, para lhe comunicar uma mensagem de oração e de
penitência, cuja imensa repercussão espiritual ‚ bem conhecida desde há um
século. Na verdade, a existência do santo padre, cuja memória estamos
celebrando, era antecipadamente uma viva ilustração das grandes verdades
sobrenaturais confiadas à vidente de Massabielle! Ele próprio tinha pela
Imaculada Conceição da Santíssima Virgem uma viva devoção, ele que, em 1836,
consagrara a sua paróquia a Maria concebida sem pecado, devia acolher com tanta
fé e alegria a definição dogmática de 1854. (94)
67. Desta forma,
comprazemo-nos em unir no pensamento e na nossa gratidão para com Deus estes
dois centenários, de Lourdes e de Ars, que se sucederam providencialmente e
honraram grandemente a nação tão querida ao nosso coração, à qual pertencem
estes lugares tão santos. Lembrado de tantos benefícios obtidos e na esperança
de novas graças, faremos nossa a invocação mariana, que era familiar ao santo
cura d'Ars: Bendita seja a santíssima imaculada conceição da bem-aventurada
Virgem Maria, Mãe de Deus! Que todas as nações glorifiquem, que toda a terra
invoque e bendiga o vosso Coração Imaculado!. (95)
68. Com a mais viva esperança
de que este centenário da morte de s. João Maria Vianney possa despertar, em
todo o mundo, uma renovação de fervor nos padres e nos jovens chamados ao
sacerdócio, e também que possa suscitar por parte de todos os fiéis uma atenção
maior e mais ativa para os problemas da vida e do ministério dos padres, nós de
todo o coração concedemos a todos, e em primeiro lugar a vós, veneráveis irmãos,
como penhor das graças celestes e da nossa benevolência, a bênção apostólica.
Dada em Roma, junto de S.
Pedro, no dia 1° de agosto do ano de 1959, ano I do nosso Pontificado.
JOÃO PP. XXIII
Notas
1. AAS 17(1925), p. 224.
2. Carta Apost. Anno Iubilari; AAS 21(1929, p. 313.
3. Acta Pii X, IV, pp. 237-264.
4. AAS 28 (1936), pp. 5-53.
5. AAS 42 (1950), pp. 357-702.
6. AAS 46 (1954), pp. 313-317, e 666-677.
7. Cf. AAS 50 (1958), pp. 966-967; L'Osservatore Romano, 17 outubro 1958.
8. Pontificale Rom.; cf. Jo 15,15.
9. Exort. Haerent animo: Acta Pii X, IV, p. 238.
10. Oração da Missa, na festa de S. J. M. Vianney
11. Cf. Archiv. Secr, Vat., Congr. SS. Rituum,
Processus, t. 227, p.196.
12. Alloc. Annus sacer; AAS 43(1951), p. 29.
13. Ibid.
14. S. Tomás, Sum. Th. II-II, q.184, a. 8, in c.
15. Cf. Pio XII, Discurso de 16 abril de 1953: AAS 45 (1953), p.
288.
16. Cf. Arch. Secret. Vat., t. 227, p. 42.
17. Cf. Ibid. t. 227, p.137.
18. Cf. Ibid, t. 227, p. 92.
19. Cf. Ibid. t. 3897, p. 510.
20. Cf. Ibid, t. 227, p. 334.
21. Cf. Ibid. t. 227, p. 305.
22. Carta Enc. Divini Redemptoris; AAS 29 (1937), p. 99.
23. Carta Enc. Ad catholici sacerdotii;
AAS 28 (193), p. 28.
24. CIC., can.1473.
25. Cf. Sermons du B. Jean B. M. Vianney,1909, t, l, p. 364.
26. Cf. Arch. Secret. Vat., t. 227, p. 91.
27. In Lucae Evangelium Expositio, IV, in c.12; PL, 92, col.
494-495.
28. Cf. Exort. Apost. Menti Nostrae; AAS 42(1950), pp. 697-699.
29. Cf. Archiv. Secret. Vat., t. 227, p. 91.
30. Summa theol. II-II, q.184, a. 8, c.
31. Exort. Haerent animo: Acta Pii X, IV, p. 260.
32. AAS 46 (1954), pp.161-191.
33. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 3897, p. 536.
