"Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!"(Jr 48,10).
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Mortalium Animos
MORTALIUM
ANIMOS
Carta Encíclica aos Rev.mos Senhores Padres
Patriarcas, Primazes, Arcebispos, Bispos e outros Ordinários dos lugares
em paz e união com a Sé Apostólica:
Sobre a promoção da verdadeira unidade de
Religião
Papa Pio XI
Talvez jamais em uma outra
época os espíritos dos mortais foram tomados por um tão grande desejo
daquela fraterna amizade, pela qual - em razão da unidade e identidade
de natureza - somos estreitados e unidos entre nós, amizade esta que
deve ser robustecida e orientada para o bem comum da sociedade humana,
quanto vemos ter acontecido nestes nossos tempos.
Pois, embora as nações ainda
não usufruam plenamente dos benefícios da paz, antes, pelo contrário, em
alguns lugares, antigas e novas discórdias vão explodindo em sedições e
em conflitos civis; como não é possível, entretanto, que as muitas
controvérsias sobre a tranqüilidade e a prosperidade dos povos sejam
resolvidas sem que exista a concórdia quanto à ação e às obras dos que
governam as Cidades e administram os seus negócios; compreende-se
facilmente (tanto mais que já ninguém discorda da unidade do gênero
humano) porque, estimulados por esta irmandade universal, também muitos
desejem que os vários povos cada dia se unam mais estreitamente.
A fraternidade na
religião. Congressos ecumênicos.
Entretanto, alguns lutam por
realizar coisa não dissemelhante quanto à ordenação da Lei Nova trazida
por Cristo, Nosso Senhor.
Pois, tendo como certo que
rarissimamente se encontram homens privados de todo sentimento
religioso, por isto, parece, passaram a ter a esperança de que, sem
dificuldade, ocorrerá que os povos, embora cada um sustente sentença
diferente sobre as coisas divinas, concordarão fraternalmente na
profissão de algumas doutrinas, como que em um fundamento comum da vida
espiritual.
Por isto costumam realizar
por si mesmos convenções, assembléias e pregações, com não medíocre
freqüência de ouvintes e para elas convocam, para debates,
promiscuamente, a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo,
os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e
pertinazmente contradizem à sua natureza divina e à sua missão.
Os Católicos não podem
aprová-lo
Sem dúvida, estes esforços
não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se
fundamentam na falsa opinião dos que julgam que quaisquer religiões são,
mais ou menos, boas e louváveis, pois, embora não de uma única maneira,
elas alargam e significam de modo igual aquele sentido ingênito e nativo
em nós, pelo qual somos levados para Deus e reconhecemos obsequiosamente
o seu império.
Erram e estão enganados,
portanto, os que possuem esta opinião: pervertendo o conceito da
verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o
chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem
concorda com os que pensam e empreendem tais coisas afasta-se
inteiramente da religião divinamente revelada.
Outro erro. A união de
todos os cristãos. Argumentos falazes
Entretanto, quando se trata
de promover a unidade entre todos os cristãos, alguns são enganados mais
facilmente por uma disfarçada aparência do que seja reto.
Acaso não é justo e de
acordo com o dever - costumam repetir amiúde - que todos os que invocam
o nome de Cristo se abstenham de recriminações mútuas e sejam finalmente
unidos por mútua caridade?
Acaso alguém ousaria afirmar
que ama a Cristo se, na medida de suas forças, não procura realizar as
coisas que ele desejou, ele que rogou ao Pai para que seus discípulos
fossem UM (Jo. 17,21)?
Acaso não quis o mesmo
Cristo que seus discípulos fossem identificados por este como que sinal
e fossem por ele distinguidos dos demais, a saber, se mutuamente se
amassem: Todos conhecerão que sois meus discípulos nisto: se tiverdes
amor um pelo outro? (Jo. 13,35).
Oxalá todos os cristãos
fossem um, acrescentam: eles poderiam repelir muito melhor a peste da
impiedade que, cada dia mais, se alastra e se expande, e se ordena ao
enfraquecimento do Evangelho.
