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CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
PRIMEIRA PARTE - SEGUNDA SEÇÃO
A
PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
OS SÍMBOLOS DA FÉ
PARÁGRAFO 3 - O TODO-PODEROSO
268 De todos os atributos divinos, só a onipotência de Deus é mencionada no Símbolo:
222
confessá-la é de grande importância para nossa vida. Nós cremos que ela
é universal, pois Deus que criou tudo
,
governa tudo e pode tudo, é também de amor, pois Deus é nosso Pai
;
e é misteriosa, pois somente a fé pode discerni-la, quando (a onipotência
divina) "se manifesta na fraqueza" (2Cor 12,9
).
"ELE FAZ TUDO O QUE QUER" (Sl 115,3)
269 As Sagradas Escrituras professam reiteradas vezes o poder universal de Deus. Ele é chamado "o Poderoso de Jacó" (Gn 49,24; Is 1,24 e.o.), "o Senhor dos exércitos", "o Forte, o Valente” (Sl 24,8-10). Se Deus é Todo-Poderoso "no céu e na terra" (Sl 135,6), é
303 porque os fez. Por isso, nada lhe é
impossível
,
e Ele dispõe à vontade de sua obra
;
Ele é o Senhor do universo, cuja ordem estabeleceu, ordem esta que lhe permanece
inteiramente submissa e disponível; Ele é o Senhor da história: governa os
corações e os acontecimentos à vontade
.
"Teu grande poder está sempre a teu serviço, e quem pode resistir à força de teu
braço?" (Sb 11,21).
"TU TE COMPADECES DE TODOS, PORQUE TUDO PODES" (SB 11,23)
270 Deus é o Pai Todo-Poderoso. Sua paternidade e seu poder iluminam-se mutuamente.
2777 Com efeito, ele mostra sua onipotência paternal pela maneira como
cuida de nossas necessidades
,
pela adoção filial que nos outorga ("Serei para vós um pai, e sereis para
1441 mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso": 2Cor 6,18), e finalmente por sua misericórdia infinita, pois mostra seu poder no mais alto grau, perdoando livremente os pecados.
271
A onipotência divina de modo algum é arbitrária. "Em Deus o poder e a
essência, a vontade e a inteligência, a sabedoria e a justiça são uma só e mesma
coisa, de sorte que nada pode estar no poder divino que não possa estar na
vontade justa de Deus ou em sua inteligência sábia
".
MISTÉRIO DA APARENTE IMPOTÊNCIA DE DEUS
272 A fé em Deus Pai Todo-Poderoso pode ser posta à prova pela experiência do mal e do
309,412 sofrimento. Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o mal. Ora, Deus
609 Pai revelou sua Onipotência da maneira mais misteriosa no rebaixamento voluntário e na Ressurreição de seu Filho, pelos quais venceu o mal. Assim, Cristo crucificado é "poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (1Cor 1,25). Foi na Ressurreição
648 e na exaltação de Cristo que o Pai "desdobrou o vigor de sua força" e manifestou "que extraordinária grandeza reveste seu poder para nós, os que cremos" (Ef 1,19-22).
273 Somente a fé pode aderir aos caminhos misteriosos onipotência de Deus. Esta fé
148 gloria-se de suas fraquezas a fim de atrair sobre si o poder de
Cristo
,
Desta fé, a Virgem Maria é o modelo supremo, ela que acreditou que "nada
impossível a Deus" (Lc 1,37) e que pôde engrandecer o Senhor. "O Todo-Poderoso
fez grandes coisas em meu favor, seu nome é Santo" (Lc 1,49).
274 "Por isso, nada é mais adequado para consolidar nossa Fé e nossa esperança do que a
1814, convicção profundamente gravada em nossas almas de que nada é impossível a Deus. Pois
1817 tudo o que [o Credo] a seguir nos propor a crer - as
maiores coisas, as mais incompreensíveis, bem como as que mais ultrapassam as
leis ordinárias da natureza, desde que nossa: razão tenha pelo menos idéia da
onipotência divina, ela admitirá facilmente e sem qualquer hesitação
".
