"Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor!"(Jr 48,10).
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Ecclesia in America
Exortação Apostólica Pós-sinodal
ECCLESIA IN AMERICA
do Santo Padre João Paulo II
aos Bispos aos Presbíteros e aos Diáconos,
aos Consagrados e Consagradas
e a todos os Fiéis Leigos
Sobre o Encontro com Jesus Cristo Vivo
Caaminho Para a Conversão,
a Comunhão e a Solidariedade
na América
INTRODUÇÃO
1. A Igreja na América, cheia de alegria pela fé
recebida e agradecida a Cristo por este dom imenso da fé, celebrou
recentemente o quinto centenário do início da pregação do Evangelho em seu
próprio território. Esta comemoração tornou todos os católicos americanos mais
conscientes do anseio que Cristo tem de encontrar os habitantes do chamado
Novo Mundo, para incorporá-los na sua Igreja e, desta forma, fazer-se presente
na história do Continente.
A evangelização da América não é somente um dom do
Senhor; é também fonte de novas responsabilidades. Graças à ação dos que
evangelizaram o Continente em todas as direções, inumeráveis filhos nasceram
da Igreja e do Espírito Santo.(1) Nos seus corações, tanto no passado como
atualmente, continuam ecoando as palavras do Apóstolo: « Anunciar o Evangelho,
não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se eu não
anunciar o Evangelho! » (1 Cor 9, 16). Este dever baseia-se no mandato
conferido pelo Senhor ressuscitado aos Apóstolos, antes da sua Ascensão ao
céu: « Pregai o Evangelho a toda criatura » (Mc 16, 15).
Este mandato diz respeito a toda a Igreja, e a
Igreja que está na América, neste particular momento da sua história, é
chamada a acolhê-lo, respondendo, com amorosa generosidade, à tarefa
fundamental da evangelização. Meu predecessor Paulo VI, o primeiro Papa que
visitou a América, o sublinhava em Bogotá: « Caberá a nós, [Senhor Jesus],
como teus representantes e administradores dos teus divinos mistérios (cf.
1Cor 4,1; 1Pd 4,10), difundir entre os homens os tesouros da
tua palavra, da tua graça, dos teus exemplos ». (2) O dever da evangelização
constitui, para o discípulo de Cristo, uma urgência ditada pela caridade: « O
amor de Cristo nos constrange » (2Cor 5,14), afirma o Apóstolo Paulo,
recordando a obra do Filho de Deus com o seu sacrifício redentor: « Um só
morreu por todos [...], a fim de que os que vivem, já não vivam para si, mas
para Aquele que por eles morreu e ressurgiu » (2Cor 5, 14-15).
A comemoração de ocorrências particularmente
evocadoras do amor de Cristo por nós, suscita no coração, junto ao
agradecimento, a necessidade de « anunciar as maravilhas de Deus », ou seja, a
necessidade de evangelizar. Assim, a lembrança da recente celebração dos
quinhentos anos da chegada da mensagem evangélica à América, isto é, desde que
Cristo chamou a América à fé, e o próximo Jubileu, no qual a Igreja celebrará
os 2000 anos da encarnação do Filho de Deus, são ocasiões privilegiadas nas
quais eleva-se espontaneamente com mais força do coração a expressão da nossa
gratidão ao Senhor. Consciente da grandeza dos dons recebidos, a Igreja
peregrina na América deseja partilhar a riqueza da fé e da comunhão em Cristo
com toda a sociedade, e com cada um dos homens e mulheres que vivem em terra
americana.
A idéia de celebrar esta Assembléia sinodal
2. No mesmo dia em que completavam-se os
quinhentos anos do início da evangelização da América, dia 12 de outubro de
1992, desejando abrir novos horizontes e dar renovado impulso à evangelização,
no discurso de abertura dos trabalhos da IV Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano em Santo Domingo, fiz a proposta de um encontro sinodal, «
visando incrementar a cooperação entre as diversas Igrejas particulares » para
juntos enfrentar, no âmbito da nova evangelização e como expressão da comunhão
episcopal, « os problemas relativos à justiça e à solidariedade entre todas as
nações da América ». (3) A reação positiva com a qual os Bispos da América
acolheram minha indicação, permitiu-me anunciar na Carta apostólica Tertio
millennio adveniente o propósito de convocar uma Assembléia Sinodal «
sobre as problemáticas da nova evangelização em duas partes do mesmo
Continente tão diversas entre si pela origem e pela história, e sobre as
temáticas da justiça e das relações econômicas internacionais, tendo em conta
a enorme disparidade entre Norte e Sul ».(4)
Assim foi possível iniciar os
trabalhos preparatórios propriamente ditos, e chegar finalmente à celebração
da Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a América, que teve lugar no
Vaticano de 16 de novembro a 12 de dezembro de 1997.
O tema da Assembléia
3. De acordo com a idéia inicial e após ter
ouvido as sugestões do Conselho pré-sinodal, expressão viva do pensamento de
muitos Pastores do Povo de Deus no Continente americano, enunciei o tema da
Assembléia Especial do Sínodo para a América na seguinte forma: « Encontro com
Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade na
América ». Assim formulado, o tema manifesta com clareza a centralidade da
pessoa de Jesus Cristo ressuscitado, presente na vida da Igreja, que convida à
conversão, à comunhão e à solidariedade. O ponto de partida deste programa de
evangelização é, certamente, o encontro com o Senhor. O Espírito Santo, dom de
Cristo no mistério pascal, guia-nos em direção às metas pastorais que a Igreja
na América deve alcançar no terceiro milênio cristão.
A celebração da Assembléia como experiência de
encontro
4. A experiência vivida durante a Assembléia
teve, sem dúvida, o caráter de um encontro com o Senhor. Lembro com
satisfação, de modo particular, as duas concelebrações solenes que eu mesmo
presidi na Basílica de S. Pedro respectivamente na inauguração e no
encerramento dos trabalhos da Assembléia. O contato com o Senhor ressuscitado,
verdadeira, real e substancialmente presente na Eucaristia, constituiu o clima
espiritual que permitiu a todos os Bispos da Assembléia Sinodal de se
reconhecerem não só como irmãos no Senhor, mas também como membros do Colégio
Episcopal, desejosos de seguir, sob a presidência do Sucessor de Pedro, as
pegadas do Bom Pastor, servindo a Igreja peregrina em todas as regiões do
Continente. A todos ficou patente a alegria dos participantes na Assembléia,
que nela descobriam uma excepcional ocasião de encontro com o Senhor, com o
Vigário de Cristo, com tantos Bispos, sacerdotes, consagrados e leigos vindos
de todas as partes do Continente.
Alguns fatores precedentes contribuíram sem
dúvida, de modo indireto mas eficaz, para garantir este clima de encontro
fraterno na Assembléia Sinodal. Em primeiro lugar, há que assinalar as
experiências de comunhão vividas anteriormente nas Assembléias Gerais do
Episcopado Latino-Americano no Rio de Janeiro (1955), Medellín (1968), Puebla
(1979) e Santo Domingo (1992). Nelas, os Pastores da Igreja que está na
América Latina tiveram ocasião de refletir juntos como irmãos sobre as
questões pastorais mais urgentes naquela região do Continente. A estas
Assembléias devem-se acrescentar as reuniões periódicas interamericanas de
Bispos, nas quais os participantes tiveram a possibilidade de se abrirem aos
horizontes de todo o Continente, dialogando acerca dos problemas e desafios
comuns que dizem respeito à Igreja nos Países americanos.
Contribuir para a unidade do Continente
5. Na primeira proposta, que fiz em Santo
Domingo, relativa à possibilidade de celebrar-se uma Assembléia Especial do
Sínodo, assinalei que « a Igreja, já no limiar do terceiro milênio da era
cristã e numa época em que caíram muitas barreiras e fronteiras ideológicas,
sente como um dever iniludível unir espiritualmente ainda mais todos os povos
que formam este grande Continente e, ao mesmo tempo, a partir da missão
religiosa que lhe é própria, incentivar o espírito solidário entre todos eles
».(5) Os elementos comuns a todos os povos da América, entre os quais ressalta
uma comum identidade cristã e um sincero empenho na consolidação dos vínculos
de solidariedade e comunhão entre as diversas expressões do rico patrimônio
cultural do Continente, constituem o motivo decisivo que me levou a pedir que
a Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos dedicasse as suas reflexões à
América como uma única realidade.
A escolha de usar a palavra no singular
queria significar não só a unidade, sob certos aspectos já existente, mas
também aquele vínculo mais estreito ao qual os povos do Continente aspiram e
que a Igreja deseja favorecer, no âmbito da própria missão dirigida a promover
a comunhão no Senhor.
No quadro da nova evangelização
6. Na perspectiva do Grande Jubileu do Ano 2000,
quis que houvesse uma Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para cada um
dos cinco Continentes: depois daquelas dedicadas à África (1994), à América
(1997), à Ásia (1998) e ultimamente à Oceania (1998), neste ano de 1999, com a
ajuda do Senhor, será celebrada uma nova Assembléia Especial para a Europa.
Deste modo, durante o ano jubilar será possível uma Assembléia Geral Ordinária
que sintetize e tire as conclusões dos preciosos elementos que as distintas
Assembléias continentais foram elaborando.
Isto será facilitado pelo fato que
em todos estes Sínodos houve preocupações semelhantes e centros comuns de
interesse. Neste sentido, referindo-me a esta série de Assembléias Sinodais,
pus em destaque que em todas elas « o tema de fundo é o da evangelização, ou
melhor, da nova evangelização, cujas bases foram colocadas pela
Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi de Paulo VI ».(6) Por isto,
tanto na minha primeira alusão à celebração desta Assembléia Especial do
Sínodo como, mais tarde, no anúncio explícito da mesma depois que todas
Conferências Episcopais da América assumiram a idéia, indiquei que suas
deliberações deviam mover-se « no âmbito da nova evangelização », (7)
enfrentando os problemas com ela derivados. (8)
Esta preocupação era ainda mais evidente, devido
ao fato de eu ter formulado pela primeira vez o programa de uma nova
evangelização por terras americanas. Com efeito, quando a Igreja em toda a
América se preparava para recordar os quinhentos anos do início da primeira
evangelização do Continente, falando ao Conselho Episcopal Latino-Americano em
Port-au-Prince (Haiti), afirmei: « A comemoração de meio milênio de
evangelização terá o seu significado pleno se for um renovado compromisso da
vossa parte, como Bispos, juntamente com o vosso Presbitério e fiéis,
compromisso não certamente de re-evangelização mas de uma evangelização nova.
Nova no seu entusiasmo, nos seus métodos, na sua expressão ». (9)
Posteriormente, convidei toda a Igreja a levar a cabo tal exortação, apesar de
que o programa de evangelização, olhando à grande variedade que o mundo de
hoje apresenta, deva-se diversificar a começar por duas situações claramente
opostas: a dos países fortemente atingidos pelo secularismo e a dos outros
onde « ainda se conservam bem vivas as tradições de piedade e de religiosidade
popular cristã ».(10) Trata-se, sem dúvida, de duas situações presentes, em
distinto grau, ora nos diferentes países, ora nos diversos ambientes concretos
dos mesmos países do Continente americano.
Com a presença e a ajuda do Senhor
7. O mandato de evangelizar, que o Senhor
ressuscitado deixou à sua Igreja, está acompanhado da certeza, baseada na sua
promessa, de que Ele continua vivo e agindo entre nós: « Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim do mundo » (Mt 28, 20). Esta
misteriosa presença de Cristo na sua Igreja constitui para ela uma garantia de
sucesso no cumprimento da tarefa que lhe foi confiada. Ao mesmo tempo, tal
presença torna possível o nosso encontro com Ele, como Filho enviado pelo Pai,
como Senhor da Vida que nos comunica o seu Espírito. Um renovado encontro com
Jesus Cristo conscientizará todos os membros da Igreja na América do fato de
ser chamados a continuar a missão do Redentor em suas terras.
O encontro pessoal com o Senhor, se for
autêntico, trará também consigo a renovação eclesial: as Igrejas particulares
do Continente, como Igrejas irmãs e vizinhas entre si, aumentarão os vínculos
de cooperação e de solidariedade, para prolongar e tornar mais incisiva a obra
salvadora de Cristo na história da América. Em atitude de abertura à unidade,
fruto de uma autêntica comunhão com o Senhor ressuscitado, as Igrejas
particulares e nelas cada um dos seus membros descobrirão, através da própria
experiência espiritual, que o « encontro com Jesus Cristo vivo » é « caminho
de conversão, de comunhão e de solidariedade ». E, na medida em que estas
metas forem alcançadas, tornar-se-á possível uma dedicação sempre maior à nova
evangelização da América.
CAPÍTULO I
>
O ENCONTRO COM JESUS CRISTO VIVO
« Achamos o
Messias » (Jo 1, 41)
Os encontros com o Senhor no Novo Testamento
8. Os Evangelhos mencionam numerosos encontros
de Jesus com homens e mulheres da sua época. Uma característica comum a todas
estas narrações é a força transformadora que encerram e manifestam os
encontros com Jesus, visto que « desencadeiam um autêntico processo de
conversão, comunhão e solidariedade ».(11) Um dos encontros mais
significativos é o da samaritana (cf. Jo 4,5-42). Jesus a chama para
saciar sua sede, que não era só material: na verdade, « Aquele que lhe pedia
de beber, tinha sede da fé da mulher mesma ».(12) Dizendo-lhe « dá-Me de beber
» (Jo 4, 7) e falando-lhe de água viva, o Senhor suscita na samaritana
uma pergunta, quase uma súplica, cujo verdadeiro objetivo supera algo que ela,
naquele momento, não é capaz de compreender: « Senhor, dá-me dessa água, para
eu já não ter mais sede » (Jo 4,15).
Na verdade, a samaritana, mesmo
se « ainda não compreende »,(13) está pedindo aquela água viva de que fala o
seu divino Interlocutor. Quando Jesus lhe revela a própria messianidade (cf. Jo 4,26), a samaritana sente-se movida a ir anunciar aos seus
conterrâneos a descoberta do Messias (cf. Jo 4, 28-30). Da mesma forma,
quando Jesus encontra Zaqueu (cf. Lc 19,1-10), o fruto mais precioso é
a conversão do publicano, que toma consciência das injustiças cometidas e
decide devolver com largueza — « o quádruplo » — a quem tinha defraudado. Além
disso, assume uma atitude de desprendimento dos bens materiais e de caridade
para com os indigentes, que leva-o a dar aos pobres a metade das suas posses.
Uma menção especial merecem os encontros com
Cristo ressuscitado, narrados no Novo Testamento. Graças ao seu encontro com o
Senhor, Maria Madalena supera o desânimo e a tristeza causados pela morte do
Mestre (cf. Jo 20, 11-18). Na sua nova dimensão pascal, Jesus convida-a
ir anunciar aos discípulos que Ele ressuscitou: « Vai a meus irmãos » (Jo 20, 17). É por isso que Maria Madalena pôde ser chamada « a apóstola dos
apóstolos ».(14) Por sua vez, os discípulos de Emaús, depois de terem
encontrado e reconhecido o Senhor ressuscitado, voltam para Jerusalém para
contar aos apóstolos e aos outros discípulos o que lhes tinha acontecido (cf. Lc 24,13-35). Jesus, « começando por Moisés, percorrendo todos os
profetas, explicava-lhes o que dEle se achava dito em todas as Escrituras » (Lc 24, 27). Mais tarde, eles reconhecerão que o seu coração se abrasava
enquanto o Senhor, ao longo do caminho, conversava com eles e lhes explicava
as Escrituras (cf. Lc 24, 32).
Não resta dúvida de que S. Lucas, ao
narrar este episódio, e especialmente o momento decisivo no qual os dois
discípulos reconhecem a Jesus, alude explicitamente às narrações da
instituição da Eucaristia, ou seja, ao comportamento de Jesus na Última Ceia
(cf. Lc 24, 30). O evangelista, para contar o que os discípulos de
Emaús narram aos Onze, utiliza uma expressão que, na Igreja primitiva, possuía
um preciso significado eucarístico: « O tinham reconhecido ao partir o pão » (Lc 24, 35).
Entre os encontros com o Senhor ressuscitado, um
dos que tiveram uma influência decisiva na história do cristianismo foi, sem
dúvida, a conversão de Saulo, o futuro Paulo, apóstolo das gentes, no caminho
para Damasco. Foi ali que se deu a mudança radical da sua vida, passando de
perseguidor a apóstolo (cf. At 9,3-30; 22,6-11; 26,12-18). O mesmo
Paulo fala desta extraordinária experiência como uma revelação do Filho de
Deus, « a fim de que eu O tornasse conhecido entre os gentios » (Gl 1,
16).
O convite do Senhor respeita sempre a liberdade
dos chamados. Existem certos casos em que o homem, encontrando-se com Jesus,
resiste à mudança de vida para a qual Ele o convida. São numerosos os casos de
pessoas contemporâneas de Jesus que O viram e ouviram, sem que, no entanto,
tenham-se aberto à sua palavra. O Evangelho de S. João vê no pecado a causa
que impede o ser humano de abrir-se à luz que é Cristo: « A luz veio ao mundo,
mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más
» (Jo 3, 19). Os textos evangélicos ensinam que o apegamento às
riquezas constitui um obstáculo para receber a chamada a seguir total e
generosamente a Jesus. Típico, a este respeito, é o caso do jovem rico (cf.
Mt 19, 16-22; Mc 10, 17-22; Lc 18, 18-23).
Encontros pessoais e encontros comunitários
9. Alguns encontros com Jesus, referidos pelos
Evangelhos, são claramente pessoais como, por exemplo, as chamadas vocacionais
(cf. Mt 4,19; 9,9; Mc 10,21; Lc 9,59). Neles, Jesus
dialoga na intimidade com os seus interlocutores: « Rabi (que quer dizer
Mestre), onde moras? » [...] « Vinde e vede » (Jo 1, 38-39). Mas, em
outras ocasiões, os encontros adquirem um caráter comunitário. Assim são, de
modo particular, os encontros com os Apóstolos, que têm uma importância
fundamental para a constituição da Igreja. Com efeito, os Apóstolos,
escolhidos por Jesus dentre a vasta gama dos discípulos (cf. Mc 3,
13-19; Lc 6, 12-16), são objeto de uma especial formação e de um trato
mais íntimo. Às multidões Jesus fala com parábolas, para, logo a seguir,
explicá-las aos Doze: « Porque a vós é dado compreender os mistérios do reino
dos céus, mas a eles, não » (Mt 13, 11). Eles são chamados a ser os
anunciadores da Boa Nova e a desempenhar uma missão especial para construir a
Igreja com a graça dos Sacramentos. Com esta finalidade eles recebem o
necessário poder: Jesus lhes confere o poder de perdoar os pecados, invocando
a plenitude do próprio poder que o Pai Lhe deu no céu e na terra (cf. Mt 28, 18). Eles serão os primeiros a receber o dom do Espírito Santo (cf.
At 2,1-4) dom esse conferido depois a todos os que, pelos Sacramentos de
iniciação, serão incorporados na Comunidade cristã (cf. At 2, 38).
O encontro com Cristo no tempo da Igreja
10. A Igreja constitui o lugar onde os homens,
encontrando a Jesus, podem descobrir o amor do Pai: com efeito, quem viu a
Jesus, viu o Pai (cf. Jo 14,9). Jesus, neste tempo após a sua ascensão
ao céu, atua através da poderosa intervenção do Espírito Paráclito (cf. Jo 16,7), que transforma os fiéis, dando-lhes a nova vida. Desta forma, eles
tornam-se capazes de amar com o mesmo amor de Deus, « que foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado » (Rm 5,5). A
graça divina torna os cristãos capazes de ser transformadores do mundo, nele
construindo uma nova civilização, que o meu predecessor Paulo VI oportunamente
chamou « a civilização do amor ».(15)
De fato, « o Verbo de Deus, tendo assumido a
natureza humana em tudo, à exceção do pecado (cf. Hb 4,15), manifesta
o plano do Pai de revelar à pessoa humana o modo de chegar à plenitude da
própria vocação [...]. Desta forma, Jesus não só reconcilia o homem com Deus,
mas o reconcilia também consigo próprio, revelando-lhe a sua própria natureza
».(16) Com estas palavras, os Padres Sinodais, na esteira do Concílio Vaticano
II, reafirmaram que Jesus é o caminho a ser seguido para se alcançar a plena
realização pessoal, cujo ponto culminante é o encontro definitivo e eterno com
Deus. « Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim
» (Jo 14,6). Deus nos « predestinou para ser conformes à imagem do seu
Filho, a fim de que Este seja o primogênito entre muitos irmãos » (Rm
8,29). Jesus Cristo é, portanto, a resposta definitiva à pergunta acerca do
sentido da vida, às questões fundamentais que inquietam hoje tantos homens e
mulheres do Continente Americano.
Através de Maria encontramos a Jesus
11. Tendo nascido Jesus, vieram os Magos do
Oriente a Belém e « acharam o menino com Maria, sua mãe » (Mt 2,11). No
início da vida pública, durante as bodas em Caná, quando o Filho de Deus
realiza o primeiro dos sinais, suscitando a fé dos discípulos (cf. Jo
2, 11), é Maria que intervém predispondo os servos para obedecer a seu Filho,
com estas palavras: « Fazei o que Ele vos disser » (Jo 2, 5). A este
respeito, escrevi numa outra ocasião: « A Mãe de Cristo apresenta-se diante
dos homens como porta-voz da vontade do Filho, como quem indica aquelas
exigências que devem ser satisfeitas, para que possa manifestar-se o poder
salvífico do Messias ».(17) Por este motivo, Maria é caminho seguro para
encontrar a Cristo. A devoção à Mãe do Senhor, quando é autêntica, leva sempre
a orientar a própria vida segundo o espírito e os valores do Evangelho.
E como não pôr em evidência o papel que a Virgem
Maria ocupa no caminho da Igreja que peregrina na América ao encontro do
Senhor? Com efeito, a Santíssima Virgem está « ligada de modo especial ao
nascimento da Igreja na história [...] dos povos da América, que através dEla,
chegaram a encontrar o Senhor ».(18)
Por todas as partes do Continente, a presença da
Mãe de Deus foi muito intensa desde os dias da primeira evangelização, graças
ao esforço dos missionários. Na sua pregação, « o Evangelho foi anunciado,
apresentando a Virgem Maria como sua realização mais alta. Desde os primórdios
— invocada com o título de Nossa Senhora de Guadalupe — Maria constitui um
grande sinal, de rosto materno e misericordioso, da proximidade do Pai e de
Cristo, com quem Ela nos convida a entrar em comunhão ».(19)
A aparição de Maria ao índio João Diego na
colina de Tepeyac, em 1531, teve uma repercussão decisiva na evangelização.