Debaixo desses argumentos
se oculta um erro gravíssimo
Os chamados pancristãos
espalham e insuflam estas e outras coisas da mesma espécie. E eles estão
tão longe de serem poucos e raros mas, ao contrário, crescem em fileiras
compactas e uniram-se em sociedades largamente difundidas, as quais,
embora sobre as coisas de fé cada um esteja imbuído de uma doutrina
diferente, são, as mais das vezes, dirigidas por acatólicos.
Esta iniciativa é promovida
de modo tão ativo que, de muitos modos, consegue para si a adesão dos
cidadãos e arrebata e alicia os espíritos, mesmo de muitos católicos,
pela esperança de realizar uma união que parecia de acordo com os
desejos da santa Mãe, a Igreja, para Quem, realmente, nada é tão antigo
quanto o reconvocar e reconduzir os filhos desviados para os seu grêmio.
Na verdade, sob os atrativos
e os afagos destas palavras oculta-se um gravíssimo erro pelo qual são
totalmente destruídos os fundamentos da fé.
A verdadeira norma nesta
matéria
Advertidos, pois, pela
consciência do dever apostólico, para que não permitamos que o rebanho
do Senhor seja envolvido pela nocividade destas falácias, apelamos,
veneráveis irmãos, para o vosso empenho na precaução contra este mal.
Confiamos que, pelas palavras e escritos de cada um de vós, poderemos
atingir mais facilmente o povo, e que os princípios e argumentos, que a
seguir proporemos, sejam entendidos por ele pois, por meio deles, os
católicos devem saber o que devem pensar e praticar, dado que se trata
de iniciativas que dizem respeito a eles, para unir de qualquer maneira
em um só corpo os que se denominam cristãos.
Só uma Religião pode ser
verdadeira: a revelada por Deus
Fomos criados por Deus,
Criador de todas as coisas, para este fim: conhecê-lo e serví-Lo. O
nosso Criador possui, portanto pleno direito de ser servido.
Por certo, poderia Deus ter
estabelecido apenas uma lei da natureza para o governo do homem. Ele, ao
criá-lo, gravou-a em seu espírito e poderia portanto, a partir daí,
governar os seus novos atos pela providência ordinária dessa mesma lei.
Mas, preferiu dar preceitos aos quais nós obedecêssemos e, no decurso
dos tempos, desde os começos do gênero humano até a vinda e a pregação
de Jesus Cristo, Ele próprio ensinou ao homem, naturalmente dotado de
razão, os deveres que dele seriam exigidos para com o Criador: Em
muitos lugares e de muitos modos, antigamente, falou Deus aos nossos
pais pelos profetas; ultimamente, nestes dias, falou-nos por seu Filho
(Heb. 1,1 seg).
Está, portanto, claro que a
Religião verdadeira não pode ser outra senão a que se fundamenta na
palavra revelada de Deus; começando a ser feita desde o princípio, essa
revelação prosseguiu sob a Lei Antiga e o próprio Cristo completou-a sob
a Nova Lei.
Portanto, se Deus falou - e
comprova-se pela fé histórica ter ele realmente falado - não há que não
veja ser dever do homem acreditar, de modo absoluto, em Deus que se
revela e obedecer integralmente a Deus que impera. Mas, para a glória de
Deus e para a nossa salvação, em relação a uma coisa e outra, o Filho
Unigênito de Deus instituiu na terra a sua Igreja.
A única Religião revelada
é a Igreja Católica
Acreditamos, pois, que os
que afirmam serem cristãos, não possam fazê-lo sem crer que uma Igreja,
e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga, além disso, qual
deva ser ela pela vontade do seu Autor, já não estão todos em consenso.
Assim, por exemplo,
muitíssimos destes negam a necessidade da Igreja de Cristo ser visível e
perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo
único de fiéis, concordes em uma só e mesma doutrina, sob um só
magistério e um só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja
perceptível e visível é uma Federação de várias comunidades cristãs,
embora aderentes, cada uma delas, a doutrinas opostas entre si.
