Busca no site: |
|
B í b l i a | ![]() | O n L i n e |
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
SEGUNDA PARTE
A CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO CRISTÃO
INTRODUÇÃO
POR QUE A LITURGIA?
1066 No Símbolo da Fé, a Igreja confessa o mistério da Santíssima Trindade e seu
50
“desígnio benevolente” (Ef 1,9)
sobre toda a criação: o Pai realiza o “mistério de sua vontade” entregando seu
Filho bem-amado e seu Espírito para a salvação do mundo e para a glória de seu
nome. Este é o mistério de Cristo
,
revelado e realizado na história segundo um plano, uma “disposição” sabiamente
ordenada que São Paulo
236 denomina “a realização do mistério” (Ef 3,9) e que a tradição patrística chamará de
“Economia do Verbo Encarnado” ou “a Economia da Salvação”.
1067
“Esta obra
da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as
maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a Cristo
Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua bem-aventurada paixão,
ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão. Por este mistério, Cristo,
'morrendo, destruiu nossa morte, e ressuscitando, recuperou nossa vida'. Pois do
lado de Cristo adormecido na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a
Igreja
.” Esta é a
571 razão pela qual, na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal pelo
qual Cristo realizou a obra da nossa salvação.
1068 E este mistério de Cristo que a Igreja anuncia e celebra em sua liturgia, a fim de que os fiéis vivam e dêem testemunho dele no mundo:
Com efeito, a liturgia, pela qual, principalmente no divino sacrifício da Eucaristia, “se
exerce a obra de nossa redenção”, contribui do modo mais excelente para que os fiéis, em
sua vida, exprimam e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a genuína natureza da
verdadeira Igreja
.
QUE SIGNIFICA A PALAVRA LITURGIA?
1069
A palavra “liturgia” significa
originalmente “obra pública”, “serviço da parte do povo e em favor do povo”. Na
tradição cristã. ela quer significar que O povo de Deus toma parte na “obra de
Deus
”.
Pela liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote, continua em sua Igreja,
com ela e por ela, a obra de nossa redenção.
1070
A
palavra
“liturgia” no Novo Testamento é empregada para designar não somente a celebração
do culto divino
,
mas também o anúncio do Evangelho
e
a caridade em ato
.
Em todas essas situações, trata-se do serviço de Deus e dos homens. Na
783
celebração litúrgica, a Igreja é serva à imagem do seu Senhor, o único “liturgo
”,
participando de seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e régio (serviço de
caridade):
Com razão, portanto, a
liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual,
mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal,
realizada a santificação do homem, e é exercido o culto público integral pelo
Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros. Disto se segue que toda a celebração
litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo que é a Igreja, é ação
sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo titulo e grau, não é igualada
por nenhuma outra ação da Igreja
.
A LITURGIA COMO FONTE DE VIDA
1071 Além de ser obra de Cristo, a liturgia é também uma ação de sua Igreja. Ela realiza e
1692
manifesta a Igreja corno sinal visível da comunhão entre Deus e os homens por
meio de Cristo. Empenha os fiéis na vida nova da comunidade. Implica uma
participação “consciente, ativa e frutuosa” de todos
.
1072
“A liturgia não esgota toda a ação da
Igreja
”:
ela tem de ser precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão; pode
então produzir seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o
compromisso com a missão da Igreja e o serviço de sua unidade.
ORAÇÃO E LITURGIA
1073
A liturgia
é também participação da oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo
Nela, toda oração cristã encontra sua fonte e seu termo. Pela liturgia, o homem
interior é enraizado e fundado
no
“grande amor com, o qual o Pai nos amou” (Ef 2,4) em seu Filho bem-amado. E a
mesma “maravilha de Deus” que é vivida e
2558 interiorizada por toda oração, “em todo tempo, no Espírito” (Ef 6,18).
CATEQUESE E LITURGIA
1074
“A liturgia é o ápice para o qual tende a
ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua força
.”
Ela é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do povo de Deus. “A catequese
está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental, pois é nos
sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a
transformação dos homens
.”