(20) Tal influxo supera amplamente os confins da nação mexicana, alcançando o
inteiro Continente. E a América, que historicamente foi e continua a ser um
cadinho de povos, reconheceu no rosto mestiço da Virgem de Tepeyac, « em Santa
Maria de Guadalupe, um grande exemplo de evangelização perfeitamente
inculturada ». (21) Por isso, não somente no Centro e no Sul, mas também no
Norte do Continente, a Virgem de Guadalupe é venerada como Rainha de toda a
América. (22)
Com o passar do tempo foi aumentando nos
Pastores e fiéis a consciência do papel desempenhado pela Virgem na
evangelização do Continente. Na oração composta para a Assembléia Especial do
Sínodo dos Bispos para a América, Maria Santíssima de Guadalupe é invocada
como « Padroeira de toda a América e Estrela da primeira e da nova
evangelização ». Nesta perspectiva, acolho com alegria a proposta dos Padres
sinodais para que, no dia 12 de dezembro, seja celebrada, em todo o
Continente, a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe e Evangelizadora da
América. (23) Nutro no meu coração a firme esperança de que Ela, a cuja
intercessão se deve o fortalecimento da fé nos primeiros discípulos (cf. Jo 2,11), conduza, com a sua materna intercessão a Igreja neste Continente,
alcançando-lhe, como outrora sobre a Igreja nascente (cf. At 1,14), a
efusão do Espírito Santo, para que a nova evangelização produza um esplêndido
florescimento de vida cristã.
Lugares de encontro com Cristo
12. Confiando na ajuda de Maria, a Igreja na
América deseja conduzir os homens e as mulheres do Continente ao encontro de
Cristo, ponto de partida para uma autêntica conversão e uma renovada comunhão
e solidariedade. Este encontro contribuirá eficazmente para consolidar a fé de
muitos católicos, favorecendo o seu amadurecimento numa fé convicta, viva e
operativa.
Para que a procura de Cristo, presente na sua
Igreja, não se reduza a algo meramente abstrato, é necessário mostrar os
lugares e momentos concretos nos quais, no âmbito da Igreja, é possível
encontrá-Lo. A reflexão dos Padres Sinodais a este propósito foi rica de
sugestões e observações.
Em primeiro lugar, eles apontaram « a Sagrada
Escritura, lida à luz da Tradição, dos Padres e do Magistério, e aprofundada
através da meditação e da oração ». (24) Foi encarecida a promoção do
conhecimento dos Evangelhos, nos quais é proclamado, com palavras a todos
facilmente acessíveis, o modo como Jesus viveu entre os homens. A leitura
destes textos sagrados, quando acolhida com a mesma atenção com que as
multidões escutavam Jesus na encosta do monte das Bem-aventuranças, ou na
margem do lago de Tiberíades enquanto Ele pregava desde a barca, produz
autênticos frutos de conversão do coração.
Um segundo lugar de encontro com Jesus é a
Sagrada Liturgia. (25) Ao Concílio Vaticano II devemos uma riquíssima
exposição da multíplice presença de Cristo na Liturgia, cuja importância deve
ser objeto de constante pregação: Cristo está presente no celebrante que
renova sobre o altar o mesmo e único sacrifício da Cruz; está presente nos
sacramentos onde exerce sua força eficaz. Quando é proclamada a sua palavra, é
Ele mesmo que nos fala. Além disso, está presente na comunidade, como
prometeu: « Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio
deles » (Mt 18, 20).
Ele está presente « sobretudo sob as espécies
eucarísticas ».(26) O meu predecessor Paulo VI considerou necessário explicar
a peculiariedade da presença real de Cristo na Eucaristia, que « é chamada
“real”, não por exclusão, como se as outras não fossem “reais”, mas por
antonomásia, porque é substancial ». (27) Sob as espécies do pão e do vinho, «
encontra-se presente Cristo total na sua “realidade física”, inclusive
corporalmente ». (28)
A Escritura e a Eucaristia, como lugares de
encontro com Cristo, são evocadas na narração da aparição do Ressuscitado aos
discípulos de Emaús. Mas o texto do Evangelho sobre o juízo final (cf. Mt 25,31-46), onde se diz que seremos julgados acerca do amor para com os
mais necessitados, nos quais Jesus Cristo está misteriosamente presente,
indica que é preciso não descurar um terceiro lugar de encontro com o Senhor:
« as pessoas, especialmente os pobres, com os quais Cristo Se identifica ».
(29) No encerramento do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI recordava que «
no rosto de todo homem, sobretudo se se tornou transparente pelas lágrimas ou
pelas dores, podemos e devemos descobrir o rosto de Cristo (cf. Mt 25,
40), o Filho do Homem ».(30)
CAPÍTULO II
>
O ENCONTRO COM JESUS CRISTO NA AMÉRICA DE HOJE
>
« A quem muito
se deu, muito será exigido » (Lc 12, 48)
>
A situação dos homens e mulheres da América e
seu encontro com o Senhor
13. Nos Evangelhos narram-se os encontros com
Cristo de pessoas nas mais distintas situações. Trata-se, às vezes, de
situações de pecado, que revelam a necessidade da conversão e do perdão do
Senhor. Em outras situações, emergem atitudes positivas de busca da verdade,
de autêntica confiança em Jesus, que favorecem a criação de uma relação de
amizade com Ele e estimulam o desejo de imitá-Lo. Não podem, da mesma forma,
ser esquecidos os dons com os quais o Senhor prepara alguns para um encontro
posterior. Assim é que Deus tornando Maria desde o primeiro instante « cheia
de graça » (Lc 1, 28), preparou-A tendo em vista a realização nEla do
seu mais elevado encontro com a natureza humana: o mistério inefável da
Encarnação.
Visto que tanto os pecados como as virtudes
sociais não existem em abstrato, mas provêm de atos pessoais, (31) é
necessário ter presente que a América é hoje uma realidade complexa, fruto das
tendências e modos de agir dos homens e mulheres que nela vivem. É nesta
situação real e concreta que estes devem encontrar-se com Jesus.
A identidade cristã da América
14. O maior dom que a América recebeu do Senhor
é a fé que forjou sua identidade cristã. Já são mais de quinhentos anos que o
nome de Cristo foi anunciado no Continente. Fruto da evangelização que
acompanhou os movimentos migratórios da Europa é a fisionomia religiosa
americana, marcada por valores morais que, mesmo nem sempre vividos com
coerência e em certas ocasiões postos em discussão, podem ser considerados, de
certo modo, patrimônio de todos os habitantes da América, inclusive daqueles
que não o reconhecem explicitamente. É evidente que a identidade cristã da
América não pode ser considerada como sinônimo de identidade católica. A
presença de outras confissões cristãs em grau maior ou menor nas diversas
partes da América, torna particularmente urgente o empenho ecumênico, para
procurar a unidade de todos os crentes em Cristo. (32)
Frutos de santidade
15. A expressão e os frutos mais sublimes da
identidade cristã da América são os Santos. Neles, o encontro com Cristo vivo
« é tão comprometedor e profundo [...] que se converte em fogo que os consuma
totalmente e os leva a construir o seu Reino, a ponto de fazer dEle e da nova
aliança o sentido e a alma [...] da vida pessoal e comunitária ». (33) A
América viu florescer os frutos da santidade desde os inícios da sua
evangelização. É o caso de S. Rosa de Lima (1586-1617), « a primeira flor de
santidade do Novo Mundo », proclamada padroeira principal da América em 1670
pelo Papa Clemente X. (34) Começando por ela, o santoral americano foi
crescendo até alcançar sua atual extensão. (35)
As beatificações e
canonizações, com as quais muitos filhos e filhas do Continente foram elevados
à honra dos altares, oferecem modelos heróicos de vida cristã segundo a
diversidade de estados e dos ambientes sociais. A Igreja, beatificando-os ou
canonizando-os, indica-os como poderosos intercessores unidos a Cristo, sumo e
eterno Sacerdote, mediador entre Deus e os homens. Os Beatos e os Santos da
América acompanham com fraterna solicitude os homens e mulheres seus
conterrâneos, entre alegrias e sofrimentos, até o encontro definitivo com o
Senhor. (36) Para facilitar uma sempre maior imitação deles e um mais
freqüente e frutuoso recurso por parte dos fiéis à sua intercessão, considero
muito oportuna a proposta dos Padres Sinodais de se preparar « uma coleção de
breves biografias dos Santos e Beatos americanos. Isto poderá iluminar e
estimular na América a resposta à vocação universal à santidade ». (37)
Entre os seus Santos, « a história da
evangelização da América conta numerosos mártires, homens e mulheres, bispos e
presbíteros, religiosos e leigos que com o seu sangue banharam [...] [estas]
nações. Como uma nuvem de testemunhas (cf. Hb 12,1), eles nos
estimulam a assumir hoje, sem medo e com ardor, a nova evangelização ».(38) É
preciso que os seus exemplos de dedicação sem limites à causa do Evangelho
sejam não só preservados do esquecimento, mas mais conhecidos e difundidos
entre os fiéis do Continente. A este respeito, eu escrevia na Tertio
millennio adveniente: « As Igrejas locais tudo façam para não deixar
perecer a memória daqueles que sofreram o martírio, recolhendo a necessária
documentação ». (39)
A piedade popular
16. Uma característica particular da América
consiste na existência de uma intensa piedade popular radicada nas diversas
nações. Ela se encontra em todos os níveis e setores sociais, assumindo uma
importância especial como lugar de encontro com Cristo para aqueles que, com
espírito de pobreza e humildade de coração, buscam a Deus com sinceridade (cf. Mt 11,25). Numerosas são tais expressões de piedade: « As
peregrinações aos Santuários de Cristo, da Bem-aventurada Virgem e dos Santos,
a oração pelas almas do purgatório, o uso dos sacramentais (água, óleo,
círios...). Estas e muitas outras expressões de piedade popular oferecem aos
fiéis a oportunidade de encontrar a Cristo vivo ». (40)
Os Padres Sinodais
chamaram a atenção para a urgência de descobrir, nas manifestações da
religiosidade popular, os verdadeiros valores espirituais, para enriquecê-los
com os elementos da genuína doutrina católica, a fim de que tal religiosidade
possa conduzir a um compromisso sincero de conversão e a uma experiência
concreta de caridade. (41) A piedade popular, se for convenientemente
orientada, contribui também para aumentar nos fiéis a consciência da própria
pertença à Igreja, nutrindo o seu fervor e oferecendo assim uma válida
resposta para os desafios atuais da secularização. (42)
Uma vez que, na América, a piedade popular é
expressão da inculturação da fé católica e muitas das suas manifestações
assumiram formas religiosas autóctonas, não se deve subestimar a possibilidade
de recolher dela também, sempre iluminados pela prudência, válidas indicações
para uma maior inculturação do Evangelho. (43) Isto possui suma importância
especialmente entre as populações indígenas, para que as « sementes do Verbo »
presentes na sua cultura alcancem a plenitude em Cristo. (44) O mesmo diga-se
a respeito dos americanos de origem africana. A Igreja « reconhece que tem a
obrigação de se aproximar destes americanos valendo-se da sua cultura,
considerando seriamente as riquezas espirituais e humanas de tal cultura, que
caracteriza o seu modo de celebrar o culto, o sentido de alegria e de
solidariedade, sua língua e suas tradições ».(45)
Presença católico-oriental
17. A imigração na América constitui quase uma
constante da sua história, desde o início da evangelização até os nossos dias.
No âmbito deste fenômeno complexo, convêm assinalar que, ultimamente, diversas
regiões da América acolheram numerosos membros das Igrejas católicas
orientais, que, por várias razões, abandonaram seu território de origem. Um
primeiro movimento migratório provinha sobretudo da Ucrânia ocidental; depois,
estendeu-se às nações do Oriente Médio. Tornou-se, assim, pastoralmente
necessária a criação de uma hierarquia católica oriental para estes fiéis
imigrados e seus descendentes.
As normas, emanadas pelo Concílio Vaticano II e
recordadas pelos Padres Sinodais, reconhecem que as Igrejas Orientais « têm o
direito e o dever de se governarem segundo as próprias disciplinas
particulares », cabendo-lhes a missão de dar testemunho de uma antiqüíssima
tradição doutrinal, litúrgica e monástica. Por outro lado, estas Igrejas devem
conservar as próprias disciplinas, porque são « mais conformes aos costumes
dos seus fiéis e resultam mais aptas para promover o bem das almas ».(46)
Se à
Comunidade eclesial universal é necessária a sinergia entre as Igrejas
particulares do Oriente e do Ocidente para permitir que respire com os dois
pulmões, na esperança de que o faça plenamente através da perfeita comunhão
entre a Igreja católica e as Igrejas orientais separadas, (47) só pode ser
motivo de alegria a recente implantação na América das Igrejas orientais ao
lado das latinas, ali presentes desde os começos, para que assim possa se
manifestar melhor a catolicidade da Igreja do Senhor.(48)
A Igreja no campo da educação e da ação social
18. Entre os fatores que favorecem o influxo da
Igreja na formação cristã dos americanos, deve-se ressaltar sua vasta presença
no campo da educação, especialmente no mundo universitário. As numerosas
Universidades católicas espalhadas no Continente constituem um aspecto
característico da vida eclesial na América. Da mesma forma, no âmbito do
ensino primário e secundário, o elevado número de escolas católicas oferece a
possibilidade de uma ação evangelizadora do mais alto alcance, desde que seja
acompanhada por uma vontade decidida a fornecer uma educação realmente cristã.
(49)
Outro campo importante onde a Igreja acha-se
presente em toda parte da América é a assistência caritativa e social. As
múltiplas iniciativas a favor dos idosos, dos enfermos e dos que passam
necessidade, tais como asilos, hospitais, dispensários, refeições gratuitas e
outros centros sociais, são testemunho palpável do amor preferencial que a
Igreja na América nutre pelos pobres, movida pelo amor do Senhor e ciente de
que « Jesus Se identificou com eles (cf. Mt 25, 31-46) ». (50) Nesta
tarefa que não conhece fronteiras, ela soube criar uma consciência de
solidariedade concreta entre as diversas comunidades do Continente e do mundo
inteiro, manifestando assim a fraternidade que deve caracterizar os cristãos
de todos os tempos e lugares.
O serviço aos pobres, para que seja evangélico e
evangelizador, deve ser um reflexo fiel da atitude de Jesus, que veio « para
anunciar aos pobres a Boa Nova » (Lc 4, 18). Se realizado com este
espírito, torna-se uma manifestação do amor infinito de Deus por todos os
homens e um modo significativo de transmitir a esperança de salvação que
Cristo trouxe ao mundo, e que resplandece de modo particular quando é
comunicada aos abandonados ou rejeitados pela sociedade.
Esta constante dedicação pelos pobres e
excluídos da sociedade se reflete no Magistério social da Igreja, que não se
cansa de convidar a comunidade cristã a comprometer-se a superar toda forma de
exploração e de opressão. Trata-se, de fato, não só de aliviar as necessidades
mais graves e urgentes através de ações individuais ou esporádicas, mas de pôr
em evidência as raízes do mal, sugerindo iniciativas que dêem às estruturas
sociais, políticas e econômicas uma configuração mais justa e solidária.
Crescente respeito pelos direitos humanos
19. Na esfera civil, mas com diretas implicações
morais, devem-se assinalar, entre os aspectos positivos da América de hoje, a
crescente afirmação em todo o Continente de sistemas políticos democráticos e
a progressiva redução dos regimes ditatoriais. A Igreja vê com simpatia esta
evolução, na medida em que favorece cada vez mais claramente o respeito pelos
direitos individuais, inclusive aqueles do inquirido e do réu, contra os quais
não é legítimo recorrer a métodos de detenção e indagação — especialmente
quando referidos à tortura — ofensivos à dignidade humana. « O estado de
direito é, com efeito, a condição necessária para estabelecer uma verdadeira
democracia ». (51)
De resto, a existência de um estado de direito
implica, nos cidadãos e mais ainda na classe dirigente, a convicção de que a
liberdade não pode ser desvinculada da verdade.(52) De fato, « os graves
problemas que ameaçam a dignidade da pessoa humana, a família, o matrimônio, a
educação, a economia e as condições de trabalho, a qualidade da vida e a mesma
vida, colocam a questão do direito ».(53) Por este motivo, os Padres Sinodais
afirmaram justamente que « os direitos fundamentais da pessoa humana estão
inscritos na mesma natureza, são queridos por Deus e, portanto, exigem seu
universal respeito e aceitação.
Nenhuma autoridade humana pode transgredi-los,
fazendo apelo a maiorias ou a consensos políticos, com o pretexto de que deste
modo são respeitados o pluralismo e a democracia. A Igreja deve, por isso,
empenhar-se na formação e acompanhamento dos leigos que atuam no âmbito
legislativo, no governo e na administração da justiça, a fim de que as leis
exprimam sempre princípios e valores morais que estejam de acordo com uma
sadia antropologia e que tenham presente o bem comum ».(54)
O fenômeno da globalização
20. A tendência à globalização é característica
do mundo contemporâneo; fenômeno esse que, mesmo não sendo exclusivamente
americano, é mais perceptível e tem maiores repercussões na América. Trata-se
de um processo que fica a dever à maior comunicação existente entre as
diversas partes do mundo, na prática levando à superação das distâncias, com
evidentes efeitos nos mais distintos campos.
As repercussões do ponto de vista ético podem
ser positivas ou negativas. Existe, certamente, uma globalização econômica que
traz em si algumas conseqüências positivas, tais como o fenômeno da eficiência
e o aumento da produção e que, com o crescimento das relações entre os
diversos países no âmbito econômico, pode reforçar o processo da unidade dos
povos e prestar um melhor serviço à família humana. Porém, se a globalização é
dirigida pelas puras leis do mercado aplicadas conforme a conveniência dos
mais poderosos, as conseqüências só podem ser negativas.
Tais são, por
exemplo, a atribuição de um valor absoluto à economia, o desemprego, a
diminuição e o deterioramento de alguns serviços públicos, a destruição do
ambiente e da natureza, o aumento das diferenças entre ricos e pobres, a
concorrência injusta que põe as nações pobres numa situação de inferioridade
sempre mais acentuada. (55) A Igreja, mesmo estimando os valores positivos que
comporta a globalização, vê com preocupação os aspectos negativos por ela
veiculados.
E que dizer, então, da globalização cultural
produzida por pressão dos meios de comunicação social? Estes impõem em toda a
parte novas escalas de valores, com freqüência arbitrários e fundamentalmente
materialistas, diante dos quais é difícil manter viva a adesão aos valores do
Evangelho.
Urbanização crescente
21. Cresce também na América o fenômeno da
urbanização. Desde alguns lustros o Continente está experimentando um contínuo
êxodo do campo em direção à cidade. Trata-se de um fenômeno complexo, já
descrito pelo meu predecessor Paulo VI. (56) As causas são distintas, mas
dentre elas sobressaem principalmente a pobreza e o subdesenvolvimento das
zonas rurais, onde faltam freqüentemente serviços públicos, comunicações,
estruturas educacionais e sanitárias. Além disso, a cidade, apresentada amiúde
pelos meios de comunicação social como lugar de diversão e bem-estar, exerce
uma especial atração sobre o povo simples do campo.
A freqüente falta de planificação neste processo
é fonte de muitos males. Como apontavam os Padres Sinodais, « em certos casos,
algumas zonas das cidades são como ilhas onde se acumula a violência, a
delinqüência juvenil e a atmosfera de desespero ».(57) O fenômeno da
urbanização apresenta grandes desafios para a ação pastoral da Igreja, a qual
deve enfrentar o desenraizamento cultural, a perda dos costumes familiares, o
abandono das próprias tradições religiosas, com o resultado bastante freqüente
do naufrágio da fé, privada daquelas manifestações que contribuíam a
sustentá-la.
Evangelizar a cultura urbana constitui um
formidável desafio para a Igreja, que, assim como durante séculos soube
evangelizar a cultura rural, da mesma forma é também chamada hoje a levar a
cabo uma evangelização urbana metódica e capilar através da catequese, da
liturgia e do mesmo modo de organizar as próprias estruturas pastorais. (58)
O peso da dívida externa
22. Os Padres Sinodais manifestaram sua
preocupação pela dívida externa que aflige muitas nações americanas,
solidarizando-se com elas. Eles chamam com vigor a atenção da opinião pública
para a complexidade do tema, ao reconhecerem que « a dívida é, com freqüência,
fruto da corrupção e da má administração ». (59) Na linha da reflexão sinodal,
tal reconhecimento não pretende concentrar somente num pólo as
responsabilidades de um fenômeno extremamente complexo na sua origem e nas
suas soluções. (60)
Assim, entre as causas que contribuíram para a
formação de uma dívida externa opressiva, assinalam-se não só as elevadas
taxas de juros, fruto de políticas financeiras especulativas, mas também a
irresponsabilidade de alguns governantes que, ao contrair a dívida, não
refletiram suficientemente sobre as reais possibilidades de saldá-la, com a
agravante de que enormes somas, obtidas graças aos empréstimos internacionais,
servem às vezes para enriquecer as pessoas individualmente, em vez de
destiná-las a sustentar as mudanças necessárias para o desenvolvimento do
país.
Por outro lado, seria injusto fazer pesar as conseqüências de tais
decisões irresponsáveis sobre quem não as assumiu. Compreende-se ainda melhor
a gravidade da situação se se leva em conta que « só o pagamento dos juros já
constitui para a economia das nações pobres um peso que priva as autoridades
da disponibilidade do dinheiro necessário para o desenvolvimento social, a
educação, a saúde e a instituição de um fundo gerador de empregos ». (61)
A corrupção
23. A corrupção, muitas vezes presente entre as
causas da dívida pública opressora, é um grave problema que deve ser
considerado com atenção. A corrupção, « sem limites de fronteiras, envolve a
pessoas, estruturas públicas e privadas de poder, e as classes dirigentes ».
Trata-se de uma situação que « favorece a impunidade e a acumulação ilícita de
dinheiro, a falta de confiança nas instituições públicas, sobretudo na
administração da justiça e nos investimentos públicos, nem sempre
transparentes, iguais para todos e eficazes ». (62)
A este respeito, desejo lembrar aqui o que
escrevi na Mensagem para Jornada Mundial da Paz de 1998, ou seja que a
praga da corrupção deve ser denunciada e combatida com tenacidade pelos que
detêm a autoridade, e com « o apoio generoso de todos os cidadãos, sustentados
por uma forte consciência moral ». (63)
Apropriados órgãos de controle e a
transparência das transações econômicas e financeiras servem para melhor
prevenir e evitam em muitos casos o aumento da corrupção, cujas nefastas
conseqüências terminam atingindo principalmente os mais pobres e abandonados.
São sempre os pobres os primeiros que sofrem com os atrasos, a ineficiência, a
falta de uma adequada defesa e das carências estruturais, quando a corrupção
atinge a mesma administração da justiça.