RESUMINDO
275 Juntamente com Jó, o justo, nós confessamos: "Reconheço que tudo podes e que nenhum dos teus desígnios fica frustado" (Jó 42,2).
276
Fiel ao testemunho da Escritura, a Igreja dirige com freqüência sua prece
ao "Deus Todo-Poderoso e eterno" ("omnipotens sempiterne Deus..."), crendo
firmemente que "nada é impossível a Deus" (Lc 1,37
)
277
Deus manifesta sua onipotência convertendo-nos dos nossos pecados e
restabelecendo-nos em sua amizade pela graça ("Deus, qui omnipotentiam tuam
parcendo maxime et miserando manifestas... - O Deus, que manifestais o vosso
poder sobretudo na misericórdia
".
278 Se não crermos que o amor de Deus é Todo-Poderoso, como crer que o Pai pôde nos criar, o Filho, remir-nos, o Espírito, santificar-nos?
PARÁGRAFO 4 - O CRIADOR
279
"No princípio, Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Com essas solenes
palavras inicia-se a Sagrada Escritura. O Símbolo da fé retoma estas palavras
confessando Deus Pai Todo-Poderoso como "O Criador do céu e da terra
",
"de todas as coisas visíveis e invisíveis
".
Por isso, falaremos primeiro do Criador, em seguida de sua criação e,
finalmente, da queda no pecado, do qual Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio
resgatar-nos.
280 A criação é o fundamento de "todos os desígnios salvíficos de Deus", "o começo da
288
história da salvação
",
que culmina em Cristo. Inversamente, o mistério de Cristo é a luz decisiva sobre
o mistério da criação; ele revela o fim em vista do qual, "no princípio, Deus
1043 criou o céu e a terra" (Gn 1,1): desde o início, Deus tinha em vista a glória da
nova criação em Cristo .
281 É por isso que as leituras da Vigília Pascal, celebração da criação nova em Cristo, começam pelo relato da
1095 criação; da mesma forma, na liturgia
bizantina, o relato da criação constitui sempre a primeira leitura das vigílias
das grandes festas do Senhor. Segundo o testemunho dos antigos, a instrução dos
catecúmenos para o batismo segue o mesmo caminho .
I. A catequese sobre a criação
282 A catequese sobre a criação se reveste de uma importância capital. Ela diz respeito aos próprios fundamentos da vida humana e cristã, pois explicita a resposta da fé cristã à pergunta elementar feita pelos homens de todas as épocas: "De onde viemos?" "Para onde vamos?" "Qual é a nossa origem?" "Qual é o nosso fim?" "De onde vem e para onde vai tudo o que existe?" As duas questões, a da origem e a do fim, são inseparáveis.
1730 São decisivas para o sentido e a orientação de nossa vida e de nosso agir.
283 A questão das origens do mundo e do homem é objeto de numerosas pesquisas científicas que enriqueceram
159 magnificamente nossos conhecimentos sobre a idade e as dimensões do cosmo, o devir das formas vivas, o
341 aparecimento do homem. Essas descobertas nos convidam a admirar tanto mais a grandeza do Criador, a render-lhe graças por todas as suas obras, pela inteligência e pela sabedoria que dá aos estudiosos e aos pesquisadores. Com Salomão, estes últimos podem dizer: "Ele me deu um conhecimento infalível dos seres para entender a estrutura do mundo, a atividade dos elementos... pois a Sabedoria, artífice do mundo, mo ensinou" (Sb 7,17.22).
284 O grande interesse reservado a essas pesquisas é fortemente estimulado por uma questão de outra ordem e que ultrapassa o âmbito próprio das ciências naturais. Não se trata somente de saber quando e como surgiu materialmente o cosmo, nem quando o homem apareceu, mas, antes, de descobrir qual é o sentido de tal origem: se ela é governada pelo acaso, um destino cego, uma necessidade anônima, ou por um Ser transcendente, inteligente e bom, chamado Deus. E, se o mundo provém da sabedoria e da bondade de Deus, por que existe o mal? De onde vem? Quem é o responsável por ele? Haverá como libertar-se dele?