1075 A catequese litúrgica tem em vista introduzir no mistério de Cristo (ela é
426,774 “mistagogia”),
procedendo do visível para o invisível, do significaste para o significado, dos
“sacramentos” para os “mistérios”. Tal catequese é da competência dos catecismos
locais e regionais. O presente Catecismo, que pretende servir para a Igreja
inteira, na diversidade de seus ritos e de suas culturas
,
apresentará o que é fundamental e comum a toda a Igreja no tocante à liturgia
como mistério e como celebração (Seção I), e em seguida os sete sacramentos e os
sacramentais (Seção II.).
PRIMEIRA SEÇÃO
A ECONOMIA SACRAMENTAL
1076
No dia
de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, a Igreja é manifestada ao
mundo
.
O dom do Espírito inaugura um tempo novo na “dispensação do mistério”: o tempo
da Igreja, durante o qual Cristo manifesta, toma presente e comunica sua obra de
salvação pela liturgia de sua Igreja, “até que ele venha” (1 Cor 11,26).
739 Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age em sua Igreja e com ela de forma nova, própria deste tempo novo. Age pelos sacramentos; é isto que a Tradição comum do Oriente e do Ocidente chama de “economia sacramental”; esta consiste na comunicação (ou “dispensação”) dos frutos do Mistério Pascal de Cristo na celebração da liturgia “sacramental” da Igreja. Por isso, importa ilustrar primeiro esta “dispensação sacramental” (Capítulo I). Assim aparecerão com mais clareza a natureza e os aspectos essenciais da celebração litúrgica (Capítulo II.).
CAPÍTULO I
O MISTÉRIO PASCAL NO TEMPO DA IGREJA
ARTIGO I - A LITURGIA.
OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
I. O Pai, fonte e fim da liturgia
1077 “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com
492 toda sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele escolheu-nos antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória de sua graça, com a qual ele nos agraciou no Bem-amado” (Ef 1,3-6).
1078 Abençoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é ao
2626 mesmo tempo palavra e dom (benedictio, eulogia, pronuncie “euloguia”). Aplicado ao homem, esse termo significar a adoração e a entrega a seu criador, na ação de graças.
1079 Desde o início até a consumação dos tempos, toda a obra de Deus é bênção. Desde o poema litúrgico da primeira criação até os cânticos da Jerusalém celeste os autores inspirados anunciam o projeto de salvação como uma imensa bênção divina.
1080 Desde o começo, Deus abençoa os seres vivos, especialmente o homem e a mulher. A aliança com Noé e com todos os seres animados renova esta bênção de fecundidade, apesar do pecado do homem, por causa do qual a terra é “amaldiçoada”. Mas é a partir de Abraão que a bênção divina penetra a história dos homens, que caminhava para a morte, para fazê-la retomar à vida, à sua fonte: pela fé do “pai dos crentes” que acolhe a bênção, inaugura-se a história da salvação.
1081 As bênçãos divinas manifestam-se em eventos impressionantes e salvadores: o nascimento de Isaac, a saída do Egito (Páscoa e Êxodo), o dom da Terra Prometida, a eleição de Davi, a presença de Deus no templo, o exílio purificador e o retomo de um “pequeno resto”. A lei, os profetas e os salmos, que tecem a liturgia do povo eleito, lembram essas bênçãos divinas e ao mesmo tempo lhes respondem mediante as bênçãos de louvor e de ação de graças.
1082 Na liturgia da Igreja, a bênção divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e adorado como a fonte e o fim de todas as bênçãos da criação e da salvação; em seu Verbo, encarnado, morto e ressuscitado por nós, ele nos cumula com suas bênçãos, e por meio dele derrama em nossos corações o dom que contém todos os dons: o Espírito Santo.