O comércio e o consumo de droga
24. O comércio, com o conseqüente consumo de
substâncias entorpecentes, constitui uma séria ameaça para as estruturas
sociais das nações americanas. Isto « contribui para a criminalidade e a
violência, para a destruição da vida familiar e da vida física e psicológica
de muitos indivíduos e comunidades, sobretudo dos jovens. Além disso, corrói a
dimensão ética do trabalho, favorecendo o aumento de pessoas recluídas em
cárceres, numa palavra, o envilecimento da pessoa criada à imagem de Deus ».
(64) Um comércio tão funesto como este causa, ademais, a « destruição de
governos, corroendo a segurança econômica e a estabilidade das nações ». (65)
Nos encontramos aqui diante de um dos desafios mais urgentes que muitas nações
no mundo devem enfrentar: é, de fato, um desafio que põe em causa grande parte
das vantagens conseguidas nos últimos tempos pelo progresso da humanidade.
Para algumas nações na América, a produção, o tráfico e o consumo de drogas
constituem fatores que comprometem seu prestígio internacional, pois reduzem
sua credibilidade e tornam mais difícil aquela auspiciada colaboração com
outros países, tão necessária em nossos dias para o desenvolvimento harmônico
de todos os povos.
A preocupação pela ecologia
25. « E Deus viu que isto era bom » (Gn
1,25). Estas palavras que lemos no primeiro capítulo do livro do Gênesis,
oferecem o sentido da obra realizada por Ele. O Criador entrega ao homem,
coroação de todo o processo criador, o cultivo da terra (cf. Gn 2,15).
Daí nascem para cada indivíduo específicas obrigações no que diz respeito à
ecologia. O seu cumprimento supõe a abertura para uma perspectiva espiritual e
ética que supere as atitudes e « os estilos de vida egoístas que acarretam o
esgotamento das reservas naturais ». (66)
Também neste setor, de tanta atualidade hoje em
dia, a intervenção dos fiéis crentes é muitíssimo importante. É necessária a
colaboração de todos os homens de boa vontade com as instâncias legislativas e
governamentais, para conseguir uma proteção eficaz do ambiente, considerado
como dom de Deus. Quantos abusos e prejuízos ecológicos não há inclusive em
muitas regiões americanas! Pense-se na emissão descontrolada de gases nocivos
ou no dramático fenômeno dos incêndios florestais, provocados por vezes
intencionalmente por pessoas movidas por interesses egoístas.
Estas
devastações podem conduzir a uma real desertificação em muitas zonas da
América, com as inevitáveis conseqüências de fome e miséria. O problema chega
atingir especial entidade na floresta amazônica, imenso território que
interessa a várias nações: do Brasil à Guiana, ao Suriname, à Venezuela, à
Colômbia, ao Equador, ao Peru e à Bolívia. (67) Trata-se de um dos espaços
naturais mais apreciados no mundo pela sua diversidade biológica, que o torna
vital para o equilíbrio ambiental de todo o planeta.
CAPÍTULO III
>
CAMINHO DE CONVERSÃO
«
Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos »
(At 3, 19)
Urgência da chamada à conversão
26. « Completou-se o tempo e o Reino de Deus
está próximo: convertei-vos e crede no Evangelho » (Mc 1, 15). Estas
palavras, com as quais Jesus deu início ao seu ministério na Galiléia, ressoam
em continuação nos ouvidos dos Bispos, presbíteros, diáconos, pessoas
consagradas e fiéis leigos de toda a América. Tanto a recente celebração do
quinto centenário do início da evangelização da América, como a comemoração
dos 2000 anos do nascimento de Jesus, o grande Jubileu que nos preparamos para
celebrar, constituem idênticas chamadas a aprofundar a própria vocação cristã.
A grandeza do acontecimento da Encarnação e a gratidão pelo dom do primeiro
anúncio do Evangelho convidam a responder com prontidão a Cristo com uma
conversão pessoal mais convicta e estimulam, ao mesmo tempo, a uma mais
generosa fidelidade evangélica. A exortação de Cristo à conversão ecoa nestas
palavras do Apóstolo: «Já é hora de despertardes do sono. A salvação está
mais perto do que quando abraçamos a fé » (Rm 13, 11). O encontro com
Jesus Cristo vivo leva à conversão.
No Novo Testamento, para falar de conversão é
utilizada a palavra metanoia, que significa mudança de mentalidade. Não
se trata só de um distinto modo de pensar a nível intelectual, mas da revisão
à luz dos critérios evangélicos das próprias convicções vitais. A este
respeito, S. Paulo fala de « fé que opera pela caridade » (Gl 5,6).
Por isso, a autêntica conversão deve ser preparada e cultivada através da
piedosa leitura da Sagrada Escritura e da prática dos sacramentos da
Reconciliação e da Eucaristia. A conversão leva à comunhão fraterna, porque
permite compreender que Cristo é a cabeça da Igreja, seu místico corpo; impele
à solidariedade, por conscientizar que o que fazemos pelos demais, mormente
pelos mais necessitados, é feito a Cristo. Ela favorece, portanto, uma vida
nova, na qual não haja separação entre fé e obras na resposta diária à chamada
universal à santidade.
É indispensável superar a fratura entre a fé e a vida,
para que realmente se possa falar de conversão. Com efeito, a presença desta
divisão faz do cristianismo um fato puramente nominal. Para ser verdadeiro
discípulo do Senhor, o fiel deve ser testemunha da própria fé e « a
testemunha, não só com palavras mas com a própria vida ». (68)
Devemos ter
presente as palavras de Jesus: « Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor,
entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está
nos céus » (Mt 7,21). A abertura à vontade do Pai supõe uma total
disponibilidade, que não exclua sequer o dom da vida: « O máximo testemunho é
o martírio ». (69)
Dimensão social da conversão
27. Porém, a conversão não é completa se falta a
consciência das exigências da vida cristã e se não nos esforçamos por
cumpri-las. Os Padres Sinodais, a este respeito, assinalaram que infelizmente
« existem grandes lacunas de ordem pessoal e comunitária tanto por uma
conversão mais profunda, quanto nas relações entre os ambientes, as
instituições e grupos na Igreja ». (70) « Aquele que não ama seu irmão, a quem
vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê » (1Jo 4,20).
A caridade fraterna implica desvelo por todas as
necessidades do próximo. «Quem possuir bens deste mundo, e vir o seu irmão
sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como pode estar nele o amor
de Deus?» (1Jo 3,17). Por isso, a conversão ao Evangelho, para o
Povo cristão que vive na América, significa rever « todos os ambientes e
dimensões da vida, especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e
consecução do bem comum ».(71) Em particular, caberá « cultivar e fazer
crescer a consciência social da dignidade da pessoa e, portanto, promover na
comunidade a sensibilidade do dever de participar da ação política segundo o
Evangelho ».(72) De fato, é claro que a atividade política também pertence à
vocação e a ação dos fiéis leigos.(73)
No entanto, a este respeito, é de grande
importância, sobretudo numa sociedade pluralista, ter uma justa visão das
relações entre a comunidade política e a Igreja, e uma clara distinção entre
as ações que os fiéis, individualmente ou em grupo, realizam em nome próprio,
como cidadãos, guiados pela própria consciência cristã, e as ações que eles
realizam em nome da Igreja em comunhão com os seus Pastores. A Igreja que,
pela sua missão e competência, de modo algum confunde-se com a comunidade
política e não está ligada a qualquer sistema político, é, ao mesmo tempo, o
sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. (74)
Conversão permanente
28. A conversão neste mundo é uma meta nunca
plenamente alcançada: no caminho que o discípulo é chamado a percorrer
seguindo as pegadas de Cristo, aquela é um compromisso de toda a vida. Por
outro lado, enquanto vivemos neste mundo, nosso propósito de conversão está
sempre sujeito às tentações. Visto que « ninguém pode servir a dois senhores »
(Mt 6,24), a mudança de mentalidade (metanoia) consiste no
esforço de assimilar os valores evangélicos, que contrastam com as tendências
dominantes no mundo. Portanto, é necessário renovar constantemente « o
encontro com Jesus Cristo vivo », caminho este que, como foi posto em
evidência pelos Padres Sinodais, « nos conduz à conversão permanente ». (75)
A chamada universal à conversão ganha perfis
particulares para a Igreja que está na América, também ela comprometida na
renovação da própria fé. Foi assim que os Padres Sinodais formularam este
compromisso concreto e exigente: « Esta conversão exige, especialmente de nós,
Bispos, uma autêntica identificação com o estilo pessoal de Jesus Cristo, que
nos leva à simplicidade, à pobreza, a fazer-nos encontradiços, à renúncia as
vantagens, para que, como Ele, sem depositarmos nossa confiança nos meios
humanos, retiremos da força do Espírito e da Palavra toda a eficácia do
Evangelho, permanecendo abertos primariamente aos mais abandonados e excluídos
». (76) Para ser Pastores segundo o coração de Deus (cf. Jr 3,15), é
indispensável assumir o modo de viver que se pareça com Aquele que disse de Si
próprio: « Eu sou o bom pastor » (Jo 10,11), e que S. Paulo põe em
evidência quando escreve: « Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo » (1
Cor 11, 1).
Guiados pelo Espírito Santo a um novo estilo de
vida
29. Esta proposta de um novo estilo de vida não
é só para os Pastores, mas para todos os cristãos que vivem na América. Se
lhes pede de aprofundar e assumir a autêntica espiritualidade cristã. « De
fato, por espiritualidade entende-se um estilo e forma de vida conforme as
exigências cristãs. Espiritualidade é “vida em Cristo” e “no Espírito”, que se
aceita na fé, se exprime no amor e, repleta de esperança, se traduz na vida
quotidiana da comunidade eclesial ». (77) Neste sentido, por espiritualidade,
que é a meta à qual conduz a conversão, entende-se, não « uma parte da vida,
mas a vida inteira guiada pelo Espírito Santo ».(78)
Entre os elementos de
espiritualidade que todo cristão deve fazer próprios, ressalta a oração. Esta
o « levará, aos poucos, a ver a realidade com um olhar contemplativo, que lhe
permitirá reconhecer a Deus em cada instante e em todas as coisas; de
contemplá-Lo em cada pessoa; de procurar cumprir sua vontade nos
acontecimentos ».(79)
A oração, tanto pessoal como litúrgica, é dever
de cada cristão. « Jesus Cristo, evangelho do Pai, nos avisa que sem Ele nada
podemos fazer (cf. Jo 15,5). Ele mesmo, nos momentos decisivos da sua
vida, antes de agir, Se retirava num lugar solitário para dedicar-Se à oração
e à contemplação, e pediu aos Apóstolos que também o fizessem ».(80) A seus
discípulos, sem exceção, lembra-lhes: « Entra no teu quarto, fecha a porta e
ora ao teu Pai em segredo » (Mt 6,6). Esta intensa vida de oração deve
adaptar-se às capacidades e condições de cada cristão, para que cada um, nas
distintas circunstâncias da vida, possa saciar-se « na fonte do seu encontro
com Cristo, para embeber-se do único Espírito (cf. 1 Cor 12,13) ».(81)
Neste sentido, a dimensão contemplativa não é um privilégio reservado somente
para uns poucos; pelo contrário, nas paróquias, nas comunidades e no âmbito
dos movimentos, seja promovida uma espiritualidade aberta e orientada à
contemplação das verdades fundamentais da fé: os mistérios da Trindade, da
Encarnação do Verbo, da Redenção dos homens, e as demais grandes obras
salvíficas de Deus.(82)
Os homens e as mulheres dedicados exclusivamente
à contemplação desempenham uma missão fundamental na Igreja que está na
América. Eles constituem, segundo a expressão do Concílio Vaticano II, « uma
glória para a Igreja e uma fonte de graças celestiais ».(83) Por isso, os
mosteiros espalhados em todas as partes do Continente devem ser « objeto de
especial atenção por parte dos Pastores, que devem estar plenamente
convencidos de que as almas dedicadas à vida contemplativa obtêm graças
abundantes, mediante a oração, a penitência e a contemplação, às quais
consagram a vida inteira. Os contemplativos devem conscientizar-se que estão
inseridos na missão da Igreja destes tempos e que, com o testemunho da própria
vida, cooperam para o bem espiritual dos fiéis ajudando-os a procurar o rosto
de Deus na vida quotidiana ». (84)
A espiritualidade cristã alimenta-se, sobretudo,
por uma constante vida sacramental, pois os Sacramentos são fonte e raiz
inexaurível da graça de Deus necessária para amparar o fiel na sua
peregrinação terrena. Tal vida deve ser integrada com os valores da piedade
popular, valores estes que, por sua vez, serão enriquecidos pela vida
sacramental e preservados do perigo de degenerar em hábitos rotineiros. Além
disso, deve-se lembrar que esta espiritualidade não se opõe à dimensão social
do compromisso cristão. Pelo contrário, pelo próprio caminho de oração, o fiel
faz--se mais consciente das exigências do Evangelho e dos seus deveres para
com os irmãos, alcançando a força da graça indispensável para perseverar no
bem. Para amadurecer espiritualmente, convém que o cristão recorra ao conselho
dos ministros sagrados ou de pessoas esclarecidas neste campo, através da
direção espiritual, prática tradicionalmente presente na Igreja. Os Padres Sinodais consideraram necessário recomendar aos sacerdotes este ministério tão
importante. (85)
Vocação universal à santidade
30. «Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo » (Lv 19,2). A
Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a América quis lembrar
vigorosamente a todos os cristãos a importância da doutrina da vocação
universal à santidade na Igreja. (86)
Trata-se de um dos pontos centrais da Constituição dogmática sobre a Igreja,
do Concílio Vaticano II. (87)
A santidade é a meta do caminho de conversão, visto que esta « não é fim por
si própria, mas itinerário para Deus, que é santo. Ser santo significa imitar
a Deus e glorificar o seu nome pelas obras que realizamos em nossa vida (cf. Mt 5,16)
». (88)
No caminho da santidade, Jesus Cristo é o ponto de referência e o modelo a ser
imitado: Ele é « o Santo de Deus e assim foi reconhecido (cf. Mc 1,24).
Ele próprio nos ensina que o núcleo da santidade é o amor, que leva a dar a
vida pelos demais (cf. Jo 15,13).
Por isto, imitar a santidade de Deus, tal como foi manifestada em Jesus
Cristo, seu Filho, nada mais é senão prolongar o seu amor na história,
especialmente em respeito aos pobres, aos enfermos, aos indigentes (cf. Lc 10, 25ss) ». (89).
Jesus, único caminho para a
santidade
31. «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo
14,6). Com estas palavras, Jesus mostra-se como o único caminho que conduz à
santidade. Mas o conhecimento concreto deste itinerário se dá principalmente
mediante a Palavra de Deus, que a Igreja proclama com a sua pregação. Por
isto, a Igreja na América « deve dar clara prioridade à reflexão piedosa da
Sagrada Escritura, por parte de todos os fiéis».(90) Esta leitura da Bíblia,
acompanhada pela oração, é conhecida na tradição da Igreja com o nome de
Lectio divina, prática que deve ser estimulada entre todos os cristãos.
Para os presbíteros, ela deve constituir um elemento fundamental na preparação
das suas homilias, especialmente dos domingos. (91)
Penitência e reconciliação
32. A conversão (metanoia), para a qual
todo ser humano é chamado, leva a aceitar e assumir a nova mentalidade
proposta pelo Evangelho. Isto exige rejeitar o modo de pensar e de agir
mundano que, freqüentemente, condiciona profundamente a existência. Como
recorda a Sagrada Escritura, é necessário que morra o homem velho e nasça o
homem novo, isto é, que todo o ser humano se renove «à imagem dAquele que o
criou, até atingir o perfeito conhecimento» (Cl 3,10). Neste caminho
de conversão e busca da santidade, «devem ser recomendados os meios ascéticos
sempre presentes na praxe da Igreja, que culminam no Sacramento do perdão,
recebido e celebrado com as devidas disposições». (92) Só quem se reconciliou
com Deus, é protagonista de autêntica reconciliação com e entre os irmãos.
A crise atual do sacramento da Penitência, da
qual não está isenta a Igreja na América e sobre a qual expressei a minha
preocupação desde o início do meu Pontificado, (93) poderá ser superada graças
também a uma ação pastoral assídua e paciente.
A este respeito, os Padres Sinodais pedem
justamente « que os sacerdotes dediquem o devido tempo à celebração do
sacramento da Penitência, e convidem com insistência e vigor os fiéis a
recebê-lo, sem deixar eles próprios de recorrer pessoalmente e com freqüência
à confissão ». (94) Os Bispos e os sacerdotes experimentam pessoalmente o
misterioso encontro com Cristo que perdoa no sacramento da Penitência, e são
testemunhas privilegiadas do seu amor misericordioso.
A Igreja Católica, que abraça homens e mulheres
« de toda nação, tribo, povo e língua » (Ap 7,9), está chamada a ser,
« num mundo caracterizado por divisões ideológicas, étnicas, econômicas e
culturais », o « sinal vivo da unidade da família humana ». (95) A América,
quer na complexa realidade de cada uma das suas nações e na variedade dos
distintos grupos étnicos, quer nos traços que caracterizam o inteiro
Continente, apresenta muitas diferenças que não podem ser ignoradas e às quais
é necessário prestar atenção. Graças a uma eficaz obra de integração entre os
membros do Povo de Deus dentro de cada país e entre os membros das Igrejas
particulares das diversas nações, as diferenças atuais podem ser fonte de
mútuo enriquecimento. Como justamente afirmam os Padres Sinodais, « é muito
importante que a Igreja em toda a América seja sinal vivo de comunhão
reconciliada, apelo permanente de solidariedade, testemunho sempre presente em
nossos diversos sistemas políticos, econômicos e sociais ». (96) Esta
constitui uma significativa contribuição que os fiéis podem oferecer para a
unidade do Continente americano.
CAPÍTULO IV
CAMINHO PARA A COMUNHÃO
>
« Para que
todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti » (Jo 17, 21)
A Igreja, sacramento de comunhão
33. « Diante de um mundo dividido e desejoso de
unidade, é necessário proclamar com alegria e firmeza de fé que Deus é
comunhão, Pai, Filho e Espírito Santo, unidade na distinção, o qual chama
todos os homens a participar da mesma comunhão trinitária. É necessário
proclamar que esta comunhão é o esplêndido projeto de Deus [Pai]; que Jesus
Cristo, feito homem, é o centro desta mesma comunhão, e que o Espírito Santo
age constantemente para criar a comunhão e reconstituí-la quando se rompe.
É
necessário proclamar que a Igreja é sinal e instrumento da comunhão querida
por Deus, iniciada no tempo e destinada à perfeição na plenitude do Reino ».
(97) A Igreja é sinal de comunhão porque os seus membros, como os ramos,
participam da mesma vida de Cristo, a verdadeira videira (cf. Jo 15,5). Com efeito, mediante a comunhão com Cristo, Cabeça do Corpo místico,
entramos em viva comunhão com todos os crentes.
Esta comunhão, existente na Igreja e essencial à
sua natureza, (98) deve manifestar-se por sinais concretos, « como poderiam
ser: a oração comunitária de uns pelos outros, o impulso ao relacionamento das
Conferências Episcopais entre si, os contatos entre os Bispos, as relações
fraternas entre as dioceses e as paróquias, e a mútua comunicação entre
agentes de pastoral para atividades missionárias específicas ». (99)
A
referida comunhão requer que se conserve o depósito da fé na sua pureza e
integridade, bem como a unidade de todo o Colégio episcopal sob a autoridade
do Sucessor de Pedro. Neste contexto, os Padres Sinodais declararam que « o
fortalecimento do ministério petrino é fundamental para a preservação da
unidade da Igreja », e que « o exercício pleno do primado de Pedro é
fundamental para a identidade e vitalidade da Igreja na América ». (100)
A
Pedro e aos seus sucessores compete, por mandato do Senhor, a tarefa de
confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22, 32) e de apascentar o inteiro
rebanho de Cristo (cf. Jo 21,15-17). Da mesma forma, o Sucessor do
Príncipe dos Apóstolos é chamado a ser a pedra sobre a qual a Igreja está
edificada, e a exercer o ministério devido ao fato de ser ele depositário das
chaves do Reino (cf. Mt 16,18-19). O Vigário de Cristo é, com efeito,
« o perpétuo princípio de [...] unidade e o fundamento visível » da Igreja.
(101)
Iniciação cristã e comunhão
34. A comunhão de vida na Igreja obtem-se
mediante os sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação e
Eucaristia. O Batismo é a « porta de ingresso da vida espiritual; através
dele, nos tornamos membros de Cristo e começamos a pertencer ao corpo da
Igreja ». (102) Os batizados, ao receberem a Confirmação, « são mais
perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do
Espírito Santo e deste modo ficam obrigados a difundir e defender a fé por
palavras e obras como verdadeiras testemunhas de Cristo ». (103) O itinerário
da iniciação cristã alcança o seu coroamento e o seu ápice com a Eucaristia,
pela qual o batizado insere-se plenamente no Corpo de Cristo. (104)
« Estes sacramentos são uma excelente
oportunidade para uma boa evangelização e catequese, quando a sua preparação é
confiada a agentes dotados de fé e competência ». (105) Apesar de haver nas
diversas Dioceses da América um inegável progresso na preparação aos
Sacramentos da iniciação cristã, os Padres Sinodais lamentaram que ainda « são
muitos os que os recebem sem a suficiente formação ». (106) Por sua vez, no
caso do Batismo das crianças, não se deve omitir um esforço catequético
dirigido aos pais e aos padrinhos.
A Eucaristia, centro de comunhão com Deus e com
os irmãos
35. A realidade da Eucaristia não se esgota no
fato de ser o Sacramento cume da iniciação cristã. Se o Batismo e a
Confirmação têm a função de iniciar e introduzir na mesma vida da Igreja, e
não são reiteráveis, (107) a Eucaristia constitui o centro vivo e permanente,
em volta do qual se congrega a inteira comunidade eclesial. (108) Os diversos
aspectos deste Sacramento refletem sua riqueza inesgotável: ele é, ao mesmo
tempo, Sacramento-sacrifício, Sacramento-comunhão, Sacramento-presença. (109)
A Eucaristia é o lugar privilegiado para o
encontro com Cristo vivo. Por isso, os Pastores do Povo de Deus na América,
mediante a pregação e a catequese, devem esforçar-se em « dar à celebração
eucarística dominical uma nova força, como fonte e cume da vida da Igreja,
garantia da comunhão no Corpo de Cristo e convite à solidariedade como
expressão do mandato do Senhor: “Como Eu vos tenho amado, assim também vós
deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34) ». (110) Como sugerem os
Padres Sinodais, tal esforço deve levar em consideração várias dimensões
fundamentais. Primeiramente, é necessário despertar nos fiéis a consciência de
que a Eucaristia é um dom imenso: isto os levará a fazer de tudo para
participar nela, ativa e dignamente, pelo menos no domingo e nos dias de
festa. Ao mesmo tempo, devem ser estimulados « os esforços dos sacerdotes para
facilitar esta participação e torná-la possível às comunidades mais distantes
». (111) É necessário recordar aos fiéis que « a participação plena,
consciente e ativa, apesar de essencialmente distinta do ofício do sacerdote
ordenado, é uma atuação do sacerdócio comum recebido no Batismo ». (112)
A necessidade de que os fiéis participem na
Eucaristia e as dificuldades ligadas à escassez de sacerdotes manifestam a
urgência de promover as vocações sacerdotais. (113) É preciso também lembrar a
toda a Igreja na América « o nexo existente entre a Eucaristia e a caridade »,
(114) nexo que a Igreja primitiva exprimia unindo o ágape com a Ceia
eucarística. (115) A participação na Eucaristia deve levar a uma mais intensa
ação caridosa, como fruto da graça recebida neste sacramento.