285 Desde os inícios, a fé‚ cristã tem-se confrontado com respostas diferentes da sua no que diz respeito à questão das origens. Assim, encontram-se nas religiões e nas culturas antigas numerosos mitos acerca das
295 origens. Certos filósofos afirmaram que tudo‚ é Deus, que o mundo é Deus, ou que o devir do mundo é o devir de Deus (panteísmo); outros afirmaram que o mundo é uma emanação necessária de Deus, emanação esta que deriva dessa fonte e volta a ela; outros ainda afirmaram a existência de dois princípios eternos, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, em luta permanente entre si (dualismo, maniqueísmo); segundo algumas dessas concepções, o mundo (pelo menos o mundo material) seria mau, produto de uma queda, e portanto deve ser rejeitado ou superado (gnose); outros admitem que o mundo tenha sido feito por Deus, mas à maneira de um relojoeiro que, uma vez terminado o serviço, o teria abandonado a si mesmo (deísmo); outros, finalmente, não aceitam nenhuma origem transcendente do mundo, vendo neste o mero jogo de uma matéria que teria existido sempre
28 (materialismo). Todas essas tentativas dão prova da permanência e da universalidade da questão das origens. Esta busca é própria do homem.
286 Sem dúvida, a inteligência humana já pode encontrar uma resposta para a questão das
32 origens. Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser conhecida com certeza por meio
37 de suas obras, graças à luz da razão humana
,
ainda que este conhecimento seja muitas vezes obscurecido e desfigurado pelo
erro. É por isso que a fé vem confirmar e iluminar a razão na compreensão
correta desta verdade: "Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram
formados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem sua
origem em coisas manifestas" (Hb 11,3).
287 A verdade da criação é tão importante para toda a vida humana que Deus, em sua
107 ternura, quis revelar a seu Povo tudo o que é útil conhecer a este
respeito. Para além do conhecimento natural que todo homem pode ter do
Criador
,
Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da criação. Ele, que escolheu
os patriarcas, que fez Israel sair do Egito e que, ao escolher Israel, o criou e
o formou
,
se revela como Aquele a quem pertencem todos os povos da terra, e a terra
inteira, como o único que "fez o céu e a terra" (Sl 115,15; 124,8; 134,3).
288 Assim, a revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da Aliança de
280 Deus, o Único, com o seu Povo. A criação é revelada como sendo o
primeiro passo rumo a esta Aliança, como o testemunho primeiro e universal do
amor Todo-Poderoso de Deus
.
Além disso, a verdade da criação se exprime com um vigor crescente na mensagem
dos
2569
profetas
,
na oração dos salmos
e
da liturgia, na reflexão da sabedoria
do
Povo eleito.
289 Entre todas as palavras da Sagrada Escritura sobre a criação, os três primeiros
390 capítulos do Gênesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista literário, esses textos podem ter diversas fontes. Os autores inspirados puseram-nos no começo da Escritura, de sorte que eles exprimem, em sua linguagem solene, as verdades da criação, da origem e do fim desta em Deus, de sua ordem e de sua bondade, da vocação do homem e finalmente do
111 drama do pecado e da esperança da salvação. Lidas à luz de Cristo, na unidade da Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja, essas palavras são a fonte principal para a catequese dos Mistérios "princípio": criação, queda, promessa da salvação.
II. A criação - obra da Santíssima Trindade
290 "No princípio, Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Só ele é Criador (o verbo “criar” - em hebraico, ''bara'' sempre tem como sujeito
326 Deus). Tudo o que existe (expresso pela fórmula "o céu e a terra") depende daquele que lhe dá o ser.
291 "No princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por ele, e sem ele
241 nada foi feito"(Jo 1,1-3). O Novo Testamento revela que Deus criou tudo por meio do
331 Verbo Eterno, seu Filho bem-amado. Nele "foram criadas todas coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste" (Cl 1,16-17).
703 A fé da Igreja afirma outrossim a
ação criadora do Espírito Santo: Ele é o "doador de vida
"
"o Espírito Criador" ("Veni, Creator Spiritus"), a "Fonte de todo bem
".