1083 Compreende-se então a dupla dimensão da liturgia cristã como resposta de fé e de
2627
amor às
“bênçãos espirituais” com as quais o Pai nos presenteia. Por um lado, a Igreja,
unida a seu Senhor e “sob a ação do Espírito Santo
”,
bendiz o Pai “por seu dom inefável” (2Cor 9,15) mediante a adoração, o louvor e
a ação de graças. Por outro lado, e até a consumação do projeto de Deus, a
Igreja não cessa de oferecer ao
1360 Pai “a oferenda de seus próprios dons” e de implorar que Ele envie o Espírito Santo sobre a oferta, sobre si mesma, sobre os fiéis e sobre o mundo inteiro, a fim de que pela comunhão com a morte e a ressurreição de Cristo Sacerdote e pelo poder do Espírito estas bênçãos divinas produzam frutos de vida “para louvor e glória de sua graça” (Ef 1,6).
II. A obra de Cristo na liturgia
CRISTO GLORIFICADO...
1084 “Sentado à direita do Pai” e derramando o Espírito Santo em seu Corpo que é a
662 Igreja, Cristo age agora pelos sacramentos, instituídos por Ele para comunicar sua
1127 graça. Os sacramentos são sinais sensíveis (palavras e ações), acessíveis à nossa
humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam em virtude da ação
de Cristo e pelo poder do Espírito Santo.
1085
Na
liturgia
da Igreja, Cristo significa e realiza principalmente seu mistério pascal.
Durante sua vida terrestre, Jesus anunciava seu Mistério pascal por seu
ensinamento e o antecipava por seus atos. Quando chegou sua hora
,
viveu o único evento da história que não passa: Jesus morre, é sepultado,
ressuscita dentre os mortos e está sentado à direita do Pai “uma vez por todas”
(Rm 6,10; Hb 7,27; 9,12). É um evento real, acontecido em nossa história, mas é
único: todos os outros eventos da história acontecem uma vez e depois passam,
engolidos pelo passado. O Mistério
519 pascal de Cristo, ao contrário, não pode ficar somente no passado, já que por sua morte destruiu a morte, e tudo o que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens participa da eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e nele se mantém
1165 presente. O evento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida.
... A PARTIR DA IGREJA DOS APÓSTOLOS...
1086 “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, da mesma forma Ele mesmo enviou os
858 apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o Evangelho a toda
criatura,
anunciarem que o Filho de Deus, por sua Morte e Ressurreição, nos libertou do
poder de Satanás e da morte e nos transferiu para o reino do Pai, mas ainda para
levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação por meio do sacrifício e
dos sacramentos, em tomo dos quais gravita toda a vida litúrgica
.”
1087
Dessa forma,
Cristo ressuscitado, ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos, confia-lhes seu
poder de santificação
: eles tomam-se assim sinais
sacramentais de Cristo. Pelo
861 poder do mesmo Espírito Santo, os Apóstolos confiam este poder a seus sucessores.
1536 Esta “sucessão apostólica” estrutura toda a vida litúrgica da Igreja; ela mesma é sacramental, transmitida pelo sacramento da ordem.
... ESTA PRESENTE NA LITURGIA TERRESTRE...
1088 “Para levar a efeito tão grande obra” a saber, a dispensação ou comunicação de sua
776 obra de salvação” Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações
669 litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois 'aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se
1373
ofereceu na cruz', quanto sobretudo sob as espécies eucarísticas.
Presente está por sua força nos sacramentos, a tal ponto que, quando alguém
batiza, é Cristo mesmo que batiza. Presente está por sua palavra, pois é ele
mesmo quem fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja. Presente está,
finalmente, quando a Igreja reza e salmodia, ele que prometeu: 'Onde dois ou
três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles' (Mt 18,20
).”
1089 “Na realização de tão grande obra, por meio da qual Deus é perfeitamente glorificado
796
e os
homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua esposa direitíssima, que o invoca como seu Senhor e por ele presta culto ao eterno
Pai
.
... QUE PARTICIPA DA LITURGIA CELESTE...
1090 “Na liturgia terrestre, antegozando participamos (já) da liturgia celeste, que se
1137,1139 celebra na
cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos.
