Portanto, o Antigo Testamento é
formado por 46 livros e o Novo Testamento reúne 27 livros.
A Bíblia foi escrita em três línguas
diferentes: o hebraico, o aramaico e o grego (Koiné). Quase a totalidade do
Antigo Testamento foi redigida em hebraico, embora existam algumas palavras,
trechos ou livros em aramaico e grego. Quanto ao Novo Testamento, este foi
completamente redigido em grego - a única exceção parece ser o livro de
Mateus, originariamente escrito em aramaico, contudo esse original foi perdido
de maneira que resta-nos hoje a versão em grego.
Quanto ao Antigo Testamento, a Bíblia
protestante possui sete livros a menos que a Bíblia católica. Ocorre que a
Igreja Católica, desde o início, utilizou a tradução grega da Bíblia
chamada Septuaginta ou Versão dos Setenta (LXX). Essa tradução para o grego
foi feita no séc. III aC, em Alexandria (Egito), por setenta e dois sábios em
virtude da existência de uma grande comunidade judaica nessa cidade que já não
mais compreendia a língua hebraica. Na época em que foi feita essa tradução,
a lista (cânon) dos livros sagrados ainda não estava concluída, de forma que
essa versão acabou abrigando outros livros, ficando mais extensa. Essa foi a Bíblia
adotada pelos Apóstolos de Jesus em suas pregações e textos: das 350 citações
que o Novo Testamento faz dos livros do Antigo Testamento, 300 concordam
perfeitamente com a versão dos Setenta, inclusive quanto às diferenças com o
hebraico.
Por volta do ano 100 dC, os judeus da
Palestina se reuniram em um sínodo na cidade de Jâmnia e estabeleceram alguns
critérios para formarem o seu cânon bíblico. Esses critérios eram os
seguintes:
O livro não poderia ter sido
escrito fora do território de Israel.
O livro não poderia conter
passagens ou textos em aramaico ou grego, mas apenas em hebraico.
O livro não poderia ter sido
redigido após a época de Esdras (458-428 aC).
O livro não poderia contradizer a
Lei de Moisés (Pentateuco).
Assim, os livros escritos por aquela
enorme comunidade judaica do Egito não foram reconhecidos pelo sínodo de Jâmnia,
por causa de seus critérios ultranacionalistas. Também em virtude desses critérios,
o livro de Ester - que em parte alguma cita o nome de Deus - foi reconhecido
como inspirado mas somente a parte escrita em hebraico; os acréscimos gregos,
que incluíam orações e demonstravam a real presença de Deus como condutor
dos fatos narrados, foram completamente desprezados, deixando uma lacuna irreparável.
Os livros não reconhecidos pelo sínodo
da Jâmnia e que aparecem na tradução dos Setenta são tecnicamente chamados
de deuterocanônicos, em virtude de não terem sido unânimemente
aceitos. São, portanto, deuterocanônicos no Antigo Testamento os seguintes
livros: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, 1Macabeus e 2Macabeus,
além das seções gregas de Ester e Daniel.
Com a dúvida levantada pelo sínodo
de Jâmnia, alguns cristãos passaram a questionar a inspiração divina dos
livros deuterocanônicos. Os Concílios regionais de Hipona (393), Cartago III
(397) e IV (419), e Trulos (692), bem como os Concílios Ecumênicos de Florença
(1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870), confirmaram a validade dos deuterocanônicos
do Antigo Testamento, baseando-se na autoridade dos Apóstolos e da Sagrada
Tradição.
Da mesma forma como existem livros
deuterocanônicos no Antigo Testamento, também o Novo Testamento contém livros
e extratos que causaram dúvidas até o séc. IV, quando a Igreja definiu, de
uma vez por todas, o cânon do Novo Testamento. São deuterocanônicos no Novo
Testamento os livros de Hebreus, Tiago, 2Pedro, Judas, 2João, 3João e
Apocalipse, além de alguns trechos dos evangelhos de Marcos, Lucas e João.
Com o advento da Reforma Protestante,
os evangélicos - a partir do séc. XVII1 - passaram a omitir os
livros deuterocanônicos do Antigo Testamento. Alguns grupos mais radicais
chegaram - sem sucesso - a tentar retirar também os livros deuterocanônicos do
Novo Testamento. É de se observar, dessa forma, que caem em grande contradição
por não aceitarem os deuterocanônicos do Antigo Testamento enquanto aceitam,
incontestavelmente, os deuterocanônicos do Novo Testamento.
1 O próprio Lutero
(fundador da Reforma) traduziu e publicou, para a língua alemã, os livros
deuterocanônicos do Antigo Testamento.
Fonte: Site: Agnus Dei.