292
Insinuada no Antigo Testamento
,
revelada na Nova Aliança, a ação criadora do Filho e do Espírito,
inseparavelmente una com a do Pai, é claramente afirmada pela regra de fé da
Igreja: "Só existe um Deus...: ele é o Pai, é Deus, é o Criador, é o Autor, é o
Ordenador. Ele fez todas as coisas por si mesmo, isto é, pelo seu Verbo e
Sabedoria
",
699 "pelo Filho e pelo Espírito", que são como "suas mãos" . A criação é a obra comum
da
257 Santíssima Trindade.
III. "O mundo foi criado para a glória de Deus"
293 Eis uma verdade fundamental que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e de
337,344 celebrar: "O mundo foi criado para a glória de Deus
".
Deus criou todas as coisas, explica São Boaventura, "non propter gloriam
augendam, sed propter gloriam manifestandam et propter gloriam suam
communicandam - não para aumentar a [sua]
1361 glória, mas para manifestar a glória e
para comunicar a sua glória
".
Pois Deus não tem outra razão para criar a não ser seu amor e sua bondade:
"Aperta manu clave amoris creaturae prodierunt - Aberta a mão pela chave do
amor, as criaturas surgiram
".
E o Concílio Vaticano I explica:
759 Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e por sua "virtude onipotente", não para
aumentar sua felicidade nem para adquirir sua perfeição, mas para manifestar essa perfeição
por meio dos bens que prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente livre, criou
simultaneamente no início do
tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal
.
294 A glória de Deus consiste em que se realize esta manifesta o e esta comunicação de
2809 sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós "filhos adotivos por Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça" (Ef 1,5-
1722 6): "Pois a glória de Deus é o homem vivo,
e a vida do homem é a visão de Deus: se já a revelação de Deus por meio da
criação proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a
manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que vêem a Deus
".
O fim último da criação é que Deus, "Criador do universo, tornar-se-á “tudo
1992 em
todas as coisas' (1Cor 15,28), procurando, ao mesmo tempo, a sua glória e a
nossa felicidade
".
IV. O mistério da criação
DEUS CRIA POR SABEDORIA E POR AMOR
295
Cremos que Deus criou o mundo segundo sua sabedoria
.
O mundo não é o produto de uma necessidade qualquer, de um destino cego ou do
acaso. Cremos que o mundo
216 procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participarem de seu ser, de
1951 sua sabedoria e de sua bondade: "Pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade é que elas existiam e foram criadas”. (Ap 4,11). "Quão numerosas são as tuas obras, Senhor, e todas fizeste com sabedoria!" (Sl 104,24). "O Senhor é bom para todos, compassivo com todas as suas obras" (Sl 145,9).
DEUS CRIA "DO NADA"
296 Cremos que Deus não precisa de nada preexistente nem de nenhuma ajuda para criar
285
.
A criação também não é uma emanação necessária da substância divina
.
Deus cria livremente "do nada
":
Que haveria de extraordinário se Deus tivesse tirado o mundo de
uma matéria preexistente? Um artífice humano, quando se lhe dá um material, faz
dele tudo o que quiser. Ao passo que o poder de Deus se mostra precisamente
quando parte do nada para fazer tudo o que quer
.
297 A fé na criação a partir "do nada" é atestada na Escritura como uma verdade cheia de
338 promessa e de esperança. Assim a mãe dos sete filhos os encoraja ao martírio:
Não sei como é que viestes a aparecer no meu seio, nem fui eu que vos dei o espírito e a vida, nem também fui eu que dispus organicamente os elementos de cada um de vós. Por conseguinte, foi o Criador do mundo que formou o homem em seu nascimento e deu origem a todas as coisas, quem vos retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida, uma vez que agora fazeis pouco caso de vós mesmos, por amor às leis dele... Eu te suplico, meu filho, contempla o céu e a terra e observa tudo o que neles existe. Reconhece que não foi de coisas existentes que Deus os fez, e que também o gênero humano surgiu da mesma forma (2Mc 7,22-23.28).