34. Cf. Arch. Secr. Vat. t. 3897, p. 304.
35. Carta Enc. Ad catholici sacerdotii; AAS 28 (1936), p. 28.
36. Cf. Arch. Secr. Vat, t. 227, p. 29.
37. Cf. Ibid. t. 227, p. 74.
38. Cf. Ibid. t. 227, p. 39.
39. Cf. Ibid, t. 3895, p.153.
40. Exort. In auspicando: AAS 40 (1948), p. 375.
41. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p.136.
42. Cf. Ibid, t. 227, p. 33.
43. Pio XII, Discurso de 11 de janeiro de 1953: Discorsi e Radiomessagi
di S.S. Pio X11, t. 14, p. 452.
44. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p.131.
45. Cf. Ibid. t. 227, p.1100.
46. Cf. Ibid. t. 227, p. 54.
47. Cf. Ibid. t. 227, p. 45.
48. Cf. Ibid. t. 227, p. 29.
49. Cf. Ibid, t. 227, p. 976.
50. CIC., cân.125.
51. Ibid. cân.135.
52. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p. 36.
53. Exort. Haerent animo: Acta Pii X, IV, pp. 248-249.
54. Discurso de 24 de giugno 1939; AAS 31(1939), p. 249.
55. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p.1103.
56. Cf. Ibid., t. 227, p. 45.
57. Cf. Ibid., t. 227, p. 459.
58. Cf. Nuntius scripto datus, de 25 de junho de 1956: AAS 48 (1956), p.
579.
59. Discurso de 13 de março de 1943: AAS 35(1943), p.114-115.
60. Exort. Apost. Menti Nostrae; AAS 42 (1950), p. 666-667.
61. Cf. Ibid. pp. 667-668.
62. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p. 319.
63. Cf. Ibid. t. 227, p. 47.
64. Exort. Apost. Menti Nostrae; AAS 42 (1950), p. 667-668.
65. Cf. Ibid.: AAS 42(1950), p. 676.
66. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p. 629.
67. Cf. Ibid. t. 227, p.15.
68. Cf. Sermons, 1909. t. 2, p. 86.
69. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p.1210.
70. Cf. Ibid, t. 227, p. 53.
71. Cf. Ibid. t. 227, p. 991.
72. Cf. Ibid, t. 227, p. 53.
73. Cf. Ibid. t. 227, p.1102.
74. Cf. Ibid. t. 227, 580.
75. Cf. Ibid.. t. 3897, p. 444.
76. Cf. Ibid, t. 3897, p. 272.
77. Cf. Discurso de 16 de março de 1946: AAS 38 (1946), p.186.
78. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p.185.
79. Carta Enc. Acerbo nimis; Acta Pii X, II, p. 75.
80. CIC., cân.1330-1332.
81. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p.18.
82. Cf. Ibid.
83. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p.1018.
84. Cf. Ibid. t. 227, p.18.
85. Cf. Ibid. t. 227, p. 290.
86. Cf. Ibid. t. 227, p. 999.
87. Cf. Ibid. t. 227, p. 978.
88. Cf. Ibid. t 3900, p.1554.
89. Carta Encic. Mystici Corporis: AAS 35 (1943), p. 235.
90. CIC., cân.125, § 1.
91. Cf. Carta Encic. Mystici Corporis: AAS 35 (1943), p. 235.
Carta Encic. Mediator Dei: AAS 39 (1947), p. 585; Exort. Apost. Menti
Nostrae: AAS 42(1950), p. 674.
92. Exort. Apost. Menti Nostrae: AAS 42 (1950), p. 677.
93. Cf. Carta La ristorazione: Acta Pii X, I, p. 257.
94. Cf. Arch. Secret. Vat. t. 227, p. 90.
95. Cf. Ibid. t. 227, p.1021.
Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, ao sabor das paixões, amontoa- rão para si mestres, conforme suas próprias concupiscências e des- viarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas".(2Tm 4,3-4).