Lá, Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda a milícia do exército celestial cantamos um
hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer
parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo,
até que ele, nossa vida, se manifeste e nós apareçamos com ele na glória. ”
III. O Espírito Santo e a Igreja na liturgia
1091 Na liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo da fé do povo de Deus, o artífice das
798 “obras-primas de Deus”, que são os sacramentos da nova aliança. O desejo e a obra do Espírito no coração da Igreja é que vivamos da vida de Cristo ressuscitado. Quando encontra em nós a resposta de fé que ele mesmo suscitou, realiza-se uma verdadeira cooperação. Por meio dela a liturgia se toma a obra comum do Espírito Santo e da Igreja.
1092 Nesta comunicação sacramental do mistério de Cristo, o Espírito age da mesma
737 forma que nos outros tempos da economia da salvação: prepara a Igreja para encontrar seu Senhor, recorda e manifesta Cristo à fé da assembléia, torna presente e atualiza o mistério de Cristo por seu poder transformador e, finalmente, como Espírito de comunhão, une a Igreja à vida e à missão de Cristo.
O ESPÍRITO SANTO PREPARA PARA ACOLHER A CRISTO
1093 Na economia sacramental o Espírito Santo leva à realização as figuras da antiga
762
aliança.
Visto que a Igreja de Cristo estava “admiravelmente preparada na história do
Povo de Israel e na Antiga Aliança
”,
a liturgia da Igreja conserva como parte integrante e insubstituível -
tomando-os seus – alguns elementos do culto da Antiga Aliança:
121 ü principalmente a leitura do Antigo Testamento;
2585 ü a oração dos Salmos;
1081 ü e sobretudo a memória dos eventos salvadores e das realidades
significativas que encontraram sua realização no Mistério de Cristo (a Promessa
e a Aliança, o Êxodo e a Páscoa, o Reino e o Templo, o exílio e a volta).
1094
É
em tomo desta harmonia dos dois Testamentos
que
se articula a catequese
128-130 pascal do Senhor
,
e posteriormente a dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda
O que permanecia escondido sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de
Cristo. Ela é denominada “tipológica” porque revela a novidade de Cristo a
partir das “figuras” (tipos) que a anunciavam nos fatos, nas palavras e nos
símbolos da primeira aliança. Por esta releitura no Espírito de verdade a partir
de Cristo, as figuras são desveladas
.
Assim, o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a salvação pelo Batismo
,
o mesmo acontecendo com a nuvem e a travessia do Mar Vermelho, e a água do
rochedo era a figura dos dons espirituais de Cristo
;
o maná do deserto prefigurava a Eucaristia, “o verdadeiro Pão do Céu” (Jo 6,32).
1095 É por isso que a Igreja, particularmente no advento, na quaresma e sobretudo na
281 noite de Páscoa, relê e revive todos esses grandes acontecimentos da história da salvação no “hoje” de sua liturgia. Mas isso exige também que a catequese ajude os
117 fiéis a se abrirem a esta compreensão “espiritual” da economia da salvação, tal como a liturgia da Igreja a manifesta e no-la faz viver.
1096 Liturgia judaica e liturgia cristã. Um conhecimento mais aprimorado da fé e da vida religiosa do povo judaico, tais como são professadas e vividas ainda hoje, pode ajudar a compreender melhor certos aspectos da liturgia cristã. Para os judeus e para os cristãos, a Sagrada Escritura é uma parte essencial de suas liturgias: para a proclamação da Palavra de Deus, a resposta a esta palavra, a oração de louvor e de intercessão pelos vivos e pelos mortos, o recurso à misericórdia divina. A Liturgia da
1174 palavra, em sua estrutura própria, tem sua origem na oração judaica. A Oração das horas, bem como outros textos e formulários litúrgicos, tem seus paralelos na oração
1352 judaica, o mesmo acontecendo com as próprias fórmulas de nossas orações mais veneráveis, entre elas o Pai-Nosso. Também as orações eucarísticas inspiram-se em modelos da tradição judaica. As relações entre liturgia judaica e liturgia cristã mas também a diferença de seus conteúdos são particularmente visíveis nas grandes
840 festas do ano litúrgico, como a Páscoa. Cristãos e judeus celebram a Páscoa; Páscoa
da história, orientada para o futuro, entre os judeus; Páscoa realizada na morte e na Ressurreição de Cristo, entre os cristãos, ainda que sempre à espera da consumação definitiva.