Entretanto, Cristo Senhor
instituiu a sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza externa e
perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria a
obra da reparação do gênero humano pela regencia de uma só cabeça (Mt.
16,18 seg.; Lc. 22,32; Jo 21, 15-17), pelo magistério de uma voz viva (Mc.
16,15) e pela dispensação dos sacramentos, fontes da graça celeste (Jo.
3,5; 6,48-50; 20,22 seg.; cf.. Mt. 18,18 seg.). Por este motivo, por
comparações afirmou-a ser semelhante a um reino (Mt. 13), a uma casa
(Mt. 16,18), a um redil de ovelhas (Jo. 10,16) e a um rebanho (Jo. 21,
15-17).
Esta Igreja, fundada de modo
tão admirável, ao Lhe serem retirados o seu Fundador e os Apóstolos que
por primeiro a propagaram, em razão da morte deles, não poderia cessar
de existir e ser extinta, uma vez que Ela era aquela a quem, sem nenhuma
discriminação quanto a lugares e a tempos, fora dado o preceito de
conduzir todos os homens à salvação eterna: Ide, pois, ensinai a todos
os povos (Mt. 28,19).
Acaso faltaria à Igreja algo
quanto à virtude e eficácia no cumprimento perene desse múnus, quando o
próprio Cristo solenemente prometeu estar sempre presente a ela: Eis
que Eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos?
(Mt. 28,20).
Deste modo, não pode ocorrer
que a Igreja de Cristo não subsista hoje e em todo o tempo, e também que
ela não exista como inteiramente a mesma que existiu à época dos
Apóstolos. A não ser que desejemos afirmar que: Cristo Senhor ou não
cumpriu o que propôs ou que errou ao afirmar que as portas do inferno
jamais prevaleceriam contra Ela (Mt. 16,18).
Um erro capital do
movimento ecumênico na pretendida união das igrejas cristãs
Ocorre-nos dever esclarecer
e afastar aqui certa opinião falsa, da qual parece depender toda esta
questão e proceder essa múltipla ação e conspiração dos acatólicos que,
como dissemos, trabalham pela união das igreja cristãs.
Os autores desta opinião
acostumaram-se a citar, quase que indefinidamente, a Cristo dizendo:
Para que todos sejam um... haverá um só rebanho e um só Pastor (Jo.
27,21; 10,16). Fazem-no todavia de modo que, por essas palavras, queiram
significar um desejo e uma prece de Cristo ainda carente de seu efeito.
Pois opinam: a unidade de fé
e de regime, distintivo da verdadeira e única Igreja de Cristo, quase
nunca existiu até hoje e nem hoje existe, que ela pode, sem dúvida, ser
desejada e talvez realizar-se alguma vez, por uma inclinação comum das
vontades; mas que, entrementes, deve existir apenas uma fictícia
unidade.
Acrescentam que a Igreja é,
por si mesma, por natureza, dividida em partes, isto é, que ela consta
de muitas igrejas ou comunidades particulares, as quais, ainda
separadas, embora possuam alguns capítulos comuns de doutrina, discordam
todavia nos demais. Que cada uma delas possui os mesmos direitos. Que,
no máximo, a Igreja foi única e una, da época apostólica até os
primeiros concílios ecumênicos.
Assim, dizem, é necessário
colocar de lado e afastar as controvérsias e as antiquíssimas variedades
de sentenças que até hoje impedem a unidade do nome cristão e, quanto às
outras doutrinas, elaborar e propor uma certa lei comum de crer, em cuja
profissão de fé todos se conheçam e se sintam como irmãos, pois, se as
múltiplas igrejas e comunidades fossem unidas por um certo pacto,
existiria já a condição para que os progressos da impiedade fossem
futuramente impedidos de modo sólido e frutuoso.
Estas são, Veneráveis
Irmãos, as afirmações comuns.