298 Uma vez que Deus pôde criar do nada, pode, pelo Espírito Santo, dar a vida da alma a
1375 pecadores, criando neles um coração puro ,
e a vida do corpo aos falecidos, pela
992
ressurreição, Ele, "que faz viver os
mortos e chama à existência as coisas que não existem" (Rm 4,17). E uma vez que,
pela sua Palavra, pôde fazer resplandecer a luz a partir das trevas
,
pode também dar a luz da fé àqueles que a desconhecem
.
DEUS CRIA UM MUNDO ORDENADO E BOM
299 Já que Deus cria com sabedoria, a criação é ordenada: "Tu dispuseste tudo com
339
medida número e peso" (Sb 11,20). Feita no e por meio do Verbo eterno,
"imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao
homem, imagem de Deus
,
41 chamado a uma relação pessoal com Ele. Nossa inteligência, que participa da luz do
1147 Intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz por sua criação
,
sem dúvida não sem grande esforço e num espírito de humildade e de respeito
diante do Criador e de sua obra
.
Originada da bondade divina, a criação participa desta bondade: "E Deus viu que
isto
358 era bom... muito bom" (Gn 1,4.10.12.18.21.31). Pois a criação é querida por Deus como um dom dirigido ao homem, como uma herança que lhe é destinada e confiada. Repetidas
2415 vezes a Igreja teve de defender a bondade da criação,
inclusive do mundo material
.
DEUS TRANSCENDE A CRIAÇÃO E ESTÁ PRESENTE NELA
300
Deus é infinitamente maior que todas as suas obras
:
"Sua majestade é mais alta do
42,223 que os céus" (Sl 8,2), "é incalculável a sua
grandeza" (S1 145,3). Mas, por ser o Criador soberano e livre, causa primeira de
tudo o que existe, Ele está presente no mais íntimo das suas criaturas: "Nele
vivemos, nos movemos e existimos" (At 17,28). Segundo as palavras de Santo
Agostinho, ele é "superior summo meo et interior intimo meo - maior do que o que
há de maior em mim e mais íntimo do que o que há de mais íntimo em mim
".
DEUS MANTÉM E SUSTENTA A CRIAÇÃO
301 Com a criação, Deus não abandona sua criatura a ela mesma. Não somente lhe dá o
1951 ser e a existência, mas também a sustenta a todo instante no ser, dá-lhe o dom de agir e a
396 conduz a seu termo. Reconhecer esta dependência completa em relação ao Criador é uma fonte de sabedoria e liberdade, alegria e confiança:
Sim, tu amas tudo o que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito. E como poderia subsistir alguma coisa se não a tivesses querido? Como conservaria a sua existência se não a tivesses chamado? Mas a todos perdoas, porque são teus: Senhor, amigo da vida! (Sb 11,24-26)
V. Deus realiza o seu projeto: a divina providência
302 A criação tem sua bondade e sua perfeição próprias, mas não saiu completamente acabada das mãos do Criador. Ela é criada "em estado de caminhada" ("in statu viae") para uma perfeição última a ser ainda atingida, para a qual Deus a destinou. Chamamos de divina providência as disposições pelas quais Deus conduz sua criação para esta perfeição:
Deus conserva e governa com sua providência tudo o
que criou; ela se estende "com vigor de um extremo ao outro e governa o universo
com suavidade" (Sb 8,1). Pois "tudo está nu e descoberto aos seus olhos" (Hb
4,13), mesmo os atos dependentes da ação livre das criaturas
.
303 O testemunho da Escritura é unânime: a solicitude da divina providência é concreta e direta, toma cuidado de tudo, desde as mínimas coisas até os grandes acontecimentos do mundo e da história. Com vigor, os livros sagrados afirmam a soberania absoluta de Deus no curso dos acontecimentos: "O nosso Deus está no céu e faz tudo o que deseja" (S1
269 115,3); e de Cristo se diz: "O que abre e ninguém mais fecha, e, fechando, ninguém mais abre" (Ap 3,7). "Muitos são os projetos do coração humano, mas é o desígnio do Senhor que permanece firme" (Pr 19,21).