Os Bispos, promotores de comunhão
36. A comunhão na Igreja, precisamente por ser
sinal de vida, deve crescer continuamente. Conseqüentemente, os Bispos,
lembrando que « cada um deles é princípio e fundamento visível da unidade nas
suas respectivas Igrejas », (116) devem sentir-se comprometidos a promover a
comunhão nas suas Dioceses, para que seja mais eficaz o esforço da nova
evangelização na América. A dimensão comunitária fica favorecida pelos
organismos previstos pelo Concílio Vaticano II em apoio da atividade do Bispo
diocesano, organismos que a legislação pós-conciliar especificou mais
detalhadamente. (117) « Compete ao Bispo, com a cooperação dos sacerdotes,
diáconos, consagrados e leigos [...], realizar um plano de ação pastoral
coordenada, que seja orgânico e compartilhado e que alcance todos os membros
da Igreja e suscite neles a consciência missionária ». (118)
Cada Ordinário não deixará de promover nos
sacerdotes e nos fiéis a consciência de que a diocese é a expressão visível da
comunhão eclesial, que se forma na mesa da Palavra e da Eucaristia em torno ao
Bispo, unido com o Colégio episcopal e sob a sua Cabeça, o Romano Pontífice.
Aquela, como Igreja particular, tem a missão de iniciar e incrementar o
encontro de todos os membros do Povo de Deus com Jesus Cristo, (119) através
do respeito e da promoção daquela pluralidade e diversificação que não impedem
a unidade, mas lhe conferem o caráter de comunhão. (120) O espírito de
participação e de co-responsabilidade na vida dos organismos diocesanos será
certamente favorecido por um conhecimento mais profundo da natureza da Igreja
particular. (121)
Uma comunhão mais intensa entre as Igrejas
particulares
37. A Assembléia Especial para a América do
Sínodo dos Bispos, a primeira na história que reuniu Bispos de todo o
Continente, foi por todos sentida como uma graça especial do Senhor à Igreja
peregrina na América. Aquela reforçou a comunhão que deve haver entre as
Comunidades eclesiais do Continente, deixando transparecer a todos a urgência
de aumentá-la ainda mais. As experiências de comunhão episcopal, assíduas
sobretudo após o Concílio Vaticano II por causa da consolidação e difusão das
Conferências Episcopais, devem ser entendidas como encontros com Cristo vivo,
presente nos irmãos reunidos em seu nome (cf. Mt 18, 20).
A experiência sinodal mostrou, também, as
riquezas de uma comunhão que se estende para além do âmbito de cada
Conferência Episcopal. Apesar de já existirem formas de diálogo que superam
tais limites, os Padres Sinodais assinalaram a conveniência de intensificar as
reuniões inter-americanas, já promovidas pelas Conferências Episcopais das
diversas Nações americanas, como expressão de efetiva solidariedade e como
lugar de encontro e estudo dos comuns desafios para a evangelização da
América. (122) Será também oportuno definir com precisão o caráter de tais
encontros, de maneira que constituam, sempre mais, expressão de comunhão entre
todos os Pastores. Além destas reuniões mais amplas, pode ser útil, quando
exigidas pelas circunstâncias, criar comissões específicas para aprofundar os
temas comuns que se refiram a toda a América. Setores nos quais parece
particularmente necessário « que se estimule a cooperação, são as mútuas
comunicações pastorais, a cooperação missionária, a educação, as migrações, o
ecumenismo ». (123)
Os Bispos, aos quais cabe o dever de promover a
comunhão entre as suas Igrejas particulares, estimularão os fiéis a viver
sempre mais a dimensão comunitária, assumindo « a responsabilidade de
estreitar os laços de comunhão com as Igrejas locais em outras zonas da
América mediante a educação, a mútua comunicação, a fraterna união entre
paróquias e dioceses, projetos de cooperação e de prevenção comum em temas de
maior relevo, sobretudo naqueles que se referem aos pobres ». (124)
Comunhão fraterna com as Igrejas católicas
orientais
38. O recente fenômeno da instalação e do
crescimento na América de Igrejas particulares católicas orientais, dotadas de
hierarquia própria, foi objeto de especial atenção por parte de alguns Padres
Sinodais. Um desejo sincero de abraçar cordial e eficazmente estes irmãos na
fé e na comunhão hierárquica, sob a autoridade do Sucessor de Pedro, levou a
Assembléia Sinodal a propor iniciativas concretas de fraterna ajuda por parte
das Igrejas particulares latinas, respeito àquelas católicas orientais
presentes no Continente. Assim, por exemplo, foi sugerida a hipótese que os
sacerdotes de rito latino, sobretudo quando de origem oriental, possam
oferecer sua cooperação litúrgica às comunidades orientais, carentes de um
número suficiente de presbíteros. Igualmente, quanto aos edifícios sagrados,
os fiéis orientais poderão utilizar, nos casos considerados convenientes, as
igrejas de rito latino.
Dentro deste espírito de comunhão, merecem ser
consideradas várias propostas dos Padres Sinodais: que, ali onde for preciso,
seja criada, nas Conferências Episcopais nacionais e nos organismos
internacionais de cooperação episcopal, uma comissão mista encarregada de
estudar os problemas pastorais comuns; que a catequese e a formação teológica
para os leigos e os seminaristas da Igreja latina, incluam o conhecimento da
tradição viva do Oriente cristão; que os Bispos das Igrejas orientais
católicas participem nas Conferências Episcopais latinas das respectivas
Nações. (125) Não há dúvida que esta cooperação fraterna, enquanto oferece uma
preciosa ajuda às Igrejas católicas orientais constituídas recentemente na
América, permitirá às Igrejas particulares latinas enriquecer-se com o
patrimônio espiritual das tradições do Oriente cristão.
O presbitério como sinal de unidade
39. « Cada sacerdote, como membro de uma Igreja
particular, deve ser sinal de comunhão com o Bispo sendo o seu colaborador
imediato, unido aos seus irmãos no presbitério. Exerce seu ministério com
caridade pastoral, principalmente na comunidade que lhe foi confiada,
conduzindo-a ao encontro com Cristo, o Bom Pastor. A sua vocação requer que
ele seja sinal de unidade. Por isto, deve evitar qualquer participação na
atividade política de tipo partidário, que dividiria a comunidade ». (126) Os
Padres Sinodais auspiciam que « se fomente uma ação pastoral a favor do clero
diocesano, para reforçar a sua espiritualidade, a sua missão e a sua
identidade, que tem como centro o seguimento de Cristo Sumo e Eterno
Sacerdote, sempre encaminhado a cumprir a vontade do Pai. Ele é o modelo da
generosa dedicação, da vida austera e do serviço até a morte. O sacerdote tome
consciência do fato que, pelo sacramento da Ordem, é portador de graça, que
distribui aos irmãos nos sacramentos. Ele próprio santifica-se no exercício do
ministério ». (127)
É imenso o campo onde se desenrola a ação dos
sacerdotes. Convem, portanto, « que estes ponham no centro da sua atividade o
que é essencial para o ministério: deixar-se configurar a Cristo, Cabeça e
Pastor, fonte de caridade pastoral, oferecendo-se eles próprios, todos os
dias, com Cristo na Eucaristia, para ajudar os fiéis a viver o encontro
pessoal e comunitário com Jesus Cristo vivo ». (128) Como testemunhas e
discípulos de Cristo misericordioso, eles são chamados a fazer-se instrumentos
de perdão e de reconciliação, empenhando-se generosamente a serviço dos fiéis,
conforme o espírito do Evangelho.
Os presbíteros devem também prestar atenção,
enquanto pastores do Povo de Deus na América, aos desafios do mundo atual e
ser sensíveis aos problemas e as esperanças da sua gente, partilhando suas
vicissitudes e, sobretudo, assumindo uma atitude de solidariedade com os
pobres. Cuidarão de discernir os carismas e as qualidades dos fiéis capazes de
contribuir para a animação da comunidade, escutando-lhes e dialogando com
eles, estimulando, assim, a participação e a co-responsabilidade. Isto
favorecerá uma melhor distribuição das tarefas, permitindo-lhes « dedicar-se
àquilo que está mais diretamente ligado ao encontro e ao anúncio de Jesus
Cristo, para poder representar melhor, no seio da comunidade, a presença de
Jesus que reúne o seu povo ». (129)
Esta obra de discernimento dos carismas
estender-se-á também à valorização daqueles sacerdotes que se revelam capazes
de levar a cabo ministérios particulares. De resto, a todos os sacerdotes,
pede-se de dar a própria ajuda fraterna ao presbitério, e de recorrer a este
com confiança em caso de necessidade.
Diante da esplêndida realidade de tantos
sacerdotes na América que, com a graça de Deus, se esforçam por dar saída a
uma enorme quantidade de trabalho, faço meu o desejo dos Padres Sinodais de
reconhecer e louvar sua « dedicação incansável de pastores, evangelizadores e
animadores da comunhão eclesial, exprimindo-lhes gratidão e encorajando-os a
continuar a oferecer sua vida a serviço do Evangelho ». (130)
Promover a pastoral vocacional
40. O papel indispensável do sacerdote no meio
da comunidade deve conscientizar todos os filhos da Igreja na América da
importância da pastoral vocacional. O Continente americano possui uma numerosa
juventude, rica de valores humanos e religiosos. Por isso, deve-se cultivar os
ambientes onde nascem as vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada,
e convidar as famílias cristãs a ajudar os filhos quando se sintam chamados a
seguir este caminho. (131) Com efeito, as vocações « são um dom de Deus » e «
nascem nas comunidades de fé, sobretudo na família, na paróquia, nas escolas
católicas e em outras organizações da Igreja. Os Bispos e os presbíteros têm a
especial responsabilidade de estimular tais vocações através do convite
pessoal, e principalmente com o testemunho de uma vida de fidelidade, alegria,
entusiasmo e santidade. A responsabilidade de promover vocações para o
sacerdócio cabe a todo o Povo de Deus e se realiza principalmente na oração
constante e humilde pelas vocações ». (132)
Os seminários, como lugares de acolhida e de
formação dos chamados ao sacerdócio, devem preparar os futuros ministros da
Igreja a viver « numa sólida espiritualidade de comunhão com Cristo Pastor, e
de docilidade à ação do Espírito, que os tornará capazes de discernir as
expectativas do Povo de Deus e distintos carismas, e de trabalhar juntos ».
(133) Por isso, nos seminários « deve-se insistir especialmente sobre a
formação especificamente espiritual, a fim de que com a constante conversão, a
atitude de oração, o recurso aos sacramentos da Eucaristia e da Penitência, os
candidatos se formem no encontro com o Senhor e se preocupem de fortalecer-se
para o generoso trabalho pastoral ». (134) Cuidem os formadores de acompanhar
e guiar os seminaristas para uma maturidade afetiva que os faça aptos a
abraçar o celibato sacerdotal e capazes de viver em comunhão com seus coirmãos
na vocação sacerdotal. Além disso, promovam neles a capacidade de observação
crítica da realidade circunstante, para que sejam capazes de discernir os
valores dos que não o são, sendo este um requisito indispensável para
estabelecer um diálogo construtivo com o mundo de hoje.
Particular atenção será reservada às vocações
provindas entre os indígenas: ocorre proporcionar uma formação inculturada no
seu ambiente. Estes candidatos para o sacerdócio, ao receberem uma adequada
formação teológica e espiritual para o seu futuro ministério, não devem perder
as raízes da própria cultura. (135)
Os Padres Sinodais quiseram também agradecer e
louvar todos aqueles que consagram a vida na formação dos futuros presbíteros
nos seminários. Ao mesmo tempo convidaram os Bispos a destinar para esta
tarefa os sacerdotes mais adequados, depois de os preparar com uma formação
específica necessária para habilitá-los a uma missão tão delicada. (136)
Renovar a instituição paroquial
41. A paróquia é um lugar privilegiado onde os
fiéis podem fazer a experiência concreta da Igreja. (137) Hoje em dia, tanto
na América como em outras partes do mundo, a paróquia atravessa por vezes
algumas dificuldades no desempenho da própria missão. Ela precisa de uma
contínua renovação a partir do princípio fundamental de que « a paróquia deve
continuar a ser acima de tudo comunidade eucarística ». (138) Este princípio
implica que « as paróquias são chamadas a ser acolhedoras e solidárias, lugar
da iniciação cristã, da educação e da celebração da fé, abertas à variedade de
carismas, serviços e ministérios, organizadas comunitária e responsavelmente,
capazes de comprometer os movimentos de apostolado já atuantes, atentas às
distintas culturas dos habitantes, abertas aos projetos pastorais e
supraparoquiais e às realidades circunstantes ». (139)
Merecem uma especial atenção, pela sua
problemática específica, as paróquias nos grandes aglomerados urbanos, onde as
dificuldades são tão grandes que as normais estruturas pastorais vem a ser
inadequadas e as possibilidades de ação apostólica notavelmente reduzidas.
Contudo, a instituição paroquial conserva a sua importância e deve ser
mantida. Para alcançar este objetivo, ocorre « continuar na procura dos meios
com os quais a paróquia e as suas estruturas pastorais se tornem mais eficazes
nas zonas urbanas ». (140) Um meio de renovação paroquial, particularmente
urgente nas paróquias das grandes cidades, pode ser encontrado talvez
considerando a paróquia como comunidade de comunidades e de movimentos. (141)
Por isso, é oportuno a formação de comunidades e de grupos eclesiais de tal
dimensão, que permitam estabelecer verdadeiras relações humanas. Isto
permitirá viver mais intensamente a comunhão, preocupando-se em cultivá-la não
somente « ad intra », mas também com a comunidade paroquial à qual pertencem
tais grupos, e com toda a Igreja diocesana e universal. Desta forma será mais
fácil, no âmbito deste contexto humano, reunir-se na escuta da Palavra de
Deus, para refletir, à sua luz, sobre os vários problemas humanos e concluir
opções responsáveis inspiradas no amor universal de Cristo. (142) A
instituição paroquial assim renovada, « pode suscitar uma grande esperança.
Pode formar comunitariamente as pessoas, oferecer ajuda à vida familiar,
superar a condição de anonimato, acolher as pessoas e ajudá-las a inserir-se
no âmbito local e da sociedade ». (143) Deste modo, hoje cada paróquia,
especialmente as sediadas nas cidades, poderá promover uma evangelização mais
pessoal, e, ao mesmo tempo, aumentar as relações positivas com os outros
agentes sociais, educacionais e comunitários. (144)
Mais, « este tipo de paróquia renovada requer
uma figura de pastor que, sobretudo, cultive uma profunda experiência de
Cristo vivo, com espírito missionário, coração paterno, que seja animador da
vida espiritual e evangelizador, capaz de promover a participação. A paróquia
renovada necessita da colaboração dos leigos, de um animador da atividade
pastoral e da capacidade do pastor de trabalhar com os demais. As paróquias na
América se devem notar pelo espírito missionário, que as levem estender a
própria ação fora dos próprios limites ». (145)
Os diáconos permanentes
42. Por sérios motivos pastorais e teológicos, o
Concílio Vaticano II decidiu restabelecer o diaconato como grau permanente da
hierarquia na Igreja latina, deixando às Conferências Episcopais, com a
aprovação do Sumo Pontífice, avaliar a oportunidade de instituir os diáconos
permanentes e em quais lugares. (146) Trata-se de uma experiência muita
diferenciada não só entre as distintas zonas da América, mas inclusive entre
as dioceses da uma mesma região. « Algumas dioceses formaram e ordenaram
bastantes diáconos, e estão plenamente satisfeitas da sua integração e do seu
ministério ». (147) Comprova-se aqui com alegria como os diáconos, « amparados
pela graça sacramental, no ministério (diaconia) da liturgia, da
palavra e da caridade estão a serviço do Povo de Deus, em comunhão com o Bispo
e o seu presbitério ». (148) Dioceses há que não encetaram este caminho,
enquanto em outras existem dificuldades na integração dos diáconos permanentes
no âmbito da estrutura hierárquica.
Ressalvada a liberdade das Igrejas particulares
de restabelecer, com o consentimento do Sumo Pontífice, o diaconato como grau
permanente, está claro que o sucesso da sua restauração implica um diligente
processo de seleção, uma séria formação e uma atenção escrupulosa aos
candidatos, bem como um cuidadoso acompanhamento tanto destes ministros
sagrados, como também, no caso dos diáconos casados, da sua família, da mulher
e dos seus filhos. (149)
A vida consagrada
43. A história da evangelização na América
constitui um testemunho significativo do esforço missionário realizado por
tantas pessoas consagradas que, desde o início, anunciaram o Evangelho,
defenderam os direitos dos indígenas e, com amor heróico a Cristo,
dedicaram-se ao serviço do Povo de Deus no Continente. (150) A contribuição
das pessoas consagradas ao anúncio do Evangelho na América, continua sendo de
enorme importância; trata-se de uma contribuição diferenciada conforme os
carismas próprios de cada grupo: « os Institutos de vida contemplativa que
testemunham o absoluto de Deus, os Institutos apostólicos e missionários que
tornam presente Cristo nos mais distintos campos da existência humana, os
Institutos seculares que ajudam a resolver a tensão entre a abertura real aos
valores do mundo moderno e a profunda entrega de coração a Deus. Nascem,
também, novos Institutos e novas formas de vida consagrada, que exigem
discernimento evangélico ». (151)
« Dado que o futuro da nova evangelização [...]
é impensável sem uma renovada contribuição das mulheres, especialmente das
mulheres consagradas », (152) é urgente favorecer sua participação nos vários
setores da vida eclesial, inclusive nos processos onde se elaboram as
decisões, sobretudo naquilo que se refere diretamente a elas. (153)
« Também hoje o testemunho da vida plenamente
consagrada a Deus é uma eloqüente proclamação do fato que Ele basta para
realizar plenamente a existência de qualquer pessoa ». (154) Esta consagração
ao Senhor se deve prolongar no generoso serviço à difusão do Reino de Deus.
Por este motivo, nos umbrais do terceiro milênio ocorre conseguir « que a vida
consagrada seja ainda mais estimada e promovida pelos Bispos, sacerdotes e
comunidades cristãs, e que os consagrados, conscientes da alegria e da
responsabilidade da sua vocação, se integrem plenamente na Igreja particular à
qual pertencem e promovam a comunhão e a mútua colaboração ». (155)
Os fiéis leigos e a renovação da Igreja
44. « A doutrina do Concílio Vaticano II sobre a
unidade da Igreja, como Povo de Deus reunido na unidade do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, destaca que são comuns à dignidade de todos os batizados a
imitação e o seguimento de Cristo, a comunhão recíproca e o mandato
missionário ». (156) É necessário, portanto, que os fiéis leigos se
conscientizem de sua dignidade de batizados. Por seu lado, os Pastores tenham
profunda estima « do testemunho e da ação evangelizadora dos leigos que,
inseridos no Povo de Deus com espiritualidade de comunhão, conduzem os irmãos
ao encontro com Jesus Cristo vivo. A renovação da Igreja na América não será
possível sem a presença ativa dos leigos. Por isso, lhes compete, em grande
parte, a responsabilidade do futuro da Igreja ». (157)
Duplo é o âmbito em que se realiza a vocação dos
fiéis leigos. O primeiro, e mais condizente com o seu estado laical, é o das
realidades temporais, que são chamados a ordenar conforme a vontade de Deus.
(158) « De fato, com seu peculiar modo de agir, o Evangelho é levado dentro
das estruturas do mundo e, “agindo em toda parte santamente, consagram a Deus
o próprio mundo” ». (159) Graças aos fiéis leigos, « a presença e a missão da
Igreja no mundo se realiza, de modo especial, na variedade dos carismas e
ministérios que possui o laicato. A secularidade é a nota característica e
própria do leigo e da sua espiritualidade, que o leva a agir nos vários
âmbitos da vida familiar, social, profissional, cultural e política, em vista
da sua evangelização. Num Continente em que convivem a competição e a
agressividade, o consumo desenfreado e a corrupção, os leigos são chamados a
encarnar valores profundamente evangélicos como a misericórdia, o perdão, a
honestidade, a transparência de coração e a paciência nas situações difíceis.
Dos leigos espera-se uma grande força criadora em gestos e obras que
manifestem uma vida coerente com o Evangelho ». (160)
A América necessita de cristãos leigos em grau
de assumir cargos de dirigentes na sociedade. É urgente formar homens e
mulheres capazes de influir, segundo a própria vocação, na vida pública,
orientando-a para o bem comum. No exercício da política, considerada no seu
sentido mais nobre e autêntico de administração do bem comum, aqueles podem
encontrar o caminho da própria santificação. Em vista disto, é necessário que
sejam formados quer nos princípios e nos valores da doutrina social da Igreja,
quer nas noções fundamentais da teologia do laicato. O conhecimento mais
profundo dos princípios éticos e dos valores morais cristãos lhes permitirá
tornar-se paladinos no seu ambiente, proclamando-os inclusive em relação à
assim chamada « neutralidade do Estado ». (161)
Um segundo âmbito no qual muitos fiéis leigos
são chamados a trabalhar, é aquele que se poderia definir « intra-eclesial ».
São muitos os leigos na América que nutrem a legítima aspiração de contribuir
com os seus talentos e carismas « na construção da comunidade eclesial, como
delegados da Palavra, catequistas, visitadores de enfermos ou de detentos,
animadores de grupos, etc. ». (162) Os Padres Sinodais fizeram votos de que a
Igreja reconheça algumas destas tarefas como ministérios laicais, baseados nos
sacramentos do Batismo e da Confirmação, ressalvada porém a especificidade
própria dos ministérios do Sacramento da Ordem. Trata-se de um tema vasto e
complexo para cujo estudo, já há algum tempo, constituí uma específica
Comissão, (163) e sobre o qual os Organismos da Santa Sé têm vindo aos poucos
oferecendo algumas diretrizes. (164) É necessário promover a profícua
colaboração dos fiéis leigos, homens e mulheres, bem preparados nas diversas
atividades dentro da Igreja, evitando, contudo, que haja confusão com os
ministérios ordenados e com as ações próprias do sacramento da Ordem, para
distinguir claramente o sacerdócio comum dos fiéis daquele ministerial.