Existem, contudo, os que
estabelecem e concedem que o chamado Protestantismo, de modo bastante
inconsiderado, deixou de lado certos capítulos da fé e alguns ritos do
culto exterior, sem dúvida gratos e úteis, que, pelo contrário, a Igreja
Romana ainda conserva.
Mas, de imediato,
acrescentam que esta mesma Igreja também agiu mal, corrompendo a
religião primitiva por algumas doutrinas alheias e repugnantes ao
Evangelho, propondo acréscimos para serem cridos. Enumeram como o
principal entre estes o que versa sobre o Primado de Jurisdição
atribuído a Pedro e as seus Sucessores na Sé Romana.
Entre os que assim pensam,
embora não sejam muitos, estão os que indulgentemente atribuem ao
Pontífice Romano um primado de honra ou uma certa jurisdição e poder
que, entretanto, julgam procedente não do Direito Divino, mas de certo
consenso dos fiéis. Chegam outros ao ponto de, por seus conselhos, que
diríamos serem furta-cores, querem presidir o próprio Pontífice.
E se é possível encontrar
muitos acatólicos pregando à boca cheia a união fraterna em Jesus
Cristo, entretanto não encontrareis nenhum deles em cujos pensamentos
esteja a submissão e a obediência ao Vigário de Jesus Cristo enquanto
docente ou enquanto governante.
Afirmam eles que tratariam
de bom grado com a Igreja Catolica Romana, mas com igualdade de
direitos, isto é, iguais com um igual. Mas, se pudessem fazê-lo, não
parece existir dúvida de que agiriam com a intenção de que, por um pacto
que talvez se ajustasse, não fosse coagidos a afastarem-se daquelas
opiniões que são a causa pela qual ainda vagueiem e errem fora do único
aprisco de Cristo.
. A Igreja Católica não pode
participar de semelhantes reuniões
Assim sendo, é
manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar
de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito
aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão
autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única
Igreja fundada por Cristo.
A verdade revelada não
admite transações
Acaso poderemos tolerar - o
que seria bastante iníquo - , que a verdade e, em especial a revelada,
seja diminuída através de pactuações?
No caso presente, trata-se
da verdade revelada que deve ser defendida.
Se Jesus Cristo enviou os
Apóstolos a todo o mundo, a todos os povos que deviam ser instruídos na
fé evangélica e, para que não errassem em nada, quis que, anteriormente,
lhes fosse ensinada toda a verdade pelo Espírito Santo. Acaso esta
doutrina dos Apóstolos faltou inteiramente ou foi alguma vez perturbada
na Igreja em que o próprio Deus está presente como regente e guardião?
Se o nosso Redentor
promulgou claramente o seu Evangelho não apenas para os tempos
apostólicos, mas também para pertencer às futuras épocas, o objeto da fé
poderia tornar-se de tal modo obscuro e incerto que hoje seja necessário
tolerar opiniões pelo menos contrárias entre si?
Se isto fosse verdade,
dever-se-ia igualmente dizer que o Espírito Santo que desceu sobre os
Apóstolos, que a perpétua permanência dele na Igreja e também que a
própria pregação de Cristo já perderam, desde muitos séculos, toda a
eficácia e utilidade. Afirmar isto é, sem dúvida, blasfemo.
A Igreja Católica,
depositária infalível da verdade
Quando o Filho unigênito de
Deus ordenou a seus enviados que ensinassem a todos os povos, vinculou
então todos os homens pelo dever de crer nas coisas que lhes fossem
anunciadas pelas testemunhas pré-ordenadas por Deus (At. 10,41).
Entretanto, um e outro preceito de Cristo, o de ensinar e o de crer na
consecução da salvação eterna, não podem deixar de ser cumpridos e nem
poderiam ser entendidos a não ser que a Igreja proponha de modo íntegro
e claro a Doutrina evangélica e que, ao propô-la, seja imune a qualquer
perigo de errar.