304 Assim vemos o Espírito Santo, autor principal da Escritura, atribuir muitas vezes ações a Deus, sem
mencionar causas segundas. Esta não é uma "maneira de falar" primitiva, mas uma forma profunda de lembrar o
2568 primado de
Deus e o seu senhorio absoluto sobre a história e o mundo
e
de
assim
educar para a confiança nele. A oração dos Salmos é a grande escola desta
confiança
.
305 Jesus pede uma entrega filial à providência do Pai Celeste, que cuida das mínimas
2115
necessidades de seus filhos: "Por isso, não andeis preocupados, dizendo:
Que iremos comer? Ou, que iremos beber?... Vosso Pai celeste sabe que tendes
necessidade de todas essas coisas. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus
sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6,31-33
).
A PROVIDÊNCIA E AS CAUSAS SEGUNDAS
306 Deus é o Senhor soberano de seus desígnios. Mas, para a realização dos mesmos,
1884 serve-se também do concurso das criaturas. Isso não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e da bondade do Deus Todo-Poderoso. Pois Deus não somente dá às suas
1951 criaturas o existir, mas também a dignidade de agirem elas mesmas, de serem causas e princípios umas das outras e de assim cooperarem no cumprimento de seu desígnio.
307 Aos homens, Deus concede até de poderem participar livremente de sua providência,
106,373 confiando-lhes a responsabilidade de "submeter" a terra e de
dominá-la
.
Deus
1954 concede assim aos homens serem causas inteligentes e livres para completar a obra da
2427 Criação, aperfeiçoar sua harmonia para o bem deles e de seus próximos. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no
2738 plano divino, por suas ações, por suas orações, mas
também por seus sofrimentos
.
618,1505 Tornam-se então plenamente "cooperadores de Deus" (1Cor 3,9
)
e do seu Reino
.
308
Eis uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em todo o
agir de suas criaturas. E é a causa primeira que opera nas causas segundas e por
meio delas: "Pois é Deus quem opera em vós o querer e o operar, segundo a sua
vontade" (Fl 2,13
).
Longe
970 de diminuir a
dignidade da criatura, esta verdade a realça. Tirada do
nada pelo poder, sabedoria, bondade de Deus, a criatura não pode nada se for
cortada de sua origem, pois "a criatura sem o Criador se esvai
";
muito menos pode atingir seu fim último sem a ajuda da graça
.
A PROVIDÊNCIA E O ESCÂNDALO DO MAL
309 Se Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as
164,385 suas criaturas, por que então o mal existe? Para esta pergunta tão premente quão inevitável, tão dolorosa quanto misteriosa, não h uma resposta rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta pergunta: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que se antecipa ao homem por suas Alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pelo congraçamento da Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamado a uma vida bem-aventurada à qual as criaturas livres são convidadas antecipadamente a assentir, mas da qual podem, por um terrível mistério, abrir
2805 mão também antecipadamente. Não há nenhum elemento da mensagem cristã que não seja, por uma parte, uma resposta à questão do mal.
310 Mas por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não possa existir mal
412
algum? Segundo seu poder infinito, Deus sempre poderia criar algo
melhor
.
Todavia, em sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um
mundo "em estado de
1042, caminhada" para sua perfeição última. Este devir permite, no desígnio de Deus,
1050 juntamente com o aparecimento de determinados seres, também o desaparecimento de
342 outros, juntamente com o mais perfeito, também o menos
imperfeito, juntamente com as construções da natureza, também as destruições.
Juntamente com o bem físico existe, portanto, o mal físico, enquanto a criação
não houver atingido sua perfeição
.
311 Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para seu destino
396 último por opção livre e amor preferencial. Podem, no entanto, desviar-se. E, de fato,
1849 pecaram. Foi assim que o mal moral entrou
no
mundo, incomensuravelmente mais grave do que o mal físico. Deus não é de modo
algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal moral
. Todavia, permite-o,
respeitando a liberdade de sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele o
bem:
Pois o Deus Todo-Poderoso..., por ser soberanamente bom, nunca
deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom
para fazer resultar o bem do próprio ma1 .