1097 Na liturgia da nova aliança, toda ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja. A assembléia litúrgica tira sua unidade da “comunhão do Espírito Santo”, que congrega os filhos de Deus no único corpo de Cristo. Ela ultrapassa as afinidades humanas, raciais, culturais e sociais.
1098
A
assembléia
deve se preparar para se encontrar com seu Senhor, deve ser “um povo bem-disposto
”. Essa preparação dos corações é obra
comum do Espírito
1430 Santo e da assembléia, em particular de seus ministros. A graça do Espírito Santo procura despertar a fé, a conversão do coração e a adesão à vontade do Pai. Essas disposições constituem pressupostos para receber as outras graças oferecidas na própria celebração e para os frutos de vida nova que ela está destinada a produzir posteriormente.
O ESPÍRITO SANTO RECORDA O MISTÉRIO DE CRISTO
1099 O Espírito e a Igreja cooperam para manifestar o Cristo e sua obra de salvação na liturgia. Principalmente na Eucaristia, e analogicamente nos demais sacramentos, a
91 liturgia é memorial do Mistério da Salvação. O Espírito Santo é a memória viva da
Igreja
.
1100 A Palavra de Deus. O Espírito Santo recorda primeiro à assembléia litúrgica o
1134 sentido do evento da salvação, dando vida à Palavra de Deus, que é anunciada para ser recebida e vivida:
103,131 Na celebração da liturgia é máxima a importância da Sagrada Escritura, pois dela são
tirados os textos que se lêem e que são explicados na homilia e os salmos cantados. E de
sua inspiração e bafejo que surgiram as preces, as orações e os hinos litúrgicos. E é dela
também que as ações e os símbolos tiram sua significação
.
1101 É o Espírito Santo que dá aos leitores e aos ouvintes, segundo as disposições de seus
117 corações, a compreensão espiritual da Palavra de Deus. Por meio das palavras, das ações e dos símbolos que formam a trama de uma celebração, o Espírito põe os fiéis e os ministros em relação viva com Cristo, palavra e imagem do Pai, a fim de que possam fazer passar à sua vida o sentido daquilo que ouvem, contemplam e fazem na celebração.
1102
“E a
palavra da salvação que alimenta a fé no coração dos cristãos
: é ela que faz nascer e dá crescimento
à comunhão dos cristãos.” O anúncio da Palavra de Deus
143 não se limita a um ensinamento: quer suscitar a resposta da fé, como consentimento e compromisso, em vista da aliança entre Deus e seu povo. E ainda o Espírito Santo que dá a graça da fé, que a fortifica e a faz crescer na comunidade. A assembléia litúrgica é primeiramente comunhão na fé.
1103 A anamnese. A celebração litúrgica refere-se sempre às intervenções salvíficas de
1362
Deus na
história. “A economia da revelação concretiza-se por meio das ações e das
palavras intimamente interligadas.(...) As palavras proclamam as obras e
elucidam o mistério nelas contido
.”
Na liturgia da palavra, o Espírito Santo “recorda” à assembléia tudo o que
Cristo fez por nós. Segundo a natureza das ações litúrgicas e as tradições
rituais das Igrejas, uma celebração “faz memória” das maravilhas de Deus em uma
anamnese mais ou menos desenvolvida. O Espírito Santo, que desperta assim a
memória da Igreja, suscita então a ação de graças e o louvor (doxologia).
O ESPÍRITO SANTO ATUALIZA O MISTÉRIO DE CRISTO
1104 A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como
1085 também os atualiza, toma-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não
é repetido; o que se repete são as celebrações; em cada uma delas sobrevêm a
efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério.