A este propósito, os Padres Sinodais sugeriram
que as tarefas confiadas aos leigos sejam bem « diferenciadas das que
constituem etapas em direção ao ministério ordenado », (165) e que os
candidatos ao sacerdócio recebem antes do Presbiterado. Foi também observado
que tais tarefas laicais « não devem ser conferidas a não ser a pessoas,
homens ou mulheres, que receberam a formação requerida, segundo critérios
precisos: uma certa constância, uma disponibilidade real em relação a um
determinado grupo de pessoas, a obrigação de prestar contas ao próprio Pastor
». (166) De qualquer forma, mesmo devendo-se estimular o apostolado
intra-eclesial, é preciso que este coexista com a atividade própria dos
leigos, em que eles não podem ser substituídos pelos sacerdotes, isto é, o
campo das realidades temporais.
Dignidade da mulher
45. Deve ser reservada especial atenção à
vocação da mulher. Em outras ocasiões, eu quis exprimir o meu apreço pela
contribuição específica da mulher no progresso da humanidade e reconhecer a
legitimidade das suas aspirações a participar plenamente na vida eclesial,
cultural, social e econômica. (167) Sem tal participação, viriam a faltar
algumas riquezas que só o « gênio feminino » (168) pode contribuir à vida da
Igreja e da mesma sociedade. Não reconhecê-lo constituiria uma injustiça
histórica especialmente na América, se se leva em consideração a contribuição
das mulheres no desenvolvimento material e cultural do Continente, como também
na transmissão e conservação da fé. De fato, « o seu papel foi decisivo
sobretudo na vida consagrada, na educação, na assistência sanitária ». (169)
Infelizmente, em muitas regiões do Continente
americano a mulher é ainda objeto de discriminação. Por isso, pode-se dizer
que a face dos pobres na América é ainda a face de muitas mulheres. Eis porque
os Padres Sinodais falaram de um « aspecto feminino da pobreza ». (170) A
Igreja sente-se no dever de insistir sobre a dignidade humana comum a toda
pessoa. Ela « denuncia a discriminação, o abuso sexual e a prepotência
masculina como ações contrárias ao plano de Deus ». (171) De modo particular,
ela deplora como abominável a esterilização, às vezes programada, das
mulheres, sobretudo das mais pobres e marginalizadas, que está sendo
praticada, com freqüência sub-repticiamente, à revelia das mesmas
interessadas; mais grave ainda quando se recorrem a tais meios, para conseguir
ajudas econômicas a nível internacional.
A Igreja no Continente sente-se levada a
intensificar a atenção das mulheres e a defendê-las « para que a sociedade na
América ajude ainda mais a vida familiar baseada sobre o matrimônio, proteja
ainda mais a maternidade e tenha mais respeito pela dignidade de todas as
mulheres ». (172) Deve-se ajudar as mulheres americanas a tomar parte ativa e
responsável na vida e na missão da Igreja, (173) como também é preciso
reconhecer a necessidade da sua sabedoria e colaboração nas funções diretivas
da sociedade americana.
Os desafios para a família cristã
46. « Deus Criador, formando o primeiro homem e
a primeira mulher, e ordenando-lhes “sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn
1, 28), constituiu definitivamente a família. Neste santuário nasce a vida e é
acolhida como um dom de Deus. A Palavra divina, lida assiduamente na família,
edifica-a aos poucos como igreja doméstica e fá-la fecunda em humanidade e
virtudes cristãs; ali se encontra a fonte das vocações. A devoção mariana,
alimentada pela oração, conservará unida a família em atitude de oração com
Maria, como os discípulos de Jesus antes de Pentecostes (cf. At 1,14)
». (174) São muitas as insídias que ameaçam a solidez da instituição familiar
na maior parte dos Países da América, e constituem iguais desafios para os
cristãos. Entre outros, deve-se mencionar o aumento dos divórcios, a difusão
do aborto, do infanticídio e da mentalidade antinatalista. Diante desta
situação é preciso reafirmar « que o fundamento da vida humana é a relação
conjuGl entre o marido e a mulher, relação que entre os cristãos é
sacramental ». (175)
É urgente, portanto, uma ampla obra de catequese
acerca do ideal cristão da comunhão conjuGl e da vida familiar, que inclua
uma espiritualidade da paternidade e da maternidade. Maior atenção pastoral
vai dirigida ao papel dos homens como maridos e como pais, bem como a
responsabilidade que compartilham com as esposas respeito ao matrimônio, à
família e à educação dos filhos. Tampouco se omita uma séria preparação dos
jovens antes do casamento, na qual seja apresentada com clareza a doutrina
católica sobre este sacramento, a nível teológico, antropológico e espiritual.
Num Continente caracterizado por um notável crescimento demográfico, como é a
América, devem-se aumentar continuamente as iniciativas pastorais dirigidas às
famílias.
Por ser verdadeiramente « igreja doméstica »,
(176) a família cristã é chamada a constituir o âmbito em que os pais
transmitem a fé, devendo ser « para seus filhos, com a palavra e com o
exemplo, os primeiros anunciadores da fé ». (177) Não falte na família a
prática da oração realizada pelos cônjuges, em união com os filhos. Devem ser
favorecidos, a este respeito, momentos em comum de vida espiritual: a
participação à Eucaristia nos dias de preceito, a prática do sacramento da
Reconciliação, a oração quotidiana em família e gestos concretos de caridade.
Assim será consolidada a fidelidade no matrimônio e a unidade da família. Num
ambiente familiar com estas características, não será difícil que os filhos
saibam descobrir sua vocação ao serviço da comunidade e da Igreja e que
aprendam, especialmente à luz do exemplo dos seus pais, que a vida familiar é
um caminho para realizar a vocação universal à santidade. (178)
Os jovens, esperança do futuro
47. Os jovens são uma grande força social e de
evangelização. Eles « constituem uma numerosíssima parte da população em
muitas nações americanas. No seu encontro com Cristo vivo, se alicerçam as
esperanças e expectativas por um futuro de maior comunhão e solidariedade para
a Igreja e as sociedades na América ». (179) São evidentes os esforços
empregados pelas Igrejas particulares no Continente, para acompanhar os
adolescentes no itinerário catequético antes da Confirmação e dos outros
apoios que lhes oferecem, a fim de que progridam na aproximação a Cristo e no
conhecimento do Evangelho. O itinerário formativo dos jovens deve ser
constante e dinâmico, apto para ajudá-los a encontrar seu lugar na Igreja e no
mundo. A pastoral da juventude, portanto, deve estar entre as preocupações
primárias dos Pastores e das comunidades.
Na verdade, muitos são os jovens americanos que
vão em busca de um autêntico significado a dar à própria vida e que vivem
sedentos de Deus, faltam porém, com freqüência, as condições adequadas para
fazer frutificar suas capacidades e realizar suas aspirações. Infelizmente, a
falta de maturidade e de perspectivas para o futuro os leva, às vezes, à
marginalização e à violência. A sensação de frustração, que experimentam por
tudo isso, não raro os conduz a abandonar a busca de Deus. Diante de uma
situação tão complexa, « a Igreja empenha-se em manter sua opção pastoral e
missionária pelos jovens, para que possam encontrar hoje a Jesus Cristo vivo
». (180)
A ação pastoral da Igreja logra alcançar muitos
destes adolescentes e jovens, mediante a animação cristã da família, a
catequese, as instituições educacionais católicas e a vida comunitária na
paróquia. Mas existem muitos outros, especialmente entre os que sofrem várias
formas de pobreza, que se situam fora âmbito da atividade eclesial. Devem ser
os jovens cristãos, formados numa consciência missionária amadurecida, os
apóstolos dos seus coetâneos. Faz falta uma ação pastoral que alcance os
jovens nos seus vários ambientes: nos colégios, nas universidades, no mundo do
trabalho, nos ambientes rurais, com uma adaptação apropriada à sua
sensibilidade. Será também oportuno desenvolver, no âmbito paroquial e
diocesano, uma atividade pastoral da juventude que leve em conta a evolução do
mundo dos jovens, que procure dialogar com eles, que não exclua as ocasiões
propícias para encontros mais amplos, que anime as iniciativas locais e
valorize o que já se realiza à nível interdiocesano e internacional.
Que fazer com os jovens que revelam atitudes
imaturas de certa inconstância, e dificuldade para assumir compromissos sérios
e definitivos? Diante desta carência de maturidade é necessário convidar os
jovens a serem corajosos, formando-os para apreciar o valor do compromisso
para toda a vida, como no caso do sacerdócio, da vida consagrada e do
matrimônio cristão. (181)
Acompanhar a criança no seu encontro com Cristo
48. As crianças são dom e sinal da presença de
Deus. « É preciso acompanhar a criança no seu encontro com Cristo, desde o
Batismo até a primeira Comunhão, pois ela faz parte da comunidade viva de fé,
esperança e caridade ». (182) A Igreja agradece a dedicação dos pais, dos
mestres, dos agentes da pastoral, sociais e da saúde, e a todos os que estão a
serviço da família e das crianças com a mesma atitude de Jesus Cristo que diz:
« Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais. Porque o reino dos
céus é para aqueles que se lhes assemelham » (Mt 19, 14).
Com razão os Padres Sinodais lamentam e condenam
a triste condição de muitas crianças em toda a América, privadas da dignidade,
da inocência e inclusive da vida. « Esta condição inclui a violência, a
pobreza, a falta de casa e de uma adequada assistência sanitária e
educacional, os prejuízos da droga e do álcool e outros estados de abandono e
de abuso ». (183) A este respeito, no Sínodo foi especialmente mencionada a
problemática do abuso sexual das crianças e da prostituição infantil, e os
Padres lançaram um fervente apelo « a todos os que estão constituídos de
autoridade na sociedade, a fim de que, como exigência prioritária, façam tudo
o que está ao seu alcance para aliviar o sofrimento das crianças na América ».
(184)
Elementos de comunhão com as outras Igrejas e
Comunidades eclesiais
49. Entre a Igreja católica e as outras Igrejas
e Comunidades eclesiais existe um esforço de comunhão que se enraiza no
Batismo administrado em cada uma delas. (185) É um esforço que se alimenta
pela oração, o diálogo e a ação comum. Os Padres Sinodais quiseram exprimir
uma especial vontade de « colaboração no diálogo já encetado com a Igreja
ortodoxa, com a qual temos muitos elementos em comum de fé, de vida
sacramental e de piedade ». (186)
São múltiplas as propostas concretas da
Assembléia Sinodal, sobre o conjunto das Igrejas e Comunidades eclesiais
cristãs não católicas. Se sugere, em primeiro lugar, « que os cristãos
católicos, pastores e fiéis, promovam o encontro dos cristãos das diferentes
confissões, na colaboração, em nome do Evangelho, para responder ao grito dos
pobres, com a promoção da justiça, a oração em comum pela unidade e a
participação na Palavra de Deus e na experiência da fé em Cristo vivo ». (187)
Deve-se estimular também, quando for oportuno e conveniente, as reuniões de
peritos das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais para facilitar o diálogo
ecumênico. O ecumenismo deve ser objeto de reflexão e de comunicação de
experiências entre as distintas Conferências Episcopais católicas do
Continente.
Apesar de que o Concílio Vaticano II se refira a
todos os batizados e crentes em Cristo como a « irmãos no Senhor », (188) é
necessário saber distinguir com clareza as comunidades cristãs, com as quais é
possível estabelecer relações inspiradas na dinâmica ecumênica, das seitas,
cultos e outros movimentos religiosos falazes.
Relação da Igreja com as comunidades hebraicas
50. Na sociedade americana existem também
comunidades de hebreus, com as quais a Igreja instaurou nestes últimos anos
uma ampla colaboração. (189) Na história da salvação, é evidente a nossa
especial relação com o povo hebraico. Dele faz parte Jesus, que deu início à
sua Igreja dentro da Nação judaica. Grande parte da Sagrada Escritura, que nós
cristãos lemos como Palavra de Deus, constitui um patrimônio espiritual comum
com os hebreus. (190) Deve-se, portanto, evitar qualquer atitude negativa a
seu respeito, pois, « para abençoar o mundo, é necessário que os Hebreus e os
Cristãos sejam primeiramente bênção uns aos outros ». (191)
Religiões não cristãs
51. Quanto às religiões não cristãs, a Igreja
católica não rejeita nada do que há nelas de verdadeiro e de santo. (192) Por
isso, com relação às outras religiões, os católicos pretendem ressaltar os
elementos de verdade onde quer que estejam, mas, ao mesmo tempo, testemunham
com vigor a novidade da revelação de Cristo conservada na sua integridade pela
Igreja. (193) Coerentemente com esta atitude, eles rejeitam como alheia ao
espírito de Cristo qualquer discriminação ou perseguição contra pessoas devido
à sua raça, cor, condição de vida ou de religião. A diferença de religião
jamais deve ser motivo de violência ou de guerra. Pelo contrário, pessoas de
distintas crenças devem sentir-se levadas, precisamente por causa da própria
adesão a elas, a trabalhar unidas pela paz e pela justiça.
« Os muçulmanos, como os cristãos e os hebreus,
chamam a Abraão seu pai. Este fato deve garantir que, em toda a América, estas
três comunidades vivam em harmonia e trabalhem juntas pelo bem comum. Da mesma
forma, a Igreja na América deve esforçar-se por incentivar o mútuo respeito e
as boas relações com as religiões nativas americanas ». (194) Análoga atitude
deve ser promovida com relação aos grupos de hinduístas e budistas ou de
outras religiões, que os recentes fluxos migratórios, provindos de países
orientais, levaram à terra americana.
CAPÍTULO V
CAMINHO PARA A SOLIDARIEDADE
>
« Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros » (Jo 13,35)
A solidariedade, fruto da comunhão
52. « Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes
que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que
o fizestes » (Mt 25,40; cf. 25,45). A noção da comunhão com Cristo e
com os irmãos, que por sua vez é fruto da conversão, leva a servir o próximo
em todas as suas necessidades, tanto materiais como espirituais, porque em
cada homem resplandece o rosto de Cristo. Por isso, « a solidariedade é fruto
da comunhão que se baseia no mistério de Deus uno e trino, e no Filho de Deus
encarnado e morto por todos. Ela se exprime no amor do cristão que procura o
bem de todos, especialmente dos mais necessitados ». (195)
Nasce daí, para as Igrejas particulares do
Continente americano, o compromisso da recíproca solidariedade e da partilha
dos bens materiais e dos dons espirituais com que Deus as abençoou,
estimulando a disponibilidade das pessoas para trabalhar onde for preciso. A
partir do Evangelho, é necessário promover uma cultura da solidariedade que
incentive oportunas iniciativas de apoio aos pobres e aos marginalizados, de
modo especial aos refugiados, que vêem-se forçados a deixar suas aldeias e
terras para fugir da violência. A Igreja na América deve estimular os
organismos internacionais do Continente, para que se estabeleça uma ordem
econômica na qual não predomine somente o critério do lucro, mas também os da
procura do bem comum nacional e internacional, da distribuição justa dos bens
e da promoção integral dos povos. (196)
A doutrina da Igreja, expressão das exigências
da conversão
53. Enquanto que o relativismo e o subjetivismo
registram uma difusão preocupante no campo da doutrina moral, a Igreja na
América é chamada a anunciar, com renovado vigor, que a conversão consiste na
adesão à pessoa de Jesus Cristo, com todas as implicações teológicas e morais
ilustradas pelo Magistério eclesial. Convem reconhecer « o papel que
desempenham neste sentido os teólogos, os catequistas e os professores de
religião que, ao expor com fidelidade ao Magistério a doutrina da Igreja,
cooperam diretamente na correta formação da consciência dos fiéis ». (197) Se
acreditamos que Jesus é a Verdade (cf. Jo 14, 6), só podemos desejar
com ardor ser suas testemunhas para aproximar os irmãos à verdade plena que
reside no Filho de Deus feito homem, morto e ressuscitado para a salvação da
gênero humano. « Deste modo poderemos ser, neste mundo, lâmpadas vivas de fé,
esperança e caridade ». (198)
A doutrina social da Igreja
54. Diante dos graves problemas de ordem social
que, com características distintas, encontram-se em toda a América, o católico
sabe que pode encontrar na doutrina social da Igreja a resposta por onde
iniciar a identificar as soluções concretas. Difundir tal doutrina constitui,
portanto, uma autêntica prioridade pastoral. É, pois, importante « que na
América os agentes de evangelização (Bispos, sacerdotes, professores,
animadores pastorais, etc...) assimilem este tesouro que é a doutrina social
da Igreja e, iluminados por ela, se tornem capazes de ler a realidade atual e
de procurar os caminhos para agir ». (199) A este respeito, deve-se
privilegiar a formação dos leigos capazes de trabalhar, em nome da fé em
Cristo, para a transformação das realidades temporais. Mais, será oportuno
promover e apoiar o estudo desta doutrina em todos os âmbitos das Igrejas
particulares na América e, sobretudo, no universitário, para que ela seja
conhecida com maior profundidade e aplicada na sociedade americana. A complexa
realidade social deste Continente é um campo fecundo para a análise e a
aplicação dos princípios universais de tal doutrina.
Para conseguir este objetivo, seria muito útil
um compêndio ou uma síntese autorizada da doutrina social católica, inclusive
um « catecismo », que mostre a relação que existe entre esta e a nova
evangelização. A parte que o Catecismo da Igreja Católica dedica a esta
matéria, a propósito do sétimo mandamento do decálogo, poderia constituir o
ponto de partida deste « Catecismo de Doutrina social católica ».
Naturalmente, como aconteceu para o Catecismo da Igreja Católica,
aquele também limitar-se-ia a formular os princípios gerais, deixando para
posteriores fases de aplicação o estudo dos problemas conexos com as diversas
situações locais. (200)
O direito a um trabalho digno ocupa um lugar
importante na doutrina social da Igreja. Por isso, diante das altas taxas de
desemprego, que afligem muitos países americanos, e das duras condições de
vida de tantos trabalhadores da indústria e do campo, « é necessário apreciar
o trabalho como elemento de realização e de dignidade da pessoa humana. É
responsabilidade ética de uma sociedade organizada promover e apoiar uma
cultura do trabalho ». (201)
Globalização da solidariedade
55. O complexo fenômeno da globalização como
lembrei anteriormente, é uma das características da nossa época, verificável
especialmente na América. Dentre esta variada realidade, o aspecto econômico
assume grande importância. Com a sua doutrina social, a Igreja oferece uma
válida contribuição para a problemática que apresenta a atual economia
globalizada. Sua visão moral nesta matéria « apóia-se sobre os três alicerces
fundamentais da dignidade humana, da solidariedade e da subsidiariedade ».
(202) A economia globalizada deve ser analisada à luz dos princípios da
justiça social, respeitando a opção preferencial pelos pobres, que devem ser
colocados em condições de defender-se numa economia globalizada, e as
exigências do bem comum internacional. Na verdade, « a doutrina social da
Igreja é a visão moral que visa estimular os governos, as instituições e as
organizações privadas para que projetem um futuro compatível com a dignidade
humana. Nesta perspectiva, podem-se considerar as questões relacionadas com a
dívida externa, a corrupção política interna e a discriminação tanto dentro
das nações como entre elas ». (203)
A Igreja na América é chamada não só a promover
uma maior integração entre as nações, contribuindo assim a criar uma autêntica
cultura globalizada da solidariedade, (204) mas também a colaborar com todos
os meios legítimos para a redução dos efeitos negativos da globalização, tais
como o domínio dos mais poderosos sobre os mais fracos, especialmente no campo
econômico, e a perda dos valores das culturas locais a favor de uma mal
entendida homogeneização.
Pecados sociais que clamam ao céu
56. À luz da doutrina social da Igreja
compreende-se melhor a gravidade dos « pecados sociais que clamam ao céu,
porque geram violência, rompem a paz e a harmonia entre as comunidades de uma
mesma nação, entre nações e as distintas zonas do Continente ». (205) Entre
eles devem ser lembrados, « o comércio de drogas, a reciclagem de lucros
ilícitos, a corrupção em qualquer ambiente, o terror da violência, a corrida
aos armamentos, a discriminação racial, as desigualdades entre os grupos
sociais, a destruição irracional da natureza ». (206) Estes pecados manifestam
uma crise profunda devida à perda do sentido de Deus e pela ausência daqueles
princípios morais que devem nortear a vida de cada homem. Sem referências
morais, cai-se na avidez desenfreada de riqueza e de poder, que ofusca
qualquer visão evangélica da realidade social.
Não raro, isto leva algumas instâncias públicas
a descurar a situação social. Domina cada vez mais, em muitos Países
americanos, um sistema conhecido como « neo-liberalismo »; sistema este que,
apoiado numa concepção economicista do homem, considera o lucro e as leis de
mercado como parâmetros absolutos a prejuízo da dignidade e do respeito da
pessoa e do povo. Por vezes, este sistema transformou-se numa justificação
ideológica de algumas atitudes e modos de agir no campo social e político que
provocam a marginalização dos mais fracos. De fato, os pobres são sempre mais
numerosos, vítimas de determinadas políticas e estruturas freqüentemente
injustas. (207)
A melhor resposta, a partir do Evangelho, para
esta dramática situação é a promoção da solidariedade e da paz, em vista da
efetiva realização da justiça. A tal fim, ocorre estimular e ajudar os que são
exemplo de honestidade na administração das finanças públicas e da justiça.
Ocorre, outrossim, apoiar o processo de democratização que se está a realizar
na América, (208) pois num sistema democrático são maiores as possibilidades
de controle que permitem evitar os abusos.
« O Estado de direito é a condição necessária
para estabelecer uma autêntica democracia ». (209) Para que esta se possa
desenvolver, é necessária a educação cívica e a promoção da ordem pública e da
paz. Com efeito, « não há democracia autêntica e estável sem justiça social.