Afastam-se igualmente do
caminho os que julgam que o depósito da verdade existe realmente na
terra, mas que é necessário um trabalho difícil, com tão longos estudos
e disputas para encontrá-lo e possuí-lo e que a vida dos homens seja
apenas suficiente para isso, com se Deus Benigníssimo tivesse falado
pelos profetas e pelo seu Unigênito para que apenas uns poucos, e estes
mesmos já avançados em idade, aprendessem perfeitamente as coisas que
por eles revelou, e não para que preceituasse uma doutrina de fé e de
costumes pela qual, em todo o decurso de sua vida mortal, o homem fosse
regido.
Sem fé, não há verdadeira
caridade
Estes pancristãos, que
empenham o seu espírito na união das igrejas, pareceriam seguir, por
certo, o nobilíssimo conselho da caridade que deve ser promovida entre
os cristãos. Mas, dado que a caridade se desvia em detrimento da fé, o
que pode ser feito?
Ninguém ignora por certo que
o próprio João, o Apóstolo da Caridade, que em seu Evangelho parece ter
manifestado os segredos do Coração Sacratíssimo de Jesus e que
permanentemente costumava inculcar à memória dos seus o mandamento novo:
Amai-vos uns aos outros, vetou inteiramente até mesmo manter relações
com os que professavam de forma não íntegra e incorrupta a Doutrina de
Cristo: Se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em
casa, nem digais a ele uma saudação (2 Jo. 10).
Pelo que, como a caridade se
apóia na fé íntegra e sincera como que em um fundamento, então é
necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de fé como vínculo
principal.
União irracional
Assim, de que vale excogitar
no espírito uma certa Federação cristã, na qual ao ingressar ou então
quando se tratar do objeto da fé, cada qual retenha a sua maneira de
pensar e de sentir, embora ela seja repugnante às opiniões dos outros?
E de que modo pedirmos que
participem de um só e mesmo Conselho homens que se distanciam por
sentenças contrárias como, por exemplo, os que afirmam e os que negam
ser a sagrada Tradição uma fonte genuína da Revelação Divina?
Como os que adoram a Cristo
realmente presente na Santíssima Eucaristia, por aquela admirável
conversão do pão e do vinho que se chama transubstanciação e os
que afirmam que, somente pela fé ou por sinal e em virtude do
Sacramento, aí está presente o Corpo de Cristo?
Como os que reconhecem nela
a natureza do Sacrifício e a do Sacramento e os que dizem que ela não é
senão a memória ou comemoração da Ceia do Senhor?
Como os que crêem ser bom e
útil invocar súplicas aos Santos que reinam junto de Cristo - Maria, Mãe
de Deus, em primeiro lugar - e tributar veneração às suas imagens e os
que contestam que não pode ser admitido semelhante culto, por ser
contrário à honra de Jesus Cristo, único mediador de Deus e dos
homens? (1 Tim. 2,5).
Princípio até o
indiferentismo e o modernismo
Não sabemos, pois, como por
essa grande divergência de opiniões seja defendida o caminho para a
realização da unidade da Igreja. Ela não pode resultar senão de um só
Magistério, de uma só Lei de crer, de uma só Fé entre os cristãos.
Sabemos, entretanto, gerar-se facilmente daí um degrau para a
negligência com a religião ou o Indiferentismo e para o denominado
Modernismo.
Aqueles que foram miseravelmente infeccionados por ele
defendem que não é absoluta, mas relativa a verdade revelada, isto é, de
acordo com as múltiplas necessidades dos tempos e dos lugares e com as
várias inclinações dos espíritos, uma vez que ela não estaria limitada
por uma Revelação imutável, mas seria tal que se adaptaria à vida dos
homens.
Além disso, com relação às
coisas que devem ser cridas, não é lícito utilizar-se, de modo algum,
daquela discriminação que houveram por bem introduzir entre o que
denominam capítulos fundamentais e capítulos não fundamentais da fé,
como se uns devessem ser recebidos por todos, e, com relação aos outros,
pudesse ser permitido o assentimento livre dos fiéis. A Virtude
sobrenatural da fé possui como causa formal a autoridade de Deus
revelante e não pode sofrer nenhuma distinção como esta.