1105 A epiclese (“invocação sobre”) é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que
1153 envie o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo, e para que ao recebê-los os fiéis se tomem eles mesmos uma oferenda viva a Deus.
1106 Juntamente com a anamnese, a epiclese está no cerne de cada celebração sacramental, mais especialmente da Eucaristia:
1375 Perguntas como o pão se converte no Corpo de Cristo e o vinho em Sangue de Cristo.
Respondo-te: o Espírito Santo irrompe e realiza aquilo que ultrapassa toda palavra e todo
pensamento... Basta-te saber que isso acontece por obra do Espírito Santo, do mesmo modo
que, da Santíssima Virgem e pelo mesmo Espírito Santo, o Senhor por si mesmo e em si
mesmo assumiu a carne
.
1107 O poder transformador do Espírito Santo na liturgia apressa a vinda do Reino e a
2816
consumação do mistério da salvação. Na expectativa e na esperança ele nos faz
realmente antecipar a comunhão plena da Santíssima Trindade. Enviado pelo Pai
que ouve a epiclese da Igreja, o Espírito dá a vida aos que o acolhem e
constitui para eles, desde já, “o penhor” de sua herança
.
A COMUNHÃO DO ESPÍRITO SANTO
1108 O fim da missão do Espírito Santo em toda a ação litúrgica é colocar-se em
788 comunhão com Cristo para formar seu corpo. O Espírito Santo é como que a seiva da
1091
videira
do Pai que produz seus frutos nos ramos
.
Na liturgia realiza-se a cooperação mais íntima entre o Espírito Santo e a
Igreja. Ele, o Espírito de comunhão, permanece indefectivelmente na Igreja, e é
por isso que a Igreja é o grande sacramento da
775
Comunhão divina que congrega os
filhos de Deus dispersos. O fruto do Espírito na liturgia é inseparavelmente
comunhão com a Santíssima Trindade e comunhão fraterna entre os irmãos
.
1109 A epiclese é também a oração para o efeito pleno da comunhão da assembléia com o mistério de Cristo. “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo” (2Cor 13,13) devem permanecer sempre conosco e produzir frutos para além da celebração eucarística. A Igreja pede, pois, ao Pai que envie o Espírito Santo para que faça da vida dos fiéis uma oferenda viva a Deus por
1368 meio da transformação espiritual à imagem de Cristo, (por meio) da preocupação pela unidade da Igreja e da participação da sua missão pelo testemunho e pelo serviço da caridade.
RESUMINDO
1110 Na liturgia da Igreja, Deus Pai é bendito e adorado como a fonte de todas as bênçãos da criação e da salvação, com as quais nos abençoou em seu Filho, para dar-nos o Espírito da adoção filial.
1111 A obra de Cristo na liturgia é sacramental porque seu mistério de salvação se torna presente nela mediante o poder de seu Espírito Santo; porque seu corpo, que é a Igreja, é como que o sacramento (sinal e instrumento) no qual o Espírito Santo dispensa o mistério da salvação; porque por meio de suas ações litúrgicas a Igreja peregrina já participa, por antecipação, da liturgia celeste.
1112 A missão do Espírito Santo na liturgia da Igreja é preparar a assembléia para encontrar-se com Cristo; recordar e manifestar Cristo à fé da assembléia; tornar presente e atualizar a obra salvífica de Cristo por seu poder transformador e fazer frutificar o dom da comunhão na Igreja.
ARTIGO 2
O MISTÉRIO PASCAL NOS SACRAMENTOS DA IGREJA
1113 Toda a vida litúrgica da Igreja gravita em tomo do sacrifício eucarístico e dos
1210
sacramentos
.
Há na Igreja sete sacramentos: o Batismo, a Confirmação ou Crisma, a Eucaristia,
a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem, o Matrimônio
.
No presente artigo trataremos daquilo que é comum, do ponto de vista doutrinal,
aos sete sacramentos da Igreja. O que lhes é comum sob o aspecto da celebração
será exposto no Capítulo II, e o que é próprio de cada um deles será objeto da
Seção II.