Por isso, é necessário que a Igreja ponha maior atenção na formação das
consciências, prepare os dirigentes sociais para a vida pública a todos os
níveis, promova a educação cívica, a observância da lei e dos direitos humanos
e dedique um maior esforço para a formação ética da classe política ». (210)
O fundamento último dos direitos humanos
57. Convem lembrar que o fundamento sobre o qual
se apóiam todos os direitos humanos é a dignidade da pessoa. « O homem, obra
prima divina, é imagem e semelhança de Deus. Jesus assumiu nossa natureza,
exceto o pecado; promoveu e defendeu a dignidade de cada pessoa humana sem
qualquer exceção; morreu pela liberdade de todos. O Evangelho mostra-nos como
Cristo exaltou a centralidade da pessoa humana na ordem natural (cf. Lc
12, 22-29), na ordem social e na ordem religiosa, até mesmo em relação à Lei
(cf. Mc 2,27), defendendo o homem, e também a mulher (cf. Jo 8,11) e as crianças (cf. Mt 19,13-15), que, conforme a época e a cultura
reinante, ocupavam um lugar secundário na sociedade. Da dignidade do homem
enquanto filho de Deus nascem os direitos humanos e os correspondentes deveres
». (211) Por este motivo, « toda violação da dignidade humana é injúria ao
próprio Deus, cuja imagem é o homem ». (212) Tal dignidade é comum a todos os
homens sem exceção, pois todos foram criados à imagem de Deus (cf. Gn
1, 26). A resposta de Jesus à pergunta « Quem é o meu próximo? » (Lc
10, 29) exige de cada qual uma atitude de respeito pela dignidade do outro e
uma atenção cuidadosa dele, mesmo em se tratando de um estrangeiro ou de um
inimigo (cf. Lc 10, 30-37). Em todas as partes da América a consciência
de que os direitos humanos devem ser respeitados cresceu nestes últimos
tempos, mas permanece ainda muito a ser feito, se se consideram as violações
dos direitos de pessoas e de grupos sociais ainda efetuadas no Continente.
Amor preferencial pelos pobres e marginalizados
58. « A Igreja na América deve encarnar nas suas
iniciativas pastorais a solidariedade da Igreja universal pelos pobres e pelos
marginalizados de toda espécie. Sua posição deve compreender a assistência, a
promoção, a libertação e a acolhida fraterna. O objetivo da Igreja é que não
haja nenhum marginalizado ». (213) A recordação dos capítulos cinzas da
história da América, relativos à prática da escravidão e outras situações de
discriminação social, não deve deixar de suscitar um sincero desejo de
conversão que leve à reconciliação e à comunhão.
A atenção aos mais necessitados provem da opção
de amar de modo preferencial os pobres. Trata-se de um amor que não é
exclusivo e não pode ser interpretado como sinal de parcialidade ou de
facciosismo; (214) amando os pobres, o cristão segue o comportamento do
Senhor, o Qual, na sua vida terrena, dedicou-se, com sentimentos de particular
compaixão, às necessidades espirituais e materiais das pessoas indigentes.
A obra da Igreja a favor dos pobres em todas as
zonas do Continente é importante; deve-se, porém, continuar a trabalhar a fim
de que esta linha de ação pastoral seja sempre mais destinada ao encontro com
Cristo, o Qual, sendo rico, Se fez pobre por nós, a fim de nos enriquecer com
a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É necessário intensificar e estender
quanto já se vem fazendo neste campo, com o fim de alcançar o maior número de
pobres. A Sagrada Escritura lembra que Deus escuta o grito dos pobres (cf.
Sl 34 [33], 7) e a Igreja deve permanecer atenta ao grito dos mais
necessitados. Escutando a sua voz, « ela deve viver com os pobres e participar
dos seus sofrimentos. [...] Com o seu estilo de vida, as suas prioridades, as
suas palavras e as suas ações, ela deve testemunhar de estar em comunhão e
solidariedade com eles ». (215)
A dívida externa
59. A existência de uma dívida externa que
sufoca não poucos povos do Continente americano, constitui um problema
complexo. Mesmo sem abordar seus numerosos aspectos, a Igreja, na sua
solicitude pastoral, não pode ignorar este problema, pois este se refere à
vida de tantas pessoas. Por isto, diversas Conferências Episcopais na América,
conscientes da sua gravidade, organizaram a este respeito encontros de estudo
e publicaram documentos destinados a indicar soluções operacionais. (216)
Também eu expressei, em diversas ocasiões, minha preocupação por esta
situação, que tornou-se, em certos casos, insustentável. Na perspectiva do já
iminente Grande Jubileu do ano 2000, ao recordar o significado social que
revestiam os jubileus no Antigo Testamento, escrevi: « No espírito do livro do
Levítico (25, 8-12), os cristãos deverão fazer-se eco de todos os pobres do
mundo, propondo o Jubileu como um tempo oportuno para pensar, além do mais,
numa consistente redução, se não mesmo no perdão total da dívida
internacional, que pesa sobre o destino de muitas nações ». (217)
Reitero o auspício, feito a propósito pelos
Padres Sinodais, de que o Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, junto com
outros organismos competentes como a Seção para as Relações com os Estados da
Secretaria de Estado, « procure, no estudo e no diálogo com os representantes
do Primeiro Mundo e com os responsáveis do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional, vias de solução para o problema da dívida externa e normas que
impeçam a repetição de idênticas situações por ocasião de futuros empréstimos
». (218) Do maior nível possível, seria oportuno que « peritos em economia e
em questões monetárias, de prestígio internacional, procedessem a uma análise
crítica da ordem econômica mundial, nos seus aspectos positivos e negativos,
para, deste modo, corrigir a ordem atual, e propusessem um sistema e
mecanismos capazes de garantir o desenvolvimento integral e solidário das
pessoas e dos povos ». (219)
Luta contra a corrupção
60. O fenômeno da corrupção é, também na
América, notavelmente estendido. A Igreja pode contribuir eficazmente a
extirpar este mal da sociedade civil com «uma maior presença de leigos
cristãos qualificados que, pela sua educação familiar, escolar e paroquial,
promovam a prática de valores como a verdade, a honestidade, a laboriosidade e
o serviço do bem comum». (220) Para conseguir este objetivo, bem como para
iluminar todos os homens de boa vontade, desejosos de acabar com os males
derivados da corrupção, é preciso ensinar e difundir em larga escala a parte
que corresponde a este tema no Catecismo da Igreja Católica,
promovendo, ao mesmo tempo, entre os católicos de cada Nação o conhecimento
dos documentos publicados a respeito pelas Conferências Episcopais das outras
Nações. (221) Os cristãos assim formados contribuirão significativamente para
a solução daquele problema, esforçando-se por levar à prática a doutrina
social da Igreja, em todos os aspectos que lhes afeta na vida e nos que eles
podem chegar a influir.
O problema das drogas
61. Quanto ao grave problema do comércio das
drogas, a Igreja na América pode colaborar eficazmente com os responsáveis das
Nações, os dirigentes de empresas privadas, as organizações não governamentais
e as instâncias internacionais para elaborar projetos destinados a eliminar
tal comércio, que ameaça a integridade dos povos na América. (222) Esta
colaboração deve estender-se aos órgãos legislativos, apoiando as iniciativas
que impedem a « reciclagem do dinheiro », favorecem o controle dos bens dos
que estão envolvidos neste tráfego e cuidam que a produção e o comércio das
substâncias químicas com que se obtêm as drogas se realizem de acordo com a
lei.
A urgência e a gravidade do problema tornam indispensável um apelo aos
diversos ambientes e grupos da sociedade civil, a fim de unir-se na luta
contra o comércio das drogas. (223) No que diz respeito de modo específico aos
Bispos, é necessário — de acordo com uma sugestão dos Padres Sinodais — que
eles próprios, como Pastores do Povo de Deus, denunciem com coragem e com
força o hedonismo, o materialismo e aqueles estilos de vida que facilmente
induzem à droga. (224)
É necessário, também, levar em conta que se deve
ajudar aos agricultores pobres, para que não caiam na tentação do dinheiro
fácil, conseguido com a cultivação de plantas para a obtenção das drogas. A
este respeito, a FAO e os Organismos internacionais podem oferecer uma
preciosa colaboração aos Governos nacionais favorecendo, com vários
incentivos, as produções agrícolas alternativas. Seja estimulada também a obra
dos que se esforçam por recuperar os que se drogam, dedicando uma atenção
pastoral às vítimas da tóxicodependência: é fundamental oferecer o justo «
sentido da vida » às novas gerações que, se este vier a faltar, terminam
freqüentemente caindo na espiral perversa dos entorpecentes. Este trabalho de
reabilitação social também pode constituir um verdadeiro e próprio empenho de
evangelização. (225)
A corrida aos armamentos
62. Um fator que paralisa o progresso de muitas
nações na América é a corrida aos armamentos. Das Igrejas particulares da
América deve levantar-se um voz profética, que denuncie tanto o rearmamento
quanto o comércio escandaloso de armas de guerra, o qual consome enormes somas
dinheiro que deveriam ser, pelo contrário, destinadas a combater a miséria e a
promover o desenvolvimento. (226) Por outro lado, o armazenamento de armas
constitui uma causa de instabilidade e uma ameaça para a paz. (227) Eis porque
a Igreja permanece vigilante diante do risco de conflitos armados, até mesmo
entre nações irmãs. Esta, como sinal e instrumento de reconciliação e de paz,
deve procurar « com todos os meios possíveis, inclusive através da mediação e
da arbitragem, de agir a favor da paz e da fraternidade entre os povos ».
(228)
Cultura da morte e sociedade dominada pelos
poderosos
63. Hoje, na América, como em outras partes do
mundo, parece entrever-se um modelo de sociedade em que dominam os poderosos,
marginalizando e até mesmo eliminando os mais fracos: penso aqui nas crianças
não nascidas, vítimas indefesas do aborto; nos anciãos e nos doentes
incuráveis, às vezes objeto de eutanásia; e nos inumeráveis seres humanos
postos à margem pelo consumismo e pelo materialismo. Não posso esquecer,
também, do desnecessário recurso à pena de morte, quando « outros processos
incruentos forem suficientes para defender do agressor e para proteger a
segurança das pessoas [...]. De fato, hoje, com os meios a disposição do
Estado para reprimir o crime com eficácia, tornando inofensivo quem o cometeu,
sem privá-lo definitivamente a possibilidade de redimir-se, os casos de
absoluta necessidade de supressão do réu são “já muito raros, se não mesmo
praticamente inexistentes” ». (229) Este modelo de sociedade é baseado na
cultura da morte, estando, portanto, em contraste com a mensagem evangélica.
Perante esta realidade desoladora, a Comunidade eclesial propõe-se defender
sempre mais a cultura da vida.
A este respeito, os Padres Sinodais, fazendo-se
eco dos recentes documentos do Magistério da Igreja, reafirmaram com vigor o
incondicionado respeito e total devotamento a favor da vida humana desde a
concepção até a morte natural, e exprimem a condenação dos males como o aborto
e a eutanásia. Para sustentar estes ensinamentos da lei divina e natural, é
essencial promover o conhecimento da doutrina social da Igreja, e esforçar-se
a fim de que os valores da vida e da família sejam reconhecidos e defendidos
na vivência social e nos ordenamentos do Estado. (230) Paralelamente à tutela
da vida, há de ser intensificada, através de várias instituições pastorais,
uma promoção ativa das adoções e uma constante assistência às mulheres com
problemas na gravidez, quer antes quer depois do nascimento do filho. Mais, há
de reservar-se uma especial atenção pastoral às mulheres que sofreram ou
procuraram ativamente o aborto. (231)
Como não dar graças a Deus, e como não expressar
vivo apreço pelos irmãos e irmãs na fé que na América, junto a outros cristãos
e inúmeras pessoas de boa vontade, estão empenhados em defender, com todos os
meios legais, a vida e a tutelar o nascituro, o doente incurável e os
inválidos? Sua ação é ainda mais meritória se se consideram a indiferença de
muitos, as ameaças eugenéticas e os atentados à vida e à dignidade humana, que
diariamente se cometem em todo lugar. (232)
Idêntico cuidado se há de ter pelos anciãos, por
vezes descurados e abandonados a si próprios. Estes devem ser respeitados como
pessoas; é importante realizar para eles iniciativas de acolhida e de
assistência, que promovam seus direitos e garantam, na medida do possível, o
bem-estar físico e espiritual. Os anciãos hão de ser protegidos das situações
e pressões que poderiam induzi-los ao suicídio; de modo particular, eles devem
ser amparados hoje contra a tentação do suicídio assistido e a eutanásia.
Junto aos Pastores do Povo de Deus na América,
faço apelo aos « católicos que trabalham no campo médico-sanitário e a todos
os que desempenham funções públicas, como também aos que se dedicam ao ensino,
a fim de que façam todo o possível para defender as vidas que correm maior
perigo, agindo com uma consciência bem formada segundo a doutrina católica. Os
Bispos e os presbíteros têm, neste campo, a especial responsabilidade de
testemunhar sem tréguas o Evangelho da vida e de exortar a coerência dos fiéis
». (233)
Ao mesmo tempo, é indispensável que a Igreja na América ilumine, com
oportunas intervenções, a elaboração das decisões das assembléias
legislativas, estimulando os cidadãos, seja os católicos seja as outras
pessoas de boa vontade, a constituir organizações para promover válidos
projetos de lei e para se opor aos que ameaçam a família e a vida, que são
duas realidades inseparáveis. Hoje em dia, é preciso cuidar especialmente
daquilo que se refere ao diagnóstico pré-natal, para que, de modo algum, a
dignidade humana seja lesionada.
Os povos indígenas e os americanos de origem
africana
64. Se a Igreja na América, fiel ao Evangelho de
Cristo, pensa percorrer o caminho da solidariedade, deve dedicar uma especial
atenção àquelas comunidades étnicas que são, ainda hoje, objeto de injustas
discriminações. De fato, é preciso extirpar toda tentativa de marginalização
das populações indígenas. O que supõe, em primeiro lugar, que se devem
respeitar seus territórios e os pactos com elas estabelecidos; da mesma forma,
há que responder às suas legítimas necessidades sociais, sanitárias e
culturais. Como é possível esquecer a exigência de reconciliação entre os
povos indígenas e as sociedades onde vivem?
Desejaria lembrar aqui que também os americanos
de origem africana continuam sofrendo, em algumas zonas, preconceitos étnicos,
que constituem, para eles, um sério obstáculo para encontrar a Cristo. Tendo
em vista que toda pessoa, de qualquer raça e condição, foi criada por Deus à
sua imagem, sejam promovidos planos concretos, em que não deve faltar a oração
comunitária, que favoreçam a compreensão e a reconciliação entre povos
distintos, constituindo pontes de amor cristão, de paz e de justiça entre
todos os homens. (234)
Para alcançar estes objetivos é indispensável
formar agentes pastorais competentes, capazes de fazer uso de métodos já
legitimamente « inculturados » na catequese e na liturgia, evitando
sincretismos que se apóiem numa exposição parcial da genuína doutrina cristã.
Igualmente obter-se-á mais facilmente um número adequado de Pastores que
desempenhem a própria atividade entre os indígenas, se houver a preocupação de
promover vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada entre estes
povos. (235)
A problemática dos imigrantes
65. O Continente americano conheceu na sua
história muitos movimentos migratórios, com contingentes de homens e mulheres
chegados às várias regiões, na esperança de um futuro melhor. O fenômeno
continua ainda hoje, e engloba, de modo particular, numerosas pessoas e
famílias provindas das Nações latino-americanas, estabelecidas nas regiões
setentrionais do Continente, a ponto de constituir, em alguns casos, uma
considerável parte da população. Com freqüência, estas são portadoras de um
patrimônio cultural e religioso rico de significativos elementos cristãos. A
Igreja está ciente dos problemas surgidos com esta situação e empenha-se em
desenvolver, com todos os meios, a própria ação pastoral entre estes
imigrantes, para favorecer o seu estabelecimento no território, e para
suscitar, ao mesmo tempo, uma atitude de acolhida por parte das populações
locais, convencida de que da mútua abertura trará um enriquecimento para
todos.
As comunidades eclesiais não deixarão de ver no
fenômeno, uma específica chamada a viver o valor evangélico da fraternidade e,
ao mesmo tempo, um convite a imprimir um renovado impulso à própria
religiosidade, para uma evangelização mais incisiva. Neste sentido, os Padres
Sinodais lembraram que « a Igreja na América deve ser advogada atenta que
defende, contra toda injusta restrição, o direito natural da livre
movimentação de toda a pessoa dentro da sua nação e de uma nação para outra. É
preciso cuidar dos direitos dos migrantes e das suas famílias, e do respeito
da sua dignidade humana, inclusive no caso das imigrações ilegais ». (236)
Com relação aos migrantes há de haver uma
atitude hospitaleira e acolhedora, que os estimule a se inserir na vida
eclesial, ressalvadas sempre sua liberdade e a peculiar identidade cultural.
Para tanto, é de sobremaneira vantajosa a colaboração entre as Dioceses de
onde eles provêm e aquelas em que são acolhidos, inclusive através de
específicas estruturas pastorais previstas na legislação e na praxe da Igreja.
(237) Desta forma, pode-se assegurar uma mais adequada e completa assistência
pastoral. A Igreja na América deve sentir-se mobilizada pela constante
solicitude de não deixar faltar uma eficaz ação evangelizadora dos que acabam
de chegar e ainda não conhecem a Cristo. (238)
CAPÍTULO VI
>
A MISSÃO DA IGREJA NA AMÉRICA ATUAL: A NOVA
EVANGELIZAÇÃO
>
« Assim como o
Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós » (Jo 20, 21)
Enviados por Cristo
66. Cristo ressuscitado, antes da sua ascensão
ao céu, enviou os Apóstolos a anunciar o Evangelho pelo mundo inteiro (cf.
Mc 16,15), conferindo-lhes os poderes necessários para realizar essa
missão. É significativo que, antes de confiar o último mandato missionário,
Jesus tenha feito referência ao poder universal que recebera do Pai (cf. Mt 28,18). Na realidade, Cristo transmitiu aos Apóstolos a missão recebida
do Pai (cf. Jo 20,21), tornando-os assim participantes dos seus
poderes.
Mas também « os fiéis leigos, precisamente por
serem membros da Igreja, têm por vocação e por missão anunciar o Evangelho:
para essa obra foram habilitados e nela comprometidos pelos sacramentos da
iniciação cristã e pelos dons do Espírito Santo ». (239) De fato, eles foram «
feitos participantes, a seu modo, da função sacerdotal, profética e real de
Cristo ». (240) Por conseguinte, « os fiéis leigos, devido à sua participação
no múnus profético de Cristo, estão plenamente comprometidos nesta tarefa da
Igreja » (241) e, portanto, devem sentir-se chamados e enviados a proclamar a
Boa Nova do Reino. As palavras de Jesus: « Ide vós também para a minha vinha »
(Mt 20,4), (242) devem ser vistas como dirigidas não só aos Apóstolos,
mas a todos aqueles que desejam ser autênticos discípulos do Senhor.
A tarefa fundamental para a qual Cristo envia os
seus discípulos é o anúncio da Boa Nova, isto é, a evangelização (cf. Mc 16,15-18). Segue-se daí que « evangelizar constitui, de fato, a graça e a
vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade ». (243) Como já
disse em outras ocasiões, a singularidade e novidade da situação em que o
mundo e a Igreja se encontram, às portas do terceiro milênio, e as exigências
que daí derivam, fazem com que a missão evangelizadora atualmente requeira
também um novo programa que, no seu conjunto, pode definir-se « nova
evangelização ». (244) Como Pastor supremo da Igreja, desejo ardentemente
convidar todos os membros do Povo de Deus, e de modo especial os que vivem no
Continente americano — donde fiz, pela primeira vez, apelo a um compromisso
novo « no seu entusiasmo, nos seus métodos, na sua expressão » (245) — para
assumirem este projeto e colaborarem nele. Cada um, ao aceitar esta missão,
lembre-se de que o núcleo vital da nova evangelização deve ser o anúncio claro
e inequívoco da pessoa de Jesus Cristo, isto é, o anúncio do seu nome, da sua
doutrina, da sua vida, das suas promessas e do Reino que Ele nos conquistou
por meio do seu mistério pascal. (246)
Jesus Cristo, « boa nova » e primeiro
evangelizador
67. Jesus Cristo é a « boa nova » da salvação
comunicada aos homens de ontem, de hoje e de sempre; mas, ao mesmo tempo, Ele
é também o primeiro e supremo evangelizador. (247) A Igreja deve colocar o
centro da sua atenção pastoral e da sua ação evangelizadora em Cristo
crucificado e ressuscitado. « Tudo o que se projeta no campo eclesial deve
partir de Cristo e do seu Evangelho ». (248) Por isso, « a Igreja na América
deve falar cada vez mais de Jesus Cristo, rosto humano de Deus e rosto divino
do homem. É este anúncio que verdadeiramente mexe com os homens, que desperta
e transforma os ânimos, ou seja, que converte. É preciso anunciar Cristo com
alegria e fortaleza, mas sobretudo com o testemunho da própria vida ». (249)
Cada cristão poderá cumprir eficazmente a sua
missão, na medida em que assumir a vida do Filho de Deus feito homem como o
modelo perfeito da sua ação evangelizadora. A simplicidade do seu estilo e as
suas opções devem ser regras para todos na obra da evangelização. Nesta
perspectiva, os pobres hão de ser considerados entre os primeiros
destinatários da evangelização, a exemplo de Cristo que dizia de Si mesmo: « O
Espírito do Senhor (...) Me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres » (Lc 4, 18). (250)
Como já indiquei antes, o amor pelos pobres deve
ser preferencial, mas não exclusivo. O ter limitado a atenção pastoral pelos
pobres com um certo exclusivismo — como assinalaram os Padres Sinodais —,
levou, às vezes, a descurar os ambientes dos dirigentes da sociedade, com o
conseqüente afastamento da Igreja de muitos deles. (251) Os prejuízos
derivados da difusão do secularismo nesses ambientes, tanto políticos como
econômicos, sindicais, militares, sociais ou culturais, demonstram a urgência
da sua evangelização, que deve ser animada e guiada pelos Pastores, chamados
por Deus para cuidar de todos. Estes poderão contar com o apoio daqueles que —
e, felizmente, são ainda numerosos — permaneceram fiéis aos valores cristãos:
a este respeito, os Padres Sinodais recordaram « o empenho de não poucos (...)
dirigentes na construção de uma sociedade justa e solidária ». (252) Com o seu
apoio, os Pastores enfrentarão a difícil tarefa de evangelização destes
setores da sociedade: com renovado fervor e uma metodologia atualizada,
dirigir-se-ão aos dirigentes, homens e mulheres, para levar-lhes o anúncio de
Cristo, insistindo principalmente sobre a formação das consciências, através
da doutrina social da Igreja. Esta formação constituirá o melhor antídoto
contra os inúmeros casos de incoerência e, em certos casos, de corrupção
existentes na estrutura sócio-política. Vice-versa, se se descura esta
evangelização dos dirigentes, não deve surpreender que muitos deles sigam
critérios alheios e, às vezes, claramente contrários ao Evangelho.