Por isto, todos os que são
verdadeiramente de Cristo consagram, por exemplo, ao mistério da Augusta
Trindade a mesma fé que possuem em relação dogma da Mãe de Deus
concebida sem a mancha do pecado original e não possuem igualmente uma
fé diferente com relação à Encarnação do Senhor e ao magistério
infalível do Pontífice romano, no sentido definido pelo Concílio
Ecumênico Vaticano.
Nem se pode admitir que as
verdade que a Igreja, através de solenes decretos, sancionou e definiu
em outras épocas, pelo menos as proximamente superiores, não sejam, por
este motivo, igualmente certas e nem devam ser igualmente acreditadas.
Acaso não foram todas elas reveladas por Deus?
Pois, o Magistério da
Igreja, por decisão divina, foi constituído na terra para que as
doutrinas reveladas não só permanecessem incólumes perpetuamente, mas
também para que fossem levadas ao conhecimento dos homens de um modo
mais fácil e seguro. E, embora seja ele diariamente exercido pelo
Pontífice Romano e pelos Bispos em união com ele, todavia ele se
completa pela tarefa de agir, no momento oportuno, definindo algo por
meio de solenes ritos e decretos se alguma vez for necessário opor-se
aos erros ou impugnações dos hereges de um modo mais eficiente ou
imprimir nas mentes dos fiéis capítulos da doutrina sagrada expostos de
modo mais claro e pormenorizado.
Por este uso extraordinário
do Magistério nenhuma invenção é introduzida e nenhuma coisa nova é
acrescentada à soma de verdades que estando contidas, pelo menos
implicitamente, no depósito da Revelação, foram divinamente confiados à
Igreja, e são declaradas coisas que, para muitos talvez, ainda poderiam
parecer obscuras, ou são estabelecidas coisas que devem ser mantidas
sobre a fé e que antes eram por alguns colocados sob controvérsia.
A única maneira de unir
todos os cristãos
Assim, Veneráveis Irmãos, é
clara a razão pela qual esta Sé Apostólica nunca permitiu aos seus
estarem presentes às reuniões de acatólicos por quanto não é lícito
promover a união dos cristãos de outro modo senão promovendo o retorno
dos dissidentes à única verdadeira Igreja de Cristo, dado que outrora,
infelizmente, eles se apartaram dela.
Dizemos à única verdadeira
Igreja de Cristo porque sem dúvida ela é a todos manifesta e, pela
vontade de seu Autor, Ela perpetuamente permanecerá tal qual Ele próprio
A instituiu para a salvação de todos.
Pois, a mística Esposa de
Cristo jamais se contaminou com o decurso dos séculos nem, em época
alguma, poderá ser contaminada, como S. Cipriano o atesta: A Esposa de
Cristo não pode ser adulterada: ela é incorrupta e pudica. Ela conhece
uma só casa e guarda com casto pudor a santidade de um só cubículo (De
Cath. Ecclessiae unitate, 6).
E o mesmo santo Mártir, com
direito e com razão, grandemente se admirava de que pudesse alguém
acreditar que esta unidade que procede da firmeza de Deus pudesse
cindir-se e ser quebrada na Igreja pelo divórcio de vontades em
conflito (ibidem).
Portanto, dado que o Corpo
Místico de Cristo, isto é, a Igreja, é um só (1 Cor. 12,12), compacto e
conexo (Ef. 4,15), à semelhança do seu corpo físico, seria inépcia e
estultície afirmar alguém que ele pode constar de membros desunidos e
separados: quem pois não estiver unido com ele, não é membro seu, nem
está unido à cabeça, Cristo (Cfr. Ef. 5,30; 1,22).
A Obediência ao Romano
Pontífice
Mas, ninguém está nesta
única Igreja de Cristo e ninguém nela permanece a não ser que,
obedecendo, reconheça e acate o poder de Pedro e de seus sucessores
legítimos.