I. Os sacramentos de Cristo
1114
“Fiéis à doutrina das Sagradas
Escrituras, às tradições apostólicas (...) e ao sentimento unânime dos Padres
“,
professamos que “os sacramentos da nova lei foram todos instituídos por Nosso
Senhor Jesus Cristo
”.
1115 As palavras e as ações de Jesus durante sua vida oculta e durante seu ministério
512-560
público já
eram salvíficas. Antecipavam o poder de seu mistério pascal. Anunciavam e
preparavam O que iria dar à Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da
vida de Cristo são os fundamentos daquilo que agora, por meio dos ministros de
sua Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois “aquilo que era visível em
nosso Salvador passou para seus mistérios
”.
1116
Os sacramentos
são “forças que saem” do corpo de Cristo
, sempre vivo e
1504,774 vivificante; são ações do Espírito Santo Operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são “as obras-primas de Deus” na Nova e Eterna Aliança.
II. Os sacramentos da Igreja
1117 Graças ao Espírito Santo que a conduz à “verdade plena” (Jo 16,13), a Igreja reconheceu pouco a pouco este tesouro recebido de Jesus e precisou sua
120
“dispensação”, tal
como o fez com o cânon
das Sagradas Escrituras e com a doutrina da fé, qual fiel dispensadora dos
mistérios de Deus
.
Assim, ao longo dos séculos, a Igreja foi discernindo que entre suas celebrações
litúrgicas existem sete que são, no sentido próprio da palavra, sacramentos
instituídos pelo Senhor.
1118 Os sacramentos são “da Igreja” no duplo sentido de que existem “por meio dela” e “para ela”. São “por meio da Igreja”, pois esta é o sacramento da ação de Cristo
1396
operando em
seu seio graças à missão do Espírito Santo E são “para a Igreja”, pois são esses
“sacramentos que fazem a Igreja
”;
com efeito, manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o
mistério da comunhão do Deus amor, uno em três pessoas.
1119
Formando com
Cristo-Cabeça “como que uma única pessoa mística
”,
a Igreja age
792
nos sacramentos como “comunidade sacerdotal”, “organicamente
estruturada
”.
Pelo Batismo e pela Confirmação, o povo sacerdotal é capacitado a celebrar a
liturgia; por outro lado, certos fiéis, “revestidos de uma ordem sagrada, são
instituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja por meio da palavra e da
graça de Deus
”.
1120
O
ministério ordenado ou sacerdócio ministerial
está a
serviço do sacerdócio
1547
batismal.
Garante que, nos sacramentos, é Cristo que age pelo Espírito Santo para a
Igreja. A missão de salvação confiada pelo Pai a seu Filho encarnado é confiada
aos apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores: recebem o Espírito de Jesus
para agir em seu nome e em sua pessoa
.
Assim, o ministro ordenado é o elo sacramental que liga a ação litúrgica àquilo
que disseram e fizeram os apóstolos, e, por meio destes, ao que disse e fez
Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos.
1121 Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem conferem, além da graça,
1272.1304 um caráter sacramental ou “selo” pelo qual o cristão participa do sacerdócio de
1582
Cristo e
faz parte da Igreja segundo estados e funções diversas. Esta configuração com
Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é indelével
,
permanece para sempre no cristão como disposição positiva para a graça, como
promessa e garantia da proteção divina e como vocação ao culto divino e ao
serviço da Igreja. Por isso estes sacramentos nunca podem ser reiterados.
III. Os sacramentos da fé
1122 Cristo enviou seus apóstolos para que “em seu Nome fosse proclamado a todas as nações. O arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 24,47). “Fazei que todos os povos se tornem discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
849 Santo” (Mt 28,19). A missão de batizar, portanto a missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar, pois o sacramento é preparado pela Palavra de Deus e pela
1236 fé, que é assentimento a esta Palavra:
O povo de Deus congrega-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. (...) A
proclamação da Palavra é indispensável ao ministério sacramental, pois se trata dos
sacramentos
da fé, e esta nasce e se alimenta da Palavra
.