312 Assim, com o passar do tempo, pode-se descobrir que Deus, em sua providência todo-poderosa, pode extrair um bem das conseqüências de um mal, mesmo moral, causado por suas criaturas: "Não fostes vós, diz José a seus irmãos, que me enviastes para cá, foi Deus; - o mal que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem a
598-600 fim de - salvar a vida de um povo
numeroso" (Gn 45,8; 50,20
).
Do maior mal moral jamais cometido, a saber, a rejeição e homicídio do Filho de
Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância de
sua graça
,
tirou o maior dos bens: a
1994 glorificação de Cristo e a nossa Redenção. Com isso, porém, o mal não se converte em um bem.
313 "Sabemos que, para os que amam a Deus, tudo concorre para o bem" (Rm 8,28).
227 O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade.
Assim, Sta. Catarina de Sena diz "àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que
lhes acontece": "Tudo procede do amor tudo está ordenado à salvação do homem, Deus
não faz nada que não seja para esta
finalidade
"
E Santo Tomás More, pouco antes de seu martírio, consola sua
filha: "Não pode acontecer nada que Deus não tenha querido. Ora, tudo o que ele
quer, por pior que possa parecer-nos, é o que há de melhor para nós
"
E Lady Juliana de Norwich: "Aprendi, portanto, pela graça de Deus,
que era preciso apegar-me com firmeza à fé e crer com não menor firmeza que
todas as coisas irão bem.... “Tu mesmo verás que qualquer tipo de circunstância
servirá para o bem” - Thou shalt see thyself that all MANNER of thing shall be
well 5555
"
314 Cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Mas os caminhos de sua providência muitas vezes nos são desconhecidos. Só no final, quando acabar o nosso
1040 conhecimento parcial, quando virmos Deus "face a face" (1 Cor 13,12), teremos pleno
227 conhecimento dos caminhos pelos quais, mesmo por meio dos dramas do mal e do pecado,
2550 Deus terá conduzido sua criação até o descanso
desse Sábado
definitivo,
em vista do qual criou o céu e a terra.
RESUMINDO
315 Na criação do mundo e dos homens, Deus colocou o primeiro e universal testemunho de seu amor Todo-Poderoso e de sua sabedoria, o primeiro anúncio de seu "desígnio benevolente", o qual encontra sua meta na nova criação em Cristo.
316 Embora a obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente verdade de fé que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível princípio da criação.
317 Só Deus criou o universo, livremente, diretamente, sem nenhuma ajuda.
318
Nenhuma criatura tem o poder infinito que é necessário para "criar" no
sentido próprio da palavra, isto é, produzir e dar o ser àquilo que não o tinha
de modo algum (chamar à existência "ex nihilo" "do nada"
).
319 Deus criou o mundo para manifestar e para comunicar sua glória. Que suas criaturas participem de sua verdade, de sua bondade e de sua beleza, é a glória para a qual Deus as criou.
320 Deus, que criou o universo o mantém na existência por seu Verbo, "este Filho que sustenta o universo com o poder de sua palavra" (Hb 1,3) e pelo seu Espírito Criador que dá a vida.
321 A Divina Providência são as disposições pelas quais Deus conduz com sabedoria e amor todas as criaturas até seu fim último.
322
Cristo convida-nos à entrega filial à Providência de nosso Pai celeste
,
e o Apóstolo São Pedro lembra: "Lançai sobre ele toda a vossa preocupação porque
é ele que cuida de vós
".
323 A Providência divina age também por meio da ação das criaturas. Aos seres humanos Deus concede cooperar livremente para seus desígnios.
324
A permissão divina do mal físico e do mal moral é um mistério que Deus
ilumina por seu Filho, Jesus Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal. A
fé nos dá a certeza de que Deus não permitiria o mal se do próprio mal não
tirasse o bem, por caminhos que só conheceremos plenamente na vida eterna.