Por acaso os antepassados
dos enredados pelos erros de Fócio e dos reformadores não estiveram
unidos ao Bispo de Roma, ao Pastor supremo das almas?
Ai! Os filhos afastaram-se
da casa paterna; todavia ela não foi feita em pedaços e nem foi
destruída por isso, uma vez que estava arrimada na perene proteção de
Deus. Retornem, pois, eles ao Pai comum que, esquecido das injúrias
antes gravadas a fogo contra a Sé Apostólica, recebê-los-á com máximo
amor.
Pois se, como repetem
freqüentemente, desejam unir-se Conosco e com os nossos, por que não se
apressam em entrar na Igreja, Mãe e Mestra de todos os fiéis de Cristo
(Conc. Later 4, c.5)?
Escutem a Lactâncio chamando
amiúde: Só... a Igreja Católica é a que retém o verdadeiro culto. Aqui
está a fonte da verdade, este é o domicílio da Fé, este é o templo de
Deus: se alguém não entrar por ele ou se alguém dele sair, está fora da
esperança da vida e salvação. é necessário que ninguém se afague a si
mesmo com a pertinácia nas disputas, pois trata-se da vida e da salvação
que, a não ser que seja provida de um modo cauteloso e diligente, estará
perdida e extinta (Divin. Inst. 4,30, 11-12).
Apelo às seitas
dissidentes
Aproximem-se, portanto, os
filhos dissidentes da Sé Apostólica, estabelecida nesta cidade que os
Príncipes dos Apóstolos Pedro e Paulo consagraram com o seu sangue;
daquela Sede, dizemos, que é raiz e matriz da Igreja Católica (S. Cypr.,
ep. 48 ad Cornelium, 3), não com o objetivo e a esperança de que a
Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade (1 Tim 3,15)
renuncie à integridade da fé e tolere os próprios erros deles, mas, pelo
contrário, para que se entreguem a seu magistério e regime.
Oxalá auspiciosamente ocorra
para Nós isto que não ocorreu ainda para tantos dos nossos muitos
Predecessores, a fim de que possamos abraçar com espírito fraterno os
filhos que nos é doloroso que estejam de Nós separados por uma
perniciosa dissensão.
Prece a Nosso Senhor e a
Nossa Senhora
Oxalá Deus, Senhor nosso,
que quer salvar todos os homens e deseja que eles venham ao
conhecimento da verdade(1 Tim. 2,4) nos ouça suplicando fortemente para
que Ele se digne chamar à unidade da Igreja a todos os errantes.
Nesta questão que é, sem
dúvida, gravíssima, utilizamos e queremos que seja utilizada como
intercessora a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da graça divina,
vencedora de todas as heresias e auxílio dos cristãos, para que Ela
peça, para o quanto antes, a chegada daquele dia tão desejado por nós,
em que todos os homens escutem a voz do seu Filho divino, conservando a
unidade de espírito em um vínculo de paz (Ef. 4,3).
Conclusão e Bênção
Apostólica
Compreendeis, Veneráveis
Irmãos, o quanto desejamos isto e queremos que o saibam os nossos
filhos, não só todos os do mundo católico, mas também os que de Nós
dissentem. Estes, se implorarem em prece humilde as luzes do céu, por
certo reconhecerão a única verdadeira Igreja de Jesus Cristo e, por fim,
nEla tendo entrado, estarão unidos conosco em perfeita caridade.
No aguardo deste fato, como
auspício dos dons de Deus e como testemunho de nossa paterna
benevolência, concedemos muito cordialmente a vós, Veneráveis Irmãos, e
a vosso clero e povo, a bênção apostólica.
Dado em Roma, junto de São
Pedro, no dia seis de janeiro, no ano de 1928, festa da Epifania de
Jesus Cristo, Nosso Senhor, sexto de nosso Pontificado.
Papa Pio XI.
Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, ao sabor das paixões, amontoa- rão para si mestres, conforme suas próprias concupiscências e des- viarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas".(2Tm 4,3-4).