1123 “Os sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de
1154
Cristo e ainda
ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução.
Não só supõem a fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e
a exprimem. Por esta razão são chamados sacramentos da fé
.”
1124 A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja
166,1327
celebra os sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos. Daí o
adágio antigo: lex orandi, lex credendi (“a lei da oração é a lei da fé”) (ou
então: legem credendi, lex statuat supplicandia lei do que suplica estabeleça a
lei do que crê, segundo Próspero de Aquitânia
[século
V]). A lei da oração é a lei da fé, ou seja: a Igreja traduz em
78
sua profissão de
fé aquilo que expressa em sua oração. A liturgia é um elemento constitutivo da
santa e viva Tradição
.
1125 E por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao
1205 arbítrio do ministro ou da comunidade. Nem mesmo a suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia ao seu arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia.
1126 De resto, visto que os sacramentos exprimem e desenvolvem a comunhão de fé na
815
Igreja, a lex orandi é um dos critérios essenciais do diálogo que busca restaurar a
unidade dos cristãos
.
IV. Sacramentos da salvação
1127
Celebrados dignamente
na fé, os sacramentos conferem a graça que significam
.
1084 São eficazes porque neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos, a fim de comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai
1105,696 sempre atende à oração da Igreja de seu Filho, a qual, na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim como o fogo transforma nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma em vida divina o que é submetido ao seu poder.
1128
Este é
o sentido da afirmação da Igreja
:
os sacramentos atuam ex opere operato (literalmente: “pelo próprio fato de a
ação ser realizada”), isto é, em virtude da obra salvífica de Cristo, realizada
uma vez por todas. Daí segue-se que “o sacramento não
1584
é realizado pela justiça
do homem que o confere ou o recebe, mas pelo poder de Deus
”.
A partir de momento em que um sacramento é celebrado em conformidade com a
intenção da Igreja, o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e por ele,
independentemente da santidade pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos
sacramentos dependem também das disposições de quem os recebe.
1129 A Igreja afirma que para os crentes os sacramentos da nova aliança são necessários
1257,2003
à
salvação
.
A “graça sacramental” é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e peculiar a
cada sacramento. O Espírito cura e transforma os que o recebem,
460
conformando-os
com o Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o Espírito de adoção
deifica
os
fiéis unindo-os vitalmente ao Filho único, o Salvador.
V. Os sacramentos da Vida Eterna
1130 A Igreja celebra o mistério de seu Senhor “até que Ele venha” e até que “Deus seja
2817 tudo em todos” (1 Cor 11,26; 15,28). Desde a era apostólica a liturgia é atraída para seu termo (meta final) pelo gemido do Espírito na Igreja: “Maran athá!” (Palavras aramaicas que significam: “O Senhor vem”) (1 Cor 16,22). A liturgia participa assim do desejo de Jesus: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco (...) até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22,15-16). Nos sacramentos de Cristo, a Igreja
950 já recebe o penhor da herança dele, já participa da Vida Eterna, embora ainda “aguarde a bendita esperança, a manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus” (Tt 2,13). “O Espírito e a esposa dizem: Vem! (...) Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,17.20).
Santo Tomás resume assim as diversas dimensões do sinal sacramental: “Daí que o
sacramento é um sinal rememorativo daquilo que antecedeu, isto é, a Paixão de Cristo; e
demonstrativo daquilo que em nós é realizado pela Paixão de Cristo, a saber, a graça; e
prenunciador, isto é, que prenuncia a glória futura
”.
RESUMINDO
1131 Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os sacra- mentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naqueles que os recebem com as disposições exigidas.
1132 A Igreja celebra os sacramentos como comunidade sacerdotal estruturada pelo sacerdócio batismal e pelo dos ministros ordenados.
1133 O Espírito Santo prepara para a recepção dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e da fé que acolhe a Palavra nos corações bem dispostos. Então, os sacramentos fortalecem e exprimem a fé.
1134 O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é para cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade e em sua missão de testemunho.