O encontro com Cristo impele a evangelizar
68. O encontro com o Senhor gera uma profunda
transformação em todos aqueles que não se fecham a Ele. O primeiro impulso que
nasce dessa transformação é comunicar aos outros a riqueza descoberta neste
encontro. Não se trata apenas de ensinar aquilo de que tivemos conhecimento,
mas de fazer também, à semelhança da mulher samaritana, com que os outros
encontrem pessoalmente Jesus: « Vinde ver » (Jo 4,29). O resultado
será igual ao que então se verificou no coração dos samaritanos: « Já não é
por causa das tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos
que Ele é realmente o Salvador do mundo » (Jo 4,42). A Igreja, que
vive da presença permanente e misteriosa do seu Senhor ressuscitado, tem como
centro da sua missão o empenho de « levar todos os homens a encontrar-se com
Cristo ». (253)
Ela é chamada a anunciar que Cristo é
verdadeiramente o Vivente, o Filho de Deus, que Se fez homem, morreu e
ressuscitou. Ele é o único Salvador de todos os homens e do homem todo e, como
Senhor da história, atua continuamente na Igreja e no mundo, por meio do seu
Espírito, até ao fim dos séculos. Esta presença do Ressuscitado na Igreja
torna possível o nosso encontro com Ele, graças à ação invisível do seu
Espírito vivificante. Aquele encontro realiza-se na fé recebida e vivida na
Igreja, o corpo místico de Cristo. Este, portanto, possui essencialmente uma
dimensão eclesial e leva a um compromisso de vida. De fato, « encontrar Cristo
vivo significa acolher o amor com que Ele primeiro nos amou, optar por Ele,
aderir livremente à sua pessoa e ao seu projeto, que consiste no anúncio e
realização do Reino de Deus ». (254)
A chamada faz-nos ir à procura de Jesus: «
“Rabbi — que quer dizer Mestre —, onde moras?”. “Vinde ver”, respondeu-lhes.
Foram, pois, e viram onde morava e permaneceram junto dEle nesse dia (Jo 1, 38-39). Este permanecer não se limita ao dia da vocação, mas estende-se
a toda a vida. Segui-Lo implica viver como Ele viveu, aceitar a sua mensagem,
assumir como próprios os seus critérios, abraçar o seu destino, partilhar o
seu projeto que é o desígnio do Pai: convidar a todos para a comunhão
trinitária e para a comunhão com os irmãos numa sociedade justa e solidária ».
(255) O desejo ardente de convidar os outros para se encontrarem com Aquele
que nós encontramos, está na raiz da missão evangelizadora a que é chamada
toda a Igreja mas que é sentida com particular urgência hoje na América,
depois de ter celebrado os 500 anos da primeira evangelização e quando se
prepara para comemorar com gratidão os 2000 anos da vinda do Filho unigênito
de Deus ao mundo.
Importância da catequese
69. A nova evangelização, na qual todo o
Continente está empenhado, indica que a fé não pode ser pressuposta, mas deve
ser explicitamente proposta em toda a sua amplitude e riqueza. Este é o
objetivo principal da catequese, sendo esta, por sua própria natureza, uma
dimensão essencial da nova evangelização. « A catequese é um itinerário de
formação na fé, na esperança e na caridade, que forma a mente e toca o
coração, levando a pessoa a abraçar Cristo de modo pleno e completo. Introduz
o crente mais plenamente na experiência da vida cristã, que inclui a
celebração litúrgica do mistério da redenção e o serviço cristão aos outros ».
(256)
Conhecendo bem a necessidade de uma catequese
completa, aceitei a proposta feita pelos Padres da Assembléia Extraordinária
do Sínodo dos Bispos de 1985, para se elaborar « um catecismo ou compêndio de
toda a doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral », que pudesse
ser « ponto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser
preparados nas diversas regiões ». (257) Essa proposta ficou concretizada com
a publicação da edição típica do Catechismus Catholicæ Ecclesiæ. (258)
Além do texto oficial do Catecismo e para uma melhor utilização dos seus
conteúdos, quis que fosse elaborado e publicado também um Diretório Geral
da Catequese. (259) Recomendo vivamente o uso destes dois instrumentos,
com valor universal, a todos os que se dedicam à catequese na América. É
desejável que ambos os documentos sejam utilizados « na preparação e revisão
de todos os programas paroquiais e diocesanos de catequese, tendo presente que
a situação religiosa dos jovens e dos adultos requer uma catequese mais
querigmática e mais orgânica na apresentação dos conteúdos da fé ». (260)
É necessário reconhecer e estimular a missão
benemérita que muitos catequistas desempenham, por todo o Continente
americano, como autênticos mensageiros do Reino: « A sua fé e o seu testemunho
de vida são parte integrante da catequese ». (261) Desejo encorajar cada vez
mais os fiéis a assumirem, com abnegação e amor ao Senhor, este serviço da
Igreja, consagrando-lhe generosamente o seu tempo e os seus talentos. Por seu
lado, os Bispos preocupem-se por oferecer aos catequistas uma formação
adequada para que possam desempenhar esta tarefa tão indispensável à vida da
Igreja.
Sobretudo num Continente como a América onde a
questão social constitui uma dimensão saliente, convém ter presente na
catequese que « o crescimento na compreensão da fé e a sua expressão prática
na vida social estão intimamente relacionados. As forças que trabalham para
favorecer o encontro com Cristo não podem deixar de ter uma positiva
repercussão na promoção do bem comum numa sociedade justa ». (262)
Evangelização da cultura
70. O meu predecessor Paulo VI, com sábia
inspiração punha em relevo que a « ruptura entre o Evangelho e a cultura é sem
dúvida o drama da nossa época ». (263) Justamente por isso, os Padres Sinodais
consideraram que « a nova evangelização requer um esforço lúcido, sério e
organizado para evangelizar a cultura ». (264) O Filho de Deus, quando assumiu
a natureza humana, encarnou-Se no âmbito de um determinado povo, embora a sua
morte redentora tenha trazido a salvação a todos os homens, qualquer que seja
a sua cultura, raça e condição. O dom do seu Espírito e o seu amor são
destinados a todos e cada um dos povos e culturas para os unir entre si à
imagem daquela perfeita união que existe em Deus Uno e Trino. Para que isso
seja possível, é necessário inculturar a pregação, de forma que o Evangelho
seja anunciado na linguagem e na cultura de quantos o ouvem. (265)
Simultaneamente, porém, é preciso não esquecer que só o mistério pascal de
Cristo, suprema manifestação do Deus infinito na finitude da história, poderá
ser válido ponto de referência para toda a humanidade peregrina à procura da
unidade autêntica e da verdadeira paz.
O rosto mestiço da Virgem de Guadalupe
constituiu, desde o início, um símbolo da inculturação da evangelização, da
qual Ela foi a estrela e a guia. Com a sua poderosa intercessão, a
evangelização poderá penetrar no coração dos homens e mulheres da América, e
permear as suas culturas transformando-as a partir de dentro. (266)
Evangelizar os centros educacionais
71. O mundo da educação é um campo privilegiado
para promover a inculturação do Evangelho. Todavia, os centros educacionais
católicos, e os que, mesmo sem ser confessionais, têm de fato uma clara
inspiração católica, só poderão desenvolver uma ação de autêntica
evangelização se souberem conservar, com clareza e a todos os níveis,
incluindo o universitário, a sua orientação católica. Os conteúdos do projeto
educativo deverão fazer referência constante a Jesus Cristo e à sua mensagem,
tal como a Igreja a apresenta na sua doutrina dogmática e moral. Somente assim
será possível formar dirigentes autenticamente cristãos nos diversos campos da
atividade humana e da sociedade, especialmente na política, na economia, na
ciência, na arte e na reflexão filosófica. (267)
Neste sentido, « é essencial
que a Universidade Católica seja, ao mesmo tempo, verdadeira e realmente ambas
as coisas: Universidade e Católica (...). A índole católica é um elemento
constitutivo da Universidade enquanto instituição, não dependendo, portanto,
da simples decisão dos indivíduos que, em certo momento, dirigem a
Universidade ». (268) Por isso, há de ser objeto de particular solicitude o
trabalho pastoral nas Universidades Católicas: deve-se promover o empenho
apostólico dos estudantes, para se tornarem eles próprios evangelizadores do
mundo universitário. (269) Além disso, « é preciso estimular a cooperação
entre as Universidades Católicas da América inteira para que se enriqueçam
mutuamente », (270) contribuindo dessa forma para a realização, também a nível
universitário, do princípio da solidariedade e de intercâmbio entre os povos
de todo o Continente.
Algo parecido deve ser dito a propósito também
das escolas católicas, sobretudo no âmbito do ensino secundário: « É preciso
fazer um esforço especial para reforçar a identidade católica das escolas,
cuja natureza específica se fundamenta num projeto educacional que tem a sua
origem na pessoa de Cristo e a sua raiz na doutrina do Evangelho. As escolas
católicas devem procurar não só oferecer uma educação qualificada do ponto de
vista técnico e profissional, mas também e sobretudo cuidar da formação
integral da pessoa humana ». (271) Vista a importância da tarefa que
desempenham os educadores católicos, uno-me aos Padres Sinodais que, de ânimo
agradecido, encorajaram todos aqueles que se dedicam ao ensino nas escolas
católicas — sacerdotes, homens e mulheres consagrados, e leigos comprometidos
—, « para que perseverem na sua missão, tão importante ». (272)
É preciso
fazer com que a influência destes centros de ensino chegue, sem distinções nem
exclusivismos, a todos os setores da sociedade. É indispensável fazer todo o
esforço possível para que as escolas católicas, não obstante as dificuldades
econômicas, continuem a oferecer « a educação católica aos pobres e aos
marginalizados da sociedade ». (273) Nunca será possível libertar os
indigentes da sua pobreza, se primeiro não forem libertos da miséria
resultante da carência de uma digna educação.
No projeto global da nova evangelização, o setor
da educação ocupa um lugar privilegiado. Por isso, há que encorajar a
atividade de todos os docentes católicos, inclusive daqueles empenhados em
escolas não confessionais. Faço também um apelo urgente aos consagrados e às
consagradas, para que não abandonem este campo que é tão importante para a
nova evangelização. (274)
Como fruto e expressão da comunhão entre todas
as Igrejas particulares da América, reforçada com certeza pela experiência
espiritual da Assembléia Sinodal, não há de negligenciar-se a promoção de
simpósios para educadores católicos, de âmbito nacional e continental,
procurando assim organizar e incrementar a ação pastoral educativa em todos os
ambientes. (275)
Para cumprir todas estas tarefas, a Igreja na
América tem necessidade, no campo do ensino, de um próprio espaço de liberdade
que deve ser entendido, não como um privilégio, mas como um direito, em
virtude da missão evangelizadora que lhe foi confiada pelo Senhor. Além disso,
os pais têm o direito fundamental e primário de decidir sobre a educação de
seus filhos e, por esse motivo, os pais católicos devem ter a possibilidade de
escolher uma educação de acordo com suas próprias convicções religiosas. A
função do Estado neste âmbito é de caráter subsidiário. Ele tem a obrigação «
de garantir a todos a educação e de respeitar e defender a liberdade de
ensino. O monopólio do Estado neste campo deve ser denunciado como uma forma
de totalitarismo, lesivo dos direitos fundamentais que deve defender,
especialmente do direito dos pais à educação religiosa dos seus filhos. A
família é o primeiro espaço educativo da pessoa ». (276)
Evangelizar através dos meios de comunicação
social
72. Para a eficácia da nova evangelização, é
fundamental um profundo conhecimento da cultura atual, na qual têm grande
influência os meios de comunicação social. Por isso, é indispensável conhecer
e servir-se destes meios, tanto nas suas formas tradicionais como nas formas
introduzidas mais recentemente pelo progresso tecnológico. A realidade atual
requer que se saiba dominar a linguagem, a natureza e as características dos
mídia. Utilizando-os de maneira correta e competente, pode-se levar a termo
uma autêntica inculturação do Evangelho. Por outro lado, estes mesmos meios
contribuem para modelar a cultura e a mentalidade dos homens e mulheres do
nosso tempo, pelo que os agentes no campo dos instrumentos de comunicação
social devem ser destinatários de uma especial ação pastoral. (277)
A este respeito, os Padres Sinodais apontaram
numerosas iniciativas concretas para uma presença eficaz do Evangelho no mundo
dos meios de comunicação social: a formação de agentes pastorais para esse
âmbito; o incremento de centros de produção qualificada; o uso prudente e
atento de satélites e das novas tecnologias; a formação dos fiéis para que
sejam usuários «críticos»; a união de esforços para adquirir e depois gerir
em conjunto novas emissoras e redes televisivas, e também para coordenar as
que já existem. Quanto às publicações católicas, estas merecem ser apoiadas e
têm necessidade de alcançar, como desejado, um progresso qualitativo.
É preciso animar os empresários para apoiarem
economicamente os produtos de qualidade que promovem os valores humanos e
cristãos. (278) Mas, um programa tão vasto supera amplamente as possibilidades
de cada uma das Igrejas particulares do Continente americano. Por isso, os
Padres Sinodais propuseram a coordenação interamericana das atividades
existentes no campo dos meios de comunicação social, que ajude ao recíproco
conhecimento e cooperação nas realidades já em ato no setor. (279)
O desafio das seitas
73. A atividade de proselitismo, que as seitas e
novos grupos religiosos desenvolvem em várias regiões da América, constitui um
grave obstáculo ao esforço evangelizador. A palavra «proselitismo» tem
sentido negativo quando reflete um modo de conquistar adeptos não respeitador
da liberdade daqueles que são atingidos por uma determinada propaganda
religiosa. (280) A Igreja Católica na América critica o proselitismo das
seitas e, por esta mesma razão, na sua ação evangelizadora exclui o recurso a
tais métodos. Ao propor o Evangelho de Cristo em toda a sua integridade, a
atividade evangelizadora deve respeitar o santuário da consciência de cada
indivíduo, onde se desenrola o diálogo decisivo, absolutamente pessoal, entre
a graça e a liberdade do homem.
Deve-se levar isto em conta, especialmente
quando se trata dos irmãos cristãos das Igrejas e Comunidades eclesiais
separadas da Igreja Católica, que estão estabelecidas já há muito tempo em
determinadas regiões. Os vínculos de comunhão verdadeira, embora imperfeita,
que, segundo a doutrina do Concílio Vaticano II, (281) essas Comunidades já
possuem com a Igreja católica, devem iluminar as atitudes desta e de todos os
seus membros face àquelas. (282) Entretanto, estas atitudes não poderão chegar
a prejudicar a firme convicção de que somente na Igreja Católica se encontre a
plenitude dos meios de salvação estabelecidos por Jesus Cristo. (283)
As conquistas do proselitismo das seitas e dos
novos grupos religiosos na América não podem ser encaradas com indiferença.
Exigem da Igreja neste Continente um profundo estudo, a ser realizado em cada
nação e também a nível internacional, para se descobrir os motivos porque
bastantes católicos abandonam a Igreja. É necessário fazer uma revisão dos
métodos pastorais adotados, para que cada Igreja particular preste aos fiéis
uma assistência religiosa mais personalizada, reforce as estruturas de
comunhão e missão, e aproveite as possibilidades evangelizadoras que oferece
uma religiosidade popular purificada, tornando assim mais viva a fé de todos
os católicos em Jesus Cristo, através da oração e da meditação da Palavra de
Deus oportunamente comentada. (284)
Ninguém ignora a urgência de uma oportuna
ação evangelizadora, naqueles setores do Povo de Deus mais expostos ao
proselitismo das seitas: a faixa dos imigrados, os bairros periféricos das
cidades ou das zonas do campo privadas de uma presença sistemática do
sacerdote e, portanto, caracterizados por uma profunda ignorância religiosa,
as famílias de pessoas simples que padecem todo o tipo de dificuldades
materiais. Neste mesmo ponto de vista, revelam-se de grande utilidade, as
comunidades de base, os movimentos, os grupos de famílias e outras formas
associativas onde é mais fácil cultivar relações interpessoais de recíproco
apoio espiritual e, inclusive, econômico.
Porém, é necessário ter sempre em conta o risco
recordado por alguns Padres Sinodais: uma pastoral orientada quase
exclusivamente para as necessidades materiais dos destinatários termina
frustrando a fome de Deus destes povos, deixando-os assim numa situação
vulnerável perante qualquer suposta oferta espiritual. Por isso, «é
indispensável que todos se mantenham unidos a Cristo, por meio do anúncio querigmático jubiloso e visando a conversão, especialmente no caso da pregação
na liturgia». (285) Uma Igreja que viva intensamente a dimensão espiritual e
contemplativa, e que se dedique, com generosidade, a serviço da caridade, será
testemunha de Deus sempre mais convincente para homens e mulheres em busca de
um sentido para a própria vida. (286) Em vista disso, cresce sempre mais a
necessidade que os fiéis passem de uma fé rotineira, sustentada talvez apenas
pelo ambiente, a uma fé consciente, vivida pessoalmente. Renovar-se na fé será
sempre o melhor caminho para conduzir todos à Verdade que é Cristo.
Para conseguir que seja eficaz a resposta ao
desafio das seitas, requer-se uma adequada coordenação das iniciativas a nível
supradiocesano, para se chegar a uma real cooperação através de projetos
comuns que poderão dar maiores frutos. (287)
A missão ad gentes
74. Jesus Cristo confiou à sua Igreja a missão
de evangelizar todas as nações: « Ide, pois, ensinai todas as nações,
batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a
observar tudo quanto vos tenho mandado » (Mt 28,19-20). A consciência
da universalidade da missão evangelizadora que a Igreja recebeu deve
permanecer viva, como aliás o testemunha continuamente a história do Povo de
Deus que peregrina na América. A evangelização torna-se mais urgente junto de
todos aqueles que, vivendo neste Continente, ainda não conhecem o nome de
Jesus, o único nome dado aos homens para se salvarem (cf. At 4,12).
Infelizmente, este nome é desconhecido por larga parte da humanidade e em
muitos ambientes da sociedade americana. Basta pensar nas etnias indígenas
ainda não cristianizadas ou na presença de religiões não cristãs tais como o
Islamismo, o Budismo, o Hinduísmo, sobretudo entre os imigrantes vindos da
Ásia.
Isto obriga a Igreja na América a permanecer
disponível para a missão ad gentes. (288) O programa de uma nova
evangelização no Continente, objetivo de muitos projetos pastorais, não pode
limitar-se a revitalizar a fé dos crentes habituais, mas deve também procurar
anunciar Cristo nos ambientes onde Ele é desconhecido.
Além disso, as Igrejas particulares da América
são chamadas a estender este ímpeto evangelizador para além das fronteiras do
seu Continente. Não podem reservar só para elas as riquezas imensas do seu
patrimônio cristão. Devem levá-lo ao mundo inteiro e comunicá-lo a quantos
ainda o ignoram. Trata-se de muitos milhões de homens e mulheres que, sem a
fé, padecem da mais grave das pobrezas. Diante de tal pobreza, seria um erro
deixar de promover a atividade evangelizadora fora do Continente com o
pretexto de que ainda há muito para fazer na América, ou à espera de se chegar
primeiro a uma situação, fundamentalmente utópica, de plena realização da
Igreja na América.
Com votos de que o Continente americano, em
sintonia com a sua vitalidade cristã, tome parte na grande tarefa da missão
ad gentes, faço minhas as propostas concretas que os Padres Sinodais
apresentaram: « apoiar uma maior cooperação entre as Igrejas irmãs; enviar
missionários (sacerdotes, consagrados e fiéis leigos) para dentro e fora do
Continente; revigorar ou criar Institutos missionários; favorecer a dimensão
missionária da vida consagrada e contemplativa; dar maior impulso à animação,
formação e organização missionária ». (289) Estou certo de que o zelo pastoral
dos Bispos e dos outros filhos da Igreja em toda a América conseguirá suscitar
iniciativas concretas, inclusive a nível internacional, que levem a realizar
com grande dinamismo e criatividade estes propósitos missionários.
CONCLUSÃO
>
Com esperança e gratidão
75. « Eu estarei sempre convosco, até ao fim do
mundo » (Mt 28, 20). Confiando nesta promessa do Senhor, a Igreja
peregrina no Continente americano prepara-se com entusiasmo para enfrentar os
desafios do mundo atual e ainda os que o futuro lhe poderá trazer. No
Evangelho, a boa nova da ressurreição do Senhor é acompanhada pelo convite a
não ter medo (cf. Mt 28, 5.10). A Igreja na América deseja caminhar na
esperança, como afirmaram os Padres Sinodais: « Com serena confiança no Senhor
da história, a Igreja prepara-se para cruzar o limiar do Terceiro Milênio sem
preconceitos, nem pusilanimidade, sem egoísmo, sem medo nem dúvidas,
persuadida do serviço fundamental e primário que deve prestar como testemunho
de fidelidade a Deus e aos homens e mulheres do Continente ». (290)
Além disso, a Igreja na América sente-se
particularmente impelida a caminhar na fé, correspondendo com gratidão ao amor
de Jesus, « manifestação encarnada do amor misericordioso de Deus (cf. Jo 3,16) ». (291) A celebração do início do terceiro milênio cristão pode
ser uma ocasião propícia para que o povo de Deus na América renove « a sua
gratidão pelo grande dom da fé », (292) que começou a receber faz cinco
séculos. O ano de 1492, sem querer prescindir dos aspetos históricos e
políticos, foi o grande ano de graça para a América que acolheu a fé: uma fé
que anuncia o supremo benefício da Encarnação do Filho de Deus, que aconteceu
há 2000 anos como recordaremos solenemente no Grande Jubileu, já próximo.
Este duplo sentimento de esperança e gratidão
deve acompanhar toda a ação pastoral da Igreja no Continente, repassando de
espírito jubilar as diversas iniciativas das dioceses, das paróquias, das
comunidades de vida consagrada, dos movimentos eclesiais, e ainda as
atividades que for possível organizar a nível regional e continental. (293)
Oração a Jesus Cristo pelas famílias da América
76. Convido, pois, todos os católicos da América
a tomarem parte ativa nas iniciativas evangelizadoras que o Espírito Santo vai
suscitando por toda a parte deste imenso Continente, cheio de tantas
potencialidades e esperanças para o futuro. De modo especial convido as
famílias católicas a serem « igrejas domésticas », (294) onde se vive e
transmite às novas gerações a fé cristã como um tesouro, e onde se reza
juntos. As famílias católicas, se souberem realizar em si mesmas o ideal que
Deus lhes confia, converter-se-ão em autênticos focos de evangelização.
No final desta Exortação Apostólica, na qual
recolhi as propostas dos Padres Sinodais, de bom grado aceito a sugestão que
eles fizeram de redigir uma oração pelas famílias na América. (295) Convido os
indivíduos, as comunidades e grupos eclesiais, onde dois ou mais se reúnem em
nome do Senhor, a revigorar através da oração o vínculo espiritual que une
todos os católicos americanos. Unam-se todos à súplica do Sucessor de Pedro
invocando Cristo, que é « o caminho para a conversão, a comunhão e a
solidariedade na América »:
Senhor Jesus, nós Vos agradecemos
porque o Evangelho do amor do Pai,
com o qual viestes salvar o mundo,
foi amplamente proclamado por toda a América
como dom do Espírito Santo
que faz florescer a nossa alegria.
Nós Vos damos graças pelo dom da vossa Vida,
que nos oferecestes, amando-nos até ao fim:
ela torna-nos filhos de Deus
e irmãos uns dos outros.
Aumentai, Senhor, a nossa fé e o amor por Vós,
que estais presente em tantos sacrários
do Continente.
Concedei que sejamos fiéis testemunhas
da vossa Ressurreição
aos olhos das novas gerações da América,
para que, conhecendo-Vos, Vos sigam
e encontrem em Vós a sua paz e a sua alegria.
Só assim poderão sentir-se irmãos
de todos os filhos de Deus, dispersos pelo mundo.
Vós que, fazendo-Vos homem, quisestes ser
membro da família humana,
ensinai às famílias as virtudes que resplandeceram
na casa de Nazaré.
Fazei que elas permaneçam unidas,
como Vós e o Pai sois Um,
e sejam testemunho vivo de amor,
de justiça e solidariedade;
fazei que sejam escolas de respeito,
perdão e ajuda recíprocos,
para que o mundo creia;
fazei que sejam fonte de vocações
para o sacerdócio,
para a vida consagrada
e para todos os demais modos
de decidido compromisso cristão.
Protegei a vossa Igreja e o Sucessor de Pedro,
ao qual Vós, Bom Pastor, confiastes
o encargo de apascentar todo o vosso rebanho.
Fazei que a vossa Igreja floresça na América
e multiplique os seus frutos de santidade.
Ensinai-nos a amar a vossa Mãe, Maria,
como A amastes Vós.
Dai-nos força para anunciar corajosamente
a vossa Palavra
ao serviço da nova evangelização,
para consolidar no mundo a esperança.
Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe da América,
rogai por nós!
Dado na Cidade do México, dia 22 de janeiro de
1999, vigésimo primeiro ano de Pontificado.
(1) A este
respeito, é significativa a antiga inscrição no batistério de S. João de Latrão:
« Virgineo foetu Genitrix Ecclesia natos – quos spirante Deo concipit amne parit
» (E. Diehl, Inscriptiones latinae christiane veteres, n. 1513, I.I,
Berolini 1925, p. 289).
(2) Homilia
por ocasião das ordenações diagonais e presbiterais em Bogotá (22 de agosto de
1968): AAS 60 (1968), 614-615.
(3) N. 17:
AAS 85 (1993), 820.
(4) N. 38:
AAS 87 (1995), 30.
(5) Discurso
de abertura da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (12 de
outubro de 1992), 17: AAS 85 (1993), 820-821.
(6) João
Paulo II, Carta Ap. Tertio millennio adveniente (10 de novembro de 1994),
21: AAS 87 (1995), 17.
(7)
Discurso de abertura da IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano
(12 de outubro de 1992), 17: AAS 85 (1993), 820.
(8) Cf. Carta
ap. Tertio millennio adveniente (10 de novembro de 1994), 38: AAS
87 (1995), 30.
(9)
Discurso de abertura da XIX Assembléia do CELAM (9 de março de 1983), III: AAS 75 (1983), 778.
(10) João
Paulo II, Exort. Ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de dezembro de
1988), 34: AAS 81 (1989), 454.
(11) Propositio 3.
(12) S. Agostinho, Trat. in Joh., 15, 11: CCL 36, 154.
(13) Ibid. 15, 17: l.c., 156.
(14) «
Salvator ...ascensionis suae eam (Mariam Magdalenam) ad apostolos instituit
apostolam ». Rabano Mauro, De vita beatae Mariae Magdalenae, 28: PL 112, 1574. Cf. S. Pedro Damião, Sermo 56: PL 144, 820; Hugo De
Cluni, Commonitorium: PL 159, 952; S. Tomás De Aquino, In Joh.
Evang. expositio, 20, 3.
(15)
Alocução no encerramento do Ano Santo (25 de dezembro de 1975): AAS
68 (1976), 145.
(16)
Propositio, 9; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo
contemporâneo Gaudium et spes, 22.
(17) Carta
enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 21: AAS 79 (1987),
369.
(18)
Propositio 5.
(19) III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, Mensagem aos povos da
América Latina (Puebla, fevereiro de 1979), n. 282. Relativamente aos
Estados Unidos da América, veja-se National Conference of Catholic Bishops,
Behold Your Mother Woman of Faith (Washington 1973), pp. 53-55.
(20) Cf.
Propositio 6.
(21) João
Paulo II, Discurso de abertura da IV Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano (Santo Domingo, 12 de outubro de 1992), 24: AAS 85
(1993), 826.
(22) Cf. National Conference of Catholic Bishops, Behold Your Mother Woman of
Faith (Washington 1973), p. 37.
(23) Cf.
Propositio 6.
(24)
Propositio 4.
(25) Cf.
ibid.
(26) Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium,
7.
(27) Carta
enc. Mysterium fidei (3 de setembro de 1965): AAS 57 (1965), 764.
(28) Ibid.: l.c., 766.
(29)
Propositio 4.
(30)
Discurso na última sessão pública do Concílio Vaticano II (7 de dezembro de
1965): AAS 58 (1966), 58.
(31) Cf. João
Paulo II, Exort. Ap. Reconciliatio et paenitentia (2 de dezembro de
1984), 16: AAS 77 (1985), 214-217.
(32) Cf.
Propositio 61.
(33)
Propositio 29.
(34) Cf. Bula Sacrosancti apostolatus cura (11 de agosto de 1670), par. 3: Bullarium
Romanum, 26VII, 42.
(35) Podem-se
citar, entre outros: os mártires João Brebeuf e seus sete companheiros, Roque
González e seus companheiros; os santos: Isabel Ann Seton, Margarida Bourgeoys,
Pedro Claver, João del Castillo, Rosa Filippina Duchesne, Margarida d'Youville,
Francisco Febres Cordero, Tereza Fernández Solar dos Andes, João Macías, Turíbio
de Mogrovejo, Ezequiel Moreno y Diaz, João Nepomuceno Neumann, Maria Ana de
Jesus Paredes y Flores, Martinho de Porres, Afonso Rodriguez, Francisco Solano,
Francisca Xavier Cabrini; os beatos: José de Anchieta, Pedro de S. José de
Betancourt, João Diego, Catarina Drexel, Maria da Encarnação Rosal, Rafael
Guizar Valencia, Dina Bélanger, Alberto Hurtado Cruchaga, Elias do Socorro
Nieves, Maria Francisca de Jesus Rubatto, Mercedes de Jesus Molina, Narcisa de
Jesus Martillo Morán, Miguel Agostinho Pro, Maria de S. José Alvarado Cardozo,
Junípero Serra, Kateri Tekawitha, Laura Vicuña, Antônio de Sant'Anna Galvão e
tantos outros beatos que são invocados com fé e devoção pelos povos da América
(cf. Instrumentum laboris, 17).
(36) Cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 50.
(37) Propositio 31.
(38) Propositio 30.
(39) N. 37: AAS 87 (1995), 29; cf. Propositio 31.
(40) Propositio 21.
(41) Cf. ibid.
(42) Cf. ibid.
(43) Cf.
ibid.
(44) Cf.
Propositio 18.
(45)
Propositio 19.
(46) Decr.
sobre as Igrejas Orientais Católicas Orientalium Ecclesiarum, 5; cf. Código
dos Cânones das Igrejas Orientais, cân. 28; Propositio, 60.
(47) Cf. João
Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 34: AAS 79 (1987), 406; Sínodo dos Bispos, Assembléia Especial para a Europa, Decl. Ut testes simus Christi qui nos liberavit (13 de dezembro de 1991) III,
7: L'Osservatore Romano (ed. port. de 29 de dezembro de 1991), 6.
(48) Cf.
Propositio 60.
(49) Cf.
Propositiones 23 e 24.
(50)
Propositio 73.
(51)
Propositio 72; cf. João Paulo II, Carta enc. Centesimus annus (1 de
maio de 1991), 46: AAS 83 (1991), 850.
(52) Cf.
Sínodo dos Bispos, Assembléia Especial para a Europa, Decl. Ut testes simus
Christi qui nos liberavit (13 de dezembro de 1991) I, 1; II,4; IV, 10:
L'Osservatore Romano (ed. port. de 29 de dezembro de 1991), 3, 4-5, 7-8.
(53)
Propositio 72.
(54) Ibid.
(55) Cf.
Propositio 74.
(56) Cf.
Carta Ap. Octogesima adveniens (14 de maio de 1971), 8-9: AAS 63
(1971), 406-408.
(57)
Propositio 35.
(58) Cf.
ibid.
(59)
Propositio, 75.
(60) Cf.
Pontifícia Comissão « Iustitia Et Pax », Ao serviço da comunidade humana: uma
consideração ética da dívida internacional (27 de dezembro de 1986):
L'Osservatore Romano (ed. port. de 8 de fevereiro de 1987), 5-8.
(61) Propositio 75.
(62) Propositio 37.
(63) N. 5: AAS 90 (1998), 152.
(64) Propositio 38.
(65) Ibid.
(66) Propositio 36.
(67) Cf. Ibid.
(68) Sínodo
dos Bispos, Segunda Assembléia geral extraordinária, Relação final Ecclesia
sub Verbo Dei mysteria Christi celebrans pro salute mundi (7 de dezembro de
1985), II, B, a, 2: L'Osservatore Romano (ed. port. de 22 de dezembro de
1985), 6.
(69)
Propositio 30.
(70)
Propositio 34.
(71) Ibid.
(72) Ibid.
(73) Cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 31.
(74) Cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et
spes, 76; João Paulo II, Exort. Ap. pós-sinodal Christifideles laici
(30 de dezembro de 1988), 42: AAS 81 (1989), 472-474.
(75)
Propositio 26.
(76) Ibid.
(77)
Propositio 28.
(78) Ibid.
(79) Ibid.
(80)
Propositio 27.
(81) Ibid.
(82) Cf.
ibid.
(83) Decr.
sobre a renovação da vida religiosa Perfectae caritatis, 7. Cf. João
Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de março de 1996),
8: AAS 88 (1996), 382.
(84)
Propositio 27.
(85) Cf.
Propositio 28.
(86) Cf.
Propositio 29.
(87) Cf.
Lumen gentium, V; Sínodo dos Bispos, Segunda Assembléia Geral
Extraordinária, Relação final Ecclesia sub Verbo Dei mysteria Christi
celebrans pro salute mundi (7 de dezembro de 1985) II, A, 4-5:
L'Osservatore Romano (ed. port. de 22 de dezembro de 1985), 6.
(88)
Propositio 29.
(89) Ibid.
(90)
Propositio 32.
(91) Cf. João
Paulo II, Carta Ap. Dies Domini (31 de maio de 1998), 40: AAS 90
(1998), 738.
(92)
Propositio 33.
(93) Cf.
Carta enc. Redemptor hominis (4 de março de 1979), 20: AAS 71
(1979) 309-316.
(94)
Propositio 33.
(95) Ibid.
(96) Ibid.
(97)
Propositio 40; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen
gentium, 2.
(98) Cf.
Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre
alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão, Communionis notio (28
de maio de 1992), 3-6: AAS 85 (1993), 839-841.
(99)
Propositio 40.
(100) Ibid.
(101) Conc.
Ecum. Vat. I, Const. dogm. sobre a Igreja de Cristo Pastor aeternus,
Prólogo: DS 3051.
(102) Conc.
Ecum. de Florença, Bula de união Exultate Deo (22 de novembro de 1439):DS 1314.
(103) Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11.
(104) Cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ministério e a vida dos presbíteros
Presbyterorum Ordinis, 5.
(105)
Propositio 41.
(106) Ibid.
(107) Cf.
Conc. Ecum. Tridentino, Ses. VII, Decr. sobre os sacramentos em geral,
cân. 9: DS 1609.
(108) Cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 26.
(109) Cf.
João Paulo II, Carta enc. Redemptor hominis (4 de março de 1979), 20:
AAS 71 (1979), 309-316.
(110)
Propositio 42. Cf. João Paulo II, Carta ap. Dies Domini (31 de maio
de 1998), 69: AAS 90 (1998), 755-756.
(111)
Propositio 41.
(112)
Propositio 42; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada Liturgia
Sacrosanctum Concilium, 14; Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium,
10.
(113) Cf.
Propositio 42.
(114)
Propositio 41.
(115) Cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam
actuositatem, 8.
(116) Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 23.
(117) Cf.
Decr. sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja Christus Dominus, 27;
Decr. sobre o ministério e a vida dos presbíteros Presbyterorum Ordinis, 7; Paulo VI, Motu proprio Ecclesiae sanctae (6 de agosto de 1966), I,
15-17: AAS 58 (1966), 766-767; Código de Direito Canônico, câns.
495, 502, 511; Código dos Cânones das Igrejas Orientais, câns. 264, 271,
272.
(118)
Propositio 43.
(119) Cf.
Propositio 45.
(120) Cf.
Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre
alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão, Communionis notio (28
de maio de 1992), 15-16; AAS 85 (1993), 847-848.
(121) Cf.
Propositio 45.
(122) Cf.
Propositio 44.
(123) Ibid.
(124) Ibid.
(125) Cf.
Propositio 60.
(126)
Propositio 49.
(127) Ibid.
(128) Ibid;
cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ministério e a vida dos Presbíteros
Presbyterorum Ordinis, 14.
(129) Propositio 49.
(130) Ibid.
(131) Cf. Propositio 51.
(132) Propositio 48.
(133)
Propositio 51.
(134)
Propositio 52.
(135) Cf.
ibid.
(136) Cf.
ibid.
(137) Cf.
Propositio 46.
(138) Ibid.
(139) Ibid.
(140)
Propositio 35.
(141) Cf. IV
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano: Nova evangelização,
promoção humana e cultura cristã, Santo Domingo, Outubro de 1992, 58.
(142) Cf.
João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de dezembro de 1990), 51: AAS 83 (1991), 298-299.
(143)
Propositio 35.
(144) Cf.
Propositio 46.
(145) Ibid.
(146) Cf.
Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 29; Paulo VI, Motu proprio Sacrum
Diaconatus Ordinem (18 de junho de 1967) I, 1: AAS 59 (1967), 699.
(147)
Propositio 50.
(148) Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 29.
(149) Cf.
Propositio 50; Congregação para a Educação Católica e Congregação para o
Clero, Instr. Ratio fundamentalis institutionis diaconorum permanentium e Directorium pro ministerio et vita diaconorum permanentium (22 de
fevereiro de 1998): AAS 90 (1998), 843-926.
(150) Cf.
Propositio 53.
(151) Ibid.;
cf. III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, Mensagem aos povos
da América Latina (Puebla 1979), n. 775.
(152) João
Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de março de 1996),
57: AAS 88 (1996), 429-430.
(153) Cf. ibid., 58: l.c., 430.
(154) Propositio 53.
(155) Ibid.
(156) Propositio 54.
(157) Ibid.
(158) Cf. Conc.
Ecum. Vat. II, Const.
dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 31.
(159)
Propositio 55; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen
gentium, 34.
(160)
Propositio 55.
(161) Cf.
ibid.
(162)
Propositio 56.
(163) Cf.
Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de dezembro de 1988), 23: AAS 81 (1989), 429-433.
(164) Cf.
Congregação para o clero e Outras, Instr. Ecclesiae de mysterio (15 de
agosto de 1997): AAS 89 (1997), 852-877.
(165) Propositio 56.
(166) Ibid.
(167) Cf. Carta
ap. Mulieris dignitatem
(15 de agosto de 1988): AAS 80 (1988), 1653-1729; Carta às mulheres (29 de junho de 1995): AAS 87 (1995), 803-812; Propositio 11.
(168) Carta
ap. Mulieris dignitatem ( 15 de agosto de 1988), 31: AAS 80
(1988), 1728.
(169)
Propositio 11.
(170) Ibid.
(171) Ibid.
(172) Ibid.
(173) Cf.
João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de
dezembro de 1988), 49: AAS 81 (1989), 486-489.
(174)
Propositio 12.
(175) Ibid.
(176) Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11.
(177) Ibid.
(178) Cf.
Propositio 12.
(179)
Propositio 14.
(180) Ibid.
(181) Cf.
ibid.
(182)
Propositio 15.
(183) Ibid.
(184) Ibid.
(185) Cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 3.
(186)
Propositio 61.
(187) Ibid.
(188) Decr.
sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 3.
(189) Cf.
Propositio 62.
(190) Cf.
Sínodo dos Bispos, Assembléia Especial para a Europa, Decl. Ut testes simus
Christi qui nos liberavit (13 de dezembro de 1991), III, 8: L'Osservatore
Romano (ed. port. de 29 de dezembro de 1991), p. 6.
(191)
Propositio 62.
(192) Cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Decl. sobre as relações da Igreja com as religiões não
cristãs Nostra aetate, 2.
(193) Cf.
Propositio 63.
(194) Ibid.
(195)
Propositio 67.
(196) Cf.
ibid.
(197)
Propositio 68.
(198) Ibid.
(199)
Propositio 69.
(200) Cf.
Sínodo dos Bispos, Segunda Assembléia geral extraordinária, Relação final
Ecclesia sub verbo Dei mysteria Christi celebrans pro salute mundi (7 de
dezembro de 1985), II, B, a, 4: L'Osservatore Romano (ed. port. de 22 de
dezembro de 1985), 6; João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de
outubro de 1992): AAS 86 (1994), 117; Catecismo da Igreja Católica, 24.
(201) Propositio 69.
(202) Propositio 74.
(203) Ibid.
(204) Cf. Propositio 67.
(205) Propositio 70.
(206) Ibid.
(207) Cf. Propositio 73.
(208) Cf. Propositio 70.
(209) Propositio 72.
(210) Ibid.
(211) Ibid.
(212) III
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, Mensagem aos povos da
América Latina (Puebla 1979), n. 306.
(213)
Propositio 73.
(214) Cf.
Congregação para a Doutrina da Fé, Instr. Libertatis conscientia (22 de
março de 1986), 68: AAS 79 (1987), 583-584.
(215)
Propositio 73.
(216) Cf.
Propositio 75.
(217) Carta
ap. Tertio millennio adveniente (10 de novembro de 1994), 51: AAS
87 (1995), 36.
(218)
Propositio 75.
(219) Ibid.
(220)
Propositio 37.
(221) Cf.
ibid. Sobre a publicação destes textos, cf. João Paulo II, Motu proprio
Apostolos suos (21 de maio de 1998), n. IV: AAS 90 (1998), 657.
(222) Cf. Propositio 38.
(223) Cf. ibid.
(224) Cf. ibid.
(225) Cf. ibid.
(226) Cf.
Pontifício Conselho « Justiça e Paz », O comércio internacional de armas. Uma
reflexão ética (1 de maio de 1994): Ench. Vat. 14, nn. 1071-1154.
(227) Cf.
Propositio 76.
(228) Ibid.
(229)
Catecismo da Igreja Católica, n. 2267, que cita João Paulo II, Carta enc.
Evangelium
vitae (25 de marzo de
1995), 56: AAS 87 (1995), 463-464.
(230) Cf. Propositio 13.
(231) Cf. ibid.
(232) Cf. ibid.
(233) Ibid.
(234) Cf. Propositio 19.
(235) Cf. Propositio 18.
(236) Propositio 20.
(237) Cf.
Congregação para os Bispos, Instr. Nemo est (22 de agosto de 1969), n.
16: AAS 61 (1969), 621-622; Código de Direito Canônico, câns. 294
e 518; Código dos Cânones das Igrejas Orientais, cân. 280, § 1.
(238)
Propositio 20.
(239) João
Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de dezembro de
1988), 33: AAS 81 (1989), 453.
(240) Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 31.
(241) João
Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de dezembro de
1988), 34: AAS 81 (1989), 455.
(242) Cf. ibid., 2: l.c., 394-397.
(243) Paulo VI,
Exort. ap. Evangelii
nuntiandi (8 de
dezembro de 1975), 14: AAS 68 (1976), 13.
(244) Cf.
Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de dezembro de 1988), 34: AAS 81 (1989), 455.
(245)
Discurso à Assembléia do CELAM (9 de março de 1983), III: AAS 75
(1983), 778.
(246) Cf.
Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de dezembro de 1975), 22:
AAS 68 (1976), 20.
(247) Cf.
ibid., 7: l.c., 9-10.
(248) João
Paulo II, Mensagem ao CELAM (14 de setembro de 1997), 6: L'Osservatore
Romano (ed. portuguesa de 4 de outubro de 1997), 11.
(249)
Propositio 8.
(250) Cf.
Propositio 57.
(251) Cf.
Propositio 16.
(252) Ibid.
(253)
Propositio 2.
(254) Ibid.
(255) Ibid.
(256)
Propositio 10.
(257) Relação
final Ecclesia sub verbo Dei mysteria Christi celebrans pro salute mundi
(7 de dezembro de 1985), II, B, a, 4: L'Osservatore Romano (ed. port. de
22 de dezembro de 1985), 6.
(258) Cf.
Carta ap. Lætamur magnopere (15 de agosto de 1997): AAS 89 (1997),
819-821.
(259) Congr.
do Clero, Direttorio generale per la catechesi (15 de agosto de 1997),
Libreria Editrice Vaticana, 1997.
(260) Propositio 10.
(261) Ibid.
(262) Ibid.
(263) Exort. ap.
Evangelii nuntiandi (8
de dezembro de 1985), 20: AAS 68 (1976), 19.
(264)
Propositio 17.
(265) Cf.
ibid.
(266) Cf.
ibid.
(267) Cf.
Propositio 22.
(268)
Propositio 23.
(269) Cf.
ibid.
(270) Ibid.
(271)
Propositio 24.
(272) Ibid.
(273) Ibid.
(274) Cf.
Propositio 22.
(275) Cf.
ibid.
(276) Ibid.
(277) Cf.
Propositio 25.
(278) Cf. ibid.
(279) Cf. ibid.
(280) Cf. Instrumentum laboris, 45.
(281) Cf.
Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 3.
(282) Cf.
Propositio 64.
(283) Cf.
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 3.
(284) Cf.
Propositio 65.
(285) Ibid.
(286) Cf.
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, Nova evangelização,
promoção humana e cultura cristã, Santo Domingo, Outubro de 1992, 139-152.
(287) Cf.
Propositio 65.
(288) Cf.
Propositio 86.
(289) Ibid.
(290)
Propositio 58.
(291) Ibid.
(292) Ibid.
(293) Cf.
ibid.
(294) Conc.
Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11.
(295)
Propositio 12.
Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, ao sabor das paixões, amontoa- rão para si mestres, conforme suas próprias concupiscências e des- viarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas".(2Tm 4,3-4).